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EDUCAÇÃO EM SAÚDE COMO ESTRATÉGIA PARA PROMOÇÃO DA SAÚDE DE HOMENS HIPERTENSOS

5. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

5.5 EDUCAÇÃO EM SAÚDE COMO ESTRATÉGIA PARA PROMOÇÃO DA SAÚDE DE HOMENS HIPERTENSOS

A educação em saúde é inerente a todas as práticas desenvolvidas no âmbito do SUS. Como uma prática transversal proporciona articulação entre todos os níveis de gestão do sistema (BRASIL, 2013).

A educação em saúde configura-se como um processo de formação e capacitação que se dá dentro de uma perspectiva política de classe e que toma parte ou se vincula à ação organizada do povo para alcançar o objetivo de construir uma sociedade nova de acordo com seus interesses. Deve ser pautada no diálogo e na troca de saberes entre o educador e educando, em que o saber dos indivíduos é valorizado (MACIEL, 2009).

Com a consolidação da Reforma Sanitária, culminando com a criação do Sistema Único de Saúde-SUS, em 1988, com a proposta de um novo modelo de atenção em saúde voltado para a prevenção e a integralidade no atendimento, a educação em saúde passou a ser mais difundida. Na maioria das intervenções em saúde há interação, direta ou não, entre sujeitos (profissional e usuário) o que implica em ações pedagógicas que podem se dar de forma autoritária (como historicamente esteve presente nas várias abordagens da Saúde Pública), ou podem se revestir de uma concepção integrativa sobre o processo saúde-doença. Assim, pode-se superar a visão centrada em conhecimentos biológicos aliados a técnicas pedagógicas voltadas apenas para a transmissão de conhecimentos não pertinentes às necessidades sociais e desvinculados das condições de vida dos indivíduos (BRASIL, 2007).

Maciel (2009), afirma que deve-se considerar como pressuposto que ensinar não é transferir conhecimento, mas criar possibilidades para que os indivíduos implicados em uma ação pedagógica possam participar da produção compartilhada do conhecimento. Mas este compartilhar só ocorrerá a partir de uma ação dialógica onde o “escutar” se torna mais importante que o “falar”, como destaca Freire:

Escutar significa a disponibilidade permanente por parte do sujeito que escuta para a abertura à fala do outro, ao gesto do outro, às diferenças do outro (...) é escutando bem que me preparo para melhor me colocar ou melhor me situar do ponto de vista das idéias. Como sujeito que se dá ao discurso do outro, sem preconceitos, o bom escutador fala e diz sua posição com desenvoltura (FREIRE, 2011, p. 117).

O campo da Saúde Coletiva, constituído no final dos anos 1970, contribui de forma expressiva ao problematizar e investigar o processo saúde/doença e a organização dos serviços, como fenômenos que além de técnico-científicos são intrinsecamente sociais e culturais. Isso possibilita o reconhecimento tanto dos determinantes sociais do processo saúde

doença como da organização social das práticas. Assim, a educação em saúde constitui prática social. É justamente a intervenção efetiva sobre determinados objetos ou necessidades que lhes confere a marca de práticas sociais no sentido de modos de ação social de um grupo de agentes sociais, tendendo de forma variável à sua integração no conjunto de práticas estruturadas, o que quer dizer também sua participação na constituição de uma determinada forma de organização da sociedade. Considerar que as práticas sociais são constitutivas da sociedade é pressupor que não há entre as diferentes práticas e a sociedade uma relação de externalidade, mas sim de mútua influência (PEDUZZI, 2013).

No âmbito da hipertensão arterial sistêmica, a dinâmica proposta pelo Ministério da Saúde é centrada na promoção da qualidade de vida e intervenção nos fatores que a colocam a saúde dos indivíduos em risco, permitindo uma identificação mais acurada e um acompanhamento integral dos mesmos antes e/ou após possível agravo. Além disso, a proposta deve se basear em metodologias de educação que preservem a autonomia dos sujeitos, valorizando os saberes e buscando uma melhoria na sua qualidade de vida(BRASIL, 2007).

Entende-se que conhecimento em saúde e os comportamentos dos indivíduos face a HAS (adoção ou não das medidas de prevenção e controle da doença) precisam ser considerados como fatores de risco. As concepções equivocadas dos indivíduos sobre as condições que favorecem o surgimento e a progressão da hipertensão podem levar os homens a adotarem medidas de prevenção e controle inapropriadas. Se a concepção de saúde é formada por meio da experiência de cada indivíduo, tendo estreita relação com seus conhecimentos, suas crenças, idéias, valores, pensamentos e aspectos emocionais, a forma com que o indivíduo percebe sua enfermidade pode influenciar os mecanismos individuais para satisfazer suas necessidades e a busca dos serviços assistenciais (BRASIL, 2007).

De acordo com Formiga (2005), “a mudança de comportamento está correlacionada com o processo cognitivo de influência da informação para a aquisição de novos repertórios de crenças e pensamentos que tenham a finalidade de uma mudança comportamental numa direção mais preventiva”. A saúde é global e não se pode, assim, cuidar somente do sistema cardiovascular, mas do ser integral, em suas dimensões física, emocional e espiritual valorizando sua biografia, sua história de vida, suas crenças e seus medos (SILQUEIRA, 2005).

Quando se propõe a desenvolver uma nova alternativa de produção de conhecimento na área de Educação em Saúde junto a homens hipertensos, com maneiras mais participativas de

abordar, cria-se um plano em que os métodos de ensino tradicionais são insuficientes. Ao interagir com estes homens se lida com afetos, percepções, interesses, limites e vivências distintas e às vezes distantes do que se está acostumado no atendimento cotidiano. Assim torna-se necessário ampliar os “canais” de percepção e comunicação para possibilitar uma compreensão que se aproxime um pouco mais dessas distintas realidades tornando essa relação pedagógica mais eficaz, prazerosa, humana e transformadora (PEDROSA, 2001).

Neste processo educativo, utilizar o trabalho em grupo, na forma de oficinas possibilita a quebra da tradicional relação vertical que existe entre o profissional da saúde e o sujeito da sua ação, sendo uma estratégia facilitadora da expressão individual e coletiva das necessidades, expectativas e circunstâncias de vida que influenciam a saúde. O espaço grupal mediado pelo diálogo entre profissionais da saúde e os sujeitos ou a comunidade, permite a construção da consciência coletiva e o encontro da reflexão com a ação. O diálogo se impõe como caminho pelo qual os homens ganham significação, enquanto sujeitos, e conquistam o mundo para sua libertação, autonomia e transformação (ALVIM, FERREIRA, 2007). As oficinas são utilizadas como metodologia de ensino e aprendizagem para diferentes grupos populacionais. Seus pressupostos são: o diálogo, a valorização do saber e a realidade de vida do educando, com a oferta de informações significativas que objetivam o empoderamento individual e das comunidades, bem como a participação ativa do educando na busca de soluções para os problemas de saúde (LACERDA, 2013).

Quando se trata de uma população masculina, esta tarefa implica em um projeto ambicioso e difícil de desenvolver em curto prazo. Alguns estudos (LAZZAROTTO et al, 2013; PEIXOTO, OKUMA, 2009; SILVA, ZAFFARI, 2009) apontam uma participação restrita de homens em oficinas educativas (em torno de 10 a 20 %), já que as masculinidades são construídas historicamente e sócio culturalmente, e os homens têm dificuldade em reconhecer suas necessidades, cultivando o pensamento que rejeita a possibilidade de adoecer (BRASIL, 2009).

É fundamental, portanto, que os profissionais de saúde decididos a trabalhar com este segmento da população no desenvolvimento de ações de ensino-aprendizagem aprofundem a reflexão sobre as múltiplas dimensões de seu papel frente ao sistema de saúde vigente, buscando novas bases teóricas e novas estratégias de aproximação com a população-alvo que venham a contribuir para a aceitação deste processo educativo. A utilização de recursos tecnológico vem sendo difundida entre as doenças crônicas. De acordo com Cavalari (2012), os enfermeiros precisam encontrar formas inovadoras de gerenciar as doenças crônicas. A

utilização das tecnologias de informação e comunicação pode apoiar as pessoas com condições crônicas, pois reduz o isolamento e proporciona um acesso mais fácil aos profissionais de saúde. A capacidade e acessibilidade de novas tecnologias como telefone, email e celulares têm sido reconhecidos em prevenir, diagnosticar, monitorar e tratar a doença, assim como no desenvolvimento de medidas preventivas nos programas de promoção da saúde, e muitas vezes referidas nos cuidados de saúde como eletronic health (PAGLIARI, et al 2005).

O domínio destas questões irá contribuir para o desenvolvimento de ações construídas por meio da interação compartilhada entre os interesses e necessidades dos homens e das instituições públicas, dando assim um sentido aos objetivos que se quer alcançar, resultando em ações concretas de valorização da cidadania e de participação efetiva do cidadão na melhora do conhecimento sobre a doença.

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