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2.5.1 - Definição, finalidade e características

A educação social é uma combinação de conhecimentos teóricos, habilidades práticas e compromisso, no sentido da identificação e oposição aos mecani smos de exclusão da sociedade (AIEJI, 2006). Consiste na mudança social no sentido positivo, através da ajuda ao desenvolvimento do indivíduo, com a intenção de erradicar realidades negativas e do progresso social (Quintana, 1994). Os educadores sociais intervêm prioritariamente junto de pessoas e grupos humanos em situação de privação, sofrimento e vulnerabilidade, são agentes privilegiados de condição humana, e atuam no sentido da promoção da justiça e solidariedade (Baptista, 2011).

A educação social promove o bem-estar social numa perspetiva pedagógica. Tem, por um lado, a função de resolver problemas de carência que sofrem alguns grupos sociais marginalizados, e por outro prevenir estes problemas através de ações de prevenção como a educação para a paz, educação ecológica, ação cívica, associativismo, voluntariado, ocupação de tempos livres, etc. (Quintana, 1994). A educação social incita e dinamiza, através da promoção de uma sociedade que educa, previne e integra, mas também

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compensa e reeduca, através da recondução da dificuldade, da exclusão e do conflito. E como, muitas vezes, para reeducar o indivíduo é necessário reeducar o seu grupo, o educador social surge como um mediador social comunitário, grupal e institucional (Ortega, 1999).

O bem-estar social está relacionado com a qualidade de vida dos membros da sociedade (Ruiz, 1999), e existe bem-estar social quando a vida humana se concretiza na sua plenitude, tanto a nível individual como coletivo. Para tal, há que colmatar todas as necessidades humanas (Quintana, 1994). A educação social é uma estratégia de desenvolvimento humano, uma vez que os mecanismos de proteção e assistência são insuficientes para a promoção da autonomia e bem-estar das pessoas, sendo necessárias intervenções mais integradas (Baptista, 2011).

Segundo Parcerisa, Giné e Farés (2010), a educação social tem um carácter dinâmico e aberto, que se vai adequando às necessidades e dificuldades educativas. Desta forma, a sua identidade é mutável, consoante a realidade pessoal e comunitári a, sendo difícil delimitar de forma estanque o campo de atuação dos seus profissionais. Este dinamismo é necessário para dar resposta a novas necessidades sociais. O grande desafio desta profissão está em conseguir o equilíbrio entre a estabilidade e mudança do contexto social. É um processo de desenvolvimento integral e de promoção das pessoas, através de uma ação pedagógica intencional e possibilitadora.

O conhecimento profissional que é aplicado na prática da educação social é definido por várias ciências, e a profissão constitui uma variedade de disciplinas humanísticas e sociais, tais como a psicologia do desenvolvimento, sociologia, gestão, comunicação, etc. (AIEJI, 2006). Para além disso, estabelece a relação e o ponto de encontro entre a pedagogia (tradicionalmente ligada à educação escolar) e a e a experiência de terreno do trabalho social (Carvalho e Baptista, 2004). Os educadores sociais desenvolvem o seu trabalho, normalmente, numa realidade interdisciplinar, interprofissional e no trabalho em equipa (Parcerisa, Giné e Farés, 2010).

A finalidade da educação social é a socialização e a cidadania plena (AIEJI, 2006). Tende a centrar-se em projetos que promovam pessoas e comunidades restritas, dando a prioridade à autonomia pessoal e interpessoal, e não à transformação radical e global das sociedades no seu conjunto, nem à simples remissão dos excluídos para os serviços de assistência do Estado (Carvalho e Baptista, 2004). Pretende preparar o indivíduo para viver em sociedade, mas também educar a sociedade para a importância da

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individualidade e do respeito pela diversidade, e não tenta compreender apenas as necessidades que as pessoas apresentam, mas também compreender qual a forma mais adequada de as satisfazer (Ruiz, 1999).

Partindo do princípio de que a educação é todo o espaço e tempo da vida dos indivíduos em comunidade, e que não há educação individual sem educação para viver em comunidade e vice-versa (Ortega, 1999), a educação social caracteriza-se como um processo permanente que inclui todas as pessoas (Carvalho e Baptista, 2004).

2.5.2 - Metodologia, objetivos e áreas de intervenção

O objeto da educação social é a socialização do indivíduo. Esta socialização não consiste apenas na adaptação exclusiva à sociedade, mas também na oposição às normas e instituições que não têm os corretos valores humanos. Assim, a educação social tem um duplo objetivo: A adaptação às normas da sociedade e a capacidade de mudar essas normas (Quintana, 1994).

A educação social adota na sua metodologia de intervenção uma postura horizontal, de diálogo comunitário em busca de soluções entre todos, partindo da conceção de que o ser humano é um ser ativo, responsável pelos seus atos e protagonista da sua própria vida (Pantoja, 2001). O trabalho do educador social concretiza-se, essencialmente, através do trabalho de projeto, com todas as suas etapas: diagnóstico, elaboração do projeto, realização do projeto e avaliação (Carvalho e Baptista, 2004).

A realidade não pode ser encarada como algo estático e imutável. Esta deve, também, ser encarada como um todo. Para que seja possível a mudança com uma perspetiva humanista, há que ver a realidade em todas as suas vertentes (Freire, 1979). Há que delimitar o problema segundo a perspetiva das pessoas que a protagonizam, e segundo o profissional de intervenção. Desta forma, pode-se definir o núcleo de intervenção, os aspetos a intervir, e as possibilidades de levar a cabo a intervenção, ou seja, o que fazer, como fazer, e quais as limitações. Estas questões permitem o desenho de uma intervenção mais adequada (Pérez-Campanero, 2000).

A investigação em educação social conjuga os procedimentos típicos da pedagogia e trabalho de projeto. Assume-se como investigação-ação ou investigação participante, pelo que a prática se torna reflexiva. Tem como finalidade compreender, aplicar e implicar (Carvalho e Baptista, 2004).

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Quando se faz um acompanhamento educativo, o primeiro caminho que se deve abrir é o da autonomia. Deve-se encontrar não só as carências, as debilidades e necessidades como também as potencialidades e habilidades. Deve-se seguir ao ritmo do educando e ir retirando o nosso apoio à medida que se vai criando autonomia. Também é inútil iniciar a ação quando a pessoa não está preparada ou não quer ser ajudada (Parcerisa, Giné e Farés, 2010). Tal como refere Freire (1979), deve-se estimular a reflexão das pessoas sobre sua própria situação. Quando os sujeitos refletem sobre a sua realidade e a compreendem, descobrem novas soluções para melhorar essa realidade. Neste processo as pessoas descobrem em si o potencial de transformação. É um impulso para a mudança, que só existe se for protagonizada pelos sujeitos da estrutura social. Assim, a educação não é só um processo de adaptação, mas sobretudo de transformação e criação.

Para além disso, o indivíduo nasce numa sociedade e contexto, mas através da educação social pode descobrir e inserir-se noutras sociedades e contextos (Quintana, 1994). É de referir, também, que o excesso de iniciativa e de ação do sujeito pode afetar a relação com os outros e com os sujeitos de referência, da mesma forma que a inação e o conformismo (Carvalho e Baptista, 2004).

O grande meio da educação social é a vida social, ou seja, todos os ambientes em que o indivíduo se insere – família, escola, grupo de amigos, trabalho, etc. O educador social pode atuar nos mais variados contextos: escolas, autarquias, serviços ligados à terceira idade, estabelecimentos prisionais, serviços ligados à segurança social, estruturas com casos problemáticos como polícia e tribunais, estruturas de urgência social como as dependências, violência ou pobreza, e coordenação de voluntariado (Quintana, 1994).

A profissão de educador social baseia-se na criação de uma relação e partilha de períodos de vida com pessoas ou grupo de pessoas. A ação do educador social, apesar de estabelecer relações individualizadas, desenrola-se frequentemente em contextos de grupos, como por exemplo, intervenção com o grupo familiar, grupo em meio escolar ou terapia institucional (Capul e Lemay, 2003).

Para que haja educação, tem de haver comunicação e emoção. Só quando as pessoas se sentem apreciadas e respeitadas é possível um diálogo. Só quando as pessoas conseguem exprimir os seus sentimentos, a sua dor, medo ou raiva, é possível estabelecer uma relação de empatia e abertura. Para além disso, o educador social é um tutor de resiliência. É possível aprender a ultrapassar traumas ou dificuldades através do

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entusiasmo, da autoconfiança e da autovalorizarão. Uma atitude positiva e de esperança, a aceitação das mudanças, a determinação na busca de novas oportunidades com objetivos realistas, são exemplos de algumas das formas de se aprender a ver as crises como problemas superáveis (Parcerisa, Giné e Farés, 2010).

As áreas de intervenção do educador social são: a educação de adultos, educação especializada, educação laboral e ocupacional, educação para o tempo livre, educação cívica, educação comunitária, educação para a saúde, educação penitenciária, educação intercultural e educação ambiental. No entanto, estas áreas não cobrem o universo possível da educação social, que tem a tendência a ser alargado consoante a natureza da intervenção (Carvalho e Baptista, 2004).

2.5.3 - Os Princípios e a Ética da Educação Social

A educação social tem como referência ética a Declaração Universal dos Direitos Humanos de 1948. É um movimento de mudança, emancipação, responsabilização e solidariedade. Assim, é depositada, no educador social, a responsabilidade social da prática e garantia dos direitos humanos, e a matriz humanista das democracias contemporâneas (Carvalho e Baptista, 2004).

A neutralidade perante a realidade é o contrário do compromisso, e só existe compromisso do profissional perante a sociedade se este estiver apto para agir e refletir, e se for um ser da práxis, capaz de transformar. Também há que ter em conta que não existem técnicas neutras que possam ser transplantadas de um contexto para o outro (Freire, 1979). A ação do educador social deve ser feita com discernimento, ponderada e sensata. O educador social deve pensar criticamente, com bom senso, num diálogo permanente consigo próprio (Baptista 2011). Para além disso, não se deve colocar na posição superior de quem ensina, mas de alguém que comunica com os outros, pois cada um tem o seu saber relativo (Freire, 1979).

Existem princípios orientadores das disposições ético-deontológicas dos educadores sociais. Segundo Baptista (2011) estes princípios são:

 Crença incondicional na perfetibilidade de todos os seres humanos, na sua aptidão intrínseca de aperfeiçoamento.

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 Educabilidade perseverante, subordinada ao primado ético da alteridade, ao respeito do Outro como “fim em si mesmo”

 Humildade de compromisso e/ou paciência da vontade, evitando cobrar junto dos educandos direitos sobre o exercício dos deveres profissionais (p. 44).

Segundo Carvalho e Baptista (2004), os princípios da educação social são:

 Princípio da liberdade: promover, nos outros, um máximo de liberdade.

 Princípio da Emancipação: agir com o maior grau de independência possível relativamente à sua implicação na sociedade.

 Princípio de verdade: dizer a verdade aos outros, designadamente aos educandos.  Princípio do valor da vida: todos os seres humanos são, à partida, intrinsecamente

válidos.

 Princípio do autodesenvolvimento: promover, em todos, o seu bem-estar mental, físico e social.

 Princípio da privacidade: respeitar a integridade de todas as pessoas (p.103). Relativamente à ética na educação social, a AIEJI (2006) defende que:

O trabalho profissional das educadoras e dos educadores sociais baseia-se em valores humanistas e democráticos. As educadoras e os educadores sociais promovem a igualdade e o respeito entre todas as pessoas, prestando uma especial atenção às necessidades de cada indivíduo. Respeitam e protegem o direito à privacidade e à autonomia e utilizam a sua experiência/saber profissional para melhorar as condições e qualidade de vida das pessoas com quem trabalham. O respeito, a atenção e a empatia para as pessoas com quem trabalham e as suas famílias, a solidariedade face a grupos vulneráveis, a batalha contra a pobreza e a luta pela justiça social, formam os alicerces da profissão das educadoras e educadores sociais

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2.5.4 - O Educador Social – Funções e competências

O educador social é uma pessoa com um saber profissional culturalmente abrangente, e a sua formação prolonga-se pelo exercício da profissão (Carvalho e Baptista, 2004). De acordo com a ASEDES-CGCEES (2007), citado por Parcerisa, Giné e Farés (2010), o educador social tem seis funções básicas:

 Transmissão, formação, desenvolvimento e promoção da cultura.

 Criação de redes sociais, contextos, processos e recursos educativos e sociais.  Mediação social, cultural e educativa.

 Conhecimento, análise e investigação dos contextos sociais e educativos.

 Desenho, implementação e avaliação de programas e projetos em qualquer contexto educativo.

 Gestão, direção, coordenação e organização de instituições e recursos educativos. Ortega (1999) compara o educador social a um parteiro, que ajuda os indivíduos ou grupos a fazer nascer a realidade que existe dentro deles. Ajuda a que descubram as suas potencialidades, aptidões, atitudes e valores. O educador social é dialogante e dialógico, promove a empatia, a participação e colaboração entre pares. Procura que aprendam a viver juntos em grupo, família ou comunidade, a ser tolerantes e solidários. Ajuda os indivíduos a saírem de si mesmos e a preocuparem-se com os outros, a darem- se conta das consequências que os seus atos podem ter para os outros. Têm por finalidade fazer com que os indivíduos possam e queiram viver com os demais e desenvolver a sua própria identidade enquanto pessoas.

O educador social é um profissional com uma multidimensionalidade de competências, pois para além das competências técnicas tem de ser detentor de capacidades informais tais como o autodomínio, a abertura ao outro e a capacidade de enfrentar o risco e sofrimento (Carvalho e Baptista, 2004).

Segundo Parcerisa, Giné e Farés (2010), as competências do educador social baseiam-se num triângulo com três polos:

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 Conhecer os fundamentos teóricos da intervenção socioeducativa e os seus âmbitos de atuação.

 Organizar e planificar os processos educativos necessários

 Ter autonomia na aprendizagem para orientar o estudo e desenvolvimento profissional

O polo da ação – O Saber Fazer

 Ter capacidade de análise e de síntese para compreender e valorizar o contexto, o coletivo e o conjunto do processo educativo.

 Desenhar e aplicar programas, e estratégias de intervenção socioeducativa.  Resolver problemas e tomar decisões.

Polo da reflexão – O Saber Ser e Estar

 Comprometer-se com a identidade, desenvolvimento e ética profissional. Reconhecer-se e valorizar-se como profissional.

 Conhecer a teoria e a metodologia para a avaliação da intervenção socioeducativa.  Ter capacidade crítica e autocrítica para examinar e analisar as atividades institucionais, os compromissos assumidos, os processos educativos iniciados e o próprio desenvolvimento profissional com critérios fundamentados.

A polivalência do educador social é uma mais-valia que lhe permite encontrar estratégias de intervenção mais abrangentes. Assim, o educador social deve ter características como reflexibilidade, polivalência técnica, criatividade, adaptabilidade, dinamismo, pensamento alternativo, imaginação, espírito empreendedor, capacidade projetiva, abertura ao imprevisto e poder de decisão (Carvalho e Baptista, 2004).

3 - Metodologia

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