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Os métodos de investigação organizam as práticas de investigação, determinam e selecionam as técnicas a utilizar, tanto como os seus limites (Almeida & Pinto, 1995).

Segundo Stake (1995), o estudo de caso é um método de investigação que serve para captar a complexidade de casos únicos. Quando um caso, por si só, tem especial interesse, procuram-se detalhes na interação dentro desse contexto. Yin (2005) acrescenta que o estudo de caso representa um método indicado para questões de investigação do tipo “Como” e “Porquê”, e quando o foco da investigação se encontra inserido em contextos da vida real contemporâneos, sobre os quais o investigador não tem controlo.

Para o estudo de casos é fundamental definir qual o caso. Nas mais variadas investigações o caso pode ser muito diferente: uma pessoa, um evento, uma instituiçã o ou, no extremo, uma sociedade inteira (Gomm, Hammersley e Foster, 2000).

Cada caso engloba uma série de contextos, tais como o económico, ético, físico, entre outros. Para além disso, tem subsecções dentro de si, tais como grupos ou eventos. O estudo de caso tem em conta todas estas complexidades, e tem em conta que a realidade social é afetada e influenciada por acontecimentos com diversas origens.

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Independentemente de se procurar o que há em comum, e o que é particular nos casos, o resultado final pretende sempre encontrar o incomum (Stake, 2000a), ou seja, preserva as múltiplas realidades, mesmo quando são pontos de vista contraditórios, e as diferenças existentes (Stake, 1995).

Segundo Flyvbjerg (2011), o estudo de caso é caracterizado por delimitar fronteiras na unidade do caso; ser rico e completo em detalhes e variedade de dados; ocorrer num tempo e num espaço; ter em atenção o conteúdo em que se insere o caso.

Metodologicamente, o estudo de caso consiste numa estratégia de pesquisa abrangente, que implica o planeamento, a recolha de dados e análise de dados. Diferencia- se de outros métodos ao adotar técnicas de investigação, como a observação direta dos acontecimentos que estão a ser estudados, ou a entrevista a pessoas neles implicadas (Yin, 2005). Para além disso, não se baseia apenas no produto obtido pela investigação, mas também no seu processo de elaboração (Stake, 2000a).

Apesar do estudo de caso não ser utilizado para fazer generalizações, pode ser utilizado para testar hipóteses. Pode ser utilizado para examinar uma exceção com o intuito de comprovar a sua veracidade (Stake, 2000b). Pode, também, generalizar proposições teóricas, mas não populações ou universos. A teoria também pode ser utilizada para a generalização analítica, servindo como modelo de comparação para os resultados dos dados recolhidos (Yin, 2005).

Sánchez e Ochoa (1995) reuniram as principais características do estudo de caso que são comuns aos vários autores desta área de investigação:

 O caso supõe uma situação específica – é uma unidade delimitada no tempo e no espaço.

 Exige um exame holístico, intensivo e sistemático – serve para estudar uma questão em profundidade.

 Tem a necessidade de obter informação de múltiplas perspetivas – para que haja um maior grau de precisão.

 Considera o contexto – é difícil delimitar os limites entre o fenómeno e o seu contexto, por isso há que ter em conta as várias variáveis que definem a situação.  O caso tem um carácter ativo – A situação tem um carácter dinâmico, aberto, e

não concluído.

 É uma estratégia encaminhada para a tomada de decisões – há uma grande potencialidade de criar propostas de ação.

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O estudo de caso é um método que, devido às suas características únicas, é alvo de algumas críticas e dúvidas por parte de investigadores com outras visões. Flyvbjerg (2011) analisou os mal-entendidos relativamente aos estudos de caso, e retirou cinco principais conclusões:

1 – As questões humanas não podem ser analisadas por uma perspetiva das teorias universais e previsíveis, mas através do conhecimento concreto de cada caso.

2 – O estudo de caso pode contribuir para a generalização de teorias. Vários Estudos de Caso podem contruir uma generalização, da mesma forma que um caso escolhido especificamente para esse fim o pode fazer. Os estudos de caso podem, também, ser utilizados para refutar generalizações.

3 – Os estudos de caso podem ser utilizados para gerar e testar hipóteses, mas não se limita a estes modos de investigação.

4 – O estudo de caso tem tanta tendência para ser utilizado para verificação como para criação de noções para serem verificadas.

5 – Os estudos de caso são difíceis de resumir devido às suas características metodológicas. De qualquer forma, isso não tem implicação na sua importância na criação de conhecimento.

Existem várias perspetivas relativamente aos tipos de estudo de caso existentes. Stake (2000a) defende que se dividem em três tipos:

 Estudo de caso intrínseco – Quando o caso tem particularidades únicas, e que contém interesse por si só. Não é pretendido construir teoria a partir do caso nem construir a generalização do fenómeno.

 Estudo de caso instrumental – Neste tipo de estudo, os casos têm um interesse secundário, pois o seu objetivo é a generalização. O caso serve para compreender um interesse externo.

 Estudo de caso coletivo – Consiste no estudo instrumental de vários casos em simultâneo.

Os casos intrínsecos têm um interesse proeminente antes de serem estudados, e o estudo costuma iniciar-se assim que são identificados. Nos casos instrumentais e coletivos são os investigadores que, normalmente, os escolhem para serem estudados.

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Seawright e Gerring (2008) fazem uma divisão mais extensa, e distinguem seis tipos de estudo de caso:

 Estudos de caso típicos – Foca-se na relação que os casos têm de forma estável ao serem comparados. Podem considerar-se casos representativos de uma população. Com este tipo de estudo de caso, os investigadores pretendem explorar mecanismos causais. Desta forma tentam comprovar ou refutar a teoria existente sobre estas mesmas causas.

 Estudos de caso múltiplos – Consiste numa investigação que inclui pelo menos dois casos, com a qual se pretende obter o máximo de dimensões possível. Esta investigação pode ser exploratória ou de confirmação.

 Casos extremos – Este tipo de estudo de caso serve para estudar casos raros, que não são representativos da maioria da população. O caso é importante por ser diferente e não deve ser generalizado. É um tipo de estudo exploratório, que serve como introdução a um tema.

 Casos desviantes – Neste tipo de estudo de caso abordam-se situações que representam uma anomalia relativamente ao modelo geral de relações causais. São situações mais limitadas do que as dos casos extremos. Pretende-se criar novos modelos de identificação dos casos desviantes, generalizando-os no cruzamento de vários casos. É uma investigação exploratória que deixa de ser desviante a partir do momento em que se identifica os motivos do desvio.

 Casos influentes – Este tipo de estudo de caso é utilizado quando há a suspeita, por parte do investigador, de haver uma parte da amostra que está a afetar os resultados da pesquisa. Este tipo de problema verifica-se normalmente apenas em pequenas ou médias amostras.

 Casos similares/diferentes – Implica pelo menos dois casos. Pretende-se fazer a comparação entre casos com as mesmas variáveis que são similares, ou que são diferentes. A comparação estatística é um instrumento muito utilizado nestas abordagens.

A estrutura conceptual dos estudos de caso é organizada, geralmente, por um pequeno número de questões de investigação. Estas questões baseiam-se em problemas ou linhas temáticas. Para organizar o estudo os investigadores devem refletir sobre o que

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é que se pode aprender com o estudo. Quais são os problemas que correspondem ao tema dominante, e quais são os que demonstram a singularidade do caso (Stake, 2000a).

Quanto à recolha de dados, segundo Yin (2005), esta é realizada, essencialmente, através de documentos, registos em arquivo, entrevistas, observação direta, observação participante e artefactos físicos. No entanto, poderá haver outro tipo de fontes.

Yin (2005) defende, também, três estratégias para a análise dos dados recolhidos:

1 – Basear-se em proposições teóricas – As proposições que estabeleceram a teoria do estudo de caso servem de guia para a recolha de dados e estabelecem as prioridades da análise.

2 – Pensar em explicações concorrentes – Quando se pretende criar uma explicação alternativa às proposições teóricas ou para se avaliarem Estudos de Caso.

3 – Desenvolver uma descrição de caso – Quando é pretendida apenas uma descrição ou quando é necessária uma abordagem descritiva para identificar ligações causais.

Nesta análise, para se garantir que existe qualidade há que garanti que a análise se baseou em todas as evidências, abrangeu todas as principais interpretações concorrentes, se dedicou aos aspetos mais significativos, e que utilizou o conhecimento prévio de especialistas no caso em estudo (Yin, 2005).

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