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Educação: uma mitigação das mudanças cli máticas e ambientais

As pesquisas em mudanças climáticas, apesar de apresen- tarem um traço quantitativo e objetivo das ciências exatas, exigem um conhecimento cooperativo em várias áreas, deli- neando um estudo interdisciplinar com suporte em diversas disciplinas. A pluralidade de conhecimentos relacionados aos estudos das mudanças do clima e do meio ambiente aponta que, além das disciplinas exatas, existem outros vieses de estudos importantes transcendendo o olhar das quantificações objetivas e adentrando na metodologia inter- disciplinar de aspectos sociais, históricos e educacionais da nossa sociedade. Nessa perspectiva a mudança do sistema consumista atual passa indiscutivelmente por uma reforma

educacional, pelo entendimento do contexto histórico e social (LEFF, 2000).

Qual instrumento deve ser usado para minimizar essas ações consumistas dos recursos da natureza? Defendo que a resposta é a consciência ambiental. Como adquiri-la? Pelo processo educativo. Realizar uma educação que mude a consciência e o sentimento das pessoas, desenvolvendo uma massa crítica intelecto ambiental, formadora de opinião, que alterará as decisões políticas e econômicas, transformando as velhas práticas poluidoras e insustentáveis em práticas ecológicas e sustentáveis (GADOTTI, 2008; BRANDÃO, 2008; FREIRE, 2000). Exercitar uma forma pedagógica centrada em virtudes ecológicas, facilitando a transformação do ci- dadão político para o cidadão sociopolítico ambiental. Uma mudança verdadeira e urgente como afirma Paulo Freire (FREIRE, 2000, p.31),

Urge que assumamos o dever de lutar pe- los princípios éticos como do respeito à vida dos seres humanos, à vida dos ou- tros animais, e das aves. Não creio na amorosidade [...], entre os seres huma- nos, se não nos tornamos capaz de amar o mundo. A ecologia ganha uma impor- tância fundamental neste fim de século. Ela tem que estar presente em qualquer prática educativa de caráter radical, crí- tico ou libertador [...]. Neste sentido me parece uma contradição lamentável fa- zer um discurso progressista, revoluci- onário, e ter uma prática negadora da vida. Prática poluidora do mar, das á- guas, dos campos, devastadoras das ma- tas, destruidora das árvores, ameaçado- ra dos animais e das aves.

A transformação desse comportamento poluidor só ocor- rerá por meio da prática da educação para a sustentabili- dade, da educação para o desenvolvimento sustentável ou da educação ambiental, durante toda a vida. Em essência, essas educações guardam os mesmos princípios básicos: o respeito ao meio ambiente e aos seus recursos naturais, o respeito pela vida, sua diversidade e a igualdade social, isto é, essas educações possuem em comum os alicerces da sustentabilidade. Alicerces firmes de um paradigma teó- rico holístico, mas frágeis no contexto de sua prática pela sociedade (ENGELMANN, 2013).

A prática desses princípios deve ser iniciada na infância, ensinando as crianças a desenvolver amor pela natureza, capacitando-as a contribuir de forma ativa e significativa no mundo (GADOTTI, 2008; BRANDÃO, 2008), tal como se encontra no princípio 14 na Carta da Terra: “integrar, na educação formal e na aprendizagem ao longo da vida, os conhecimentos, valores e habilidade necessárias para um modo de vida sustentável” (BRASIL, 1992, p.6)

A implementação de uma educação com esses princípios não se consolida num curto prazo, pelo contrário, necessita um trabalho sistemático de longo prazo com ações perseve- rantes e constantes, com o objetivo de reduzir a distância do sonho ideal e a execução do plano real. O foco dessa educação é a busca da mudança do atual estilo de vida da sociedade, por meio de conscientização das gerações futuras sobre a importância do meio ambiente para a humanidade. Educar para cientificar as pessoas de que o mundo possui

recursos finitos com restrições ambientais frágeis, e não su- portará o estilo de vida exemplificado por tanto tempo pelo ocidente rico, para os 9 bilhões de pessoas projetadas para 2050 (JACKSON, 2008).

As educações sustentáveis e ambientalistas citadas an- teriormente promoverão uma mudança de entendimento do mundo, do meio ambiente, do modo de vida e da transfor- mação para a nova civilização. Uma civilização pautada em sólidos conceitos de ambientalismo, ecologismo, sustenta- bilidade, solidariedade e outras características condizentes com uma nova moral (CARVALHO; FARIAS; PEREIRA, 2011; BRANDÃO, 2008). Uma moral ecológica profunda6.

Sabiamente Rubens Alves afirmou que da educação pode nascer um povo(ALVES, 2007). O nascer de um povo gerado pela educação é um nascimento de um povo criativo. Por meio do processo criativo, a educação transforma a socie- dade. E pelo processo repetitivo, ela coíbe as mudanças e impede o poder de examinar e argumentar, e engessa a capacidade de trazer o novo como alternativa às velhas concepções. A força da educação, nesse sentido, pode ser sintetizada pelo raciocínio de Paulo Freire quando afirma (FREIRE, 2000, sn): “Se a educação sozinha não transformar

6 As moralidades ecológicas têm expressão tanto na preocupação com

a solução de problemas relacionados ao desenvolvimento das socieda- des industriais, quanto no surgimento de novos padrões de comporta- mentos individuais e coletivos, normas éticas e religiosas, regramen- tos nos campos político e jurídico, de certo modo fundados em um senso mais ou menos compartilhado sobre modos de superar a condi- ção crítica das relações sociais com o ambiente (CARVALHO; FARIAS; PEREIRA, 2011).

a sociedade, sem ela tampouco a sociedade muda”. A edu- cação é o instrumento social que faz o educando se tornar crítico construtivo e se perceber no mundo com o mundo (FREIRE, 1987), podendo, como prática educativa, gerar consciência de intervenção no modelo de desenvolvimento da nossa sociedade.

A força educacional pode muitas coisas, mas é importante ter os pés no chão e não entrar em caminhos ideológicos imaturos achando que a educação por si só — em base teó- rica — realiza o objetivo a contento. Se há outros processos ou planejamentos de mudança de paradigma, com certeza a influência da educação está presente. Porque é a educa- ção que dá a condição de se realizar como seres humanos, quando se experimenta as vivências da existência e se toma ciência delas (CARVALHO; TOMAZELLO; OLIVEIRA, 2009; LOUREIRO, 2004). A mudança pela educação não é uma tarefa fácil, exige uma mudança nela própria e existem empe- cilhos, cuidados e condições de contorno, entretanto existe um entendimento comum. A educação pode fazer emergir uma busca de soluções para a complexa relação das mudan- ças climáticas e ambientais com as atividades antrópicas. Neste sentido comenta Carvalho (CARVALHO; TOMAZELLO; OLIVEIRA, 2009, p.15):

Está posta a relação direta que se estabe- lece entre a solução dos problemas ambi- entais e a educação. A não ser que este- jamos dispostos a fechar os olhos para as evidências, não nos parece ter alter- nativa se não a de procurarmos mais pro- fundamente tal proposição [...].

Com essa condição a educação se coloca como o elemento reformador do atual modo de vida, da maneira de produzir e consumir, sendo a única capaz de despertar o amor à vida e ao meio ambiente. O trabalho da educação conscientizadora não é fácil, tamanha é a envergadura dos seus objetivos ao denunciar a danosa inversão de valores, na qual o homem coloca a dimensão econômica como absoluta, estabelecendo a todo elemento da vida um preço, ao mesmo tempo que se desvaloriza as virtudes da condição humana.

Ao mesmo tempo que a nova educação almeja extrair as raízes do analfabetismo ambiental plantadas pelas grandes corporações e cultivada por parte da mídia alienante7, ambas comprometidas com os lucros obtidos na manutenção do atual sistema de produção e consumo (DIAS, 2013). Tais objetivos redentores dessa educação podem parecer para alguns um sonho. Entretanto sonhar e propor ideias trará menos prejuízo do que a omissão ou a contribuição com o modelo vigente, consumidor da energia do mundo. Uma dis- cussão maior sobre o potencial da educação para implantar sistemas sustentáveis está nos capítulos finais.

Além da educação, dentro do amplo corpo de pesquisa que abrange a relação antrópica na natureza, um breve es- tudo a respeito da história da mudança climática e ambiental se mostra importante. O exame da história das causas e con- sequências nocivas da antiga degradação ambiental torna

7 A mídia alienante é aquela que promove o consumismo irrefletido e

não conscientiza a população de sua responsabilidade na interação com o meio ambiente. A mídia usada de forma correta é uma impor- tante ferramenta de mitigação da mudança climática e ambiental.

o cidadão mais consciente e o capacita a realizar melhores ações no agora. Com efeito, o estudo da mudança climática e ambiental é importante para os nossos atos no presente e no futuro. Esses estudos estimularão a sociedade a dar uma maior atenção ao recente alerta do IPPC no seu mais novo relatório (IPCC, 2014f, p.137) “A mudança climática é, definitivamente, um dos desafios mais graves que os seres humanos enfrentam”, e também evidenciará que as toma- das de decisão do agora dependerão, em muito, da nossa consciência das intervenções antrópicas do passado.

A importância do passado