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O Painel Intergovernamental de Mudanças Cli máticas

Foi exposta uma pequena síntese das alterações ambien- tais e climáticas provocadas pela atividade humana, como também algumas pesquisas sobre o aumento da temperatura da Terra e das emissões antrópicas de CO2 para a atmosfera.

O objetivo foi a busca de uma conscientização pelo processo histórico. Os diversos tipos de eventos, atividades, reuniões e pressões — científica, política, pública e ambiental — ci- tados acima se somaram por quase vinte anos e foram os motivadores da criação do IPCC.

9 Bert Bolin, 1925 - 2007, climatologista sueco, vencedor do Prêmio

Contudo, o reforço de diversas evidências científicas ob- tidas por uma quantidade incomensurável de dados sobre variáveis climáticas, e sobretudo as ocorrências de impactos ambientais significativos tiveram uma relevância especial para a formação do IPCC. Nesta seção faremos uma análise superficial do IPCC e dos quatro primeiros Relatórios de Ava- liação (RA), descrevendo sua estrutura, função e evolução, e observando suas conclusões relacionadas ao aquecimento global.

Todavia, antes de expor os dados e as estimativas do IPCC, examinar-se-á a polêmica criada por um grupo de cientistas que não concordam com a tese do aquecimento global antrópico. Tal polêmica teve início quando o tema das mudanças climáticas tornou-se recorrente e importante, assim as controvérsias foram se apresentando em duas li- nhas de pensamento discordantes. Os grupos contrários à opinião do IPCC se diferenciam da seguinte forma: um grupo não acredita na tese de que está existindo uma mudança climática, e outro grupo afirma que a mudança climática existe, mas não é acelerada pelas atividades antrópicas.

O grupo mais cético afirma que a mudança climática com aumento da temperatura média da Terra — aquecimento global — é uma falácia10, não acredita nas análises dos cli-

matologistas, nos dados climáticos e nem nas previsões dos modelos computacionais. Tanto um grupo quanto o outro questiona as conclusões do IPCC e boa parte defende a hi- pótese de que os ciclos naturais da Terra em períodos de

glaciação e inter glaciação são os responsáveis pelas mudan- ças do clima (CASAGRANDE, 2011; NETO, 2010).

Suas argumentações contraditórias se pautam na faci- lidade em contextualizá-las11 devido à enorme quantidade de dados e incertezas inerentes a área de ciência climática. Para defender suas ideias publicam artigos, escrevem em sites, usam como exemplos eventos ou fatores climáticos iso- lados e não apresentam pesquisas com densidade, estudos globalizados de volume quando comparados com o estudo do IPCC (TAMAIO, 2010). Na defesa do IPCC, um dos seus membros, o cientista brasileiro Carlos Nobre, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), expõe em entrevista alguns aspectos por trás das críticas, comentando (NOBRE, 2010, sn):

Esses acontecimentos servem de impulso para os céticos porque não conseguem trazer qualquer fato científico novo, sur- preendente, que coloque realmente em dúvida a ciência robusta e sólida do aque- cimento global. Assim, se apegam a qual- quer coisa — por exemplo, o inverno ri- goroso no hemisfério norte — para con- testar o aquecimento do planeta. Como não têm condições de debater no nível da ciência, por isso querem jogar o de- bate em um nível político. Existem aí enormes interesses econômicos afetados pela mudança do paradigma da geração de energia, pela troca de todo o sistema de produção a partir do qual construí- mos o bem estar moderno.

11 O grupo, conhecido como “céticos” do aquecimento global, não reco-

nhece os resultados do IPCC, possui poucos trabalhos publicados e, em geral, sem revisão por pares (TAMAIO, 2010).

A natureza do clima a nível global permite a entrada de polêmica, porque sua mudança se dá numa escala de tempo muito superior à vida humana e pela falta de provas sólidas da relação do clima com os povos em eras antigas. Todavia, a maioria dos cientistas concorda com as análises do IPCC: a atividade antrópica tem provocado um aumento na injeção de gases de efeito estufa na atmosfera — dióxido de carbono (CO2), metano (CH4), óxido nitroso (N O2), perfluorocarbonos

(PFCs), hidrofluorcarbonos (HFCs), hexafluoreto de enxofre (SF6 ) e clorofluorcarbonetos (CFCs) — e isso tem aumentado

a temperatura da Terra nos últimos séculos. O presente trabalho concorda com as análises do IPCC (IPCC, 2014d).

A mudança do clima provocada pela atividade humana pode suscitar dúvidas, mas quanto às mudanças ambientais, — desmatamento e queimada das florestas, poluição dos recursos hídricos, ataque aos ecossistemas, degradação dos solos — elas são tão evidentes que não permitem a menor possibilidade de incerteza.

No mundo atual salta aos olhos a rapidez com que a ativi- dade humana tem modificado e degradado o meio ambiente: mais da metade das florestas do mundo foi desmatada, boa parte para extração de madeira e para criação de pasto na atividade pecuária; a oferta de água potável tem diminuído pelo contínuo assoreamento e poluição de rios; o esgota- mento de recursos minerais, a esterilização dos solos por uso de materiais tóxicos e um consumo crescente devido a explosão populacional impedem o planeta de recompor os seus recursos.

Infelizmente essas degradações ambientais estão contidas nos cenários dos relatórios de avaliação do IPCC, com alta confiança. Contudo, os relatórios também nos fornecem formas de agir para mitigar os cenários climáticos ligados aos problemas socioambientais. As formas de mitigações das emissões de gases estufa para atmosfera, buscando diminuir os efeitos das mudanças climáticas, e as indicações de como devemos nos preparar, realizando adaptações a essas mudanças, são as contribuições dos Relatórios de Avaliação (RAs) do IPCC para humanidade.