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Educar para a Liberdade através da Arte

CAPÍTULO

II. 4.1 Educar para a Liberdade através da Arte

dia ada zendo nada.

E, contudo, estou aqui construindo o novo dia.

Cada vez mais as sociedades requerem que

entos, com a sensação de que a escola deve ter a ca

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Educação pela Arte para uma Cultura Intercultural

.

“ Estou aqui construindo o novo com uma expressão tão branda e descuid que dir-se-ia não estar fa

Porque o dia constrói-se; não se espera.”

(António Gedeão, Máquina de Fogo, 1961)

todos os indivíduos sejam possuidores de conhecimentos e capacidades que lhes permitam viver no mundo global. Ora, mais uma vez, a escola é chamada a desempenhar essa tarefa que terá de cumprir perante a sociedade.

Neste momento, ao apelarmos novamente à escola, ficamos por breves mom pacidade e a obrigatoriedade de responder a todas as questões sócio-culturais. É obvio que não pode, nem tem condições para tanto, seria pedir demais. Mas poderá, isso sim, contribuir, através das suas propostas educacionais, para que o cidadão adquira capacidades que lhe permitam a construção desse perfil.

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ntre os indivíd

artística constitui uma realidade no nosso sistema educativo assumi

Compe

É oladamente

assumir a de dar um

importante ndo criar-se

condições iadas, numa

perspectiv enda o direito à diversidade no sentido da igualdade de direitos e oportunidades.

s e a ter determinado tipo de conduta. Ora, se é de acordo com os nossos valores que

Numa narrativa de progresso universal, diremos que os factores que impulsionam a educação fazem ressaltar a relevância que atribuímos às artes plásticas como forma de proporcionar a aquisição de conhecimentos através das manifestações artísticas, considerando que estas se repercutem na expansão do espírito, na racionalidade, na interiorização de formas democráticas de relacionamento e

uos rumo à aquisição de maiores níveis de humanização, mais liberdade, justiça, igualdade e autonomia.

Já Schiller no século XVIII chamou a atenção para a importância de uma educação estética para a educação da humanidade e, cada vez mais se reconhece que as práticas educativas na área da expressão artística contribuem para o desenvolvimento da percepção estética como apuramento da sensibilidade humana.

Hoje, a educação

ndo-se como uma componente importante da nossa lei de Bases do Sistema Educativo. Aliás, refere o nosso actual Currículo Nacional do Ensino Básico –

tências Essenciais, que:

“A Arte como forma de apreender o Mundo permite desenvolver o pensamento crítico e criativo e a sensibilidade, explorar e transmitir novos valores, entender as diferenças culturais e constituir-se como expressão de cada cultura.”

(cf.2001:155).

obvio que também a educação artística não pode por si só e is responsabilidade na implementação da justiça social, mas po contributo, mediante mecanismos pedagógicos e escolares, pode conducentes a uma interacção dialógica entre culturas diferenc

a democrática que def

Toda a concepção de ser humano é fundamentada por valores. Muitas vezes não nos damos conta disso, mas se reflectirmos um pouco, tomamos consciência de que as nossas convicções e crenças nos levam a preferir determinado tipo de vida, de coisa

procuramos viver em sociedade, se analisarmos a sua estrutura, percebemos a influência das nossas ideias e valores nessa estruturação.

mbém no desenvolvimento integral do ser, perspectivando-se na expressão artística que, como área curriculardeve ser primeiro que tudo, um meio de desenvolvimento do indivíduo nos seus aspectos mais essenciais, de abertura ao mundo.

Neste contexto, as artes plásticas desenvol ponto de vista, todas as potencialidades pa

ultural, ajudando à compreensão e clarificação das circunstâncias históricas, das onvenções ideológicas, valores, atitudes, pressupondo a emergência de processos de

e promovam o ver e pensar em contexto da actualidade.

cidativas deste nosso pressuposto são as palavras registadas por uma das numa das aulas de Educação Visual e Tecnológica a ropósito de um dos seus trabalhos de pintura, feito durante a semana anterior ao Dia Mundial contra o Racismo (21 de Março), reflectia sobre a questão.

127 Nesta acepção, a escola para além de proporcionar às crianças e jovens conhecimentos e saberes literários e científicos que melhor lhes permitam enfrentar o mundo no futuro, empenha-se ta

vidas na escola comportam, do nosso ra desenvolver o entendimento da diversidade c

c

novas formas de olhar qu Bem elu

nossas alunas de etnia cigana, que p

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Esta jovem adolescente tem consciência dessa realidade que nos envolve. Mas pergunta-se, agora, teria ela escrito ou falado tão abertamente sobre o assunto se não lhe tivessem sido dadas condições para isso?

Não duvidamos que em alguma ocasião possivelmente tivesse pensado no problema, mas se não tivesse a oportunidade de o expor, ficaria guardado consigo.

A Ana também se pronunciou através da sua pintura (figura 21), esta aluna dizia:

) o racismo existe, não sabia que era assim que se chamava isso, mas falámos na aula e eu fiz isto assim. As mãos são todas iguais têm todas cinco dedos, não interessa a

.72 Figura 36

Mas o Antero, no clube de pintura também trabalhou e falou sobre o mesmo assunto através da sua pintura que não necessitava de mais explicitação.

(…

cor, eu aqui fiz azul porque acho que é paz

Ana, 11 anos, lusa Acrílico s/esferovite

Antero, 13 anos, luso.

Acrílico s/ madeira Figura 37 72 Notas de campo (19/03/04) 128

Mas, a pedido da professora Arminda, o Antero explicou assim: -

resso , em nosso entender, de forma tão violenta e brutal que não res

Figura38

- Fiz isso rápido, senti assim uma coisa de morte, as pessoas matam-se, não gostam umas das outras, são malucos.74

ações pensamos ter legitimidade para dizer que comunicar através

A parte branca que é maior, somos nós porque somos mais e as outras cores

são os outros. Pintei aqui vermelho (apontando para o canto superior esquerdo) e fiz um cravo branco. Os outros também são cravos, mas são diferentes. Os cravos são do 25 de Abril, falámos disso em História.73

Outra forma de ver e sentir o racismo foi a do Luís que não falou sobre o assunto, mas que o exp u

istimos a pedir-lhe que nos disse-se o que tinha sentido ao pintar aquele quadro.

Luís, 12 anos, africano. Acrílico s/ madeira

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Ficamos radiantes e surpresas com a capacidade expressiva destes jovens, pela forma como foram capazes de exprimir os seus sentimentos, os seus pontos de vista sobre a exclusão racial e social, de nos mostrarem como é urgente e necessário promover o diálogo intercultural. Diálogo esse que sem dúvida, no que respeita às crianças e jovens se efectiva na educação através da arte.

Após estas constat

da arte é uma forma importantíssima de estarmos, de vermos, de sentirmos o mundo que nos rodeia e, essencialmente de darmos a possibilidade às nossas crianças e

73 Notas de campo 19/03/04 74 Notas e campo 19/03/04 129 d

os vêm e sentem.

trução da sociedade do futuro, como refere Bruno Munari, “a

socieda

II.

do cidadão, surge outra relativamente ao papel do professor.

O professor apresenta-se aqui como um mediador que ao estabelecer essa

lação vai int o veículo

com vista à form ão de cidadãos solidários, autónomos, participativos e civicamente responsáveis.

A importância que se hoje se atribui ao papel da escola e do professor na ducação, obviamente não é estranha a um conjunto de fenómenos que perturbam a paz ocial e que tornam difícil a convivência democrática, especialmente em contextos de aior conflituosidade, quer por razões de coexistência de uma considerável diversidade por razões económicas. Ao que podemos acrescentar a fraca apacidade socializadora da família.

Neste contexto entende-se que seja pedido aos professores maior empenho no

. Mas revela-se importante

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jovens de participarem na construção de uma sociedade melhor transmitindo aos outros aquilo que na pureza e ingenuidade dos seus olh

Vários artistas plásticos denunciaram e continuam a revelar a sua revolta contra a opressão, a violência, a segregação social e racial, nas suas obras com grande intensidade emocional, também as nossas crianças e jovens o fazem se lhes dermos essa oportunidade.

Assim, acreditamos que a actividade artística tem um papel fundamentalmente importante na cons

de do futuro já se encontra entre nós e podemos vê-la nas crianças” (cf.

1987:124). Poderemos dizer que aqui, neste patamar etário começa a sedimentação do novo homem.