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EFEITO DE ANOS DE ESTUDO, DESEMPENHO NO RAVEN E ESTIMULAÇÕES COGNITIVAS SOBRE O

FUNCIONAMENTO COGNITIVO DE GRUPOS COM DIFERENTES NÍVEIS DE COMPLEXIDADE DO TRABALHO.

ANOVAS Grupos de CT

ANCOVA anos de estudo

ANCOVA anos de estudo + desempenho no Raven

ANCOVA anos de estudo + estimulações cognitivas

ANCOVA anos de estudo + estimulações cognitivas +

desempenho no Raven

Teste F P Post hoc F P Post hoc F p Post hoc F p Post hoc F p Post hoc

F A S 7, 41 .01* B <A M <A 0,81 .44 B <A M <A 0,50 .60 B <A M <A 0.80 .45 B <A M <A 0.51 .59 B <A M <A FV semântica 6,15 .03* B <A 1,02 .36 B <A 0,66 .66 B <A 1.02 .36 B <A 0,41 .66 B <A Cubos 5,70 .05* B <A 2,23 .11 B <A 1,66 .19 B <A

M <A 2.41 .09 B <A 1,84 .16 B <A M <A Cópia FCR 4,68 .01* B <M 3,40 .03* B <M 3,85 .02* B <M 3.26 .04 B <M .3,86 .02* B <M Trail Making A 3,21 .04* A <B 0,34 .71 A <B 0,23 .79 A <B 0.33 .71 A <B 0,23 .79 A <B Raven 9,81 .01* M < A 3,28 .04* B <A M <A - - 2.97 .05 B <A - - - Memória Lógica Imediata 3,22 .04* B <M B <A 1,92 .15 B <M 2,21 .11 B <M 1.88 .16 B <M 2,19 .12 B <M Memória Lógica Tardia 5,70 .01* B <M 2,79 .06* B <A 2,61 .07* B <M B <A 2.73 .07* B <M B <A 2.19 .12 B <M B <A Nível socioeconômico 9,97 .01* B <A M <A 3,08 .05* B <A M <A 2,39 .09 B <A M <A 3.23 .04 B <A M <A B <A M <A .07* B <A M <A

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Investigamos se a complexidade do principal trabalho realizado por idosos ao longo da vida está relacionada às ações da RC no envelhecimento cognitivo saudável e essa relação é independente de variáveis confundidoras.

Anos de estudo, engajamento em atividades sociais, inteligência e nível sócio- econômico tiveram efeito sobre o desempenho cognitivo dos grupos de complexidade de trabalho. Entretanto, a ação isolada de cada uma dessas variáveis e suas associações mostraram diferentes contribuições. Isso sugere que o reflexo dessas variáveis no desempenho cognitivo afeta diferentemente as funções.

Anos de estudo foi uma variável que influenciou positivamente o desempenho nos testes fluência verbal fonológica e semântica (F A S e animais), Cubos e Trail Making A, corroborando estudo anterior que mostrou que a educação influencia o desempenho em tarefas verbais e outros processos controlados (Le Carret et al, 2003). De acordo ainda com esse estudo, as habilidades verbais e as visuo-espaciais são aprimoradas pela escolaridade, porém diferem quanto ao padrão de influência que recebem. Processos controlados sofrem efeito linear da escolaridade, e as diferenças encontradas entre todos os grupos para a fluência verbal fonológica confirmam esse resultado. Todavia, seria esperado que as tarefas visuo-espaciais sofressem efeito da escolaridade apenas nos níveis mais inferiores de complexidade de trabalho (BCT e MCT), mas o padrão de influência observado nessas habilidades que requeriam também velocidade de processamento (Cubos e Trail Making A) foi o mesmo observado para habilidades verbais.

O efeito isolado de anos de estudo não explicou as diferenças encontradas para o nível socioeconômico e para a inteligência, indicando que a ocupação profissional e outros fatores associados representam uma possibilidade de interferir e modificar o nível do funcionamento cognitivo.

Inteligência também teve efeito em vários testes, melhorando o desempenho na fluência verbal semântica (animais), no Trail Making A e na recordação imediata da Memória Lógica. Sua associação com o efeito de anos de estudo explicou as diferenças encontradas e anteriormente descritas, reforçando a idéia de que a escolaridade aumenta o funcionamento intelectual prévio (Scarmeas, Stern; 2003). Todavia, a inteligência não explicou as diferenças encontradas para a cópia da Figura Complexa de Rey e para a recuperação tardia da Memória Lógica (p <0,07). Outros estudos encontraram que o nível intelectual mensurado na infância (inteligência) não está associado ao funcionamento da memória, ao raciocínio e ao estado cognitivo geral de idosos saudáveis, sendo melhor explicado pela ação da escolaridade e da complexidade de trabalho, respectivamente (Staff et al, 2004; Potter et al, 2007).

O engajamento em estimulações cognitivas atuais isoladamente não teve efeito sobre o desempenho cognitivo dos grupos, porém sua associação com anos de estudo e inteligência explicou a diferença de desempenho entre os grupos de baixa e alta complexidade de trabalho na evocação tardia da Memória Lógica. É possível que o engajamento em atividades estimulantes mostre efeito mais modesto do que a ação de outras variáveis no desempenho cognitivo de idosos saudáveis em estudos transversais (Le Carret et al, 2003), porém sua ação sobre a redução no declínio cognitivo global, preservação da memória operacional, velocidade perceptual e menor o risco de incidência de DA seja mais evidente em estudos longitudinais (Wilson et al, 2002).

Até o exposto percebe-se que as diferenças no funcionamento cognitivo de idosos saudáveis inicialmente atribuídas ao nível de complexidade de trabalho são melhor explicadas por outras variáveis confundidoras. A ação dessas variáveis, isolada ou associadamente, modula o funcionamento de funções como memória verbal (recordações imediata e tardia), habilidades visuo-construtivas e que requeiram planejamento executivo e melhoram o desempenho em tarefas de fluência verbal (fonológica e semântica).

Entretanto, a contribuição do nível de complexidade de trabalho sobre o funcionamento cognitivo foi observada apenas no desempenho na cópia da Figura Complexa de Rey. A cópia da Figura Complexa de Rey é uma medida de funcionamento executivo, pois reflete o uso de estratégias e organização durante sua reprodução (Whalley et al, 2004; Newman, 2001). Esse fato sugere que o nível de complexidade de trabalho está relacionado a padrões de organização perceptual e de planejamento executivo.

O desempenho na cópia da Figura Complexa de Rey também está associada a alterações na escala de classificação de demência (CDR) (Watanabe et al, 2005) ao declínio da percepção espacial e ao avanço da DA (Kasai et al, 2006).

Nesse sentido, sugere-se que a cópia da Figura Complexa de Rey possa ser uma refinada medida que capta tanto as alterações decorrentes do envelhecimento saudável (diminuição do planejamento executivo) quanto às primeiras alterações do envelhecimento patológico. Há controvérsias sobre sua independência da escolaridade (Caffarra et al, 2006; Hikari, 2007) e o presente estudo aponta que o desempenho na cópia da Figura Complexa de Rey é decorrente de habilidades desenvolvidas pela complexidade do trabalho.

A diferença entre os grupos para o desempenho na cópia da Figura Complexa de Rey ocorreu no pior desempenho do grupo BCT em relação ao MCT. Esse mesmo padrão de diferença foi observado no nível de complexidade de trabalho com coisas, sugerindo que o grau de complexidade nesse domínio pode estar especificamente relacionado ao planejamento executivo, contradizendo trabalho anterior em que não foi encontrada associação entre complexidade de trabalho com coisas e funcionamento cognitivo (Schooler et al, 2004). Todavia, não houve relação entre outros testes que avaliam funcionamento executivo (Stroop e Trail Making) e complexidade do trabalho. Uma possível explicação é que a cópia da Figura Complexa de Rey pode ser considerada uma tarefa mais difícil em relação às demais. Desse modo, o cérebro recrutaria áreas frontais para manter o nível de desempenho nas tarefas de funções executivas (Buckner, 2004), compensando as alterações fisiológicas do envelhecimento. Assim, é possível que as diferenças entre os grupos de complexidade de trabalho apareceram apenas quando os mecanismos compensatórios não suportaram as demandas solicitadas na cópia da Figura Complexa de Rey, sugerindo que este teste é mais sensível aos níveis de reserva cognitiva.

A complexidade de trabalho com dados e pessoas foi associada a melhores desempenhos em tarefas que envolviam velocidade de processamento, atenção e memória verbal e fluência verbal, respectivamente. Nossos resultados corroboram estudo anterior no qual escores elevados no MEEM foram associados a menores taxas de prejuízo cognitivo, mesmo quando variáveis demográficas estavam controladas. Além disso, a complexidade de trabalho com dados esteve associada a melhores escores no MEEM mesmo quando a classe ocupacional foi controlada (Andel et al, 2007).

Esses resultados confirmam a idéia de que um ambiente de trabalho complexo pode estar associado ao melhor funcionamento cognitivo (Bosma et al, 2003; Schooler

et al, 2004) e sugerem que esse efeito pode ser observado no envelhecimento. Tais resultados também vão ao encontro da literatura sobre pacientes com DA. Complexidade de trabalho com dados e pessoas reduziu o risco de desenvolver DA em uma amostra de gêmeos (Andel et al, 2005) e em indivíduos portadores de DA, elevados níveis de escolaridade foram associadas à complexidade de trabalho com dados e pessoas predisseram taxas mais aceleradas de declínio cognitivo (Andel, 2006).

Possivelmente o envolvimento de elevadas demandas de trabalho com dados e pessoas cria um efeito protetor que se reflete no melhor desempenho cognitivo de idosos saudáveis, ao passo que nos idosos com DA a sintomatologia clinica da doença passa a ser expressa quando a ação protetora se esgota e assim, o declínio cognitivo torna-se acelerado. Desse modo, o mecanismo protetor da complexidade de trabalho ocorre também pelo seu grau de envolvimento com dados e pessoas e medeia as mudanças cognitivas relacionadas à idade e a expressão e curso da DA.

O mecanismo associado à complexidade ocupacional e ao funcionamento cognitivo pode ser a freqüência e a intensidade de desafios intelectuais, que permitem maior estimulação intelectual no ambiente de trabalho (Scooler et al, 2004).

Correlatos neuroanatômicos para a relação entre reserva cerebral, RC e funcionamento cognitivo no envelhecimento saudável e patológico foram encontrados em diversos estudos. Sole-Padullés e colaboradores (2007), analisaram as relações entre medidas de reserva cerebral e reserva cognitiva em idosos saudáveis, com comprometimento cognitivo leve (CCL) e pacientes em fase moderada da Doença de Alzheimer (DA) por meio de ressonância magnética estrutural (volumetria) e ao exame de ressonância magnética funcional (IRMf) (recordação de tarefa visual). Os pesquisadores encontraram nos idosos saudáveis relação direta entre nível de reserva cognitiva (medida pelo desempenho no teste Vocabulário, questionário sobre atividades

sociais, intelectuais e medidas ordinais sobre ocupação-educação) e volume cerebral, porém RC foi relacionada à diminuição da ativação em diversas regiões corticais e subcorticais, incluindo lobo frontal, o cerebelo o córtex temporal direito e o tálamo esquerdo. Quando as medidas de RC foram analisadas separadamente, apenas nível de educação-ocupação teve efeito significativo sobre ativação dessas áreas cerebrais. Nos idosos com CCL e DA, maior RC esteve relacionada a volumes cerebrais menores e ao aumento da ativação cerebral no cíngulo anterior direito e no giro lingual. Em suma, idosos saudáveis com mais reserva mostram menos ativação cerebral ao passo que em processos patológicos essa relação é direta, sugerindo ação da RC nesses padrões. Adicionalmente, Stern (Stern et al, 2003) mostrou que a RC permite aos indivíduos lidarem com as mudanças e desafios em geral, ao invés de apenas mostrarem melhor desempenho em um domínio cognitivo. Nossos resultados corroboram essa afirmação, pois mostram que a complexidade de trabalho como medida de reserva cognitiva está relacionada ao desempenho na cópia da Figura Complexa de Rey, esta sendo uma medida de funcionamento executivo, ou seja, o desempenho do sujeito está relacionado ao quanto este consegue manipular e planejar a demanda imposta pela tarefa e não apenas pela simples reprodução da figura.

O desempenho no teste Memória Lógica foi considerado por Johnson e colaboradores (Johnson, 2003) bom preditor de conversão do envelhecimento saudável para DA. Na presente amostra, a ação isolada de cada co-variável esteve relacionada às diferenças encontradas entre os grupos na recordação imediata, porém na tardia somente a ação conjunta das variáveis explicou as diferenças entre os grupos. É possível que o efeito associado de anos de estudo, engajamento em atividades estimulantes e inteligência, somados à ação da complexidade de trabalho exercido atuem na manutenção do funcionamento da memória episódica, diminuam o impacto das

alterações decorrentes do envelhecimento e seja bom indicador dos limites entre a senescência saudável e patológica.

É possível ainda que a atuação da complexidade de trabalho, como medida direta de RC no desempenho cognitivo de idosos saudáveis, module o desempenho de tarefas que incluam planejamento executivo e habilidades visuo-construtivas (cópia da Figura Complexa de Rey) enquanto a agregação de estimulações cognitivas recebidas ao longo da vida (anos de estudo, complexidade de trabalho, engajamento em atividades cognitivas e inteligência) estejam associadas à manutenção de conteúdos episódicos verbais (Memória Lógica). Com estes resultados, podemos supor, baseado na revisão de Kolb e colaboradores (1998), que quanto mais estimulações ao longo da vida, maior a plasticidade neuronal. Nesse sentido, o engajamento em atividades intelectuais serve para proteger indivíduos contra o declínio cognitivo relacionado à idade (Hultsch et al, 1999).

Nosso estudo agrega valor a estudos anteriores que afirmaram que a análise da complexidade do trabalho deve ter prioridade na investigação das demandas cognitivas envolvidas na sua execução, bem como nas relações existentes com coisas, dados e pessoas. Naturalmente o presente trabalho apresenta inúmeras limitações, algumas decorrentes do desenho experimental. Não foi possível compreender plenamente os mecanismos subjacentes à formação da RC, à medida que seria necessária a utilização de técnicas de neuroimagem. Outra limitação foi a impossibilidade de investigar como a complexidade do trabalho e as demais variáveis confundidoras atuam continuamente sobre o envelhecimento, indicando a necessidade de novos estudos longitudinais.

Contudo, o presente trabalho possibilitou o entendimento de que as estimulações sistematicamente recebidas ao longo da vida por meio da ocupação profissional interferem em funções cognitivas específicas.

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1. O nível de complexidade de trabalho com coisas está relacionado ao melhor desempenho na cópia da Figura Complexa de Rey, sugerindo que estimulações ocupacionais nesse domínio auxiliem idosos saudáveis em tarefas que exigem planejamento executivo e habilidades visuo-espaciais, sendo essa relação independente de variáveis confundidoras.

2. Complexidade de trabalho com dados está relacionada ao melhor desempenho em tarefas que envolvam atenção e velocidade de processamento ao passo que o grau de envolvimento com pessoas está relacionado ao melhor desempenho em tarefas de memória e fluência verbal.

3. A complexidade de trabalho pode ser compreendida como uma medida direta na formação de reserva cognitiva em idosos saudáveis, uma vez que proporciona melhor desempenho de idosos em tarefas específicas e pode estar relacionada à preservação das habilidades frente às alterações cognitivas decorrentes do envelhecimento saudável.

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Nível de Complexidade de Trabalho (Schooler et al, 1999)

Complexidade de Trabalho com Dados

Definição Dados: Informação e conhecimento obtidos por observação, investigação, interpretação e criação mental. Incluem números, palavras, símbolos, idéias, conceitos e verbalização oral também.

Níveis: 1-Sem relações significativas, 2-Ler instruções, 3-Copiar dados, 4-Comparar dados, 5-Computar dados, 6-Compilar dados, 7-Analisar dados, 8-Coordenar dados, 9- Sintetizar dados.

Complexidade de Trabalho com Coisas

Definição Coisas: Objetos inanimados. Inclui substâncias ou materiais, máquinas, teclas, equipamentos e produtos. É tocável e possui uma forma e outras características físicas.

Níveis: 1-sem relações significativas, 2- manipulação manual, 3- retirar- colocar

materiais, 4- controle de máquinas, 5- manipular, 6- dirigir- operar, 7- operar- controlar, 8- trabalhos com precisão, 9- criar máquinas e equipamentos,

Complexidade de Trabalho com Pessoas

Níveis: sem relações significativas, 2- servir, 3- receber instruções e ajudar, 4- falar ou sinalizar, 5- persuadir, 6- divertir, 7- supervisionar, 8- instruir, 9- negociar,10-

aconselhar.

Complexidade de Trabalho Total

Níveis: 1- nada complexo, 2- raciocínio mínimo, 3- medições simples, esquemas e planejamento rudimentar, 4- resolução de problemas: conhecimento prático ou técnico, 5- resolução de problema:lidar com pessoas e empatia, 6- resolução de problemas complexos: “insight”, originalidade ou pensamento (pode envolver variáveis cujas relações não sejam extremamente complexas), 7- Criar análise de sistema complexo, síntese ou ambos, em que variáveis são envolvidas e os resultados são desconhecidos.

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