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Efeito da certificação no desempenho económico-financeiro

Capítulo 5. Certificação de SGIDI: Análise quantitativa

5.7. Efeito da certificação no desempenho económico-financeiro

Foi realizado o teste de Wilcoxon, para avaliar em que medida as empresas apresentam melhores resultados económico-financeiros após a certificação do SGIDI. Os indicadores analisados são o retorno de ativos (ROA), a produtividade do trabalho (valor acrescentado bruto por trabalhador), o retorno das vendas (ROS), o lucro antes de impostos, amortizações e depreciações (EBITDA) e número total de trabalhadores, comparando, para cada empresa, os dados de um ano antes e um ano depois da certificação.

A escolha do teste não paramétrico de Wilcoxon deu-se pelo facto de se ter constatado, através do teste de normalidade de Shapiro-Wilk que as distribuições das variáveis referidas não podem ser consideradas normais (p<0,01). Verifica-se melhoria em todos os indicadores avaliados (Tabela 33), sendo as diferenças estatisticamente significativas nos casos do volume de vendas (z=-2,09, p<0,05), do número de trabalhadores (z=-3,28, p<0,05), dos resultados: EBITDA (z=3,00, p<0,05) e do retorno dos ativos (z=-2,17, p<0,05).

Tabela 33. Resultados do teste de Wilcoxon, comparando um ano antes e um ano após a certificação do SGIDI, para todas as empresas em estudo.

Variável Valor médio

antes

Valor médio depois

Z Sig.

Volume de vendas (milhões de euros) 28,093 33,592 -2,087 0,037

Produtividade do trabalho 43,6131 49,7172 -1,373 0,170

Número de trabalhadores 339 398 -3,285 0,001

EBITDA (mil euros) 2961,4 3959,7 -2,995 0,003

ROA (%) 5,9 8,9 -2,173 0,030

ROS (%) 5,6 6,5 -1,524 0,127

Assim, a média de resultados de volume de vendas é de 28,093 milhões de euros, enquanto que, após a certificação, passa a 33,592 milhões de euros, representando um crescimento de 19,6%. Relativamente ao número médio de trabalhadores, passa de 339 para 398, após a certificação, o que representa um aumento do emprego de 17,4%. O EBITDA passa de 2961,4 mil euros para 3959,7 mil euros, e o retorno dos ativos de 5,9% para 8,9%, o que representa um crescimento de 33,7% e 50,8%, respetivamente.

Se se analisarem os dados unicamente para PME’s (Tabela 34), verificam-se resultados semelhantes, deixando, no entanto, a melhoria no ROA de ser significativa (p=0,061).

Conclui-se, assim, que as empresas, independentemente da sua dimensão (Tabela 33), conseguem melhorar de forma significativa o volume de vendas, o número de postos de trabalho, os resultados, avaliados através do EBITDA, e a rentabilidade através do retorno dos ativos (ROA), não sendo este último significativo, no caso das PME’s (Tabela 34). Estes resultados estão de acordo com resultados de estudos relativos ao impacto da certificação de sistemas de gestão da qualidade e ambiental (Saizarbitoria & Landin,

2011). Contrariamente ao observado em outros estudos sobre a certificação do SGQ (Corbett et al., 2005), não foi observado qualquer aumento na produtividade com a certificação do SGIDI. Este facto já tinha sido constatado, mesmo com diferentes motivações e níveis de internalização, resultantes da análise de clusters. O estudo de caso ajudou a encontrar algumas explicações, podendo o facto de as empresas estarem focadas em novos projetos e na criação de valor levar a que procurem mais a obtenção de ganhos externos do que internos, promovendo, assim, melhorias ao nível da rentabilidade mas não da produtividade.

Tabela 34. Resultados do teste de Wilcoxon, comparando um ano antes e um ano após a certificação do SGIDI, para as PME’s em estudo.

Variável Valor médio

antes

Valor médio depois

Z Sig.

Volume de vendas (milhões de euros) 8,97 9,83 -2,623 0,009

Produtividade do trabalho 42,997 51,247 -1,682 0,093

Número de trabalhadores 66 74 -3,324 0,001

EBITDA 1702 1914 -2,892 0,004

ROA 6,4 9,2 -1,870 0,061

ROS (%) 5,9 6,7 -1,386 0,166

Foi testada a possibilidade de haver diferenças entre as características das empresas, nomeadamente dimensão, tempo de certificação e setor económico, não sendo encontradas diferenças estatisticamente significativas.

5.8. Síntese conclusiva

Foram recebidos 30 questionários de empresas com SGIDI certificado, o que representa 41% da população em estudo. Relativamente à classificação por dimensão da empresa, a maioria era de dimensão pequena (56,7%), seguindo-se as de dimensão média (26,7%) e grande (16,7%). As empresas apresentavam datas de certificação desde 2007 a 2011, sendo a maioria certificada em 2011 (56,6%), em 2010 (20,0%) e em 2009 (10,0%).

Foi efetuada a análise descritiva dos resultados obtidos, tendo sido concluído que a certificação do SGIDI pelas empresas foi levada a cabo principalmente por razões de ordem interna, associadas a sistematizar as atividades de IDI, estimular o aparecimento

de novos projetos e promover a criação de valor e a criatividade. As razões motivacionais externas importantes para a maioria das empresas foram a promoção do reconhecimento da capacidade de inovação, através da certificação do SGIDI. Em termos de internalização, foram verificados quais os itens das dimensões documentação, formação e comunicação, auditorias e envolvimento e evolução que as empresas mais concordavam ter implementado. Na dimensão documentação, o item que as empresas mais concordaram foi que as práticas de rotina cumprem os procedimentos documentados, baseados nos requisitos da NP4457. Na dimensão formação e comunicação foi o item a política de inovação, objetivos e procedimentos serem explicados claramente a todos os colaboradores. Na dimensão auditorias foi o item os resultados das auditorias internas serem usados como base na melhoria dos processos de inovação. Por fim, na dimensão envolvimento e evolução, o item com maior concordância foi a conceção e desenvolvimento do SGIDI ter sido uma fonte de introdução de novas práticas na empresa.

A análise fatorial permitiu extrair dois fatores para a motivação externa e dois para a motivação interna: Os fatores extraídos para razões externas são a “motivação de marketing” e a “motivação com políticas governamentais”. Relativamente às razões internas, os fatores são a “motivação para a criatividade e novos projetos” e a “motivação para a gestão do conhecimento”. Quanto à internalização, e na dimensão “documentação” foram extraídos os fatores de “adequação da documentação” e “avaliação da adesão à documentação”. Na dimensão formação e comunicação, foram extraídos os fatores “formação” e “reuniões de inovação”. Na dimensão auditorias, foram extraídos os fatores “ satisfação e valorização das auditorias internas”, “ participação e retorno das auditorias” e “desfasamento das práticas”. Finalmente, na dimensão envolvimento e evolução, foram extraídos os fatores “melhoria do SGIDI” e “evolução do SGIDI”.

A análise de clusters efetuada com os fatores descritos e aos casos das empresas inquiridas, permitiu identificar três grupos de empresas caracterizados por: elevada motivação interna e internalização (Grupo 1), baixa internalização e melhoria do SGIDI (Grupo 2) e cumprimento de políticas de IDI e elevada internalização (Grupo 3).

Não foram encontradas diferenças estatisticamente significativas entre as empresas nos diferentes grupos, tendo em consideração a dimensão, o tempo de certificação e o sector. De igual modo, não foram encontradas diferenças significativas no desempenho

do SGIDI para o ano de 2012, considerando indicadores relativos a entradas, saídas, atividades e resultados.

Relativamente ao efeito da certificação, e comparando os indicadores económico- financeiros um ano antes e um ano após a certificação, verifica-se que há melhoria em todos os indicadores estudados, sendo significativa para o nível do volume de vendas, com um crescimento médio de 19,6% do volume de vendas, do número de trabalhadores, com crescimento de 17,4%, dos resultados, avaliados através do crescimento médio de EBITDA de 33,7%, e do retorno dos ativos, avaliado através do crescimento médio de 50,8% do ROA.

Tendo em consideração a classificação das empresas em grupos, verifica-se diferença significativa, um ano antes e um ano após a certificação, consoante a motivação e o nível de internalização para a rentabilidade das vendas, avaliada através do retorno das vendas (ROS) e no retorno dos ativos (ROA).

Analisando as correlações entre fatores, verifica-se uma relação entre “comunicação e marketing”, da dimensão de motivação externa, e “criatividade e novos projetos”, da dimensão de motivação interna.

A relação da motivação com internalização traduz-se entre o cumprimento de políticas governamentais e o desfasamento das práticas, ao nível da necessidade de preparação das auditorias externas de certificação.

Relativamente à relação entre fatores de motivação e de internalização, verifica-se uma correlação significativa entre a motivação para a criatividade e novos projetos e a adequação da documentação e a existência de reuniões de IDI. Considerando a motivação e a gestão de conhecimento, verifica-se correlação com o fator formação, satisfação e valorização das auditorias internas, e melhoria.

O presente capítulo tem como objetivo apresentar os resultados do estudo de caso múltiplo, realizado em 6 empresas com certificação IDI, segundo a norma NP4457 (Tabela 35). O estudo realizou-se de 15/04/2014 a 31/07/2014, em empresas dos distritos de Aveiro e Porto, pertencentes a diferentes setores de atividade económica, com diferentes dimensões e diferentes entidades certificadoras. A data de certificação varia igualmente, com empresas certificadas desde 12/2008 até 10/2011. Outra característica considerada importante na amostragem foi ter empresas classificadas em todos os três grupos produzidos na análise de clusters, no estudo qualitativo (capítulo 5, ponto 5.5).

Tabela 35. Lista das empresas estudadas. Setor, dimensão, entidade certificadora e data de certificação.

Empresa. Sigla Setor Dimensão Entidade certificadora

Data de certificação

Grupo*

Bresimar: BSM Comércio Pequena SGS 07/2011 1

Exatronic: EXA Consultoria/ Engenharia

Pequena APCER 12/2008 1

Oliveira & Irmão: OLI

Indústria Grande APCER 07/2010 2

Ponto C: PTC TIC Média BVQI 06/2009 1

Shortcut: SCT TIC Pequena LUSAENOR 08/2011 3

XLM: XLM TIC Média APCER 10/2011 2

O estudo foi efetuado através da realização de entrevistas, observação e análise de documentos, tal como definido no ponto 5.3.

Para o caso da Bresimar, a entrevista foi realizada de forma escrita com o responsável de IDI, por limitações de tempo da entrevistada, e análise e pesquisa de fontes documentais de declarações da gestão de topo e informação institucional (site e apresentações comerciais). Para o caso da Exatronic, Ponto C, XLM, a entrevista foi realizada com o gestor ou responsável do SGIDI, sendo complementada com fontes documentais de declarações da gestão de topo, assim como de informação institucional (site e manual de gestão). Para o caso da Oliveira & Irmão, foram realizadas entrevistas com a responsável do SGIDI e o presidente do Conselho de Administração, igualmente complementadas com fontes documentais institucionais (site, catálogo, notícias e relatório e contas) e trabalhos de investigação de mestrados que acolheram na empresa. Finalmente, para o caso da Shortcut, a entrevista foi realizada com o responsável pelo SGIDI que é também, fundador e sócio gerente (gestão de topo) da empresa.

Para a realização do estudo foi utilizado um protocolo de investigação (anexo III) previamente elaborado, tendo em consideração os objetivos de investigação, que foram exploratórios, no sentido de compreender o modelo proposto e novas realidades, explicativos, no sentido de descobrir o porquê da utilização de modelos ou técnicas, e descritivos, no sentido de expor factos relativos ao SGIDI.

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