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Efeito do Programa Bolsa-Família sobre o trabalho infantil no Brasil

5. RESULTADOS E DISCUSSÃO

5.2. Avaliação do Programa Bolsa Família e sua influência no trabalho infantil

5.2.4 Efeito do Programa Bolsa-Família sobre o trabalho infantil no Brasil

Para chegar aos resultados expostos nesta seção, foram testados vários algoritmos de pareamento, conforme descrito em Caliendo e Kopeinig (2005). Os resultados dos algoritmos testados, em geral, foram bastante semelhantes no que se refere ao sinal encontrado, à magnitude do coeficiente e à significância estatística. Limita-se nesta seção a apresentação do resultado dos testes com algoritmo pelo método do vizinho mais próximo (Tabela 16). Os outros métodos testados apresentaram resultado bastante semelhante e assegura-se que não há nenhuma perda em relação aos outros testes feitos. Os resultados dos outros métodos empregados podem ser visualizados nos Apêndices C e D.

Tabela 16 - Efeito de tratamento médio sobre o tratado para as variáveis trabalho infantil (trabainfantil), trabalho infantil de meninas (trabinfmeninas), trabalho infantil de negros (trabinfnegros) e trabalho infantil doméstico (trabinfdom), grupo de famílias com renda R$ 100,00, Brasil, ano de 2006

Variável de Resposta Tratamento Controle Estimador do ATT (Vizinho mais Próximo) Trabinfantil 0,1360 0,1875 -0,0515 (-4.16)* Trabinfmeninas 0,0862 0,1146 -0,0284 (-1.96)** Trabinfnegros 0,1363 0,2250 -0,0886 (-3.54)* Trabinfdom 0,1937 0,1111 0,0826 (2.19)** Fonte: Resultados da pesquisa.

*, ** e *** significativos a 1%, 5% e 10%, respectivamente. Ns não significativo.

Para o grupo de famílias com renda até R$ 100,00, uma análise do ATT para as variáveis de interesse indica que o PBF diminui a proporção de trabalho infantil, de forma geral, e do trabalho infantil para meninas e para negros. No entanto, quando se verifica o efeito sobre o trabalho infantil doméstico, percebe- se que ocorre uma elevação do trabalho nesta categoria.

A magnitude dos estimadores aponta que a presença do programa para esta faixa de renda permite diminuir em até 5% a presença de trabalho infantil, em geral, 2,8% o trabalho das meninas e 8,9% o trabalho das crianças declaradas negras. O trabalho infantil doméstico, porém se eleva em 8% com a presença do programa.

Fazendo a mesma análise para o grupo de famílias com renda até R$300,00 (Tabela 17), percebe-se que assim como no grupo de renda de até R$100,00, a presença do PBF ocasionou uma redução do trabinfantil,

trabinfmeninas e trabinfnegros, mas não foi capaz de reduzir a variável trabinfdom.

Tabela 17 - Efeito de tratamento médio sobre o tratado para as variáveis trabalho infantil (trabainfantil), trabalho infantil de meninas (trabinfmeninas), trabalho infantil de negros (trabinfnegros) e trabalho infantil doméstico (trabinfdom), grupo de famílias com renda R$ 300,00, Brasil, ano de 2006

Variável de Resposta Tratamento Controle Estimador do ATT (Vizinho mais Próximo) Trabinfantil 0,1181 0,1570 -0,0389 (-5.84)* Trabinfmeninas 0,0770 0,1026 -0,0256 (3.41)* Trabinfnegros 0,1101 0,1767 -0,0665 (-5.35)* Trabinfdom 0,1813 0,1158 0,0655 (2.77)* Fonte: Resultados da pesquisa.

*, ** e *** significativos a 1%, 5% e 10%, respectivamente. Ns não significativo.

Nesta segunda faixa de renda, atribui-se ao PBF a redução de 3,9% do trabalho infantil no Brasil. Em se tratando de meninas, essa diminuição foi de 2,5% enquanto para os negros foi de 6,6%. Para a variável trabalho infantil doméstico (trabinfdom), não foi registrada redução, e sim aumento de 6,5%.

Quando se comparam os dois grupos de renda, observa-se que no segundo grupo a diminuição do trabalho infantil foi menor e que o aumento no trabalho doméstico também foi. A menor renda per capita pode justificar o fato de o trabalho infantil ter diminuído menos para o grupo com renda de R$ 100,00.

O PBF é um programa social com condicionalidades sendo a principal a que obriga a manutenção das crianças na escola, e esta é bastante passível de fiscalização, uma vez que as escolas são obrigadas a informar a presença das crianças para os gestores do programa. Outra condicionalidade diz respeito a não permitir que a criança esteja em situação de trabalho infantil. No entanto, para esta condicionalidade, não existe uma fiscalização efetiva. Mesmo não ocorrendo tal fiscalização, houve redução no coeficiente de trabalho infantil e tal fato pode estar associado à permanência da criança na escola, o que colabora para a diminuição do tempo dedicado ao trabalho. E tal fato também pode ser atribuído aos resquícios do PETI em que de fato ocorria uma fiscalização já que a criança beneficiada tinha que obrigatoriamente participar da jornada de atividades complementares.

Para as crianças negras, registrou-se diminuição do trabalho infantil dado o benefício do PBF. Mais uma vez, destaca-se que não há uma preferência por cor na execução do trabalho infantil e nem na distribuição do PBF, conforme provam as diversas estatísticas apresentadas neste trabalho. A diminuição para as crianças negras deve ser devida à diminuição do trabalho infantil como um todo.

Houve redução do trabalho infantil para meninas, porém, nota-se que em ambos os cortes de renda, a redução foi menor do que a do trabalho infantil (2,84 e 2,56 para as meninas e 5,15 e 3,89 para o trabalho infantil, em geral). Ora, como o trabalho infantil doméstico não apresentou redução, e sim aumento, e sendo as meninas responsáveis por 93% do trabalho infantil doméstico, justifica- se essa menor redução no trabalho das meninas em relação ao trabalho infantil, de forma geral.

Acerca da não diminuição do trabalho infantil doméstico tem-se como principal explicação a própria caracterização deste tipo de atividade. O trabalho doméstico, referenciado por Oliva (2006) como uma “chaga oculta”, ocorre dentro dos lares (de terceiros), fato que prejudica sobremaneira a fiscalização, sujeitando as crianças a toda forma de exploração e a jornadas de trabalho mais longas do que o trabalho infantil fora dos lares.

Revestido da máscara de proteção social (Custódio, 2006), que de fato não o é, torna-se mais difícil proteger as crianças desse tipo de atividade devido a já comentada dificuldade de adentrar aos lares. Registrado principalmente no meio rural, tais crianças são deixadas em casas de família para, na maioria das vezes, em troca de salários baixos, chegando até a nulidade, executar atividades domésticas.

Sobre o nível de salários, Sabóia (2000) relata que este é baixo, porém, pode ser até maior que o salário registrado em outras atividades. A mesma autora constatou que existe, mas é raro, a ausência de remuneração, e as regiões Norte e Nordeste são as que mais registram meninas trabalhando sem perceberem qualquer remuneração (12,6% e 6,3% respectivamente).

O trabalho doméstico das crianças consiste em uma variedade de atividades que, tradicionalmente, são desenvolvidas pela mulher na casa, como o

de cuidar das crianças, preparar comida, limpar, lavar, passar, cuidar de doentes (OIT, 2004). Com a devida implementação das atividades referentes às condicionalidades do PBF, é muito provável que estes resultados sejam ainda mais satisfatórios em relação à diminuição do trabalho infantil.