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5 RESULTADOS E DISCUSSÕES

12. Para as temperaturas de 500 e 550 °C, a reversão da austenita acontece ao longo das ripas

3.1.4 Efeitos composicionais que afetam a estabilização da austenita

A estabilização da γr é controlada por um processo difusivo, que envolve a mobilidade

de elementos gamagênicos, tais como níquel e manganês, da matriz martensítica α’r até a

interface γ/α’(DMITRIEVA, 2011; KUZMINA, 2015 b); RAABE, 2013; SONG, 2010 a); SONG, 2010 b; YUAN, 2012). Tipicamente, após algumas horas de revenimento isotérmico em temperaturas entre 600 e 625 °C nos AISM, são produzidas microestruturas compostas por matriz de α’r, com presença de frações volumétricas de γr entre 0,1 e 0,2 (ENERHAUG, 2001;

KONDO, 2003; LEEM, 2001; LIU, 2010; ZOU, 2010). O estudo realizado por YUAN, 2016, mostrou que a porcentagem volumétrica de austenita revertida estável, após revenimento em 600 °C, pode aumentar de 15 para 30 %, com o aumento do patamar isotérmico de 1 para 12 horas, respectivamente. Porém, o aumento da temperatura de revenimento acima de 600 °C diminuiu fortemente a estabilidade da mesma. A comparação entre temperatura e tempo é mostrada na Figura 3. 14.

Como mostrado por LEEM, 2001 e LEE, 2003, o processo de estabilização da austenita na temperatura ambiente será mais eficiente para tempos longos e baixas temperaturas, devido à produção de frações baixas de austenita, porém, muito estável. A Figura 3. 15 a) mostra que para temperaturas menores de revenimento, o teor de níquel aumenta consideravelmente, sendo que os outros elementos de liga permanecem invariáveis. Isto foi proposto de maneira esquemática, através do fator de estabilidade da austenita (fγ), mostrado na Figura 3. 15 b).

70 Altos valores de fγ estão relacionados a baixas frações de austenita revertida em alta

temperatura (γat) e teor alto de níquel. Porém, quando o fγ é baixo, a abundante γat transforma

para martensita nova durante o resfriamento devido à baixa partição de níquel.

Figura 3. 14. Estabilização da austenita no AISM 15,8 Cr – 5,2 Ni – 0,66 Mo – 0,04 C % em peso, em função da: a) temperatura de revenimento entre 500 e 700 °C, e patamar isotérmico fixo de 4 horas; b) temperatura de revenimento fixa de 600 °C, e tempo de patamar isotérmico entre 1 e 12 horas. Adaptado de YUAN, 2016.

A estabilidade térmica da γr é incrementada através de processos difusivos com cinéticas

de transformação baixas, tipicamente associadas às temperaturas muito próximas da Ac1. Isto é relacionado ao efeito combinado da forte partição de níquel na austenita (BOJACK, 2012; KONDO, 2003; LIU, 2010; NIESSEN, 2017; SONG, 2010 b) e ao tamanho refinado das ripas (ENERHAUG, 2001; JIANG, 2013; LEE, 2003; LEE, 2009; YUAN, 2016; ZHANG, 2015) atingido em temperaturas intercríticas baixas. Embora já tenha sido esclarecido na literatura que a partição de níquel é fundamental para a estabilização da austenita em temperatura ambiente nos AISM, esses resultados têm sido obtidos através de medições pontuais por microscopia eletrônica de transmissão (JIANG, 2013; KONDO, 2003; LIU, 2010; SONG, 2010 b); ZHANG, 2015). Como mostrado por SONG, 2010 b) na Figura 3. 16 e por JIANG, 2014 na Figura 3. 17, há aumento do teor de níquel dentro da austenita revertida após revenimento. Porém, o efeito dos elementos estabilizadores da ferrita, como o cromo e o molibdênio é ainda

71 mais difícil de quantificar, devido à pequena partição e à tendência à segregação nas interfaces γ/α’ (RAABE, 2013). Segundo o relatado por KONDO, 2003 e SONG, 2010 b), a diferença no teor de cromo dentro da austenita e martensita não é estatisticamente diferençável. Porém, segundo JIANG, 2013, o teor de cromo dentro da austenita diminui em relação ao da matriz.

Figura 3. 15. a) Concentração de elementos de liga na austenita revertida para diferentes temperaturas de revenimento intercrítico; b) representação esquemática da estabilidade da austenita revertida para diferentes temperaturas de revenimento intercrítico. 𝐟𝛄: Fator de estabilidade da austenita, γr fração volumétrica de austenita revertida na temperatura ambiente,

γat: fração volumétrica de austenita gerada no final do patamar isotérmico. Adaptada de (LEEM,

2001)

Além da dificuldade na determinação da partição do cromo e do molibdênio na austenita revertida, a quantificação direta dos elementos intersticiais como o carbono e o nitrogênio através de MET é ainda mais desafiadora. Métodos indiretos, como a medição do parâmetro de rede, têm sido usados para quantificar indiretamente o teor de carbono na austenita (BILMES, 2001). Porém, essas estimativas são imprecisas nos aços inoxidáveis estabilizados com titânio, nióbio e vanádio, devido à captura do carbono da solução sólida durante a precipitação de MCN (SONG, 2010 a); ZHANG, 2015).

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Figura 3. 16. Caracterização composicional por microscopia eletrônica de transmissão da austenita revertida na matriz de martensita, após revenimento em 580 °C durante 2 horas no AISM 12,3 Cr – 3,9 Ni – 0,5 Mo – 0,05 C % em peso. Adaptado de SONG, 2010.

A técnica de análise composicional por tomografia de sonda atômica tem sido usada para o estudo da estabilização da austenita através da partição de carbono em aços ao carbono (CABALLERO, 2007; CABALLERO, 2010; HERBIG; 2015; PARK, 2015), aços inoxidáveis martensíticos 13 % Cr (YUAN, 2012), e através da partição de manganês em aços ao carbono de médio manganês e aços Maraging (DMITRIEVA, 2011; HERBIG, 2015; KUZMINA, 2015 b); RAABE, 2013). Porém, poucos estudos por TSA têm sido publicados em relação à caracterização do mecanismo de reversão da austenita em AISM. SONG, 2010 realizou caracterização composicional por TSA da austenita revertida após revenimento intercrítico simples em 590 °C por 30 minutos do AISM do tipo 12,3 Cr – 3,9 Ni – 0,5 Mo – 0,05 C % em peso, sem estabilização por titânio. Embora tenha sido observada a forte partição de níquel dentro da austenita, não é claro por quê houve partição de cromo dentro da mesma. Este resultado não é termodinamicamente esperado, pois o cromo é estabilizador da matriz ferrítica. Este fenômeno provavelmente está relacionado à precipitação de M23C6 e ao tamanho da região

de análise composicional dentro da austenita. Os resultados são mostrados na Figura 3. 18. No entanto, para esclarecer o efeito dos elementos estabilizadores da ferrita e dos elementos

73 intersticiais na reversão e estabilização da austenita nos AISM, ainda é necessário conduzir análises composicionais cuidadosas após o revenimento em condições controladas.

Figura 3. 17. Caracterização composicional por microscopia eletrônica de transmissão da austenita revertida na matriz de martensita, após revenimento em 650 °C durante 2 horas no AISM 15 Cr – 6,5 Ni – 2,0 Mo – 1,5 Cu – 0,02 C, % em peso. Adaptado de JIANG, 2013.

Figura 3. 18. a) Reconstrução volumétrica tridimensional do volume analisado por tomografia de sonda atômica, após revenimento intercrítico em 590 °C por 30 minutos, do AISM 12,3 Cr – 3,9 Ni – 0,5 Mo – 0,05 C % em peso; b) análise composicional quantitativa através da interface austenita/martensita. Adaptado de SONG, 2011. As regiões A, B, C e D da imagem de distribuição de íons (a) correspondem com as linhas tracejadas do perfil de composição atômica (b).

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