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Os hormônios esteróides gonadais estrogênio e progesterona, derivados do colesterol, são moléculas sinalizadoras com uma grande variedade de

sua função principal, que é a reprodutiva (Asarian & Geary, 2006; Gustafsson, 1999).

Os seres humanos produzem basicamente três estrógenos, o estradiol (E2), a estrona (E1) e o estriol (E3) (Dubey et al., 2004). O estradiol (E2) é a

forma predominante no organismo humano durante a fase reprodutiva da mulher, sendo importante para o desenvolvimento da glândula mamária e do útero, para a manutenção da gravidez e densidade óssea, para proteção contra doenças cardiovasculares. O estradiol é sintetizado principalmente no ovário, porém pode também ser produzido perifericamente por ação da enzima aromatase no tecido adiposo, pele, endométrio, mucosa vaginal, mama, fígado, vasos sangüíneos e coração (Dubey e Jackson, 2001;Vaya e Tamir, 2004).

Os estrógenos parecem exercer seus efeitos em praticamente todas as células do organismo, através de mecanismos moleculares e celulares variados. Suas ações podem ser iniciadas tanto a nível nuclear quanto extranuclear. Os mecanismos nucleares são atribuídos aos receptores de estrogênio (ER), subtipos ERα e ERβ, uma vez que eles agem como fatores transcricionais ao se ligarem ao elemento de resposta ao estrogênio e dessa forma regulam a transcrição gênica. Uma pequena porcentagem (2-3%) dos receptores de estrogênio podem estar localizados na membrana celular, citosol ou mesmo na mitocôndria, e contribuem para os efeitos rápidos do estrogênio em diversos tecidos, também chamados de via alternativa (Xu et al., 2003; Chen et al., 2004; Razandi et al., 1999; Kelly &Levin, 2001; Nadal et al., 2001; Pedram et al., 2006).

ligação dos estrógenos aos receptores ERα e ERβ. Deste modo, qualquer composto que induza a dimerização do receptor e subsequente ligação ao ERE (elemento de resposta ao estrogênio), pode apresentar efeito estrógeno (Setchell e Cassidy, 1999; Limer e Speirs, 2004; Cornwell et al., 2004).

Pode-se observar diferenças na distribuição dos subtipos de receptor bem como na afinidade do ligante a esses subtipos. Alguns tecidos, como útero, tecido mamário, vagina, rins e núcleo arqueado hipotalâmico expressam predominantemente ERα, enquanto pulmão, ossos, trato urogenital, sistema cardiovascular, próstata, ovário, células da granulosa e núcleo paraventricular hipotalâmico expressam predominantemente ERβ. Outros tecidos como tireóide e hipófise expressam ambos ERβ e ERα (Cornwell et al., 2004; Limer e Speirs, 2004; Tanaka et al., 2003).

Os ERs são expressos tanto em tecidos com função reprodutora quanto não-reprodutora. A principal função da sinalização via ER em fêmeas está relacionada ao funcionamento normal do trato reprodutivo, como o crescimento uterino, características sexuais secundárias e comportamento reprodutivo (Muramatsu & Inoue, 2000). Em homens, a sinalização via ER é necessária no desenvolvimento normal e fisiológico dos órgãos reprodutivos (Eddy et al., 1996). A deficiência de estrogênio parece estar envolvida em muitos processos patológicos, como aterosclerose, osteoporose e processos de degeneração do sistema nervoso, enquanto que elevados níveis de estrogênio parecem estar ligados ao desenvolvimento de tumores mamários e uterinos (Diel, 2002; Tanaka et al., 2003).

complexidade dos mecanismos celulares envolvidos na ação estrogênica. Dentre as importantes descobertas podemos citar as de Onate et al. (1995) e Lavinsky et al., (1998) que descobriram através de estudos in vitro os co- ativadores e co-repressores associados aos receptores de estrogênio, sendo estes envolvidos na iniciação e regulação da transcrição gênica pelos ERs (Diel, 2002).

São dois os principais receptores de progesterona atualmente descritos: receptor do tipo B de progesterona (PR-B) e receptor do tipo A de progesterona (PR-A). A progesterona, além de servir como um intermediário na biossíntese de androgênios e estrógenos, exerce influência importante no comportamento sexual, secreção de gonadotrofinas e em órgãos reprodutivos e não-reprodutivos (Jamnongjit & Hammes, 2006).

Muitas das ações dos hormônios esteróides gonadais podem afetar a massa corporal e a deposição de tecido adiposo, independente da ingestão, incluindo efeitos que afetam o dispêndio energético, função gastrointestinal, metabolismo, crescimento e composição corporal (Butera, 2009).

Em ratos, a liberação, tanto de estrogênio quanto de progesterona, a partir do ovário, varia de forma cíclica, em um período que dura de 4 a 5 dias e, juntamente com eventos neuroendócrinos no hipotálamo e adeno-hipófise, compreendem o ciclo estral. Além de alterações no comportamento durante o ciclo estral, a ingestão de alimento também varia de acordo com o ciclo (Butera, 2009). A ovariectomia aumenta a ingestão de alimento e a administração de estradiol após a ovariectomia é suficiente para normalizar a ingestão basal de alimento (Geary & Asarian, 1999; Asarian & Geary, 2002). A

impediu a normalização da ingestão de alimento causada pelo estradiol (Geary

et al., 1994).

Ratas adultas ovariectomizadas apresentaram aumento na ingestão de ração com aumento concomitante da massa corporal (Asarian & Geary, 2002). Também é observado o aumento da prevalência de obesidade em mulheres na pós-menopausa comparadas com controles de mesma idade (Svendsen et al., 1995) e a terapia de reposição com estrogênio parece evitar o aumento no peso corporal e na adiposidade (Tchernof et al., 2000). Dessa forma, podemos dizer que tanto os estudos com animais como os realizados em humanos demonstraram que a redução do estradiol pela ovariectomia ou menopausa leva ao aumento do peso corporal e da deposição de tecido adiposo. Ainda não se sabe se os efeitos da terapia de reposição hormonal sobre o ganho de peso corporal em mulheres na pós-menopausa resulta da diminuição na ingestão de comida, um efeito direto sobre o tecido adiposo, ou ambos.

Em estudos realizados com o tratamento de ratas ovariectomizadas e cobaias utilizando doses fisiológicas de estradiol observou-se diminuição da ingestão de alimento e da massa corporal desses animais (Asarian & Geary, 2002; Czaja et al., 1983). Também foram observados efeitos similares em relação à reposição com estradiol em macacas rhesus ovariectomizadas (Czaja & Goy, 1975). A redução da ingestão alimentar causada pelo estradiol em ratas ovariectomizadas parece ser mediada pela antecipação da sensação de saciedade, levando à ingestão de porcentual menor de ração, mecanismo

este envolvendo possivelmente peptídeos anorexigênicos, como

O mecanismo exato pelo qual os estrógenos afetam a adiposidade e sua distribuição ainda não está claro. O estrogênio parece regular a atividade da lipoproteína lipase e também o número de adipócitos bem como a massa adiposa tanto por mecanismos diretos quanto indiretos. Uma outra forma pela qual o estrogênio afetaria a adiposidade seria através da modulação de adipocinas pelo tecido adiposo, principalmente pelo aumento da liberação de leptina. A leptina parece exercer um importante papel como mediador na alça de feedback regulatório entre tecido adiposo e hipotálamo. A leptina parece atuar via receptores hipotalâmicos para inibir a ingestão de alimento e aumentar a termogênese, o que resultaria na diminuição do peso corporal. Poderíamos então identificar uma alça de feedback regulatório, incluindo a leptina, o hipotálamo e o sistema efetor; a leptina (produzida pelos adipócitos) atuaria como um sensor monitorando a reserva energética, através do tamanho da massa adiposa; o hipotálamo receberia e integraria o sinal enviado pela leptina e regularia os sistemas efetores, incluindo o sistema nervoso autônomo simpático, controlando os dois principais determinantes do balanço energético – a ingestão e o gasto (Jéquier, 2002). Os estrógenos aumentam a concentração de leptina, o que parece estar correlacionado à distribuição e tamanho dos adipócitos em mulheres (Geer e Shen, 2008).

Diferentemente do estrogênio, a administração de progesterona sozinha parece não exercer efeito significativo sobre o comportamento alimentar em ratas ou macacas rhesus ovariectomizadas, embora doses farmacológicas de progesterona tenham demonstrado antagonismo nos efeitos do estradiol sobre a ingestão de alimento (Butera, 2009).

A prevalência de obesidade vem aumentando muito nos últimos tempos e este distúrbio está associado a problemas graves como hipertensão, diabetes mellitus e doenças cardiovasculares (Stepp, 2006). Dados da literatura mostram que mulheres após a menopausa tendem a ganhar massa adiposa (Augoulea et al., 2005), o mesmo ocorrendo em ratas ovariectomizadas (Meli et al., 2004). Entretanto, o mecanismo que leva ao ganho de peso em decorrência do decréscimo dos níveis séricos de estrogênio não é bem compreendido. Sabe-se que os hormônios tireóideos têm importantes efeitos sobre o metabolismo energético. Pretendemos, portanto, avaliar diversos parâmetros da função tireóidea de ratas logo após a ovariectomia, de modo a verificar se os hormônios tireóideos podem contribuir para o ganho de peso associado à ovariectomia.

Trifolium pratense (Figura 7), popularmente conhecido como trevo

vermelho, é uma planta medicinal utilizada no alívio dos sintomas da menopausa. O Trifolium pratense é rico em isoflavonóides com ação estrogênica (Beck et al., 2003), que parecem ser responsáveis pelo alívio dos sintomas da menopausa decorrentes do consumo de tal fitoestrógeno (Chen et

al., 2002). Entretanto, não há dados conclusivos na literatura que mostre se

esses fitoestrógenos são capazes de reverter o ganho de peso associado à menopausa e tampouco sobre o efeito dessas plantas sobre a função tireóidea. Sabe-se que a tireóide expressa o receptor para estrogênio (Furlanetto et al., 1999) e, portanto, é possível que tais fitoestrógenos modulem a função tireóidea. Assim, pretendemos também avaliar o efeito do tratamento de ratas ovariectomizadas com o fitoestrógeno Trifolium pratense sobre o ganho de

peso associado à ovariectomia e também sobre diversos parâmetros da função tireóidea.

Figura 7: Trifolium pratense

Tendo em vista a possibilidade dos fitoestrógenos interferirem no controle do peso corporal, seja por ação nos receptores estrogênicos ou indiretamente por influenciarem a síntese dos hormônios tireóideos, importantes reguladores do metabolismo energético, objetivamos neste estudo avaliar a ação do fitoestrógeno Tp sobre a ação tireóidea e também sobre o peso corporal de ratas ovariectomizadas.

A influência dos esteróides gonadais na regulação da massa corporal já está bem descrita na literatura, porém pouco se sabe sobre a relação entre os hormônios gonadais e a função tireóidea durante a gênese da obesidade. Uma vez que os hormônios tireóideos regulam o metabolismo energético,

ratas ovariectomizadas à obesidade. Dessa forma desenvolvemos um modelo para estudo de alterações em curto intervalo de tempo, 6 e 15 dias de tratamento, com reposição de E2, PG e PG+E2 a ratas ovariectomizadas

visando um melhor entendimento sobre as alterações que precedem o ganho de massa corporal.

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