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Para relatar os efeitos socioeconômicos, na vida e nas relações intrafamiliares a partir da organização das mulheres, no Grupo estudado, foi utilizada a categoria de análise atributos socioeconômicos e as seguintes subcategorias: acesso a conhecimentos e informações, acesso à participação em organizações sociais, acesso a recursos financeiros e geração de renda. Parte-se de pressuposto que a dinâmica econômica na economia solidária vai além do ganho monetário, agregando dimensões substantivas como conhecimentos, informações e relações de poder, dentre outras. Uma preocupação central reside na valorização do trabalho humano e na mudança de consciência para a prática do trabalho coletivo, para a ajuda mútua e a participação. Além disso, os ganhos monetários incorporam o ideal do comércio justo e solidário, isento de ganhos oportunistas, norteado por padrões sociais e ambientais equilibrados nas cadeias produtivas e pelo encontro de produtores responsáveis com consumidores éticos (FRETEL; SIMONCELLI-BOURQUE, 2004).

A subcategoria de análise acesso a conhecimentos e informações tem como objetivo evidenciar mudanças que ocorreram na vida das mulheres e de seus familiares a partir das formações e informações recebidas inicialmente por meio do grupo CF8 e, posteriormente,

em encontros, seminários e reuniões promovidos por diferentes instituições e segmentos sociais. A partir do conhecimento inicial repassado pelo CF8, a associada A1 afirma ter aprendido a se relacionar com outras pessoas e conseguiu visualizar oportunidade de gerar renda para sua família a partir da atividade produtiva da caprinovinocultura, o que não demanda espera por chuva para produzir:

Primeiramente, aprender a convivência, né? Conviver com o público e com a sociedade tem me ajudado bastante. Jamais naquele tempo atrás eu daria uma entrevista como hoje. Jamais eu tinha desenvolvimento de conversar e dialogar com alguém porque era tudo aquilo, tímida, bastante tímida, recuada em casa. Através do Grupo, comecei a conviver com outras pessoas, troca de experiência de agricultura e fui me apaixonando por agricultura, aí. Também, porque a gente foi vendo que a agricultura não era só aquilo de plantar, plantar. Era importante a gente ter o produto da gente primeiro prá gente consumir, mas, também, era importante a gente ter mais prá comercializar (A1).

A formação recebida através do CF8 foi de suma importância para que as mulheres pudessem desenvolver, inicialmente, a atividade produtiva da horta, e, mais tarde, a apicultura. A associada B1 relata a importância da organização das mulheres em Grupo para que pudessem conseguir apoio e assessoria e, ainda, o valor da atuação em rede solidária:

[...] O Centro Feminista sempre atuou aqui. O Assentamento não tinha assessoria técnica, mas, o Grupo de mulheres passou a ter por causa do Centro Feminista. Teve a formação agrônoma para o Grupo de mulheres; a gente sempre teve o apoio do Centro Feminista e até hoje tem. A gente sempre participou de formação, capacitação, isso é uma coisa constante aqui no Grupo. A gente sempre participa de formação de capacitação de apicultura e algumas parcerias que elas arranjam pela Rede Xique- Xique, muito importantes(B1).

Um dos aspectos da economia solidária está centrado na formação contínua dos participantes para que o ato associativo possa ser aprimorado permanentemente visando ao alcance da autogestão. Neste aspecto, a associada A1 expõe os benefícios que o conhecimento traz para todo o Grupo:

Nós não tinha conhecimento. Agora nós tem o quê? Tem a DAP [Declaração de Aptidão ao PRONAF]. Quem foi o titular? Tem canto que tem mulheres que são já titular. E nos aqui somos cadastradas como segundo titular. Nosso nome vem na titulação, bem direitinho. Hoje nós vem como segundo titular, tá entendendo? Porque era só o homem. Quer dizer, houve essa igualdade. Hoje nós tem o PRONAF Mulher, né? Nós também temos direito de optar por um empréstimo pra mulher, também direcionado só pra mulher. Eu não quis porque eu já tinha um empréstimo e, hoje, muita coisa eu não quero mais (A1).

A associada C1, relata que foi graças ao conhecimento adquirido que ela começou a ocupar outros espaços, pois, antes, não tinha condições de resolver até mesmo problemas da família:

Às vezes ele comentava assim: “Meninas, vocês trabalham, trabalham, trabalham e ganham tão pouco”. Eu respondia: “Mas eu trago tanta coisa pra dentro de casa. E eu me sinto tão bem, eu adquiro tanto conhecimento, entendeu?”. Porque se não fosse esses conhecimentos que hoje eu tenho, ia ser muito difícil. Até pra sair pra resolver alguma coisa era muito complicado, porque eu não sabia resolver nada. Eu adquiri tanto conhecimento que às vezes ele olha e eu digo: “Eu sei que eu adquiri tanto conhecimento que eu sei que hoje quem manda mais é eu do que você”. Ele diz: “Era só o que faltava mesmo” (C1).

Para Bordoni e Fortuna (2011), um dos pilares mais importantes para que aconteça o empoderamento é o avanço na educação, pois, sem educação de qualidade, não se consegue avanços na carreira, na representação do governo e nem na representação política. Tal entendimento é compartilhado pela associada B1 quanto relata a aprendizagem, não apenas individual, mas, coletiva:

Eu nasci na cidade; eu não era agricultora; eu passei a ser depois do meu envolvimento aqui. Ai, essa história de direto da mulher tudo isso eu aprendi no Grupo por que eu não tinha esse debate feminista. Esse debate de mulheres, né? Eu vivia só de casa, eu tinha parado de estudar. Essa é uma coisa que eu devo ao Grupo, que foi ter terminado meu ensino médio [...] Eu devo ao Grupo o conhecimento técnico também; tudo de agroecologia, de hortifruticultura. Assim, tudo que você me perguntar eu sei responder; é conhecimento de tudo que eu tenho hoje, acho que tudo na minha vida aprendi nas formações do Grupo (B1).

No mesmo sentido discorre a associada D1:

É, como é que se diz, assim, lá nessa reunião: “A gente aprendeu muita coisa que eu não sabia; sabia que tinha, mas, não fazia”. Porque se reunia pra decidir as coisas, um problema, uma coisa, aí a gente sentava, ficava sentada e ia fazer. E, antes, a gente, eu mesma, não sabia de nada, não ia pra reunião, não participava de nada, não sabia o que era. Essa reunião que tinha lá fora, Marcha da Mulher, eu não sabia de nada; dos direitos da mulher, eu não sabia de nada. É através da reunião e das formações que a gente foi aprendendo, aprendendo até hoje; a gente tá aprendendo, né? A gente já sabe muita coisa (D1),

A partir das reuniões e formações, inicialmente através do CF8, elas passaram a obter informações acerca de direitos, da importância da mulher e da valorização do trabalho e, assim, conquistaram espaço no meio familiar, estabelecendo novas relações. Além desse processo político de emancipação, tiveram a oportunidade de adquirir conhecimentos técnicos relativos à horticultura e, posteriormente, à atividade produtiva do mel. As mulheres passaram a fazer parte da esfera da vida/trabalho, até então desconhecida. Hoje, a maioria delas é responsável pela administração financeira das contas domésticas:

Todo mundo tem uma afinidade, né? Eu gosto bastante de administrar minha casa na parte financeira e ele na se opõe a isso. Ele diz que só sabe trabalhar, ganhar e me entregar porque eu sei gastar. (A1)

No mesmo sentido segue a associada F1: “Quem administra tudo sou eu, porque ele trabalha, mas nem receber o dinheiro ele recebe. Eu que recebo, faço feira, pago as contas”

(F1). No geral, são perceptíveis mudanças significativas na vida das mulheres a partir da organização em Grupo produtivo de economia solidária. O histórico de todas elas é de casamento cedo, entre quinze e dezenove anos, com instrução média somente até o 5º. ano do ensino fundamental. O conhecimento que possuíam estava quase que exclusivamente restrito à esfera de suas casas, culturalmente passado pelas mães.

Declara Oliveira (2004) que a mulher empobrecida praticamente não tem acesso aos estudos, devido ao fato de ter que ajudar, especialmente com o trabalho doméstico, no sustento da família desde cedo, não tendo tempo para frequentar a escola. As mulheres deste estudo, através da organização em Grupo produtivo, estão mudando essa realidade social pela via do acesso a conhecimentos e do resgate da autoconfiança e autoestima através das formações e informações recebidas pelo CF8 e outras organizações sociais.

A subcategoria de análise acesso à participação na esfera produtiva e social tem como objetivo demonstrar mudanças ocorridas nas relações familiares a partir da conquista de espaço de participação das mulheres na esfera da vida/trabalho. São observados sentimentos de confiança e ajuda mútua, entre as associadas, que contribuem para práticas solidárias e as torna capazes de transformar as condições próprias de vida. Neste sentido, discorre a associada D1:

A gente se reúne todas, né? Fica passando uma conversa com a outra, a gente conta quando tá sentindo uma coisa, que não pode desabafar e, aí, quando chegava lá, na época da horta, a gente sentava e começava a desabafar; falar uma com as outras. Eu achava bom. Hoje, a gente ainda faz (D1).

A participação das mulheres em atividades produtivas geraram laços de amizade e confiança duradouros, conforme relata a associada C1:

Então, eu comecei a ir pra horta e aquele trabalho que eu achava tão pesado, tão forçado, eu fiquei achando tão bom. Apesar de eu entrar, a gente entra pra lá com medo, porque o Grupo já tinha uma amizade; assim, tinham uma amizade muito bonita. É! Eu entrei e, até hoje, a gente cultiva uma grande amizade (C1).

Antes de iniciar o grupo produtivo as mulheres não participavam de eventos, nem de reuniões, e, portanto, estavam limitadas ao trabalho da casa. Por essa razão, a associada F1 aborda o espaço conquistado junto aos maridos, e, a partir dai, o de participação em eventos promovidos CF8 originalmente:

Quando tem os evento de fora que dar pra mim ir, pra levar a menina, ai eu vou. Às vezes ele diz assim: “Você vai fazer o que?”. Eu digo: “Vou pra reunião”. Ele diz: “Então tá bom, leve a cria”. Ai, eu levo a menina pequena e o outro já fica com ele. Essa outra é grande e, aí, também fica em casa com os outros dois (F1).

A associada C1 igualmente destaca a importância da participação, nos encontros do Grupo de Mulheres Decididas a Vencer, como componente de conquista de autonomia junto ao marido:

Primeiro, eu comecei a brigar. Ele dizia: “Mulher, você com seu marido, quando você quiser ir pra um canto, você não precisa brigar não, você vai negociando, conversando”. Outro dia, eu comentei com as meninas que eu sou uma ótima negociadora, porque eu consegui. (risos). (C1)

No caso narrado, negociação significa mudança nas relações de poder no interior da família. Hoje, todas as mulheres vêm participando de movimentos sociais, de formações do CF8, de reuniões da Rede Xique Xique de Comercialização Solidária, dentre outros eventos. A participação é continua e importante:

Eu participei de um seminário. Participei já de uns três ou quatro em Mossoró num seminário que houve. Na Marcha Mundial das Mulheres todo ano tô lá. É um movimento sobre reivindicação de alguma coisa das mulheres: saúde, violência contra mulher (...). É isso, tudo isso que eu já participei (A1).

Em sentido similar discorre a associada C1: “Todos os movimentos de mulheres que vier o convite pra mim, e eu tiver pudendo ir, eu vou” (C1). A participação das mulheres em eventos variados de outras organizações gera parcerias e redes de comercialização solidárias. A associada D1 relata como os grupos se articulam:

Tem um bocado de grupo aí, que a gente vai se reunindo. Às vezes a gente sai pra se reunir com eles lá. Se faz parte da Rede Xique-Xique, é bom pra nós, porque tem um bocado de nome de grupos. A gente se reune com os outros grupos e ai a gente vê o que precisa. É o que a gente pode fazer junto: trocar ideia um com outro, vai visitar. Aqui e acolá a gente sai pra visitar uma casa, um empreendimento de mulher, um bocado de coisa. (D1)

A associada C1 relata o quão importante foi para ela participar de outras organizações fora do Assentamento e o quanto essa participação trouxe de aprendizado: “Eu não tinha como sair; eu não participava praticamente de nada. entendeu? E aqui no Grupo, eu fui aprendendo tudo” (C1). É oportuno destacar, também, mudança ocorrida na vida da associada B1, após ter adquirido conhecimentos com a participação em eventos:

Teve realmente esse impacto na família porque eu não saia de dentro de casa, eu não participava nem das assembleias do Assentamento, porque ele é o titular e era ele quem ia. Ai, eu comecei a aprender e a participar junto com ele e essa mudança mexeu também no casamento. Ai, ele não conseguiu aguentar esse meu conhecimento (B1). A participação das mulheres em outros espaços vinculados à esfera produtiva e social propicia vivências fundamentais para o empoderamento. As relações sociais estabelecidas

entre elas e com outras participantes de organizações diversas são fundamentais ao sentimento de pertencimento, resgatando a autoestima e autoconfiança. Esses elementos são responsáveis por gerar mudanças de posicionamento das mulheres, tanto nas relações familiares, quanto junto à comunidade em que estão inseridas, conforme destaca OLIVEIRA (2004).

A subcategoria geração de renda e acesso a recursos financeiros tem como finalidade evidenciar o acesso das mulheres a políticas públicas a partir da organização em grupo produtivo. O acesso a recursos financeiros é de fundamental importância para que os grupos produtivos de economia solidária consigam desenvolver suas atividades produtivas. As mulheres do Grupo em pauta não possuíam condições financeiras para iniciar as atividades, e, desde o início, tiveram acesso a recursos através de uma organização não governamental, o CF8. Esse aspecto aparece na fala de todas as associadas entrevistadas. A associada B1 resgata algumas das organizações financiadoras e aponta para aportes de organizações internacionais:

A gente tinha um projeto da união europeia e ai a gente começou a discutir. O Centro Feminista fez uma parceria com AACC que era um projeto da Suíça. Ai, esse projeto a gente tinha um técnico que ele dava assessoria aqui; ele era da AACC na época e prestava essa assessoria aqui em Mulunguzinho ao Grupo de mulheres. A gente começou a discutir com ele dentro desse recurso. Tinha as primeiras caixas pra apicultura. Tinha o recurso e, ai, a gente fez um projeto pra Petrobrás também. Foi aonde compramos os caprinos e foi recurso, tanto da Petrobrás, quanto desse projeto GTM da Suíça. (B1)

A associada F1 relaciona onde foram feitos os investimentos dos recursos financeiros recebidos:

Conseguimos as coisa do mel: centrífuga, um bocado de coisa, e, a da horta, a gente conseguiu a irrigação que a gente nem usou. Tá lá guardada, porque foi mesmo no tempo do roubo, que roubaram a gente. Já tá com uns 6 anos já que eles fizeram isso e a gente peleja pra ter água, mas, não tem jeito, aí pronto, ficamos paradas. Teve muito recurso. O Assentamento também trouxe recuso pra gente, que foi comprado as cabras e as outras coisas. (F1)

O sustento da família tem contribuição da renda gerada pela atividade produtiva das mulheres. A associada A1 relata que o dinheiro recebido, tanto pela mulher, quanto pelo marido, são utilizados para o sustento da casa: “Nós dois trabalha. Não tem esse negócio, nem meu, nem seu, nem nada. O que pegar é pra dentro de casa” (A1).

A Rede Xique-Xique de Comercialização Solidária é uma importante conquista, fruto da organização do Grupo Mulheres Decididas a Vencer. A sua criação ocorreu frente à necessidade de agregar valor aos produtos comercializados por grupos organizados da agricultura familiar. A associada B1 fala da geração de renda com a entrega dos produtos na Rede e o quanto é importante este instrumento para as mulheres:

A gente deixa na loja da Rede Xique-Xique o ano todinho e ai agente consegue ter uma rendinha. Essa semana foi 80,00 reais para cada uma. A gente consegue ter uma renda de umas coisas mais pontuais de mel, e, quando vende ao Compra Direta. A gente diz que é um decimo que a gente vende (3.000.00) e dividimos entre nós. Com o mel a gente consegue, na Rede Xique-Xique, ter um ganho de 50 por mês, 60, que varia. Isso é pra gente comprar uma chinela, pagar um papel de luz, alguma coisa que a gente precisa (B1).

Com o término da horta, devido a problemas enfrentados com a irrigação e os furtos constantes, as mulheres, hoje, como já referido, estão na atividade produtiva do mel, e, uma delas, na de caprinovinocultura. A atividade de apicultura atravessa problemas de produtividade, pela falta de floração devido à seca na região. A associada C1 fala da importância da renda gerada pelo mel:

Ah que bom seria se tivesse inverno! Não existe renda melhor do que a da apicultura. É muito bom! Pra você ter uma ideia, ultimamente não tem tido inverno, né? Mas, quando a gente pensava que não, chegava um dinheirinho do mel. Se tivesse inverno direto pra gente ter mel (...). (C1)

A associada F1 lamenta a descontinuidade da produção em virtude da seca: “Não era muito, mas, ajudava em alguma coisa, comprar um chinelo pro menino, uma roupa, um negócio, todo mês tinha, era pouco, mas tinha. Era bom demais”. Hoje, as mulheres possuem consciência da importância da geração de renda e de que contribuem para o sustento da família, pois, são elas que têm maior preocupação com o cuidado da casa e dos familiares. A associada B1 registra a maior preocupação da mulher com o cuidado:

A gente sempre diz não é uma ajuda, que é uma complementação mesmo. É um papel de luz, de água, porque tudo isso somos nós que necessita, somos nós que precisa de água pra cozinhar, pra dar banho nas crianças. São coisas que a gente tem a preocupação de não faltar(B1)

A atividade produtiva do mel, todavia, já propiciou melhorias mais significativas na vida das famílias e, por essa razão, a associada C1 lembra o investimento que realizou:

Olhe, lá em casa, aquele alpendresinho que eu fiz, eu fiz foi de mel. Porque às vezes é muito difícil o ganho e tudo é pouco. O meu marido ganha e é pra aqui, pra comprar comida. Quer dizer, alguma coisa que eu ganho, já é pra comprar alguma coisa de fora à parte, extra (C1).

É nítida a importância do Grupo produtivo na composição da renda e na contribuição ao bem-estar das famílias, ainda que, mediante recursos financeiros limitados. O CF8 foi organização central na organização do Grupo, buscando recursos financeiros e garantindo assessoria técnica para que as mulheres obtivessem conhecimentos necessários à organização da produção. Mais recentemente, a Rede Xique-Xique vem assumindo papel fundamental,

pois, as mulheres desenvolveram elevado potencial de trabalho em parceria e integração social, além de absorverem o ideal do comércio justo. A criação da Rede proporciona espaço de comercialização para o Grupo de Mulheres Decididas a Vencer e outros grupos produtivos da região, o que as mulheres deste estudo reconhecem como vitória advinda da experiência que desenvolvem.

4.4. Organização política das mulheres no contexto da Economia Solidária

Para compreender a organização política do Grupo a partir da participação na economia solidária foi utilizada a categoria de análise atributos políticos e as subcategorias processo de tomada de decisão, construção do coletivo e ocupação de cargos de representação e direção. Na subcategoria processo de tomada de decisão foram identificadas práticas autogestionárias no interior do Grupo de Mulheres Decididas a Vencer, características inerentes aos empreendimentos de economia solidária.

O processo de tomada de decisão é amplo, participativo e democrático e ocorre, sempre, após discussão conjunta, prevalecendo o desejo da maioria. As associadas praticam relações interpessoais primárias, de nível único, que pode ser reconhecido como ambiente isonômico, ou, isonomia (RAMOS, 1989). O processo de decisão aberto e participativo é visível:

É bem certo, assim, ninguém é dono, então, quem ganha é a maioria. Se for fazer uma coisa e a maioria disser que não, então é não. Se disser que sim, vamos fazer. Se uma for contra e a maioria disser que sim, é sim (C1).

Tal procedimento é confirmado pela associada E1, ao afirmar que “Quando tem que resolver, a gente se ajuda, fala uma com a outra e decide”. As atividades diárias de manejo do mel, bem como da colheita, também são planejadas em conjunto, respeitando as individualidades, condições e tempo de cada mulher. A esse respeito, a associada D1 relata o modo como se organizam:

Chega e começa a conversar com as outras, pra gente se reunir pra saber: “amanhã a gente precisa ir na abelha”, “quem é que vai?”, “quem pode ir lá hoje?” Aí, as meninas

diz: “é eu, eu vou”, “Eu não posso amanhã”. A gente senta de novo, e, aí, conversa:

“Pois é, quando é que vamos ver qual é o dia que dá certo pra ir todas lá dentro?” (D1)

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