• Nenhum resultado encontrado

Para evidenciar a percepção de homens e mulheres acerca do trabalho feminino em ambiente de agricultura familiar, foi utilizada, inicialmente, a categoria relações de gênero e as seguintes subcategorias de análise: atividades reprodutivas, atividades produtivas, esfera da do lar/doméstico e esfera da vida/trabalho. Na primeira subcategoria, atividades reprodutivas, buscou-se averiguar o modo como se dá a relação familiar frente ao papel que ideologicamente é imposto à mulher quanto às obrigações com as tarefas domésticas e cuidados. Tomando como base esse conceito, foi analisado o Grupo de Mulheres Decididas a Vencer e ficou evidente que as mulheres alteraram as relações familiares.

Nas relações intrafamiliares, das mulheres que integram o Grupo, estão ocorrendo mudanças na dinâmica da divisão sexual do trabalho e no entendimento de que o papel da mulher e do homem, quanto à responsabilidade pelos trabalhos domésticos, não é algo biológico ou natural, mas, culturalmente construído. Ao serem questionados a respeito de alguma mudança, na definição das responsabilidades com as atividades de casa e com as atividades produtivas, a partir da inserção da mulher no Grupo de economia solidária, as respostas dos entrevistados são elucidativas. A associada A1 afirma que:

Mudou, mudou; ele era assim um pouco marxista nesse ponto de fazer atividade doméstica. Ele era um pouco marxista. Ele tinha uma cabeça assim: que nunca foi ciumento, nunca me prendeu de ir pra algum canto. Mas, nesse ponto de querer ajudar dentro de casa, negócio de querer varrer casa, ele achava que não era trabalho pra homem; que a mulher é quem tem que fazer [...]. Ai, eu digo que não é assim; que a gente casou foi pra compartilhar uma vida a dois. Não é pra mim ser empregada dele nem ele ser meu. Então, se é um compartilhamento de vida é de vida e ninguém é escravo de ninguém não. Então decidi, diante disso, e a gente foi dialogando e ele viu que era importante contribuir [...].

De fazer as coisas de casa? Assim, eu não fazia. Hoje, eu bascuio o quintal, alguma coisa, e, aí, às vezes eu ajudo ela.[...] Quando ela sai, quem faz tudo é eu. (E2)

É evidente que a inserção das mulheres na esfera produtiva trouxe mudanças no sistema patriarcal, que, historicamente, posiciona o homem, a figura paterna, como superior à mulher (SAFIOTTI, 1987). Homens e mulheres passaram a compartilhar as atividades produtivas e reprodutivas nas esferas pública e doméstica. Por essa razão, A1 percebe um modo de convivência em que há “um compartilhamento de vida; é de vida, ninguém é escravo de ninguém.” Ao mesmo tempo, considera que o sistema patriarcal não deixa de existir de uma hora para outra, mas, sim, vai sendo gradativamente modificado. Tal posição é reforçada por D1 quando afirma:

Eles fazem [os membros homens da família], mas, não é como a gente, né? Eles fazem no dia que eles têm bem uma vontade de fazer, mas, de primeiro, eles num fazia de jeito nenhum. Mas, devido eu trabalhar na horta, aí eles começou a fazer serviço em casa. Eles viam que eu, quando não tinha condições de chegar – ora chegava de onze, ora de onze e meia pra fazer comida, arrumar a casa, lavar a roupa, essas coisas – aí eles começaram a me ajudar, a fazer (D1).

O conteúdo desse posicionamento demonstra que, aos poucos, se iniciou um processo de mudança na histórica dupla jornada de trabalho feminina (OLIVEIRA et al., 2004). As mulheres do grupo foram se inserindo em atividades produtivas e, gradativamente, os homens foram colaborando no trabalho reprodutivo do lar. Ao invés das mulheres desenvolverem atividades produtivas fora do lar e, ao chegarem em casa, serem as únicas responsáveis por todas as atividades da casa e de cuidado da família, os homens hoje assumem, também, essas responsabilidades.

Na fala do marido da associada A1 é possível perceber as mudanças ocorridas quanto à responsabilidade pelo cuidado dos filhos:

Às vezes a comida tá ali. Eu não posso ir por isso pegar. Então, eu vou, é a mesma coisa; tanto faz eu, como ela. Então, é os dois que se preocupa em um tudo. Assim, essa questão de comprar roupinha, essas coisas, é os dois. Mas, ela puxa mais, porque ela é quem tá lá com minha filha, pedindo, mainha eu quero (...). É assim, entendeu? Mas, mesmo assim, eu vou e compro (A2).

Tal mudança é compartilhada pelo esposo de C1:

Mulher, antes, é (...). Nem pra segurar o menino, enquanto eu fizesse um comer, ele segurava. (...) Que nada, ele saia de dentro de casa que era pra não ouvir os meninos

chorar. [...] Olhe, hoje eu digo: era muito ignorante, sem paciência, era agressivo com

esses meninos... (C1)

Esse conjunto de declarações demonstra que a inserção das mulheres na economia solidária – no trabalho fora de casa – colabora para a reconfiguração de papéis nas esferas

reprodutiva e produtiva. Quando as mulheres passam a fazer parte da esfera produtiva, participando de instâncias de decisões e ações públicas, é nítido o efeito nas relações entre homens e mulheres, que tendem a se tornar mais igualitárias. Ambos sentem-se responsáveis tanto pelo trabalho na esfera produtiva quanto na esfera reprodutiva. Dito de outro modo, há novo elemento cultural, em que homens e mulheres reconhecem os mesmos direitos e deveres e exercem práticas de justiça de interesse coletivo (SPECHT, 2009). Ao mesmo tempo, cabe considerar que este não é um processo linear ou natural, mas, sim, fato que ocorre em meio a processos de negociação que colaboram para desfazer, gradativamente, a divisão sexual do trabalho e a valorização das mulheres.

Na subcategoria de análise atividades produtivas, são abordadas mudanças ocorridas na vida das mulheres e nas relações de gênero a partir do momento em que elas passaram a desenvolver atividades produtivas. Inicialmente, as mulheres desempenhavam atividades produtivas na horta e, posteriormente, na apicultura. Nas palavras a seguir, é possível observar significativas mudanças nas relações familiares:

Como ele vê que é bom, porque além de eu não tá dentro de casa só fazendo minhas coisas, eu tô fora, teve vez que o meu filho perguntou assim: vai pra fora mãe? Fazer o quê? Vou adquirir alguma coisa pra você; eu não vou de brincadeira; eu vou a trabalho. Eu sempre digo a eles. Eles falam: essa mulher gosta muito de andar. Eu digo: “eu vou a trabalho, não vou andar não. Andar é uma coisa e trabalhar é outra”. Aí eles entendem. Quando meu menino mais novo nasceu, com três meses, eu fiz uma viagem. A gente trabalhava na horta, uma horta em Guaraciába, ali pra banda do Ceará. Deixei o nenén aqui sozinho, com eles. Com três meses (risos) (D1).

No discurso do marido da associada A1, pode-se ver a importância que a família dá para o trabalho produtivo da mulher:

[...] Prá os dono de casa aí, chefe de família, mudou. Hoje, é os dois; é os chefes de família. É. têm que dividir as tarefa, têm que ser parceiros! A mulher não pode só criar filho, não pode só lavar roupa, não pode só fazer comida. A mulher também pode comprar, pode vender, pode gastar, pode trabalhar; os direitos são iguais (A2). Ocorre tanto a valorização do trabalho produtivo da mulher quanto o reconhecimento do trabalho reprodutivo realizado no lar. Se em relações socioeconômicas de natureza capitalista o trabalho da mulher, na condição de dona-de-casa, não detinha qualquer valor, por não envolver transação monetária, a partir da inserção das mulheres em processos socioeducativos, políticos e produtivos de economia solidária, tal atividade passou a ter valor e ser considerado como de responsabilidade coletiva no âmbito das famílias estudadas. Conforme reconhece o marido da Associada A1, agora, “temos que dividir as tarefa, temos que ser parceiros!”.

Acontecem, ainda, mudanças em relação ao entendimento do que é, ou, o que significa a expressão trabalho de mulher. Se, historicamente, quando se tratavam de relações de trabalho no âmbito do Assentamento, da agricultura familiar, os trabalhos considerados como legítimos de mulher se restringiam ao ambiente privado, agora, a partir da inserção das mulheres na economia solidária, estas passaram a incorporar o direito ao trabalho na esfera da vida/trabalho. Diante de tais mudanças, afirma A2, marido da associada A1, que “A mulher também pode comprar, pode vender, pode gastar, pode trabalhar, os direitos são iguais [...]”.

Hoje as mulheres do Grupo sentem falta da atividade produtiva da horta, pois, esta exigia encontros diários, trabalhos conjuntos e convivência comum por períodos de tempo mais longos. A atividade produtiva da apicultura não necessita de cuidados diários e nem demanda atividade conjunta. Na fala da associada D1, são nítidas a resistência inicial e a relevância que a atividade produtiva na horta assumiu posteriormente na vida das mulheres:

No início eu não gostava. Quando começou a horta eu disse: “Eu não vou não; por que eu vou trabalhar acolá?” Mas, aí, eu fui indo, fui gostando, até que, no ano passado, eu já dizia: “Oh meu Deus! Como é ruim ficar sem trabalhar!”. A gente já tava tão acostumada a fazer o trabalho na horta e, aí, não tem mais nada. É tão ruim ficar em casa, só cuidando de menino, é horrível! Diga aí: eu ia trabalhar fora, arranjar um trabalho, uma coisa pra fazer; dentro de casa, não dá certo não! “Vou é embora”, digo assim (risos). Já tava acostumada a tá no trabalho, nós todas. Eu gostava muito de trabalhar lá. Gosto da apicultura, mas, é diferente (D1)

Há mudança na percepção da mulher quanto ao trabalho desempenhado em casa, bem como, valorização do trabalho fora de casa. Para a associada C1,

O trabalho de casa só serve muito é pra estressar (risos). É muito cansativo trabalho de casa. O mais cansativo, eu digo; a, se eu tivesse como trabalhar no lote, plantar e trabalhar com abelha do que esse de dentro de casa. Esse do dia-a-dia, minha filha... Esse trabalho é cansativo. (C1)

A fala da associada B1 evidencia a importância da atividade produtiva da horta, pela contribuição à renda familiar e à segurança alimentar e nutricional da família:

A gente chegava a ganhar 70, 100 reais por mês. Mas, a gente ganhava muito mais do que isso, porque, se a gente fosse contar, beterraba, cenoura, alface, rúcula, coentro, o que a gente consumia todos os dias, isso tudo, se você vai no supermercado você vê a diferença. Não chegava a 1 salário mínimo, mas, chegava, vamos dizer, a meio; isso é uma ajuda, isso era uma complementação (B1).

As atividades desenvolvidas pelas mulheres, na horta, além de gerarem renda garantiam bem-estar, com alimentos saudáveis e variados e consumo de hortaliças a baixo custo para todas as famílias. Reside, aqui, uma relevante contribuição do trabalho da horta, não monetária, qual seja, a produção de bens e serviços não destinados à venda, mas, sim, ao

consumo interno e ao bem-estar das famílias, numa perspectiva de domesticidade (POLANYI, 2000). De outra forma, está igualmente presente o componente monetário, tanto pela via da geração de renda – ainda que de modo restrito – quanto pela redução das despesas com a compra de alimentos pelas famílias.

O conjunto de depoimentos dessa categoria de análise, atividades produtivas, possibilita notar tanto alterações nas relações familiares quanto no papel culturalmente imposto às mulheres, que deixaram a atuação restrita na esfera reprodutiva para se inserirem na esfera produtiva, espaço antes ocupado exclusivamente pelos maridos. Conforme constataram Heredia; Garcia; Garcia (1984), o trabalho da mulher esteve sempre relegado à atividade doméstica e ao cuidado com os familiares, ao passo que a atividade produtiva é residual, restrita ao quintal da casa, em plantações para autoconsumo e criação de pequenos animais.

A subcategoria esfera do lar/doméstico busca evidenciar percepções quanto ao reconhecimento do valor do trabalho da mulher no âmbito da casa, trabalho frequentemente invisível e sem valor monetário em perspectiva de relações capitalistas. A esse respeito, a associada A1 relata a economia que a família faz quando não demanda profissional para fazer as atividades domésticas:

É uma economia porque se a gente fosse pagar, você tá entendendo, era tipo uma coisa pela outra. Trabalhava fora, mas teria que pagar uma pessoa pra fazer. E, logo, eu sou muito apegada a esse negócio de casa. Eu gosto de cuidar da casa, da família, Então, pra mim, é muito importante fazer as duas coisas.

O esposo da associada A1 fala da importância dos dois se ajudarem, reconhecendo que o trabalho no âmbito do lar é cansativo, e, caso não deem conta, terão que onerar a família pagando outra pessoa para desempenhar essa tarefa:

Se eu falar “hoje eu não vou fazer, ou, eu não vou cozinhar, nem vou lavar, nem vou varrer porque eu tô cansado”, com certeza ela também tá. Então, na própria hora, ou faz nós dois ou nós deixa pra fazer depois, se for coisa que possa ficar pro outro dia. Ai, a gente deixa ficar, ou, então, a gente vai pagar uma pessoa pra fazer. (A2)

O trabalho doméstico deixa, então, a condição de invisível e passa a se integrar à esfera produtiva da família mediante a responsabilidade do casal, de modo indistinto. O esposo da associada D1 confirma o quanto é cansativo o trabalho desempenhado pela mulher na lida diária da casa:

Tem coisa que é cansativa mesmo, que o homem não vai fazer, né? Ai, quem faz é ela, né? [...] Lavar roupa para uma ruma de gente é uma matança pra ela. Tem dia que ela fica quase morta, ai, cai numa rede prá descansar (risos) (D2)

O valor não monetário do trabalho doméstico da mulher é igualmente relevante para o bem-estar da família, além de evitar despesas extras, conforme relato do marido da associada E1:

Às vezes é porque não da pra viver dentro da seboseira, né? Realmente, ela ajuda muito, organiza tudo. A gente não tem condições de pagar alguém pra limpar a casa, ai, quem limpa é nós mesmo (E2).

É interessante notar nesses depoimentos as mudanças que ocorreram nas relações intrafamiliares, a partir da organização das mulheres em grupos produtivos. O marido e demais membros da família passaram a dar valor ao trabalho desempenhado pela mulher de cuidados da casa e dos familiares, na esfera doméstica, na manutenção do bem-estar e na organização. Os familiares hoje enxergam o trabalho doméstico como produtivo, inclusive, gerando valores monetários indiretos no momento em que pode evitar despesas com serviços e determinados alimentos. Os familiares também passaram e entender o quão desgastante é o trabalho doméstico e de cuidados, bem como, o tempo que demanda e o cansaço que acarreta. Esse fato é componente importante de análise quando se considera a crítica de Guerin (2003), para quem o capitalismo nunca teve interesse em reconhecer o trabalho doméstico – da dona- de-casa – na esfera do lar, pois, este agrega, de modo indireto, valor ao salário do homem na esfera do mercado.

A subcategoria de análise esfera da vida/trabalhotem o intuito de verificar mudanças ocorridas na vida das mulheres e identificar os espaços públicos que as mesmas conseguiram ocupar a partir da organização em grupos produtivos. Todas as associadas confirmam que passaram a desempenhar outras funções de algum modo relacionadas ao mercado, para além do âmbito doméstico:

Na parte de documentação, negociar, essas coisas, é mais eu. Porque eu, além de gostar, eu quem sou sócia lá na Cooperativa, então, é eu que assino toda documentação, tudo direitinho. Eu sempre faço esse negócio dos papéis, se dão conta, se tão certos, essas coisas. (A1)

O mesmo sentido percorre o marido da associada A1:

Essa parte mais pesada que eu falei, de somar, de pagar, de receber tudo é com ela. Isso é com ela; eu sempre continuei falando que ela faz isso muito bem. Essa parte aí é com ela. Mesmo nós chegando, nós se reúne: isso aqui foi assim, a gente pagou isso e tal (...) Mas, sempre ela vai e dá conta (A2).

A associada C1 começou a desempenhar atividades que antes não desempenhava: Eu digo desse jeito: “Eu me sinto a Pereirão porque, olhe, lá em casa pra comprar material de construção, pra fazer reforma, essas coisas, quem vai comprar tudo agora sou eu. Ele não vai não (C1).

Segundo Nobre (1998), no âmbito da agricultura familiar capitalista a mulher não participa de atividades consideradas públicas, como a comercialização dos produtos agrícolas ou agropecuários, pois, estas são atividades entendidas como de responsabilidade exclusiva do homem. No caso das relações intrafamiliares, no conjunto das mulheres do Grupo Mulheres Decidias a Vencer, é nítida mudança nesse sentido. As mulheres assumem e desempenham hoje diversas funções públicas – pagar, receber, resolver situações relacionadas a documentos, negociar, vender, comprar, entre outras – que lhes conferem visibilidade, poder de decisão, de negociação e de promoção de situações relacionais mais democráticas. Em relação ao poder de negociação das mulheres registre-se que situação dessa natureza foi vivenciada durante esta pesquisa, quando elas registraram que convenceram os respectivos maridos à participação nesta pesquisa. Inicialmente, houve resistências e eles não queriam participar.

O marido da Associada C1 fala da importância da geração de renda da atividade produtiva do mel, desempenhada pela mulher, colaborando com o sustento da família: “No ano que chove é bom. O mel dá muita renda, o mel é uma ajuda, porque tá mantendo a família” (C2).

A mudança na visão da família quanto ao valor dado à atividade desempenhada pela mulher fora de casa, na apicultura, é mais uma vez evidenciada na fala de outro marido, desta vez, da associada D1. Ele confirma a importância da geração de renda para o sustento da família, além de ajudar no manejo com as abelhas:

É muito bom trabalhar com a apicultura. Não é ruim não. Se tivesse toda vida era muito bom; melhor ainda, né? Eu ajudo a ela, quando é pra ir tirar as abelhas, tirar o mel [...] É bom, porque, se não tivesse isso, como é que a gente ia se virar, né? (D2) A partir do momento que a mulher desempenha atividades na esfera da vida/trabalho gera renda própria e maior autonomia em relação ao marido, alterando relações de poder e influenciando decisões acerca do modo como o dinheiro deve ser aplicado. O marido da associada E2 esclarece como se dá a destinação da renda no interior da família:

Tem o mel [...]. É prá ela. De qualquer maneira, no invés de eu trabalhar pra arranjar pra ela, aí ela tem pra comprar as coisas dela, né? Pois é! Eu acho importante isso aí [...] Ela tá me ajudando. No lugar de eu comprar, eu já vou investir em outra coisa (E2)

A associada B1 relata mudança similar, destacando a autonomia trazida pela renda gerada a partir do trabalho que realiza na esfera do lar/doméstico:

[...] Quando eu vim pro grupo, eu entrei pela minha autonomia. porque o dinheiro era dele e se eu precisasse de um real tinha que pedir a ele, me humilhar [...] Não podia pegar dinheiro nem comprar o que eu queria pra mim. Não faltava alimento, mas, faltava autonomia pra fazer o que eu queria [...] (B1)

Esses posicionamentos demonstram que a autonomia financeira possibilitou participação efetiva das mulheres na tomada de decisões no interior da família e fora dela. Desta forma, contribuem para desenhar novas formas de organização familiar que se distanciam do patriarcado, prática comum especialmente em áreas rurais no sertão nordestino. A ocupação das mulheres do Grupo em espaços públicos trouxe relações mais igualitárias no interior das famílias e nas decisões de interesse do Assentamento. O empoderamento da mulher, entende Lisboa (2008), provoca de fato mudança na cultura de subordinação da mulher ao homem, tornando-a agente responsável por relações emancipadoras. Esse fenômeno é incontestável no caso estudado.

4.3 Efeitos do trabalho da mulher na dinâmica socioeconômica, na vida e nas relações

Documentos relacionados