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4 SIMULAÇÕES E ANÁLISE DOS RESULTADOS

4.4 Efeitos Econômicos do Ganho de Produtividade da Terra na Amazônia

Conforme os resultados das simulações apresentadas, uma restrição da expansão da oferta de terra imposta pelo controle de desmatamento na Amazônia pode causar perdas econômicas nas regiões, dado a relevância da produção agropecuária em sua estrutura produtiva. Entretanto, pode-se pensar numa proposta de desenvolvimento econômico para a região que permita a manutenção da floresta (política de controle do desmatamento) e evite perdas econômicas, por meio de ganhos de produtividade e intensificação do uso do fator terra. Segundo Rebello e Homma (2005), o aumento da produtividade da terra reduziria as pressões sobre os recursos naturais e melhoraria os indicadores socioeconômicos regionais.

A agricultura na Amazônia apresenta uma grande heterogeneidade tecnológica, com alguns produtores utilizando transplante de embriões, mecanização e alta produtividade, e outros se dedicando a agricultura de derruba e queima. Há, portanto, a necessidade de se aumentar a produtividade, tanto da terra como da mão-de-obra, de modo a reduzir a utilização dos recursos naturais com a contínua incorporação de novas áreas derrubadas e queimadas (HOMMA, 2005).

De acordo com o estudo feito por Valentim e Andrade (2009), desde meados da década de 1980, os ganhos de produtividade permitiram evitar a incorporação de 147,5 milhões de hectares dos biomas de Cerrado e da Amazônia à pecuária na Amazônia Legal. Apesar dos avanços, estes sistemas ainda apresentam baixo nível tecnológico. O investimento em inovações tecnológicas para promover a intensificação da pecuária de corte e leite nas áreas desmatadas da região, considerando toda a diversidade de clima e solos existente, é uma questão fundamental.

O objetivo das simulações nesta seção é calcular os ganhos de produtividade da terra que tornariam nulos os efeitos econômicos adversos da política de controle de desmatamento na Amazônia. A ideia por trás desta simulação é de que os agentes econômicos, ou políticas públicas associadas, podem responder à política de controle do desmatamento com modificações na forma de produção da agricultura e da pecuária, de maneira a mitigar as restrições impostas pelo controle do desmatamento

A variável que mede a produtividade setorial do fator terra em cada região no modelo REGIA é exógena nos fechamentos do Cenário de Referência e Cenário de Política (vide Tabela 15),

uma vez que não existe progresso tecnológico endógeno no modelo. Para que a produtividade varie na simulação, é necessário trocar seu status com alguma variável endógena de mesma dimensão. A escolha óbvia neste caso é a produção setorial. Assim, impõe-se o choque de controle do desmatamento, torna-se a produção agrícola e da pecuária fixas, e as respectivas produtividades da terra endógenas. Isso faz com que não haja variação da atividade no Cenário de Política em relação ao Cenário de Referência (anula-se o efeito negativo direto do controle do desmatamento). Logo, para que não haja uma queda da produção, a produtividade da terra precisa aumentar endogenamente para compensar a restrição na oferta de terra causada pelo controle do desmatamento. Desse modo, os resultados vão indicar o nível de produtividade necessário para manter a mesma produção setorial que seria obtida no Cenário de Referência, implicando que a política de controle do desmatamento tenha efeito econômico nulo71.

4.4.1 Resultados para o Nível de Produtividade da Terra

Nas simulações com o modelo REGIA supõe-se que a política de desmatamento acontece no período entre 2012 a 2030, e, desse modo, os resultados apresentados visam mostrar o quanto a produtividade da terra teria que aumentar neste mesmo período para que a produção da região não fosse prejudicada pela restrição na oferta de terra. No cenário de referência, supõe- se que a produtividade da terra aumenta 1% ao ano entre 2012 a 2030. Há também um aumento na produtividade total dos fatores primários em 0,7% ao ano para o mesmo período. Portanto, os resultados reportados nesta seção devem ser entendidos como o aumento de produtividade adicional ao considerado no cenário de referência.

Primeiramente, são analisados os resultados para os setores de Arroz, Milho, Trigo, Cana de açúcar, Soja, Outros de Lavoura e Mandioca. A Tabela 41 apresenta os resultados regionais para estes setores em variação percentual anual, ou seja, a taxa anual de crescimento da produtividade da terra. Como estes setores utilizam em sua estrutura de produção o mesmo tipo de uso da terra, no caso, a lavoura, a variação da produtividade requerida entre os setores é pequena. Isso acontece porque o modelo analisa o aumento da produtividade da terra, e a categoria de uso da terra para esses setores é a lavoura.

71 Não estamos considerando que o ganho de produtividade tenha algum custo econômico para os setores ou para o governo. Poderia ser o caso de que esse aumento de produtividade exigisse maior investimento dos setores ou investimentos públicos.

Tabela 34 - Resultados para o aumento da produtividade do fator terra – desvio acumulado em relação ao Cenário de Referência entre 2012 a 2030 (em var. % ao ano)

Mesorregião UF Arroz em Casca Milho em Grão Cana de Açúcar Soja em Grão Outros de Lavoura Mandioca

Madeira Guaporé RO 1.20 1.20 - - 1.18 1.14 Leste Rondoniense RO 0.93 0.93 0.93 0.93 0.93 0.92 Vale Juruá AC 1.27 1.27 - - 1.25 1.24 Vale Acre AC 1.16 1.16 - - 1.15 1.14 Norte Amazonense AM - - - - 1.29 1.27 Sudoeste Amazonense AM 1.40 1.39 1.40 - 1.37 1.35 Centro Amazonense AM 1.32 1.32 1.32 - 1.31 1.29 Sul Amazonense AM 1.05 1.05 1.05 1.05 1.03 1.00 Norte de Roraima RR 1.13 1.13 - 1.13 1.12 1.11 Sul de Roraima RR 0.89 0.89 - 0.89 0.87 0.83 Baixo Amazonas PA 1.29 1.29 - 1.29 1.28 1.27 Marajó PA - - - - 1.15 1.12 Metropolitana de Belém PA - - - - 0.24 0.24 Nordeste Paraense PA 0.51 0.51 - 0.51 0.51 0.50 Sudoeste Paraense PA 0.96 0.96 - - 0.94 0.91 Sudeste Paraense PA 0.90 0.90 0.90 0.90 0.90 0.89 Norte do Amapá AP - - - - 0.99 0.97 Sul do Amapá AP 1.17 - - - 1.16 1.15 Ocidental de Tocantins TO 0.00 0.00 - 0.00 0.00 -0.01 Oriental de Tocantins TO 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 -0.01 Norte Maranhense MA 0.85 0.85 - - 0.84 0.80 Oeste Maranhense MA 0.93 0.93 0.93 - 0.92 0.92 Centro Maranhense MA 1.25 1.25 1.25 1.25 1.25 1.24 Leste Maranhense MA 0.01 0.01 0.01 0.01 0.00 -0.01 Sul Maranhense MA 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 -0.01 Norte Matogrossense MT 1.11 1.11 1.11 1.11 1.11 1.09 Nordeste Matogrossense MT 1.21 1.21 1.21 1.21 1.21 1.19 Sudoeste Matogrossense MT 0.97 0.97 0.97 0.97 0.96 0.96 Centro-Sul Matogrossense MT 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 -0.01 Sudeste Matogrossense MT 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 -0.01

Fonte: Elaboração própria com base nos resultados das simulações com o modelo REGIA

Nota-se que a produtividade anual da terra deveria crescer em torno de 1% ao ano, adicionalmente ao crescimento do cenário de referência, para que a política de controle do desmatamento não causasse nenhum impacto negativo na produção. Segundo Gasques et al. (2008), a produtividade da terra no Brasil cresceu 3,26% ao ano entre 2000 e 2005, o que sugere que esta taxa seria factível, mesmo na Amazônia. Por exemplo, pelos resultados obtidos, os ganhos de produtividade da terra teriam que ser de 0,5% a 1,4% ao ano, em relação ao cenário de referência para neutralizar o efeito do controle do desmatamento. Isto implicaria em um aumento da produtividade entre 2,2% a 3,1% ao ano, incluindo o aumento da produtividade ao ano do Cenário de Referência. Desse modo, parece que este valor seria

possível de ser alcançado, considerando o aumento da produtividade da terra entre 2000 e 2005 que foi de 3,26% ao ano.

A Tabela 42 apresenta os resultados para os setores de Fumo, Algodão, Frutas Cítricas, Café em grão e Exploração Florestal e Silvicultura. A média de crescimento da produtividade da terra nestes setores continua sendo em torno de 1% ao ano. Nos setores da lavoura, as mesmas regiões citadas anteriormente, incluindo o Norte Amazonense, necessitariam um aumento um pouco maior da produtividade, acima de 1,2% ao ano. No caso da Exploração Florestal e Silvicultura, além das regiões mencionadas, o Vale do Acre, Marajó e Norte Matogrossense também precisariam aumentar um pouco mais a produtividade anual da terra.

Tabela 35 - Resultados para o aumento da produtividade do fator terra – desvio acumulado em relação ao Cenário de Referência entre 2012 a 2030 (em var. % ao ano)

Mesorregião UF Fumo em Folha Algodão Herbáceo Frutas Cítricas Café em Grão Exploração Florestal e Silvicultura Madeira Guaporé RO - - 1.18 1.19 1.13 Leste Rondoniense RO - - 0.93 0.93 0.95 Vale Juruá AC 1.26 - 1.26 - 1.30 Vale Acre AC - - 1.15 1.15 1.30 Norte Amazonense AM - - 1.29 - 1.28 Sudoeste Amazonense AM - - 1.38 1.39 1.38 Centro Amazonense AM - - 1.31 - 1.25 Sul Amazonense AM 1.04 - 1.03 1.04 0.95 Norte de Roraima RR - - 1.12 - 1.09 Sul de Roraima RR - - - - 0.83 Baixo Amazonas PA - - 1.28 1.28 1.25 Marajó PA - - 1.15 - 1.26 Metropolitana de Belém PA - - 0.24 - 0.36 Nordeste Paraense PA 0.51 - 0.50 - 0.61 Sudoeste Paraense PA - - 0.94 0.95 0.84 Sudeste Paraense PA - - 0.90 0.90 0.70 Norte do Amapá AP - - 0.99 - 1.05 Sul do Amapá AP - - 1.16 - 1.17 Ocidental de Tocantins TO - - 0.00 - 0.00 Oriental de Tocantins TO - 0.00 0.00 - 0.00 Norte Maranhense MA - - 0.83 - 1.17 Oeste Maranhense MA - - 0.92 - 0.88 Centro Maranhense MA - - 1.25 - 1.18 Leste Maranhense MA - - 0.00 - -0.01 Sul Maranhense MA - 0.00 -0.01 - 0.00 Norte Matogrossense MT - 1.11 1.11 1.11 1.30 Nordeste Matogrossense MT - 1.21 1.21 - 1.27 Sudoeste Matogrossense MT - 0.97 0.96 0.97 1.04 Centro-Sul Matogrossense MT - 0.00 0.00 - 0.00 Sudeste Matogrossense MT -0.0065789 -0.0049474 -0.0102632 -0.0043158- 0.00 0.00 - -0.0019473680.00

Os resultados de produtividade da terra dos setores da pecuária são apresentados na Tabela 43. Observa-se, que como nos demais usos da terra, o aumento da produtividade requerido é em torno de 1% ao ano. Vale Juruá, Centro Amazonense, Baixo Amazonas e Marajó seriam as mesorregiões com as maiores necessidades de aumento da produtividade da terra, pouco acima de 1,2% ao ano.

Tabela 36 - Resultados para o aumento da produtividade do fator terra - – desvio acumulado em relação ao Cenário de Referência entre 2012 a 2030 (em var. % ao ano)