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EFEITOS DE LONGO PRAzO DA ELEVADA FECUNDIDADE NO CRESCIMENTO POPULACIONAL NA ÁFRICA

O poder da tomada de decisão informada

As experiências do Egito, Índia e Moçambique demonstram que não há explicações fáceis para as altas taxas de fecundidade, nem uma forma única de se assegurar que as mulheres disporão das infor- mações, das ferramentas e da liberdade de que necessitam para decidir livremente sobre o tempo adequado e intervalos entre as gravidezes.

A experiência da Finlândia e da antiga

República Iugoslava da Macedônia demonstra que o caminho para taxas de fecundidade mais altas é igualmente complexo.

Se o objetivo é tornar mais fácil para os casais gerar menos – ou mais – filhos, os governos devem

basear suas ações em princípios de livre escolha e empoderamento, conforme aprovaram as nações mundiais na Conferência Internacional sobre População e Desenvolvimento.

Pesquisas realizadas nas últimas duas décadas têm repetidamente demonstrando que, quando as mulhe- res são saudáveis, escolarizadas e têm acesso a serviços integrados de saúde sexual e reprodutiva, incluindo o planejamento familiar, as taxas de fecundidade – e o tamanho médio das famílias – diminuem.

Uma pesquisa agrupada de indicadores múl- tiplos, realizada em 2008 pelo Instituto Nacional de Estatística de Moçambique, por exemplo, demonstrou que o uso de contraceptivos naquele

país sempre esteve fortemente vinculado à escolaridade e à prosperidade das mulheres. Os contraceptivos são utilizados por apenas 12% das mulheres que nunca foram à escola e por 37% das que têm, no mínimo, grau secundário. Aquelas que se beneficiam dos serviços de planejamento familiar têm maior controle sobre o número, momento adequado e intervalos entre as gravidezes.

A.R. Nanda, ex-secretário indiano da Saúde e Bem-Estar Familiar, afirma que nas áreas do país onde o empoderamento de meninas e mulheres foi acentuado, também se observou declínio nas taxas de fecundi- dade. Kerala, estado ao sul da Índia, é um desses lugares que alcançaram fecundidade e níveis de desenvolvimento comparáveis aos dos países mais ricos. Isto foi obtido através de políticas sensíveis a gênero que incluíram uma longa trajetória de ensino próximo do universal para meninas, além de fácil aces- so ao atendimento à saúde. A experiência

de Kerala, ressalta Nanda, comprova que é possível alcançar declínios de fecundidade de maior vulto sem que as mulheres sejam pressionadas pelo governo para ter menos filhos. A educação para meninas também é vista como ponto central dos esforços de Moçambique para reduzir as taxas de fecundidade no futuro: Leonardo Chavane, do Ministério da Saúde, diz que o primeiro passo da questão é escolarizar as mulheres. “As mulheres precisam ter acesso à educação para ter domínio sobre as situações nas quais estão inseridas”, aponta.

Na China, alguns demógrafos afirmam que as baixas taxas de fecundidade não resultam necessariamente da atual política de planeja- mento familiar, que limita em um o número de filhos para a maioria dos casais. Ao contrário, atribuem muito dessa redução da fecundidade ao desenvolvimento econômico e social, que, segundo eles, já estava contribuindo para o declínio da fecundidade, mesmo antes que a atual política de planejamento familiar fosse instaurada. E, caso a política fosse subitamen- te abrandada ou sofresse um recuo, dizem, a maioria das famílias não se apressaria para ter mais filhos do que pode sustentar, porque aprendeu o valor e os benefícios de um número menor de filhos para a economia doméstica e para as próprias crianças. Alguns vizinhos da China, do Leste e Sudeste Asiático, alcança- ram baixas taxas de fecundidade sem políticas de limitação do número de filhos que uma família pode ter. A taxa de fecundidade da província chinesa de Taiwan caiu para abaixo da taxa continental sem que houvesse limi- tações ao tamanho das famílias. Segundo o

Population Reference Bureau, a taxa de fecun-

didade da província chinesa de Taiwan, de 0,9 filho, é considerada a mais baixa do mundo,

Em um hospital municipal de Xialiang, na China, mulher prepara seu filho para ser vacinado

©UNFPA/guo Tieliu

63 reLATÓrio SoBre A SiTUAÇÃo DA PoPULAÇÃo MUNDiAL 2011

Seis anos após o grande avanço obti- do na Conferência Internacional sobre População e Desenvolvimento (CIPD), no Cairo, os Estados-Membros das Nações Unidas, reunidos em Nova York, aprovaram a Declaração do Milênio e oito diretrizes ambiciosas e abrangen- tes voltadas para a redução da pobreza, das doenças, da destruição, do meio ambiente e das desigualdades sociais e econômicas até 2015. Esses Objetivos de Desenvolvimento do Milênio e as metas e indicadores concretos para mensurá-los, acrescentados posterior- mente, ofereceram às Nações Unidas um conjunto de indicadores para acom- panhar o progresso nesses temas.

A década de 1990 foi um período de muita atividade para a Organização das Nações Unidas que realizou importan- tes conferências internacionais sobre o meio ambiente, no Rio de Janeiro, em 1992; sobre direitos humanos, em Viena, em 1993; sobre população e desenvol- vimento, no Cairo, e sobre o avanço das mulheres, em Beijing, em 1995. Declarações e planos de ação derivados de todas essas conferências serviram de base para a redação da Declaração do Milênio e dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio. Ao mesmo tempo em que aumentou a consciên- cia mundial sobre o papel central que as mulheres têm a desempenhar em todos

os aspectos, para que a pobreza, em suas várias dimensões, seja superada, o Programa de Ação da CIPD ofereceu, talvez, a melhor esperança de avanço. A vida e os direitos das mulheres – metade da população mundial – são afirmados em todos os objetivos: erradicação da pobreza; alcance do ensino primário uni- versal; promoção da equidade de gênero; redução da mortalidade infantil; melho- ria da saúde materna; combate ao HIV/ AIDS, malária e outras enfermidades; assegurar a sustentabilidade ambiental e a criação de parcerias globais para o desenvolvimento.

Nenhum desses objetivos pode ser alcançado sem um maior avan- ço na promoção da saúde reprodutiva materna e na proteção à saúde mater- na e do recém-nascido. Mas, de todos os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio, o quinto – o de melhoria da saúde materna – foi o que menos avan- çou. É o que apresenta maior carência de financiamento dentre aqueles relati- vos à saúde. Em 2007, os líderes globais acrescentaram uma segunda meta ao Objetivo de Desenvolvimento do Milênio 5: acesso universal à saúde reprodutiva.

No encerramento da Cúpula Mundial sobre os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio, em setembro de 2010, o secretário-geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon, e os chefes de Estado e

de Governo, juntamente com o setor privado, fundações, organizações inter- nacionais, sociedade civil e organizações de pesquisa lançaram um esforço mun- dial conjunto para salvar as vidas de mais de 16 milhões de mulheres e crian- ças. Em um evento especial realizado pelas Nações Unidas para o lançamento da Estratégia Global para a Saúde da Mulher e da Criança, os doadores pro- meteram mais de US$40 bilhões em recursos para a saúde da mulher e da criança. “Sabemos o que contribui para salvar as vidas de mulheres e crianças, e sabemos que elas são essenciais para todos os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio,” disse o secretário-geral.

Embora as questões que envolvem a juventude não estejam incluídas nos oito Objetivos de Desenvolvimento do Milênio, elas detêm o potencial para alcançá-los, especialmente o Objetivo 1, de redução da pobreza, afirmou Samuel Kissi, jovem ativista de Gana, discursando em um evento para a juventude durante a Cúpula de Revisão dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio, em 2010. “Somos 1,8 bilhão e estamos prontos para nos envol- vermos,” disse Kissi. “Não somos apenas recursos, somos parceiros, e estamos prontos para dar significati- va contribuição para os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio.”