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4 METODOLOGIA: ENCAMINHAMENTOS TEÓRICOS E

5.4 Efeitos na prática de uma gestão democrática

A questão do gerencialismo é central neste trabalho, mas como pode ser observado nas falas dos próprios gerentes, eles falam pouco de si como gerentes, em alguns enunciados aparece o diretor, ora o gestor, mas nunca o gerente. A gestão democrática por outro lado enquanto determinação legal aparece em todas elas, seja para criticar, seja para defender. Há no emaranhado dos discursos uma subjetivação desses profissionais, no sentido de aderirem sem resistências às estratégias gerencialistas adotadas pelo atual governo do estado.

Visibilidades de como produzir o gestor democrático e de como cada um vai se produzindo gestor democrático. Ser gestor democrático implica a aprendizagem da conduta de polícia de cada um. Uma conduta que pretende levar todos a se reconhecerem responsáveis pelo planeta, pela escola, pelos destinos da sociedade. Vigiar, punir, monitorar e controlar continuamente a si aos outros. (CERVI, 2010, p. 221)

Para Cervi, a gestão democrática é um dispositivo para o governo dos vivos. Nela, requer-se a participação de cada um. Na sociedade do controle mecanismos cada vez mais democráticos estão carregados de controle, produzindo uma falsa sensação de liberdade e de uma autonomia, quando na verdade, o que existe é um poder de decisão totalmente limitado e condições para obter resultados satisfatórios bastante limitadas.

O gestor tem que ser democrático, não só no nome, mas nas suas ações. Ele tem que saber planejar as suas ações, porque um gestor que não planeja, que não se organizar ele não tem perfil pra ser gestor, não é? Tem que ser democrático, tem que saber trabalhar com a comunidade, tem que ser extrovertido, um gestor introvertido naturalmente vai ter dificuldade de se relacionar com os outros de trazer a comunidade pra junto dele, então ele tem que ter essas características, né? E também tem que gostar do que faz, logicamente, e também tem que gostar de estudar. (ADRIANA)

O perfil do gerente, para Adriana, parece de um super profissional, atento a tudo e a todos, focado no Ideb. Para Márcia o exercício do ser gestor está associado a ter ética, ao amor, uma perspectiva de atuação muito comumente encontrada em falas dos docentes dos anos iniciais do ensino fundamental.

A ética é muito importante, porque as vezes eu já percebi que tem gestores que acham que umas das características é ele ser rigoroso, é ele pegar pesado, tanto faz com aluno, tanto faz com funcionário e eu não vejo por aí, eu não vejo essa prática. Eu acho que tem que ter ética, tem que ter compreensão, deve ter amor acima de tudo, eu acho que esse é o caminho. (Marcia)

Três Gerentes, Catia, Zilda e Márcia, se colocam a favor da eleição para diretores, mas com algumas ressalvas. Vale destacar que as mesmas são da rede municipal e assumiram a gestão da escola que as promoveram para a Gerência por meio de indicação política, inclusive assumindo essa condição de forma naturalizada, como podemos observar nas palavras de Zilda: ³DJHVWmRGHPRFUiWLFDQRPHXFDVRQmRWHYHIRLLQGLFDomRSROtWLFDHVVHVDQRVWRGRTXH HXSDUWLFLSHLIRLLQGLFDomRSROtWLFD´ =,/'$ 

Para Cátia a comunidade nem sempre sabe escolher o diretor, falta nível técnico para avaliar quem seria um bom gestor,

Mas eu acho, para sugerir mesmo ao próprio sistema, é de que é muito interessante a escolha democrática dos diretores. Mas eu acho que ela estivesse associada a uma seleção técnica também, porque tem muita gente boa dentro das escolas, a comunidade soube escolher em grande parte das escolas, mas nem sempre a comunidade sabe decidir bem o diretor e avaliar o seu perfil para estar na direção de uma escola. Para se avaliar o perfil de quem está lá também, eu sei que tem gente que é muito apoiado pela comunidade, apoiado pelos alunos. Mas assim, é a gente não sabe quais critérios eles utilizam para escolher, então as vezes ele acerta, em grande parte acerta, só que não acerta cem por cento. (CATIA)

Curiosamente nos reportamos às escolhas feitas pelos dirigentes municipais, visto que quase 80% dos municípios alagoanos nomeiam seus gestores por indicação política. Teriam esses também critérios técnicos para definir quem é um bom gestor, ou apenas se baseiam nos critérios de quem foi aliado nas eleições?

A questão da eleição democrática é importante, mas em determinadas situações. A gente fica, eu não acredito... deixa eu ver, eu não acredito completamente que seja um dos pontos bons, porque o que é que existe... eu tive escola que não tinha candidato a gestores, quem foi entrar não vai ter compromisso nenhum com essa escola e o município tem o porém, você vai estar lá, você é indicada, mas se não der certo você sai. E o estado é mais amarrado. (ZILDA)

³'DUFHUWR´GRSRQWRGHYLVWDGHTXHP"'DFRPXQLGDGHDTXHPRJHVWRUDWHQGHRXDRV interesses da gestão municipal? Vemos arraigado neste discurso alguém que por tantas vezes foi vítima de mudança de sala de aula, coordenação e direção por interferência da política local e que naturaliza como sendo de fato a melhor escolha para ocupar o cargo de gestor. Não problematiza se, quando estava na gestão, por exemplo, desenvolveu um bom trabalho e que foi interrompido por mudança de prefeito, apenas acredita e defende que essa seja uma boa alternativa para tirar do cargo assim que se percebe que não atende aos anseios da gestão municipal e/ou estadual.

Já para Márcia, o grande problema está na falta de professores/ coordenadores que queiram se gestores, assim como no município a que ela é vinculada, a rede estadual também tem o mesmo problema, inclusive em proporções maiores já que na grande maioria das escolas o número de professores efetivos é muito pequeno e portanto, as vezes não tem nem opção de candidatos para ocupar o cargo.

não é todo mundo hoje que quer ser gestor, não é todo mundo que quer. Eu vejo isso aqui mesmo na Gere, que agora houve eleição, agora em setembro, e nós temos escolas que ainda estão sem gestor, porque não teve quem quisesse e alguns já foram para uma segunda chamada. Foi assim um absurdo, graças a deus na segunda chamada muitos aceitaram e principalmente depois da história da gratificação de gestor, mas nós temos ainda uma escola que não tem gestor. (Márcia)

Sobressai um certo entendimento de que seria bom o fato de os políticos poderem tirar a qualquer momento o gestor da escola, diante do risco de a comunidade escolher um mau gestor. Mas esse mau gestor seria a partir de que ponto de vista? Isso não é problematizado. Mas fica evidente que o bom gestor deveria ter um perfil principalmente técnico que priorizasse as metas do Ideb.

Quando perguntada sobre como é possível conciliar a gestão democrática com as imposições de Prova Brasil e Ideb, Márcia foi enfática ao discorrer sobre ter gestão GHPRFUiWLFD QDV HVFRODV ³7HP $JRUD QmR ID]HP HX QmR VHL R SRUTXr QmR fazem. [...] A HVFROD VHJXH D SURYD´ 0$5&,$  Nessa mistura de sentidos do que é ser um gestor democrático, Zilda coloca uma situação que aconteceu no dia da entrevista:

Hoje nós estamos com o problema seríssimo, hoje é paralização nacional. Você imagine, você fazer com que a sua equipe permaneça na escola. Nós temos escolas que estão funcionando normalmente e temos escolas que fecharam as portas. É a segurança, é a credibilidade que o gestor, ele tem que passar para a sua equipe e tem gestor que ele não é gestor, é diretor, ele só impõe, ele não sabe articular os problemas que acontecem na escola e assim, é a questão dos salários agora dos

professores. É complicado, é um dos pontos mais... porque verbas tá tendo muita nas escolas, apoio financeiro eles estão tendo. (ZILDA)

Zilda diferencia gestor do diretor. Para ela, o diretor seria como o chefe intransigente que não consegue negociar com seu funcionário, neste caso o gestor seria aquele que conseguisse mobilizar os professores e funcionários a não aderir a paralização nacional da educação, em prol de um objetivo imediato comum, ter aula e pensar a qualidade da educação ofertada aos alunos da sua escola. O gestor é aquele que consegue conduzir...