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Capítulo 1 Revisã o dã literãturã

1.1 POLUIÇÃO ATMOSFÉRICA

1.1.4 EFEITOS DA POLUIÇÃO ATMOSFÉRICA

1.1.4.2 Efeitos na saúde humana

Os acidentes ocorridos no século XX foram os primeiros indícios de que concentrações elevadas de gases e partículas na atmosfera causam efeitos danosos à saúde humana (SOLOMON et al., 2011). Por exemplo, Derisio (2012) mostra que no acidente do Vale do Rio Meuse em 1930 morreram 63 pessoas, no episódio de inversão térmica na Pensilvânia em 1948 provocou a morte de 20 pessoas e mais 7.000 manifestaram problemas de saúde, e no episódio de Londres em 1952 gerou a morte de 2.000 pessoas.

Todos esses acontecimentos que marcaram o século XX são caracterizados como atípicos, ou seja, no qual a concentração de poluentes na atmosfera teve um aumento brusco em um período de tempo curto devido a fatores antrópicos e/ou naturais. O episódio de Londres em 1952, por exemplo, foi devido a uma frente fria que chegou à capital inglesa durante os dias 5 e 9 de dezembro de 1952 e fez com que a população queimasse mais carvão que o usual. Os efeitos das emissões lançadas pela queima de carvão foram intensificados com o fenômeno de inversão térmica que ocorreu justamente nesse período (DERISIO, 2012). A Figura 4 apresenta o número de mortes no episódio de Londres, 1952, juntamente com a variação da presença de SO2 e

Figura 4 - Número de mortes, emissões de SO2 e fuligem em Londres - dezembro de 1952.

Fonte: Fenger (2009), com edição.

Nota: número de mortes por dia (number of deaths per day).

Dockery et al. (1993) foram os primeiros a investigar a associação entre poluição do ar e mortalidade tendo como referência as concentrações de poluentes usuais em uma cidade, e não considerando como um evento atípico. O estudo de Dockery et al. (1993) é conhecido como

Harvard six cities. Esse nome se refere à Universidade de Harvard (instituição onde o estudo

foi desenvolvido) e a seis cidades americanas nas quais foram avaliadas (Portage, Topeka, Watertown, St. Louis, Harriman, Steubenville). No estudo de Harvard six cities foram avaliadas 8.111 pessoas nas seis cidades durante 16 anos (início em 1974). Os autores encontraram que o aumento de 10 μg/m3 de MP

2,5 foi associado com 14% no aumento do risco de morte (todas

as causas), 26% no aumento do risco de mortes por causa do sistema circulatório e 37% no aumento do risco de morte por câncer de pulmão. A conclusão final dos autores foi que a concentração de MP2,5 na atmosfera é diretamente associada com a expectativa de vida da

população. Steubenville foi a cidade que apresentou a maior concentração de MP2,5 e a menor

Figura 5 - Harvard six cities, expectativa de vida e concentração de MP2,5.

Fonte: Dockery et al. (1993), com edição. Nota: expectativa de vida (life expectancy).

O Harvard six cities estudo teve duas extensões (LADEN et al., 2006; LEPEULE et al., 2012), nas quais as mesmas cidades foram reavaliadas com uma extensão na análise temporal do conjunto dos dados. Um dos objetivos dessas extensões foi analisar os efeitos das políticas de controle da qualidade do ar implantadas pelo órgão ambiental americano (Environmental

Protection Agency– EPA) desde a publicação do primeiro estudo em 1993. Vale ressaltar que

foi o primeiro estudo de Harvard six cities que alertou à EPA sobre os reais efeitos da poluição atmosférica sobre a saúde humana. Os autores das extensões do Harvard six cities encontraram resultados mostrando os benefícios das políticas de controle da qualidade do ar sobre a população.

Após o primeiro estudo de Harvard six cities começou a ser difundido na comunidade científica o maior interesse para os estudos entre poluição do ar e saúde humana em outras regiões, tais como no Brasil (CONCEIÇÃO et al., 2002; TOLEDO; NARDOCCI, 2011; RÉQUIA JÚNIOR; ABREU, 2011; ARBEX et al., 2012), no Chile (VALDÉS et al., 2012; TRONCOSO; CIFUENTES, 2012), na Espanha (RIVERA et al., 2012; GONZALEZ-BARCALA et al., 2013), na Inglaterra (POWELL et al., 2011; MÖLTER et al., 2012; YIM et al., 2013), na Itália (ROSENLUND; PICCIOTTO; et al., 2008; BORGINI et al., 2011; KOUSOULIDOU et al., 2013), na Índia (BARRETT et al., 2010; MONDAL et al., 2011; KHILLARE; SARKAR,

2012), na China (CHAN; YAO, 2008; CHEN et al., 2012; CHOWDHURY et al., 2013), na Australia (XU et al., 2013). Os efeitos da poluição do ar sobre a saúde humana identificados por esses estudos podem ser detalhados principalmente como:

a) efeitos no sistema respiratório, o que propicia o aumento dos casos de pessoas com câncer, asma, alergias, doenças no pulmão (TRASANDE; THURSTON, 2005; ARBEX et al., 2012). Conforme a Figura 6, os poluentes atmosféricos presentes no sistema respiratório passam por diferentes tipos de deposição, o que gera patologias distintas em cada compartimento do trato respiratório. Especificamente para o material particulado, Gomes (2010) detalha que as menores partículas são as que chegam ao compartimento do pulmão. Nesse sentido, partículas maiores que 7 µm afetam a cavidade oral e nasal, as com 4,7 a 7 µm afetam a laringe, as com 3,3 a 4,7 µm afetam a traqueia e os brônquios primários, as com 2,1 a 3,3 µm afetam os brônquios secundários, as com 1,1 a 2,1 µm afetam os brônquios terminais e as menores que 0,65 µm afetam os alvéolos pulmonares;

Figura 6 - Patologias do sistema respiratório decorrentes da poluição do ar.

b) efeitos no sistema circulatório, propiciando o aumento dos casos de câncer, de doenças cardiovasculares e até influenciando no desempenho para o condicionamento físico de pessoas que praticam esporte (ZANOBETTI; SCHWARTZ, 2009; RUNDELL, 2012; VALDÉS et al., 2012; LIN, H. et al., 2013);

c) aumento dos casos de pessoas com diabetes. Estima-se que a poluição do ar causa uma resistência à insulina, que é um precursor da diabete (SOLOMON et al., 2011; TSAI et al., 2012; NICOLE, 2015);

d) efeitos na saúde perinatal, podendo influenciar no nascimento prematuro, com baixo peso, com deformidades físicas e a maior probabilidade da criança desenvolver doenças do sistema respiratório (AGUILERA et al., 2009; ARBEX et al., 2012; OLIVEIRA, DE et al., 2012; HOFFMAN et al., 2012);

e) e os efeitos nos olhos (TORRICELLI et al., 2014), no sistema nervoso (GENC et al., 2012; DAVIS et al., 2013) e na reprodução humana (SLAMA et al., 2008; LEGRO et al., 2010; VERAS et al., 2010).

Por fim, destaca-se que as pesquisas que buscam avaliar os efeitos da poluição do ar sobre a população humana são consideradas estudos em saúde ambiental, especificamente, estudos em epidemiologia ambiental. O item 1.2 desta tese apresenta os principais conceitos e associação com poluição do ar relacionada a essa área do saber.