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2 TRAJETÓRIAS HISTÓRICO-GEOGRÁFICAS DO CEARÁ, DE ARACATI E

3.2 Efeitos do turismo

Os efeitos positivos e negativos do turismo representam as consequências deixadas na comunidade22 e o resultado do trabalho desempenhado por toda a cadeia de serviços do setor: poder público, iniciativa privada, sociedade civil organizada e cidadãos. Como impactos positivos, fala-se principalmente em geração de emprego, distribuição de renda, inclusão e desenvolvimento. Já os impactos negativos ressaltam problemas ambientais, exclusão das comunidades tradicionais, especulação imobiliária, aumento da violência e uso de drogas.

As primeiras influências estudadas são as que refletem participação no Produto Interno Bruto (PIB), como quantidade de empregos gerados e aumento na arrecadação. Fernandes e Coelho, em 2002, já afirmavam que

O turismo doméstico e internacional participa com mais de 10% na formação do Produto Interno Bruto (PIB) mundial, sendo que, em países menores e em desenvolvimento, esta participação é consideravelmente maior (FERNANDES; COELHO, 2002, p. 04).

O IPEA (2010, p. 432), através de pesquisa realizada por Takasago, Guilhoto, Mollo e Andrade, destaca que “a melhor maneira de analisar impactos econômicos do turismo é usando matrizes de regionais de insumo-produto[...]”, sendo um instrumento efetivo para a mensuração de receita de impostos, contribuição do turismo nas importações e geração de renda e emprego.

São teoricamente claras a objetividade e a precisão da mensuração dos impactos econômicos. Archer e Cooper (2001) acrescentaram que os impactos gerados pelo turismo dependem do volume de turistas e de algumas características do perfil desses visitantes, como permanência, meio de transporte e de hospedagem utilizados e plano de viagem, podendo ser acrescentado, à observação dos autores, o fato de existir ou não planejamento na localidade turística.

O interesse do poder público em mensurar e comprovar os impactos econômicos do turismo sempre foi evidente. No entanto, observa-se que as municipalidades, onde efetivamente essa atividade se desenvolve, possuem poucos dados para a mensuração destes. O poder público local, com raras exceções, não mensura o impacto na arrecadação, desconhece o número de empregos formais gerados e os efeitos indiretos na economia local.

22Adotaremos o termo comunidade como defendido por David Harvey, “[...] entidade social criada no espaço através do tempo”, levando em consideração as formas de criação e de relação da comunidade estudada. (HARVEY, 2012, p. 190)

O que se percebe mais facilmente no discurso da população local é o aumento no valor dos imóveis e no custo de vida. Em relação a essa questão, Milton Santos (1988, p. 16) nos fala em uma anarquia mercantil e diz que isso se agrava “[...] na medida que o uso do solo se torna especulativo e a determinação do seu valor vem de uma luta sem trégua entre diversos tipos de capital que ocupam a cidade e o campo”.

Se a mensuração de dados concretos torna-se complexa nas localidades, o que dizer, então, dos demais impactos, os menos quantificáveis? Percebeu-se claramente que as consequências geradas não se restringem à economia e influenciam as relações sociais e a condição de vida da comunidade que recebe os turistas23, precisando de uma avaliação cuidadosa para que não se confunda geração de emprego com substituição de emprego, abandono das atividades primárias e migração para as atividades do setor terciário, ou mesmo declínio de atividades tradicionais, tão valorizadas e necessárias para o turismo.

Dessa forma, buscou-se identificar claramente o que são e quais são os impactos positivos e negativos da atividade turística. Archer e Cooper (2001) corroboraram com a opinião defendida por Fernandes e Coelho (2002), e relataram como sendo os principais impactos os econômicos, aqueles já citados, e ressaltaram, posteriormente, os aspectos políticos, institucionais, socioculturais, ambientais e ecológicos.

Os autores Fernandes e Coelho (2002, p. 3) enfatizaram, ainda, a capacidade do turismo de multiplicar benefícios, melhorando as condições de vida das comunidades envolvidas direta e indiretamente na atividade turística:

[...] atrelados à inexorável vitalidade da atividade turística, surgem os benefícios para a sociedade como um todo, principalmente através da alavancagem econômica, alguns de fácil percepção, por serem diretos, e outros indiretos, mas não menos importantes (FERNANDES; COELHO, 2002, p. 3).

Ignarra (2003) segue os mesmos princípios apontados, conseguindo ampliar o objeto estudado quando afirma que o turismo tem papel importante na conservação do meio natural, na multiplicação da renda e no desenvolvimento cultural das comunidades, e lista, de acordo com sua percepção, os principais impactos positivos e negativos.

A maior diferença entre os destinos é quanto ao tipo de impacto que irão sofrer, o que depende diretamente do processo de planejamento exercido pelo poder público, iniciativa

23 No turismo, utiliza-se o termo “comunidade receptora” para designar o lugar que recebe um fluxo significativo de turistas.

privada e terceiro setor. Essa balança citada, se bem planejada, deve pender para o lado dos frutos ou efeitos positivos. Em casos de ausência de planejamento ou mesmo displicência ao cumprir as regras estabelecidas, a balança tende a pender para os impactos negativos, comprometendo a sustentabilidade do destino.

Concordando com Ignarra (2003), Krippendorf e Dummer (2002) enfatizaram o processo de desenvolvimento gerado pelo turismo. Dentre eles, citam: as mudanças culturais, como as diferenças comportamentais entre turistas e população local; venda de terra; especulação imobiliária; controle dos investimentos por estrangeiros; e a posição enfraquecida das atividades tradicionais, tais como agricultura, pesca e produção artesanal. Observou-se que os autores perceberam a existência de outros impactos, atribuindo a esse fenômeno o nome de “perda de seu próprio país”.

Ainda de acordo com Krippendorf e Dummer (2002), um modo para explicar o desenvolvimento do turismo, visto que se trata de uma atividade complexa de planejar e avaliar,

[...] é reconhecer que ele não é gerido por uma relação simples e recíproca de dois ou mais fatores no sentido causa e consequência, sendo uma atuação recíproca de várias forças diferentes, que estão inter-relacionadas e se influenciam mutuamente (KRIPPENDORF; DUMMER, 2002, p. 12).

Os referidos autores fizeram uma analogia com uma máquina de engrenagem e descrevem o funcionamento da atividade turística. Ressaltaram que são os setores da construção e da operação de produtos e serviços que iniciam o ciclo da prosperidade do turismo, conforme tentamos demonstrar através da figura 26:

FIGURA 26 - Funcionamento da atividade turística: ciclo virtuoso

Fonte: Adaptação da autora, segundo definição de Krippendorf e Dummer (2002).

Ressaltou-se que, atualmente, para o desenvolvimento sustentável da atividade, tornou-se indispensável a utilização de estudos de casos comparativos ou mesmo troca de experiências entre destinos e produtos turísticos, sem esquecer, é claro, as especificidades de cada lugar.

O estudo dos impactos positivos e negativos do turismo, bem como do ciclo virtuoso que este pode gerar, reafirma a importância das políticas públicas do turismo e do planejamento realizado de forma adequada e com uma representativa participação da comunidade receptora, evidenciando a importância dos atores locais para o desenvolvimento da atividade. O entendimento do fenômeno turístico de forma ampla e dos impactos remete- nos ao planejamento e às políticas dessa atividade no Brasil, ao entendimento dessa dinâmica em um território tão amplo e diverso, conforme discutido a seguir.