ramos da árvore jur ídic a
8. ORIGENS DO DIREITO CIVIL ORIGENS DO DIREITO CIVIL
8.2. O D ir eito portug uês
Embora o nosso Direito Civil atual se fundamente na razão e expresse criações científicas modernas, além de valores da sociedade brasileira, a sua história acha-se ligada ao Direito português. Durante o período colonial, nosso principal estatuto jurídico foram as Ordenações Filipinas de 1603, que consistiram numa revisão das precedentes Ordenações Manuelinas do séc. XVI e das Ordenações Afonsinas do séc. XV e que, por isto mesmo, refletiam princípios já superados. Enquanto em Portugal as Ordenações Filipinas foram revogadas em 1867, com a entrada em vigor do
chamado Código Civil Seabra, em nosso país a sua vigência estendeu-se
até o advento do Código Civil de 1916. Durante as Ordenações Filipinas, o Direito Romano e o Canônico continuaram como fontes subsidiárias e, na falta de ambos, aplicavam-se as lições de Acúrsio e de Bártolo de Saxoferrato. A força e o significado das Ordenações Filipinas na vida jurídica brasileira foram incontestáveis, pois permaneceram vigentes aqui, não obstante a ruptura política entre Brasil e Portugal, em 1640, e os grandiosos fatos históricos de 1822 e de 1889, que proporcionaram ao país, respectivamente, a condição de Estado soberano e de República Federativa. As srcens do Direito português se ligam a três importantes sistemas: o romano, o germânico e o canônico. Como observa Pontes de Miranda, no romano há mais conteúdo político do que moral e religioso; no Direito germânico, o elemento moral prepondera sobre o político e o religioso; no canônico, o princípio religioso se destaca mais em relação ao político e o
moral. Quanto ao conteúdo econômico, diz o notável jurista pátrio,
decorreu ele de modernas nações ou“nasceu do próprio solo, como
fecunda emanação da vida”.22
8.3.O D ireito R omano como fonte do Di reito
Ocidental
Em sua manifestação primitiva o Direito nasceu dos costumes e
envolto no manto religioso.23 A forma escrita correspondeu a uma etapa
evoluída na história do Direito. Em Roma, berço do Direito Ocidental, não foi diferente. As primeiras manifestações do Direito Romano se acham
no Jus Civile, que se destinava aos cidadãos romanos e se formou
costumeiramente e por algumas leis. O jus honorarium, também tratado
por ius praetorium, era composto pela contribuição dos magistrados. Em
uma segunda fase, constituiu-se o jus gentium, destinado aos estrangeiros
entre si e em suas relações com os romanos. Tendo por srcem as decisões pretorianas, suas normas possuíam sentido de universalidade, justamente
para se adaptarem à diversidade de srcem das pessoas. 24 Quando os
por outros povos, cuidavam de incorporá-los ao jus gentium.
Posteriormente concebeu-se o jus naturale, baseado na razão e na ordem
natural das coisas. Nas Institutas de Justiniano foi definido como“naturalia
jura quae apud omnes gentes peraeque servantur, divina quadam
providentia constituta semper firma atque immutabilia permanent” ( As leis
naturais, que por igual se observam entre todas as gentes, estabelecidas
por certa providência divina, permanecem sempre firmes e imutáveis).25 No
plano filosófico os juristas se dividiam em duas correntes de pensamento,
uma que apresentava divisão tricotômica do Direito Privado: jus civile, jus
gentium e jus naturale, enquanto a concepção dicotômica via no jus
naturale apenas uma qualidade do jus gentium. Famosos são os três
princípios luminosos do Direito Romano e que, ainda hoje, atraem a
atenção de estudiosos: 1º,honeste vivere (viver honestamente);
2º, neminem laedere (não lesar a outrem); 3°, suum cuique tribuere (dar o
seu a cada um). Embora a sociedade espere que os seus membros
vivamhonestamente, o primeiro princípio é nitidamente de ordem moral,
porque à luz do Direito exige-se que o homem viva conforme a lei. O segundo princípio é nuclear no Direito, pois veda as ações atentatórias à vida, à liberdade, à dignidade e ao patrimônio das pessoas. Constitui o fundamento último da responsabilidade civil. O terceiro princípio constitui, ainda hoje, o cerne do valor justiça e deve ser considerado não sob o aspecto formal (o que a lei atribui a cada um), mas o que a razão e a ordem natural das coisas induzem.
O Direito Romano se acha cristalizado no famoso Corpus Juris
Civilis (séc. VI) – resultado de compilações ordenadas pelo Imperador
Justiniano I (483-565) e expressa treze séculos de experiência jurídica mesclada por costumes, contribuição pretoriana e inúmeras leis. A primeira
codificação – Codex repetitae praelectionis – foi preparada por comissões
organizadas pelos jurisconsultos Triboniano, Doroteu e Teófilo, sob a presidência do primeiro e promulgada pelo Imperador, em 534. Seguiu-se a
elaboração do Digesto ou Pandectas, constituído por coletânea de textos de
notáveis jurisconsultos clássicos, notadamente de Ulpiano, Paulo,
Papiniano, Gaio e Modestino, que constituíam o chamado Tribunal dos
Mortosdo Imperador da época. As. O prestígio das lições de cada qual variava conforme a preferência Institutas foram um manual de autoria daqueles três jurisconsultos e destinado a estudantes. Posteriormente, o Imperador
promulgou as Novellae Leges, coletânea de novas leis.
Para a compreensão do Direito Romano há dois dados importantes a serem considerados: a obra dos glosadores e pós-glosadores e os estudos contemporâneos daquele Direito entre as universidades europeias. Os glosadores foram uma casta de juristas da Escola de Bolonha, que
margem do texto (glosas marginais) e entre as linhas (glosas interlineares), destacando-se Acúrsio e Irnério. No séc. XVI aqueles estudos ganharam forma sistemática e maior rigor científico com a classe dos pós-glosadores, entre os quais se notabilizaram Cujácio e Doneau. A busca da compreensão do sistema romano de Direito não cessou com os pós-glosadores, pois aqueles estudos alcançaram a modernidade em universidades europeias, especialmente alemãs e italianas.