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4.4 ORGANIZAÇÃO CURRICULAR NO CONTEXTO DA PEDAGOGIA DO

4.4.3. Eixos Temáticos Temas Geradores

O currículo nas Escolas dos Assentamentos/Acampamentos do MST tem como referência a formação integral do ser humano e o modo de produção e reprodução da vida das comunidades. Para tanto, assume-se uma concepção de currículo

integrado, objetivando uma formação geral e unificada com os saberes populares, um diálogo de diferentes ciências entre si e destas com os saberes dos sujeitos. Compreendemos que os conhecimentos tratados na escola devem refletir o mundo do trabalho no campo, em constante trans-formação, e suas inter-relações com o conjunto da sociedade, reconhecendo, por um lado, o conhecimento acumulado pelos camponeses/camponesas em sua cultura e sua trajetória e, por outro, a dimensão tecnológica e organizacional cada vez mais presente no campo.

Como o trabalho pedagógico da escola visa a formação da criança, do jovem, do adulto e do idoso Sem Terra, enquanto sujeito histórico, o currículo integrado busca articular dinamicamente, numa relação prática e teoria, escola e comunidade, tendo, fundamentalmente, as características socioculturais do meio em que esses processos se desenvolvem.

A prática pedagógica das Escolas dos Assentamentos/Acampamentos fundamenta- se no processo organizativo e produtivo dos Assentamentos, Acampamentos e comunidades vizinhas, reconhecendo que as questões da práxis social desses espaço/tempos, devem ser o substrato para o desenvolvimento do processo educativo. Para tanto, é necessário considerar que os sujeitos em formação são históricos e vinculados a um movimento social que luta pela superação do capital como modelo excludente e concentrador de riquezas. Possuem uma raiz camponesa com culturas e saberes do campo; são agricultores/agricultoras, campesinos/campesinas que desenvolvem diversas atividades agrícolas, na maioria dos casos, dentro do modelo agrícola convencional. No entanto, as escolas buscam fortalecer as práticas agroecológicas, vivendo um processo organizativo que visa a emancipação das pessoas; estão em luta permanente tendo em vista a tensão existente no campo sobre a hegemonia do agronegócio comandado pelo capital. Para dar conta desta realidade e trabalhar de forma que os conhecimentos científicos façam sentido para o educando/educanda e possibilite uma compreensão aprofundada do seu meio, a escola organiza o seu currículo a partir de eixos temáticos que abordam as problemáticas que povocam reflexões e servem de subsídios para a definição das aprendizagens a serem desenvolvidas pelos educandos/educandas, oportunizando o diálogo entre os saberes das áreas do conhecimento e os saberes dos trabalhadores/trabalhadoras e apropriação de novas

aprendizagens e possibilitando responder, elucidar e desvelar as questões problematizadas na pesquisa, buscando a apreensão e a produção de saberes integrados, potencializadores da transformação desses sujeitos e da realidade. A partir do diagnóstico da realidade em nível local, regional, estadual e nacional, são pensados os eixos temáticos, sendo definido, no coletivo da escola, um eixo temático por ciclo e/ou série, levando em consideração o nível de compreensão e discussão dos educandos/educandas. A partir dos eixos temáticos elaborados, é definido um tema gerador para cada trimestre. Nessa discussão, envolve-se o coletivo da escola: educandos/educadas, educadores/educadoras, famílias e funcionários/funcionárias.

Os Temas Geradores são questões ou situações-problemas extraídas da realidade dos educandos/educandas e da sua comunidade. Eles permitem direcionar o processo de ensino-aprendizagem para a construção de um conhecimento concreto e com sentido real, tanto para os educandos/educandas, quanto para a comunidade. Esses temas orientam o Plano de Estudo, determinando a definição dos conteúdos, sua finalidade, o método de trabalho e o processo de avaliação do coletivo da escola.

Nesse movimento de busca de uma educação coerente com o método dialético de interpretação da realidade, Pistrak, com vasta experiência no processo pedagógico da União Soviética, permite compreender a importância de, o trabalho adentrar na escola enquanto pilar educacional. O autor destaca que “o trabalho na escola, enquanto base da educação, deve estar ligadao ao trabalho social, à produção real, a uma atividade concreta socialmente útil” (PISTRAK, 2005, p. 38). Nessa direção, Pistrak chamava a atenção para a necessidade de:

[...] Estudar os fenômenos em suas relações, sua ação e dinâmica recíprocas, é preciso demonstrar que os fenômenos que estão acontecendona atualidade são simplesmente partes de um processo inerente de desenvolvimento histórico geral, é preciso demonstrar a essência dialética de tudo o que existe (2000, p. 34).

Essa questão provocara Pistrak a desenvolver a dinâmica de estudos por complexos, compreendido não apenas como uma técnica pedagógica, mas como um método de extrema importância para analisar a realidade atual do ponto de vista marxista. Pórem, é necessário que o sujeito “assimile o método na prática,

compreendendo o sentido do seu trabalho” (2005, p. 151). Ao conceber essa relação entre estudo e trabalho, de forma viva na escola, Pistrak procura organizar o conteúdo escolar, levando em consideração o estudo/ciência e o trabalho técnico, a auto-organização dos educandos/educandas e o trabalho social da escola; busca organizar o trabalho educativo através de temas significativos para a sociedade, no sentido de provocar o estudo dos fenômenos reais, que possa orientar a interpretação dialética da realidade atual, visando transformar os conhecimentos em ações.

É nessa perspectiva que o MST vem buscando construir uma Proposta de Educação coerente com o método dialético. Uma educação preocupada em problematizar o entendimento da realidade complexa e no intuito de proporcionar espaços/tempos de formação que possibilite também preparar os trabalhadores/trabalhadoras para refletir sobre a práxis, nos sentido de desenvolver ações que posam intervir individual e coletivamente na realidade, rumo a sua tranformação.