• Nenhum resultado encontrado

2 PRESSUPOSTOS TEÓRICOS: A EDUCAÇÃO DE JOVENS E

2.1 A Educação de Jovens e Adultos – pressupostos teóricos

2.1.2 A EJA – cenário brasileiro

A EJA, na atualidade, reflete as marcas de significativos avanços conquistados desde a Constituição Federal de 1988, que reconhece o direito de todos à educação, seguindo-se a Lei das Diretrizes e Bases (LDB 9.394, de 1996), que se tornou modalidade da Educação Básica nas etapas do ensino fundamental e do ensino médio e, posteriormente, em maio de 2000, a aprovação, na Câmara da Educação Básica (CEB), do Conselho Nacional de Educação (CNE), do Parecer 11/2000,9 que regulamentou as Diretrizes Curriculares Nacionais para a EJA e definiu a EJA como modalidade da Educação Básica nas etapas fundamental e média. Foram explicitadas as bases legais das diretrizes, atribuindo aos sistemas a autonomia para definir a organização, a estrutura e os cursos da EJA. Outro avanço diz respeito à inclusão do financiamento da EJA no Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação (FUNDEB10), aumentando os investimentos, já que no fundo anterior11

Esses avanços, todavia, não foram suficientes para garantir do acesso à educação básica à maioria da população brasileira. O analfabetismo ainda perdura no contexto nacional. Os dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD 2011)

não incluía a educação básica de jovens e adultos.

9

SOARES, L. Educação de jovens e adultos: Diretrizes Curriculares Nacionais. Rio de Janeiro: DP&A, 2002.

10

Foi criado pela Emenda Constitucional 53/2006 e regulamentado pela Lei 11.494/2007 e pelo Decreto 6.253/2007, com vigência estabelecida para o período 2007-2020. Sua implantação começou em 1º de janeiro de 2007, sendo concluída em 2009. Financia todas as etapas e modalidades da educação básica. 11

Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e Valorização do Magistério (FUNDEF). Englobava as matrículas do ensino fundamental regular. Foi criado pela Emenda Constitucional 14/1996 e regulamentado pela Lei 9.424/1996. Sua vigência finalizou em dezembro de 2006.

apresentam um índice de analfabetismo de 8,6%, o que corresponde a um contingente de quase 13 milhões de pessoas sem acesso à leitura e à escrita. Em 2004, o índice de analfabetismo era de 11,4% apontando uma redução de 2,8%.

GRÁFICO 1 - Evolução da taxa de analfabetismo da população de 15 anos ou mais de idade (%)

Fonte: IBGE: PNAD, 2011.

A maior parte das pessoas analfabetas concentra-se na faixa etária acima de 40 anos.

GRÁFICO 2 - Taxa de analfabetismo (%) - 2011

Os dados do Censo Demográfico 2010 (IBGE, 2012a) apontam que os níveis de instrução no Brasil apresentam déficits significativos a serem superados. A TAB. 1 apresenta os dados de distribuição de pessoas com 25 anos ou mais de idade, por grandes regiões, segundo o sexo e o nível de instrução. No Brasil, 49,3% das pessoas nesta faixa etária não têm o ensino fundamental completo. O nível de instrução de pessoas com 25 anos ou mais de idade que terminaram o curso superior de graduação ainda é muito baixo. Mostra-se relevante observar que nas regiões Norte e Nordeste o percentual referente à parcela sem instrução ou com o fundamental incompleto é muito mais acentuado que o das outras regiões brasileiras. Já em relação à escolaridade de homens e mulheres, o nível de instrução das mulheres apresentou-se mais alto que dos homens.

TABELA 1

Distribuição das pessoas de 25 anos ou mais de idade, por Grandes Regiões, segundo o sexo e o nível de instrução – 2010

Segundo o IBGE (2012a), quando se comparam os dados dos Censos Demográficos de 2000 e de 2010 pode-se afirmar que no Brasil diminuiu o percentual de pessoas que não estudavam na faixa etária de 7 a 14 anos e na faixa de 15 a 17 anos. Tal indicativo é expressivo, já que este público poderia ser considerado uma parcela a ser atendida pela EJA.

TABELA 2

Percentual de pessoas que não freqüentavam escola na população de 7 a 14 anos e de 15 a 17 anos de idade, segundo o sexo e a situação de domicílio – Brasil – 2000/2010

Fonte: IBGE, Censo Demográfico 2000/2010. Nota: Dados de 2000 e 2010 harmonizados.

Verificou-se, também, com base nos dados do Censo Demográfico 2010 (IBGE, 2012a), que aumentou a escolarização e diminuiu o percentual de pessoas sem instrução ou com o ensino fundamental incompleto, tanto na área urbana como na área rural, tanto entre os homens como entre as mulheres.

TABELA 3

Distribuição das pessoas de 25 anos ou mais de idade, por sexo e situação de domicílio, segundo o nível de instrução – Brasil – 2000/2010

Fonte: IBGE, Censo Demográfico 2000/2010. Nota: Dados de 2000 e 2010 harmonizados.

O abandono escolar precoce no Brasil, mensurado pela proporção de jovens de 18 a 24 anos de idade que não haviam completado o ensino médio e que não estavam estudando, evidencia as lacunas no processo de escolarização da educação básica. Tais dados são explicitados pelo Censo Demográfico 2010 (IBGE, 2012a) quando se compara a média de 29 países europeus selecionados. Tais resultados focalizam uma discrepância significativa entre o Brasil e os demais países.

GRÁFICO 3 - Taxa de abandono escolar precoce das pessoas de 18 a 24 anos de idade, por sexo, segundo os países europeus e o Brasil - 2010

Fonte: IBGE, Censo Demográfico 2010.

O Censo Demográfico 2010 (IBGE, 2012a) revela que as vinte menores taxas de abandono escolar precoce foram encontradas em municípios dos estados de São Paulo, Rio Grande do Sul e Santa Catarina e que as taxas mais altas encontram-se distribuídas pelos diversos estados brasileiros. No entanto, pode se perceber claramente, ao observar o cartograma (FIG. 1), a presença acentuada das cores escuras, como demonstrado na legenda, indicativo de taxas acima da média de abandono escolar precoce.

FIGURA 1 - Taxa de abandono escolar precoce das pessoas de 18 a 24 anos de idade, por município – Brasil - 2010

Fonte: IBGE: Censo Demográfico 2010.

Nota: Percentual da população de 18 a 24 anos de idade que não haviam completado o ensino médio e estavam fora da escola.

Os dados do Censo Demográfico 2010 (IBGE, 2012a) apontam que o nível de instrução das pessoas moradoras nas áreas rurais foi mais baixo que o das pessoas que vivem nas áreas urbanas (GRÁF. 4). Pode-se observar que em relação à população de 25 anos ou mais de idade na área urbana 44,2% eram sem instrução ou tinham o ensino fundamental incompleto. Na área rural, eram 79,6%. O Gráfico 4 apresenta também

uma diferença significativa entre a áreas urbana e a rural para o nível superior, com o percentual de 12,9% na área urbana e 1,8% da área rural.

GRÁFICO 4 - Distribuição das pessoas de 25 anos ou de mais idade por situação do domicílio, segundo o nível de instrução – Brasil – 2010

Fonte: IBGE, Censo Demográfico 2010.

A partir de 25 anos de idade, em todos os grupos etários, o percentual de pessoas sem instrução ou com o fundamental incompleto é maior na área rural (GRÁF. 5).

GRÁFICO 5 - Percentual de pessoas sem instrução ou com o fundamental incompleto na população de 25 anos ou mais de idade, por situação do domicílio, segundo os grupos de idade – Brasil – 2010

O Resumo Técnico do Censo Escolar da Educação Básica 2011 realizado pelo (INEP, 2012) mostra que a EJA apresentou queda do número de matrículas de 6% (254.753), totalizando 3.980.203 matrículas em 2011 (TAB 4). Deste total, 2.657.781 (67%) estão no ensino fundamental e 1.322.422 (33%) no ensino médio. Esses dados apontam que a EJA atende um número de pessoas muito menor que as necessidades educacionais brasileiras, já que existem 57,7 milhões de pessoas com mais de 18 anos que não frequentam a escola e não têm o ensino fundamental completo (IBGE, 2009).

TABELA 4

Número de matrículas na Educação de Jovens e Adultos por Etapa de Ensino – Brasil – 2007 – 2011

Fonte: MEC/INEP. Censo Escolar 2011.

A oferta pública é responsável pela maior parte de vagas em toda a educação básica do País, como pode ser visto no GRÁF. 6. Pôde-se observar que a oferta da EJA (GRÁF. 7 e GRÁF. 8), tal como ocorre no ensino regular, tem na rede municipal o predomínio do ensino fundamental e na rede estadual, do ensino médio. No entanto, observa-se o aumento da presença da iniciativa privada no ensino médio, indicando a ausência do estado. O número de alunos matriculados na EJA evidencia que o Brasil não atende apenas a uma parcela do público de jovens e adultos que não concluíram a educação básica. Isso pode ser visto ao se comparar o número total de matrículas com os percentuais apresentados nas tabelas anteriores que indicam o nível de instrução da população.

GRÁFICO 6 - Matrículas de Educação Básica por Dependência Administrativa – Brasil – 2010

Fonte: MEC/INEP. Censo Escolar 2010.

GRÁFICO 7 - Matrículas de EJA Fundamental por Dependência Administrativa – Brasil – 2010

Fonte: MEC/INEP. Censo Escolar 2010.

GRÁFICO 8 - Matrículas de EJA Médio por Dependência Administrativa – Brasil – 2010

Os estudos de Haddad (2008) indicam que o processo de municipalização das responsabilidades pelo Ensino Fundamental apresenta diversidade dos modos de atendimento à EJA, sem haver um padrão nacional de oferta. Apesar da inserção da EJA no FUNDEB, persistem as dificuldades em relação aos recursos, pois, segundo Carvalho (2011), mesmo

[...] recebendo recursos relativos à matrícula de EJA, muitos administradores municipais e estaduais continuam renegando e/ou deixando em segundo plano a escolarização das pessoas jovens e adultas – aliás, como o próprio Fundeb já o faz. Na realidade, ocorre a combinação de dois fatores: 1) a dificuldade de investimento por parte de muitos entes federados e/ou a carência de incentivos adicionais, financeiros, técnicos e estruturais; e 2) com frequência, a não disposição para investir na EJA por parte de muitos gestores locais. A diminuição das matrículas nessa modalidade nos últimos anos, já sob a vigência do Fundeb, é uma amostra da necessidade de políticas mais agressivas na área (CARVALHO, 2011 p. 334)

Carvalho (2011) explica que as matrículas da EJA no FUNDEB não são verbas carimbadas; ou seja, não têm um destino predefinido e inalienável. Isso permite a utilização de recursos nas modalidades ou etapas priorizadas pelos municípios. Dessa forma, além de os recursos serem insuficientes e escassos, a má distribuição deles impede a resolução de muitos dos problemas enfrentados pela EJA. Assim, observa-se diminuição nas taxas de matrícula da EJA, como Carvalho (2011) afirma, como se pôde ver na TAB. 4, de acordo com o Censo Escolar 2011. Os dados apresentados mostram que existe no contexto nacional uma grande parte da população de jovens e adultos que estabelece demandas para o acesso e a continuidade dos estudos na EJA. Apesar dos avanços apresentados, ainda assim é um grande desafio tornar realidade o direito à educação a quem foi negado na idade escolar. As políticas públicas e as ações governamentais não têm sido suficientes para garantir condições para o atendimento do público da EJA. A baixa eficácia de programas e campanhas desenvolvidos no País contribuiu para os resultados apresentados.

Com relação aos desafios da EJA, UNESCO (2009) afirma:

A educação de jovens e adultos continua ser altamente vulnerável às mudanças políticas e administrativas nacionais e locais, bem como às mudanças nas prioridades internacionais. Isso implica uma ameaça permanente à continuidade das políticas e dos programas, e à construção de capacidades nacionais e da experiência prática acumulada (UNESCO, 2009, p.75).

No enfrentamento destes desafios, é importante ressaltar que, desde a preparação para a V CONFINTEA, a partir de 1996, foram mobilizados diversos setores da sociedade civil na luta pelos direitos educacionais dos jovens e adultos, consolidando a criação dos Fóruns de Educação de Jovens e Adultos no Brasil. Para Soares (2004)

[...] os fóruns representam uma estratégia de mobilização a partir do levantamento das instituições envolvidas com a EJA. O conhecimento do que se faz por meio da socialização de experiências tem levado à articulação da EJA e da intervenção no campo da educação de jovens e adultos. A composição se dá a partir de segmentos da sociedade civil envolvidos com a EJA: administrações públicas municipais, estaduais e federal; universidades; ONGs, movimentos sociais, sindicatos, grupos populares; Sistema “S” (Sesi, Senai, Senac, Sebrae, Sesc, Senat); educadores e estudantes. Além de plural é também, um espaço de diálogos freqüentes, pois os representantes dos diversos segmentos passam a estar frente à frente planejando, organizando e propondo encaminhamentos em comum (SOARES, 2004, p. 29-30).