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1.000.000,00 Elaboração própria Fonte: Lazzarini (2011) Dados reportados do jornal Valor Econômico de 19/11/2006 Os doadores em

Gráfico 2.4 Variação numérica de Grupos/Firmas no CDES segundo atividade econômica principal (2003-2010)

1.000.000,00 Elaboração própria Fonte: Lazzarini (2011) Dados reportados do jornal Valor Econômico de 19/11/2006 Os doadores em

destaque estavam representados no CDES.

Impressiona o volume de recursos recebidos pela candidatura Lula desse seleto e robusto grupo. Notamos que os R$ 24.516.000,000 repassados pelos 10 maiores doadores

presentes no CDES correspondiam a 32,68% (cerca de um terço) do total de doações (R$ 75.024.000,00) de todos os setores empresariais à reeleição de Lula em 2006.313 Se considerarmos o total de doações dos 20 maiores doadores (ou seja, R$ 43.228.000,00) os 10 grupos convocados a assumirem posições de ―conselheiros da sociedade civil‖ no Conselho participaram de 56,7% deste total. Nesta generosa fatia conselherista, o setor bancário agregou R$ 8.800.000,00, ou seja, 36% do total repassado, sendo o restante assumido por 5 grupos industriais e uma entidade representativa dos interesses do empresariado do setor siderúrgico, o Instituto Brasileiro de Siderurgia.

Segundo Moreira, o IBS funcionava como ―importante aparelho privado de hegemonia para uma determinada fração de classe, apontando assim os caminhos para as privatizações entre os anos de 1976-1988‖. O conselheiro permanente do CDES, Jorge Gerdau Johannpeter, assumiu a presidência do Instituto entre 1980-1982, mantendo-se ainda atualmente como membro de seu conselho.314

Como demonstração da aludida concentração e centralização do grande capital atuante no CDES, a tabela 2.3 abaixo elenca os grupos econômicos por Receita Bruta (RB), referente ao ano contábil de 2003:

Tabela 2.3 – Ranking 2004 de Grupos Econômicos representados no CDES (ano base 2003)

313

Em ALMEIDA, Rodrigo. Caixa 1 dos interesses. Revista Inteligência. Nº36, Ano IX, 1º Trimestre de 2007, encontram-se tabulados o total de doações de recursos dos setores industriais, comerciais, de serviços e bancários às campanhas eleitorais de 2002 e 2006.

314

MOREIRA, João Paulo de Oliveira. O empresariado siderúrgico organiza suas demandas: O Instituto Brasileiro de Siderurgia (IBS) como Aparelho Privado de Hegemonia (1976-1988). Anais do VII Simpósio Nacional Estado e Poder: Sociedade Civil. Uberlândia, 2012. Disponível em

2004 Empresa Origem do K Receita Bruta (R$ milhões) 2004 Empresa Origem do K Receita Bruta (R$ milhões) 3 Bradesco BR 46706,0 27 Nestlé SU 9642,3 5 Itaúsa BR 27938,2 33 CSN BR 8291,7 7 Telefônica EP 22263,5 40 Embraer BR 6599,1 8 Ipiranga BR 21295,0 59 Suzano BR 4202,6 9 CVRD BR 20218,7 69 Klabin BR 3366,7 10 Telemar BR 19426,9 82 Martins BR 2522,0 12 Unibanco BR 18384,2 83 Jereissati SP BR 2468,2 13 Odebrecht BR 17335,3 84 Alcoa US 2419,5 16 Gerdau BR 15783,0 104 Citigroup US 1845,2 17 Fiat IT 13623,2 111 Vicunha BR 1654,8

19 Pão de Açúcar BR/FR 12788,4 151 Dixie-Toga BR 1032,2

21 Santander EP 12305,7 171 Iochpe-Maxion BR 749,0

23 ABN AMRO HO 11699,2 179 Banco Fibra BR 679,2

24 Usiminas BR/JP 11095,6 196 Gradiente BR 530,3

Elaboração própria. Fonte: Revista Valor Grandes Grupos 2004.

O ranking foi elaborado a partir da revista Valor Grandes Grupos 2004. Grandes empresas não foram encontradas sequer em rankings posteriores: Grupo Rosset, Grupo Springer, Grupo Dudalina, CBMM, Sucocítrico Cutrale. Isso significa que nos três primeiros grupos a Receita Bruta (RB), naquele ano, não alcançou recursos suficientes para figurar entre os 200 maiores grupos do país. Quanto ao último é intrigante como o grupo se destacava, durante os anos 2000, como a terceira maior exportadora de suco de laranja do mundo e não figurava em nenuhum dos rankings da revista. Aliás, a pesquisa verificou grandes dificuldades em colher dados sobre a Cutrale.

Em outros casos, encontramos alguns grupos no ranking apenas em 2007: Rodobens Grupo Verdi (RB: R$ 2161,4 milhões) e Grupo Alusa (RB: R$ 707,2 milhões). Somente em 2008 o Grupo J. Macêdo apareceu no ranking do Valor com RB de R$ 1262,8 milhões. Nestas situações decidimos não incorporar tais grupos no ranking acima (de 2004), pois o valor da Receita Bruta (RB) em 2007 e 2008 já não mais correspondia, obviamente, à posição 2004. Outra observação é necessária: alguns grandes grupos (Odebrecht, Fiat, Nestlé e Martins) não compunham o CDES em 2003 mas, mesmo assim, decidimos trazê-los a fim de integrar a tabela acima pois, nestes casos, eles participavam do ranking da revista Valor em 2004. O propósito foi o de observar o peso dos grupos e firmas representados no CDES na economia brasileira no período 2003-2010, malgrado as inclusões antecipadas (no caso dos grupos Odebrecht, Fiat, Nestlé e Martins) e das ausências referidas (Grupo Rosset, Grupo Springer, Grupo Dudalina, CBMM, Sucocítrico Cutrale, Rodobens Grupo Verdi, Grupo Alusa, Grupo J. Macêdo) e de outras cujos proprietários, notadamente, ingressavam no CDES não pelo crivo econômico, mas muito em virtude de sua posição de organizadores de

entidades da sociedade civil e, em alguns casos, coligado à proximidade amistosa com o então Presidente Lula da Silva.315

O valor da receita bruta total auferida pelos grandes grupos econômicos arrolados na tabela 2.3 gira algo em torno de R$ 316.865,7 bilhões, o que equivale 20,36% do PIB em 2003, cujo montante foi de R$ 1.556 trilhão.316 Ou seja, um quinto do total das riquezas geradas no país em 2003 se encontrava nas mãos de apenas 28 grupos empresariais cujos proprietários, sociopresidentes e CEOs foram nomeados pelo Presidente da República a participarem de um projeto de ―crescimento sustentado e fortalecimento da democracia‖. Um olhar mais atento, contudo, mostra que a soma da receita bruta obtida por apenas 6 grandes grupos presentes no CDES (Bradesco, Itaúsa, Telefônica, Ipiranga, CVRD e Telemar) ultrapassava a totalidade das receitas brutas dos demais 22 grupos econômicos, evidenciando ainda mais a megaconcentração e a supercentralização de capitais acolhida no Conselho.

Não há dúvidas de que a concentração de capitais dos grupos econômicos presentes no Conselho em 2003 deveu-se ao fato de constituírem a ponta-de-lança do capitalismo brasileiro, já bastante oligopolizado no início do século XXI, tendência esta aprofundada nos governos Lula da Silva. Segundo Luiz Filgueiras,

Na esfera das relações intercapitalistas, o governo Lula, através do Estado (empresas estatais e bancos oficiais), vem promovendo o impulsionando um processo de concentração e centralização de capitais no âmbito dos grandes grupos nacionais, tanto na esfera produtiva quanto na financeira, bem como na relação entre ambas. Com isso, vem fortalecendo e intensificando o processo de internacionalização desses grupos, tornando-os mais competitivos em escala global. Em particular, observa-se uma articulação desses grandes grupos no interior do Estado, através da sua imbricação com as instituições financeiras estatais, os fundos públicos e os fundos de pensão.317

Dados analisados por Gonçalves, por meio da exposição do total de vendas do conjunto das 500 maiores empresas do país contidos na Revista Exame. Melhores e Maiores, são reveladores da escalada concentracionista da economia brasileira no período 2002-2010. Coube ao que o autor identifica como sendo o ―núcleo central‖ do capitalismo no Brasil - um restrito grupo composto pelas 50 maiores empresas – o controle, em 2002, de 44% do total das vendas das 500 maiores empresas. Em 2010, esse percentual havia alcançado 48,6%. Assinala ainda o autor que, além de ocorrer concentração de capital, houve também desnacionalização, principalmente no referido ―núcleo central‖, já que ―o aumento da

315

Situação compartilhada entre Oded Grajew, Antoninho Trevisan, José Carlos Bumlai e Ivo Rosset.

316

Extraído de<http://saladeimprensa.ibge.gov.br/noticias?view=noticia&id=1&busca=1&idnoticia=265>. Resultados das Contas Nacionais para o ano de 2003 publicados em 30 de novembro de 2004.

317

FILGUEIRAS, Luiz Antonio; PINHEIRO, Bruno. PHILIGRET, Celeste. e BALANCO, Paulo. Modelo Liberal-Periférico e bloco de poder: política e dinâmica macroeconômica nos governos Lula. In: Os anos Lula: contribuições para um balanço crítico 2003-2010. RJ: Garamond, 2010, p. 49.

concentração foi decorrência, em grande medida, da elevação da participação relativa das empresas estrangeiras nas vendas totais das 500 maiores empresas‖. As empresas estrangeiras aumentaram sua participação no ―núcleo central‖ de 17,6% em 2002 para 19,6% em 2010, acarretando, simultaneamente, concentração e desnacionalização.318

Vale ainda ressaltar que, tomando por base os ativos totais e excetuando três grandes bancos públicos federais (Banco do Brasil, Caixa Econômica federal e BNDES), o processo de concentração no sistema financeiro foi ainda mais forte: os ativos subiram de 29,5% em 2002 para 47,8% em 2010 dentre as cinco maiores empresas do setor. O valor dos ativos totais dos 50 maiores bancos – que em 2002 era igual – passou a ser, em 2010, 74% maior em relação ao das 500 maiores empresas (idem: 108). A taxa média de rentabilidade (lucro/patrimônio líquido) dos 50 maiores bancos no período 2003-2010 foi de 17,5% enquanto que a das 500 maiores empresas foi de 11%.319

2.5 - Os grupos e firmas representados no CDES segundo origem de suas sedes

Investigamos igualmente a origem dos grupos econômicos representados no CDES em face das sedes ou matrizes onde estão instalados. Foram realizadas pesquisas nos sites da Econoinfo, do Instituto Mais Democracia ou dos próprios grupos econômicos, além de publicações como as revistas Exame, Valor Grandes Grupos e Balanço Anual da Gazeta Mercantil.

A Emenda Constitucional nº 06, de 1995, revogou o artigo 171 da Constituição Federal de 88 o qual definia, no inciso I, a empresa brasileira como ―A constituída sob a legislação brasileira e que tenha sede e administração em seu país‖. Este artigo, em seus incisos e parágrafos, elencava preferências das empresas brasileiras de capital nacional frente às de capital estrangeiro, ou seja, em razão da origem do seu capital, principalmente no que tange ao desenvolvimento tecnológico e na aquisição de bens e serviços públicos pelas empresas designadas pelo texto constitucional de ―nacionais‖:

Art. 171. São consideradas:

I – empresa brasileira a constituída sob as leis brasileiras e que tenha sua sede e administração no País;

II - Empresa brasileira de capital nacional aquela cujo controle efetivo esteja em caráter permanente sob a titularidade direta ou indireta de pessoas físicas domiciliadas e residentes no País ou de entidades de direito público interno, entendendo-se por controle efetivo da empresa a titularidade da maioria de seu

318

GONÇALVES, Reinaldo. Desenvolvimento às avessas: verdade, má-fé e ilusão no atual modelo brasileiro de desenvolvimento: RJ: LTC, 2013, p. 105-106.

319

capital votante e o exercício, de fato e de direito, do poder decisório para gerir suas atividades.320

Esta e outras emendas constitucionais, medidas provisórias e leis complementares se encontravam no bojo do processo que, durante os anos 90, ficou conhecido pelos analistas como desregulamentação, liberalização e privatização da economia brasileira, constituindo um dos pilares de implantação do modelo de acumulação capitalista neoliberal, em substituição ao modelo de acumulação calcado na industrialização por substituição de importações inaugurado no período varguista desde os anos 30.

Interessamo-nos mais de perto apresentar e analisar a composição dos grupos e firmas representadas no CDES a partir da definição legal de ―empresa brasileira‖. Antes, porém, é preciso fazer duas observações: a) como vimos, a CF/88 elimina qualquer distinção entre empresas de capital de origem nacional e empresas de capital de origem estrangeiro (subsidiárias) para a definição de ―empresa brasileira‖, bastando que elas estejam organizadas sob as leis do país e com sede e administração no país.321 A nacionalidade ou o domicílio dos acionistas não influi na nacionalidade da sociedade. Ainda que todos os acionistas estejam domiciliados no exterior, a sociedade será brasileira, contanto que se constitua de acordo com a legislação nacional, aqui mantendo sua sede. ―Empresas estrangeiras‖ são as sociedades constituídas e organizadas em conformidade com a legislação do país de origem, onde também mantém sua sede administrativa. Estas empresas estão sujeitas a autorização do Governo Federal para operar no Brasil e devem cumprir uma série de requisitos especiais;322 b) certamente foge do âmbito desta pesquisa classificar os 80 grupos e firmas presentes no CDES a partir da composição acionária de seu capital, isto é, perscrutar, grupo a grupo, se há ou não participação, direta ou indireta, minoritária ou majoritária, de capitais estrangeiros.

Feitas estas observações, classificamos os grupos econômicos e firmas representadas no CDES em três tipos: a) como ―empresas brasileiras‖323 aquelas que, de novo, independem da origem da composição do capital (nacional, estrangeiro ou associado), bastando serem regidas pelas leis nacionais e apresentarem matriz no país; b) como ―empresas brasileiras transnacionalizadas‖ aquelas compõem o primeiro grupo, mas que se diferenciam por

320

Disponível em <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm.>. Acesso 01/02/2015.

321

Com esta revogação a jurisprudência aceita a recepção do o Decreto-lei nº 2.627, de 26 de setembro de 1940, que estabelece no seu artigo 60: ―São nacionais as sociedades organizadas na conformidade da lei brasileira e que têm no País a sede de sua administração‖.

322 Disponível em < http://www.ambito-juridico.com.br/site/index.php?n_link=revista_artigos_

leitura&artigo_id=4718>. Acesso 05/03/2015.

323

As aspas em ―empresas brasileiras‖ procuram dispensar possíveis interpretações nacionalistas quanto à ―virtude‖ de seus capitais e de seus interesses e, por tabela, quanto ao projeto político que defendem.

estabelecerem filiais ou sucursais em outro país; c) como ―empresas estrangeiras‖, aquelas que preferem operar nos países de destino sem estabelecer sede e são organizadas e se constituem segundo legislação do país de origem. Poderão ser acrescido ao nome da sociedade a expressão ―do Brasil‖ ou ―para o Brasil‖.324

Ao pesquisar os grupos e firmas representados no CDES entre 2003 e 2010, com base nesses critérios classificatórios, verificamos que 86% eram ―empresas brasileiras‖ segundo as exigências acima resumidas e 14% eram ―empresas estrangeiras‖. Dentre as ―empresas brasileiras‖, 33% operacionalizavam suas atividades para além das fronteiras nacionais, instaurando-se em várias outros países, principalmente na América do Sul (ver item 2.7), isto é, eram empresas brasileiras em processo de transnacionalização.

Elaboração própria. Fontes: Revista Valor Grandes Grupos e pesquisas nos sites dos grupos e firmas.

De 2003, por ocasião da primeira composição da plenária do CDES, às alterações sofridas pela significativa recomposição ocorrida em 2007, o quantum de grupos econômicos e firmas representado revelou muito pouca variação, para as três categorias de empresas. Mantiveram-se, no essencial, uma média de 21 grupos/firmas brasileiros, 13 grupos/firmas brasileiros transnacionalizados, e 5 de grupos estrangeiros.

O período 2007-2010, através das renovações plenárias bianuais, revelou o

aprofundamento de tendências do período anterior. Nessa renovação empresarial houve o

ingresso de 30 novos grupos/firmas e a saída de 27 outros. Quais alterações se verificaram nesse período?

324

As empresas estrangeiras representadas no CDES foram: Grupo Alcoa Inc., Grupo Santander Brasil; Grupo Telefônica do Brasil; Citibank Brasil; Ford Motor Company Brasil; Dufry do Brasil; Nestlé do Brasil; Mercedes- Bens do Brasil; Siemens do Brasil; CPM Bráxis Capgemini; Grupo Fiat, Price Watherhouse Coopers-Brasil; BNP Paribas Asset Management Brasil; Fiat do Brasil.

Empresas Brasileiras 53% Empresas Brasileiras Transnacionalizadas 33% Empresas Estrangeiras 14%

Gráfico 2.6 - Média do número de empresas segundo origem das sedes

i. Ocorreu uma branda ampliação dos conselheiros que representavam ―empresas brasileiras‖: de 20 grupos/firmas em 2006, avançou-se para 24 grupos/firmas em 2010, um aumento de 20%. Porém, o perfil das atividades principais dessas empresas se alterou: a partir de 2007, verificamos o reforço de empresários diretamente ligados às atividades de serviços educacionais (donos de centros universitários) e da indústria de construção civil e infraestrutura, acompanhado da indústria de peças e equipamentos e de energia. O perfil dos grupos que saíram foi muito heterogêneo: médios empresários donos de consultoria, de serviços de segurança, de escola de idiomas e grandes empresários do setor telefonia e administração de shoppings (Grupo Jereissati) e a holding que administrava o Unibanco (E. Johnston Representação e Participações S.A) que passou por fusão com o Itaú em 2007.

ii. Houve uma substantiva perda representativa das ―empresas brasileiras‖ transnacionalizadas: de 17 grupos em 2007 desceram para 9 em 2010, uma perda de quase 50% de representação. Dentre as alterações, duas saltaram aos olhos: a saída de

grandes grupos bancários e financeiros não bancários (Bradesco, Itaú – agora aliado

ao Unibanco -, BM&FBOVESPA) e grandes grupos que, dentre suas atividades, envolviam produção e exportação de commodities: Usiminas, CSN, Cia. Brasileira de Metalurgia e Mineração, Cia Vale do Rio Doce, Grupo Rodobens, Empresas Petróleo Ipiranga, Sucocítrico Cutrale. Ocorreu um esvaziamento desses setores, permanecendo alguns de seus grandes representantes (Santander, Grupo Gerdau, Grupo Alusa, Suzano Holding) e o ingresso, em 2010, do Grupo Odebrecht.

iii. Ocorreu substancial ingresso de conselheiros que representavam grandes grupos

estrangeiros: de 4 grupos estrangeiros representados em 2006, alcançou-se 10 grupos

em 2010, com crescimento de 150%. Eram todos grandes grupos do capital monopolista: Dufry do Brasil, Nestlé do Brasil, Mercedes-Benz do Brasil, Ford Motors Company do Brasil, Grupo Telefônica, Siemens do Brasil, CPM Bráxis Capgemini, Fiat do Brasil, Price Watherhouse Coopers Brasil, BNP Paribas Asset Management Brasil. Dos grandes grupos estrangeiros saiu apenas o Citibank, em 2007, com os demais bancos, mas o Santander se manteve. A Nestlé saiu em 2009.

Elaboração própria. Fontes: site do Econoinfo, Revista Valor Grandes Grupos e Balanço Anual Gazeta Mercantil.

Tratou-se, dessa forma, da entrada de dois grandes grupos internacionais (Siemens e Capgemini) com áreas de atuação bastante diversificadas (eletricidade, infraestrutura, telecomunicações, transporte, eletroeletrônicos, tecnologia da informação), com produção de serviços e produtos de alto valor agregado, uma prestigiada empresa de consultoria e auditoria no mercado global (PwC), um dos maiores bancos europeus (BNP Paribas), três gigantes na fabricação de automóveis (Mercedes-Benz, Fiat e Ford), ramo industrial que jamais deixou de ter representatividade no CDES, seja através de diretores das grandes montadoras, seja através dos presidentes da ANFAVEA e, por último, o retorno da Telefônica após um ano de sua saída (2007). Por outro lado, verificamos a saída de 3 grandes siderúrgicas e metalúrgicas ―brasileiras‖ (Usiminas, CSN e CBMM), uma das maiores mineradoras do mundo (a Vale), dois dos maiores bancos ―brasileiros‖ (Bradesco e Itaú- Unibanco) e a 2ª maior empresa exportadora de suco de laranja do mundo, a Cutrale.

Como parênteses, vale mencionar que a Cutrale é acusada rotineiramente de exploração e ameaças a pequenos agricultores proprietários de pomares, de desrespeitar legislação trabalhista com demissão de funcionárias grávidas e descontos salariais indevidos, uso de agrotóxicos e grilagem de terras da União.325 Altíssimos lucros e exacerbada truculência espelham o histórico padrão de atuação socioeconômico da burguesia brasileira, convocada a assumir, no CDES, compromisso com a ―concertação ou pactuação nacional‖.

325

Retirado de <http://www.mst.org.br/taxonomy/term/510>. Acesso 19/09/2013. Em nossa pesquisa, deparamo- nos, algumas vezes, com situações em que ―lideranças de ilibada conduta‖ – critério plasmado na lei 10.683/03 para pertencer à plenária do CDES – são acusadas de fraudes, desvios e abuso de poder, crime de colarinho branco, dentre outras irregularidades. A pesquisa não se vocaciona ao trato da pequena política (―a política do dia-a-dia, política parlamentar, de corredor, de intrigas‖, no dizer de Gramsci), mas é bastante revelador e impressionante o pragmatismo assumido pelos dirigentes petistas em sua aliança com setores da grande burguesia brasileira. 21 21 19 20 20 21 21 24 16 17 17 17 10 10 8 9 4 4 4 4 4 6 7 10 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010

Gráfico 2.7 - Evolução numérica absoluta de Empresas Brasileiras e Estrangeiras no CDES

Não foi incomum, igualmente, encontrarmos notícias sobre relações mais estreitas entre alguns conselheiros-empresários e o então Presidente Lula. José Luis Cutrale Jr., conselheiro do CDES, relata muita proximidade com Lula (antes, era próximo de Collor de Melo, sendo inclusive doador de sua campanha presidencial). Em 2003, Cutrale Jr. fez generosa doação de 4 milhões de reais para a candidatura Lula (ver tabela 2.3). A revista Veja, de 14 de maio de 2003, expõe a camaradagem entre os dois novos companheiros:

No governo Lula, Cutrale conta que mantém boas relações com o presidente. Elas se tornaram amistosas depois que, durante a campanha, Lula o tranquilizou a respeito do que faria com a economia em caso de vitória. "Ele me disse que não ia mexer com quem estava produzindo e que o que ia fazer era colocar o governo para ajudar os pobres. Acreditei." Num dos encontros com a reportagem de VEJA, José Luís sacou da pasta um punhado de charutos cubanos da marca Cohiba e Montecristo para dizer em seguida: "Esses eu estou levando para o Lula".326

As renovações plenárias ocorridas entre 2007 e 2010 nos permitem, a partir das características dos grandes grupos, dos setores de atividade e do porte econômico apresentados pelos grupos e firmas entrantes e retirados, sob pena de não cair em exageros, afirmar que:

i. Houve forte perda da representatividade numérica de grandes grupos econômicos brasileiros transnacionais, ainda que se mantivessem e/ou ingressassem alguns com este perfil (Odebrecht, Embraer, DHB Automotivos, por exemplo), envolvidos com a produção e exportação de commodities.

ii. Parece-nos que essa perda foi ocupada pela ascensão de grupos e firmas brasileiras de médio, médio-grande e grande porte (de atividades educacionais, de produção de máquinas e equipamentos e comerciais, a exemplo da Magazine Luiza, Dudalina e Martins Distribuidora), mas, principalmente, do ingresso do grande capital

estrangeiro; b.1) ao primeiro segmento (empresas brasileiras de médio e médio-

grande porte) podemos destacar o incremento de empresas cujos conselheiros eram proprietários de construtoras mais voltadas à construção civil e incorporadoras do que a grandes obras de infraestrutura (com exceção da Odebrecht), seguido de uma variedade de empresas de diferentes atividades econômicas, sem abdicar do ingresso

significativo de grandes grupos econômicos; b.2) ao segundo segmento (empresas

estrangeiras), além de banco, montadoras e comércio em aeroportos, nos parece que