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3. REVISÃO DE LITERATURA

3.3. Ecologia da paisagem

3.3.1. Elementos da paisagem

A matriz é a dimensão espacial que delimita uma paisagem. Dentro da matriz estão contidos os elementos que formam a paisagem como um todo. A matriz tem papel dominante no funcionamento da paisagem (REYNOLDS e WU, 1999).

Em uma bacia hidrográfica, a matriz é formada pela área da bacia, que é delimitada pelos divisores de água. Os principais elementos encontrados nessa paisagem

são uma malha hídrica, fragmentos florestais, áreas de cultivo agrícola, pastagens, estradas e benfeitorias.

Em ecologia da paisagem, os fragmentos florestais são as unidades espaciais rodeadas por uma matriz, podendo ser conectados por corredores. A interação dos fatores climáticos, geomorfologia, desenvolvimento do solo, estabelecimento de flora e fauna, distúrbios naturais e influências do homem determinam o tamanho, a forma, a localização e a orientação dos fragmentos; tamanho, forma e natureza das bordas são características particularmente importantes do fragmento (FORMAN e GODRON, 1981).

Os corredores são, geralmente, elementos lineares da paisagem que servem como uma ligação entre áreas de habitat natural e facilitam a troca genética entre duas áreas. Em termos de fragmentos florestais, são geralmente alongados e conectam outros fragmentos. Tipos diferentes de corredores também podem ser encontrados em uma paisagem e variar em largura e forma (REYNOLDS e WU, 1999), o que influencia seu papel no padrão e seus processos na paisagem. As características de um corredor determinarão sua função ao longo da paisagem, podendo ele funcionar como condutor ou barreira. Corredores lineares freqüentemente funcionam como condutores de movimentos, podendo agir, também, como barreiras para algumas espécies (FORMAN e GODRON, 1981).

Os corredores entre fragmentos florestais têm grande importância num sistema de ilhas de habitat, porque permitem o aumento da riqueza de espécies de maneira geral, com a ressalva de que alguns autores consideram que a maximização da diversidade depende da interação entre fragmentos. A conectividade entre fragmentos maiores pode se dar por meio de pequenas ilhas de fragmentos chamadas de “stepping stones”, que servem de ponto de apoio para o movimento de animais (HARRIS, 1984).

Segundo MacEuen (1993), citado por MacKENZIE (1995), os corredores exercem as seguintes funções: a) intensificam a migração (aumentam o fluxo de genes, aumentam a diversidade genética, permitem a recolonização de fragmentos em fase de extinção); b) permitem que algumas espécies se esquivem da predação; c) são áreas que funcionam como escape de incêndio; e d) permitem a manutenção de processos ecológicos. Alguns autores, no entanto, são enfáticos em relacionar os efeitos negativos dos corredores. Simberloff et al. (1992), citados por MacKENZIE (1995), listaram uma série de impactos negativos ocasionados pela existência de corredores em uma paisagem e enfatizaram a escassez de dados tanto sobre o uso de corredores quanto

sobre a diminuição significativa da variação genética, devido à endogamia em pequenas populações, que é um dos fatores apontados como precursores da extinção de espécies em fragmentos isolados. Esses autores citaram, também, a inadequação de corredores inferindo sobre corredores ciliares que não funcionam como condutores de espécies não-ripárias; altas taxas de invasão ou armadilhas em corredores; e aumento da exposição de doenças para animais domésticos – os corredores são meios de dissipação de catástrofes (predadores, fogo, doenças), são rotas de entrada de espécies exóticas e ervas daninhas e podem contribuir para o declínio genético. Porém, é bom salientar que a extensão desses efeitos negativos dos corredores, conforme apresentado, dependerá da largura destes.

Mata ciliar é um elemento da paisagem que merece destaque em razão da sua característica peculiar quanto à sua função de proteção dos recursos hídricos. São florestas associadas a cursos d'água, mananciais, reservatórios e demais corpos de água, ocupando pequena proporção da área total de uma bacia hidrográfica, e são tratadas na literatura por uma nomenclatura muito variada, como floresta ou mata ciliar, de galeria, de várzea, ribeirinha e ripária (RIBEIRO et al., 1999).

As matas ciliares são os ecossistemas mais intensamente utilizados e degradados pelo homem, apesar da sua inegável importância ambiental. Por possuírem solos férteis e úmidos, vêm sendo substituídas pela agricultura e pecuária, além de serem também degradadas pela sua alta capacidade de produção de madeira (DAVID e BOTELHO, 1999). Do ponto de vista do interesse de diferentes setores de uso da terra, são áreas muito conflitantes: para o pecuarista, representam obstáculo ao livre acesso do gado à água; para a produção florestal, representam sítios muito produtivos, onde crescem árvores de alto valor comercial; em regiões de topografia acidentada, proporcionam as únicas alternativas para o traçado de estradas; e para o abastecimento de água ou a geração de energia, representam excelentes locais de armazenamento de água visando à garantia de suprimento contínuo (Bren, 1993, citado por LIMA e ZAKIA, 1999). Levando em conta a integridade da microbacia hidrográfica, as matas ciliares ocupam as áreas mais dinâmicas da paisagem, tanto em termos hidrológicos quanto ecológicos e geomorfológicos (LIMA e ZAKIA, 1999).

Constituem locais ecologicamente estáveis e bem definidos em relação às áreas circundantes, mais bem drenadas, apresentando maior produção de biomassa vegetal e animal que a vegetação circundante, além de abrigarem elevada biodiversidade dentro

do ecossistema florestal (DAVID e BOTELHO, 1999), sendo fundamentais para a proteção dos recursos hídric os, funcionando como barreira natural e impedindo o assoreamento dos rios. O maior papel da vegetação ciliar é a dissipação de energia associada ao escoamento superficial da água (WIEDMANN e DORNELLES, 1999).

Classificadas como florestas protetoras, que visam à conservação do regime das águas, foram consideradas pelo Decreto No 23.793, de 23 de janeiro de 1934, o antigo Código Florestal Brasileiro, como áreas de conservação perene e inalienáveis. A Lei No 4.771/65, novo Código Florestal, conferiu às matas ciliares um regime de preservação permanente, e, posteriormente, a Lei No 6.938/81, no seu Art. 18, denominou essas áreas como reservas ou estações ecológicas. O Decreto No 33.944, de 18 de setembro de 1992, que regulamenta a Lei Florestal do Estado Minas Gerais, na Subseção III, das Áreas de Preservação Permanente, no Art. 7o, Parágrafo II, delimitou as larguras mínimas de mata ciliar das áreas a serem consideradas de preservação permanente em relação à largura dos cursos d'água: a) 30,00 m para cursos d'água com menos de 10,00 m de largura; b) 50,00 m para cursos d'água de 10,00 m a 50,00 m de largura; c) 100,00 m para cursos d’água de 50,00 m a 200,00 m de largura; d) 200,00 m para cursos d'água de 200,00 m a 600,00 m de largura; e e) 500,00 m para cursos d'água com largura superior a 600,00 m.

Na Zona da Mata de Minas Gerais, devido às suas características sociofisiográficas, verificou-se que as áreas com matas ciliares, consideradas áreas de preservação permanente, foram, ao longo dos anos, substituídas principalmente por serem as áreas de melhor aptidão para a produção agrícola nas pequenas propriedades rurais.

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