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3 MASCULINIDADE: CONSTRUÇÕES E DESCONSTRUÇÕES

4.4 ELENCANDO AS NOÇÕES SOBRE O MASCULINO

A masculinidade hegemónica seria uma representação da forma de masculinidade dominante que, num determinado período da história e em determinada cultura, se destaca em relação a outras. Este modelo foi (e é)

visto como quase inalcançável, mas exerce uma grande pressão sobre o universo masculino (Januário, p. 121, 2016).

O comportamento valorizado e naturalizado, a potencialidade simbólica, que se espera de um homem, ou seja, de um possível masculino hegemônico, segundo a consulta bibliográfica às obras de Badinter (1993), Nolasco (1995), Bourdieu (2000), Louro (2009) e Januário (2016), a partir da consulta bibliográfica, pode ser resumida em três grandes aspectos ou grupos de manifestações, a seguir.

• Corpo (aparência): atitude ao andar; postura dominadora; grande porte físico; racionalidade; bom desempenho de trabalhos físicos; corpo robusto ou musculoso; não é vaidoso ou cuida da aparência; manifesta desejo pelo sexo oposto; evita efeminação no comportamento e aparência; é barulhento.

• Atitudes (o que faz): afirma publicamente sua virilidade; utiliza a força física para resolver problemas; aptidão ou apreço ao exercício do combate e da violência; é corajoso e destemido; é agressivo ou bruto; evita demonstrações de afeto ou ternura; é competitivo; procura não expressar emoções; é aventureiro; evita admitir fracassos, ignorância ou equívocos.

• Atuação (sua relação com os demais): é provedor; é ativo no temperamento e atitudes; é trabalhador; é heroico; objetifica, maltrata ou denigre ocupações de mulheres; domina outros homens; utiliza armas (beligerante); sua atuação é pública – bares, paragens exóticas, lugares de perigo; busca dinheiro, sucesso e/ou poder.

Para a melhor compreensão da possibilidade dessa caracterização, bem como propor instrumentos que sejam capazes de auxiliar na evidenciação desses aspectos nas personagens selecionadas para a pesquisa, foi criada uma tabela (Tabela 1) que concentra as referidas características.

No entanto, há uma hipótese que permeia este trabalho: a de que a existência de dois masculinos que se contrapõem em uma animação, implica em uma inclinação de representar o vilão com características alusivas a uma ideia de feminino. Badinter (1993) corrobora com essa afirmação ao alegar que o conceito de masculino, sua identidade em si, só pode ser construído paralelo e inseparavelmente de uma concepção de feminino: são noções interdependentes e simultâneas, que, no geral, envolvem a negação do feminino para a construção do masculino. Para tal, uma outra tabela foi criada contendo as características denominadas por este autor de contra-

hegemônicas (Anexo 1), que contém contraposições dos elementos apresentados na primeira.

A partir de sessenta características, elencadas ao todo – sendo trinta para cada lado da polaridade masculina, os personagens passam a pontuar. Para cada correspondência positiva, será marcado um ponto (01) no item da tabela; para cada negativa, será marcado zero (0). Os resultados totais das polaridades masculinas para cada personagem serão somados em suas respectivas tabelas e depois cruzados em um gráfico conjunto, evidenciando a média entre as entre características que configuram um masculino hegemônico (MH) e masculino contra-hegemônico (MCH) nos personagens.

Quadro 1 – Características hegemônicas

Fonte: criação do autor.

Características masculino hegemônico (MH) Herói Vilão

Corpo (Aparência física)

Atitude ao andar (passo firme) Postura dominadora

Grande porte físico

Racionalidade, pensamento racional

Bom desempenho de atividades e trabalhos físicos Corpo robusto, forte ou musculoso

Não é vaidoso ou cuida da aparência Manifesta desejo pelo sexo oposto

Evita efeminação no comportamento e aparência É barulhento

Atitudes

(O que faz)

Afirma publicamente sua virilidade

Utiliza a força física para resolver problemas

Aptidão/apreço ao exercício do combate e da violência É corajoso e destemido

É agressivo ou bruto

Evita demonstrações de afeto ou ternura É competitivo

Procura não expressar emoções É aventureiro

Homem frontal, de uma peça só

Evita admitir fracassos, ignorância ou equívocos

Atuação

(Sua relação com os demais)

É provedor

É ativo no temperamentos e atitudes É trabalhador

É heroico

Objetifica, maltrata ou denigre ocupações de mulheres Domina outros homens

Utiliza armas (beligerante)

Atuação pública: bares, paragens exóticas, lugares perigos

Com os métodos expostos neste capítulo, será possível dar continuidade à análise das representações do masculino.

5 ANÁLISE

Para a análise das representações de masculino neste trabalho, foram selecionadas duas animações dos estúdios Disney: Peter Pan (Geronimi, 1953) e

Detona Ralph (Moore, 2012). Dentre todos os critérios utilizados para escolhê-las

entre tantas outras produções (como abordado no capítulo da proposta metodológica), os principais foram a diferença temporal, que pareceu instigante a este autor, e o contraste evidente entre personagens protagonistas e antagonistas. Os vilões, Capitão Gancho e Rei Doce são muito diferentes de suas respectivas contrapartes, Peter Pan e Detona Ralph, seja pela posição de poder que exercem, pelo vestuário, o modo de falar de agir, a paleta de cores que compartilham, etc. Os contrastes com os “mocinhos” não são mais interessantes do que as semelhanças que os integrantes, de cada lado da moeda, compartilham entre si. Pan e Ralph também possuem jeitos de agir semelhante, uma caracterização mais simplória e uma gama de emoções menos complexas

O que está análise se propõe a fazer é entender essas representações do masculino que aparecem nas animações e tem análogos em muitas outras produções semelhantes. O autor acredita, devido a um conhecimento prévio das obras, que alguns levantamentos propostos e descobertas feitas, contribuirão nas leituras de outros nós de conexão nas tecnologias do imaginário.

A ordem de análise das animações será dada por cronologia e abarcará apontamentos, descrições e imagens, com uso de ferramentas que possibilitam a leitura das imagens e dos possíveis significados expressos nelas. O quadro criado a partir das características do masculino e gráficos que representam a média dessas características são alguns exemplos. A princípio, a análise será focada nos filmes em separado, para no fim, serem abordadas ponderações comuns a ambas.

A primeira parte da análise focará em uma reflexão acerca dos elementos presentes nas primeiras cenas em que os personagens aparecem, para depois abordar os contrastes entre eles, para, por fim, fazer um vislumbre entres as duas animações analisadas a fim de compará-las.