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Elos entre as cooperativas populares e a economia solidária

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DESAFIOS, LIMITES E POSSIBILIDADES DAS COOPERATIVAS POPULARES: DIÁLOGOS COM A ECONOMIA SOLIDÁRIA, O

BREVE HISTÓRICO DAS COOPERATIVAS ESTUDADAS* Sobre a Dinamicoop

3.3 Elos entre as cooperativas populares e a economia solidária

As reflexões apresentadas nos itens anteriores apresentam um paralelo entre as lutas dos trabalhadores e o surgimento do cooperativismo, notadamente com o chamado cooperativismo popular, precisamente para elaborar uma trilha compreensiva que se supõe analisá-lo como sendo um dos principais elementos constitutivos da chamada economia solidária. O que se pretende com isso é considerar que o cooperativismo popular é um importante setor desta economia, conforme conclui o Atlas da Economia Solidária no Brasil32.

32 O Atlas da Economia Solidária no Brasil é resultado do primeiro mapeamento dos empreendimentos econômicos e solidários, realizado sob a coordenação da SENAES e publicado em 2006, podendo ser acessado também pelo site www.mte.gov.br.

Outra demonstração da importância do cooperativismo popular no Brasil é, por exemplo, o crescimento da Unicafes, da Unisol, da Anteag e das redes de cooperativas, como a rede Justa Trama.

As relações das cooperativas populares com a economia solidária se dão de formas diferenciadas, sobretudo, se forem observados os graus de envolvimento delas, por exemplo, com o fortalecimento dos Fóruns de Economia Solidária, fato que chama a atenção a respeito das cooperativas estudadas nesta pesquisa, pois apenas uma delas, a DINAMICOOP, ainda não faz parte do Fórum Carioca de Cooperativismo Popular e de Economia Solidária. Para se entender o que significa economia solidária, é importante observar algumas reflexões que estão sendo consideradas sobre ela e que se situam em torno de, pelo menos, três questões básicas: a) do que se está falando? b) de onde surgiu? c) como se manifesta?

Paul Singer entende a economia solidária como mais uma estratégia de luta do movimento popular e operário contra o desemprego e a exclusão social, afirmando que:

“A construção da economia solidária é uma destas estratégias. Ela aproveita a

mudança nas relações de produção provocada pelo grande capital para lançar os alicerces de novas formas de organização da produção, à base de uma lógica oposta àquela que rege o mercado capitalista. Tudo leva a acreditar que a economia solidária permitirá, ao cabo de alguns anos, dar a muitos, que esperam em vão um novo emprego, a oportunidade de se reintegrar à produção por conta própria individual ou coletivamente...”.(SINGER, 2000:138).

Dando complementaridade a estas argumentações, Singer (2002:10) a compreende como sendo:

“Outro modo de produção, cujos princípios básicos são a propriedade coletiva ou

associada do capital e o direito a liberdade individual. A aplicação desses princípios une todos os que produzem numa única classe de trabalhadores que são possuidores de capital por igual em cooperativas ou em uma outra sociedade econômica. O resultado natural é a solidariedade e a igualdade, cuja reprodução, no entanto, exige mecanismos estatais de redistribuição solidária de renda”.

Como se trata de um conceito em construção, as definições apresentadas acima alimentam um debate no qual CORAGGIO (1993) se insere apresentando que a economia solidária pode ser considerada como um tipo de economia que, segundo ele, parte de uma matriz:

“Económica cuyos agentes son los trabajadores del campo y la ciudad, dependientes

o independientes, precarios o modernos, propietarios o no propietarios, manuales o no manuales. Esta propuesta no idealiza los valores ni las prácticas populares actuales, ni tampoco propone superarlas teniendo como meta alcanzar la modernidad capitalista. No supone la desconexión del mercado capitalista ni plantea su proyecto como fase para integrarse a él en analisar. Es una propuesta abierta, en tanto no prefigura de manera definitiva qué analisasión, qué relaciones, qué valores, constituirán esa economía. Tampoco acepta la opción excluyente entre sociedad y estado, sino que propone trabajar en su interfase, previendo que el actual proceso de desmantelamiento dará paso necessariamente a la generación de nuevas formas estatales. Esa construcción debe reconocer los puntos de partida económicos, políticos y culturales (la “matriz socioeconómica básica de la economía popular”), que son a la vez sus puntos de apoyo y su objeto de transformación. El objetivo es

lograr la solidaridad orgánica entre estos elementos, donde el desarrollo de unos elementos contribuya al de otros. Esto supone propiciar la constitución de relaciones de interdependencia, materializadas en intercambios mediados por relaciones mercantiles o bien directamente sociales, entre unidades domésticas de una misma comunidad y entre comunidades, creando las bases para nuevas identidades colectivas y para la creciente sustentabilidad del desarrollo popular” (Op. Cit.:5).

Onde,

“El peso de las relaciones económicas (mercantiles y no mercantiles) intra-economía

popular es relativamente alto, y muchas de las actividades que allí se realizan cumplen a nivel macrosocial un papel más redistribuidor que creador de riqueza (la intermediación informal “socialmente innecesaria”, por ejemplo). En cualquier caso, no puede postularse que este agregado sea una “economía de solidaridad”, en el sentido de que sus relaciones internas son predominantemente solidarias y no competitivas. El grado y las formas de solidaridad deberán ser determinados en cada caso y coyuntura local o nacional específica” (Op. Cit.:8).

Para CORAGGIO (1993:18), ainda:

“Esta tarea sólo puede ser emprendida por múltiples agentes (políticos, promotores

del desarrollo, dirigentes sociales y corporativos, asistentes sociales, investigadores, pastores, técnicos y profesionales, artistas, educadores, etc.) Incluidos en un amplio movimiento cultural, que abarque múltiples formas organizativas - tradicionales y nuevas - y dimensiones de la acción social, que incluya múltiples identidades de lo popular, que tolere ritmos no sincronizados de avance - admitiendo numerosos puntos de iniciativa, que puedan incluso turnarse en mantener el dinamismo, sin apelar a una prematura y tal vez inconveniente centralización - mientras la experiencia se va decantando y la reflexión va haciendo inteligible el movimiento de conjunto y desarrollando un nuevo paradigma social.”

As definições apresentadas acima sugerem exatamente a busca de respostas para a primeira das questões básicas sobre a economia solidária sugeridas nesta trabalho, ou seja, do

que se está falando?

Quanto à segunda, que questiona de onde surgiu a economia solidária?, pode-se considerar, conforme defende SINGER (2002:13), que:

“A economia solidária não é criação intelectual de alguém, embora os grandes

autores socialistas denominados utópicos da primeira metade do século XIX (Owen, Fourier, Buchez, Proudhon, etc.) tenham dado contribuições decisivas ao seu desenvolvimento, a economia solidária é uma criação em processo contínuo de trabalhadores em luta contra o capitalismo. Como tal, ela não poderia preceder o capitalismo industrial, mas o acompanha como uma sombra, em toda a sua evolução”.

Das contribuições intelectuais e práticas, há que se destacar as de Robert Owen, principalmente as contidas no plano por ele elaborado e sugerido ao governo britânico em 1817, para o qual:

“Os fundos de combate aos pobres, cujo número estava se multiplicando, em vez de

serem meramente distribuídos, fossem invertidos na compra de terras e constituição de Aldeias Cooperativas, em cada uma das quais viveriam cerca de 1200 pessoas trabalhando na terra e em industrias, produzindo assim a sua própria subsistência. Os excedentes de produção poderiam ser trocados entre Aldeias”(SINGER, 2002:25).

Os fundamentos de Owen foram rejeitados pelo governo britânico e ele resolveu radicalizar a sua proposta e, segundo Cole, citado por SINGER (2002:6) “Quanto mais Owen

explicava o seu ‘plano’, mais evidente se tornava que o que ele propunha não era simplesmente baratear o sustento dos pobres, mas uma mudança completa no sistema social e uma abolição da empresa lucrativa capitalista”.

As teses de Owen eram coletivistas. Por isso foram fortemente aceitas pelas correntes que criaram as primeiras cooperativas, tanto os rochdelianos, a partir do consumo, em 1844, como os classistas, ligados ao movimento sindical, que criaram as primeiras cooperativas de produção e serviços [por exemplo, London Co-operative Society (1824), Comunidade de Orbinston (1826), Bringhton Co-operative Trading Association (1827)], quanto os políticos, que ajudaram a criar as primeiras cooperativas de crédito, como os alemães Hermann Schulze-Delitzch, no setor urbano e Friedrich Wilhelm Raiffeisen, no setor rural, por volta de 1850-52.

Outras contribuições nas quais a economia solidária se apóia e busca sua origem são as feitas por Charles Fourier e Saint-Simon, correntes menos coletivistas, mas não menos importantes para a influência na criação das cooperativas.

Destarte, de acordo com SINGER (2000, 2002), SINGER e SOUZA (2000) a origem da economia solidária coincide com as lutas dos trabalhadores na criação de cooperativas. Sobre isso, SINGER (2000:13), afirma que:

“A economia solidária surge como modo de produção e distribuição alternativo ao

capitalismo, criado e recriado periodicamente pelos que se encontram (ou temem ficar) marginalizados do mercado de trabalho. A economia solidária casa o princípio da unidade entre posse e uso dos meios de produção e distribuição (da produção simples de mercadorias) com o princípio da socialização destes meios (do capitalismo)”.

A terceira questão básica, como se manifesta a economia solidária, parece ser a que representa uma das principais centralidades do debate. Fundamentalmente, à medida que se toma como ponto cardeal o questionamento sobre qual a unidade básica de sustentação da

economia solidária, está-se ajudando a conseguir uma melhor reflexão teórico-empírica,

sobre quais os tipos de organização devem ser consideradas gênese da economia solidária. Nesse sentido, pode-se apresentar que a síntese deste debate no Brasil, campo que delimita as reflexões desta pesquisa, se resume a, pelo menos, cinco variantes que, embora pareçam ora complementares, ora opostas, sinalizam para uma futura definição dos pontos fundamentais ou características necessárias para se definir um marco conceitual sobre a economia solidária.

A primeira variante possui argumentações que podem ser observadas em SINGER (2000:13) que, considerando o surgimento e a evolução da economia solidária a partir da luta dos trabalhadores na criação de cooperativas, afirma que se trata de um:

“Modo solidário de produção e distribuição que à primeira vista parece um híbrido

constitui uma síntese que supera ambos. A unidade típica da economia solidária é a

cooperativa de produção, cujos princípios organizativos são: posse coletiva dos

meios de produção pelas pessoas que as utilizam para produzir; gestão democrática da empresa ou por participação direta (quando o número de cooperado não é demasiado) ou por representação; repartição da receita líquida entre os cooperadores por critérios aprovados após discussões e negociações entre todos; destinação do excedente anual (“sobras”) também por critérios acertados entre todos os cooperadores” (grifos meus).

Nesta compreensão, a unidade típica e não básica seria a cooperativa. Assim sendo, a economia solidária não somente seria constituída por ela, mas tipicamente por ela, o que não deixa de considerar que, para o desenvolvimento da economia solidária, precise de outras formas de associações de trabalhadores.

A segunda pode ser representada pelo que considera Mance, para quem a tese da economia solidária não possui argumentação conceitual precisa, pois sua unidade básica de sustentação, a cooperativa e sua concepção geral se baseiam apenas em propostas econômicas.

MANCE (2000)33, que apresenta as teses de Singer, faz, pelo menos, nove

questionamentos: 1) pode provocar aumento de desigualdades; 2) a ação dos governos como condição necessária ao seu sucesso; 3) a questão da solidariedade com as empresas capitalistas; 4) provocação da competição solidária; 5) solidariedade dos pobres; 6) proteção externa no período de aprendizagem; 7) moeda própria para reserva de mercado; 8) competição, qualidade e custos e 9) prestígio e patrocínio externo. Com estas críticas, MANCE (2000:178-179) sugere que se almeje o que ele denomina de “colaboração solidária”, que significa:

“Um trabalho de consumo compartilhado, cujo vinculo recíproco entre as pessoas

advém, primeiramente, de um sentido moral de co-responsabilidade pelo bem viver de todos e de cada um em particular, buscando ampliar-se no máximo possível o exercício completo da liberdade pessoal e pública”.

Para viabilizar sua tese, Mance propõe a criação de redes de colaboração solidária, totalmente independentes do apoio do Estado e de entidades representativas, tanto de trabalhadores como do setor privado.

Neste caso, MANCE (2000:179) sugere que se busque um novo conceito para as práticas solidárias que, segundo o autor, vai além da economia solidária e cria a noção de ‘colaboração solidária’, na qual o objetivo é:

“Garantir a todas as pessoas as melhores condições materiais, políticas, educativas e

informacionais para o exercício de sua liberdade, promovendo assim o bem viver de todos e de cada um. Não se trata apenas de uma proposta econômica para gerar empregos e distribuir renda. É mais do que isso. Trata-se de uma compreensão filosófica da existência humana segundo a qual o exercício da liberdade privada só é legítimo quando deseja a liberdade pública, quando deseja que cada outro possa viver eticamente a sua singularidade dispondo das mediações que lhe sejam necessárias para realizar – nas melhores condições possíveis – a sua humanidade, exercendo a sua própria liberdade. Igualmente sob esta mesma compreensão, a 33 O texto de Mance aparece com uma data anterior ao texto do Singer, pois representa análises baseadas em publicações das teses defendidas por Singer, quando da elaboração do programa de governo a ser defendido nas eleições municipais de 1996, por Luíza Erundina, pelo Partido dos Trabalhadores, em São Paulo.

liberdade pública somente é exercida de modo ético quando promover a ética realização da liberdade privada”.

De acordo com essa noção, a unidade básica de sustentação dessas atividades seriam as Redes. Para MANCE (2000:185):

“Operando com o paradigma da complexidade desenvolvemos uma tese simples:

sendo praticado o consumo solidário sob certos parâmetros, qualquer unidade produtiva pode vender a sua produção, gerando um excedente que pode gerar novas unidades produtivas que, conectadas em rede, podem atender a uma diversidade ainda maior de elementos demandados pelo consumo final e produtivo de novas células, incorporando um número maior de consumidores e produtores em um movimento auto-sustentável de expansão. A essa tese acrescentamos uma segunda: as pessoas excluídas nas sociedades capitalistas podem organizar redes de colaboração solidária em qualquer comunidade, em qualquer país, partindo das ações que atualmente desenvolvem de consumo, posto que as compras coletivas permitem melhorá-lo a todos os participantes e ainda poupar recursos que podem financiar atividades de produção solidária que, por sua vez, possibilitam ampliá-lo ainda mais em quantidade, qualidade e diversidade. O conjunto dessas duas Teses nos leva à conclusão de que uma revolução econômica pode ocorrer atualmente se os atores econômicos, que buscam gerar uma alternativa auto-sustentável, conectarem suas ações em uma rede de colaboração solidária”.

Uma terceira variante pode ser representada por Coraggio, que sugere a argumentação de uma ‘economia popular’, que, para ele:

“Emerge das rupturas contínuas impostas repetidamente ao cotidiano popular pela

reconstrução global do capital, e dos comportamentos reativos da população trabalhadora em luta por reproduzir a sua vida – é muito importante advertir que a unidade de análise econômica que se deve tomar não deve ser nem a do indivíduo que trabalha por conta própria, nem, tampouco, a da microempresa. Se a perspectiva dessa economia é a da reprodução da vida, a unidade de análise mais conveniente

vem a ser aquela que os antropólogos denominam de unidade doméstica. Em nossas

sociedades, a modalidade de unidade doméstica mais generalizada - mesmo que não a única - é a família, nuclear ou extensa, e com base em relações de consangüinidade e afinidade. As transformações que se vêm experimentando fazem inclusive com que essa forma de organização de reprodução também se modifique (...) A unidade doméstica, como já foi dito, pode ser formada tanto por pessoas com vínculo de consangüinidade, como pode ser unipessoal ou multifamiliar, ou até formada por amigos, por comunidades étnicas (como os grupos de Otavaleños, no Equador), de vizinhos, por grupos que se unem livremente para cooperar, ou agregações solidária de outro tipo qualquer, que compartilhem recursos e articulem estratégias, explícitas ou implícitas, para reproduzir sua vida coletiva. Em todos os casos, seus membros juntam seus recursos, no todo ou em parte, para satisfazer coletiva e solidariamente as necessidades de todo o conjunto” (CORAGGIO, 2000:94-95. Grifos meus).

Uma quarta vertente é a que categoricamente ‘nega’ a possibilidade da articulação de uma economia solidária. Esta vertente pode ser representada pelas argumentações de VAINER (1999:45-47), considerando que:

“Numa linguagem sofisticada, eu diria que ‘economia solidária’ é um oxímoro, é um

paradoxo em si. O mundo da economia, tal como ele existe, o mundo da sociedade onde a economia domina é, sobretudo, na representação dos economistas, mas não apenas – sejam eles clássicos ou neoclássicos -, o mundo natural da guerra de todos contra todos (...) a luta dos trabalhadores é, num certo sentido, entendam-me bem, ‘uma luta contra a economia’, ou seja, uma luta contra as regras e as leis que a economia, os capitalistas e seus porta-vozes, pretendem impor às regras e às leis inexoráveis do mundo (...) A economia é o lugar da competição e da guerra. Os espaços de solidariedade são aqueles dominados por outros fins, por outros valores e por outras práticas”.

Em contraposição à proposta de economia solidária, Vainer sugere, baseando-se nas argumentações feitas pelo filósofo marxista francês Henri Léfèbvre, a prática da ‘utopia experimental’ que, para o autor, significa “a vivência, mesmo que limitada no tempo, mesmo

que limitada na qualidade, daquilo que poderia ser o outro mundo” (Op. Cit.:60).

Para VAINER (1999:60-61):

“As cooperativas, os sindicatos que conseguem sobreviver apesar das dificuldades, os

partidos políticos que não se subordinam às lógicas burocráticas, as associações culturais e esportivas e os vários momentos de fresta popular autêntica são momentos da utopia experimental no sentido de que são momentos de afirmação, no presente, de que o futuro é possível” (grifos meus).

A quinta pode ser representada pelas considerações de Gonçalo Guimarães que, em entrevista concedida ao Jornal da UFRGS, p.6, julho-2000, entende que não existe um movimento constituído de economia solidária, mas sim movimentos de resistência ao aumento do desemprego e da exclusão social. Segundo GUIMARÃES, citado por CORRÊA (2001:5), “Estes movimentos estão tomando corpo, estão trabalhando na linha da

sobrevivência e estão tendo respostas. Não contam com estrutura financeira (...) todos surgem de uma economia altamente popular. Essa economia solidária é, na realidade, uma possibilidade”.

E vai mais adiante, ao afirmar que é necessário ter uma identidade, para que se possa construir a economia solidária, e essa identidade não deve ficar restrita a área econômica, pois:

“Não há empreendimento sem sociedade. Eu não posso imaginar uma forma de

produção se não imaginar um tipo de sociedade (...) Uma é conseqüência da outra. A industrialização não surgiu sem mudar a cidade, sem mudar a relação de poder. Não é possível uma produção capitalista numa sociedade socialista e vice-versa. Se estamos pensando numa outra forma de produção, não consigo ver esta outra forma de produção sem estar inserida numa forma de sociedade. A sociedade é uma organização muito maior do que a produção. Só dá para entender economia solidária como um projeto político em sociedade” (Op. Cit.:6).

Segundo GUIMARÃES (1998), este projeto só poderá ser estruturado se der prioridade ao desenvolvimento do cooperativismo popular. Isto é, a economia solidária não pode ser vista apenas como um movimento econômico, é necessário que esteja ligada a outros movimentos sociais que buscam a melhoria de qualidade de vida da população em geral.

Neste caso, as cooperativas populares, de acordo com Gonçalo Guimarães, desempenham um papel fundamental.

Pelo que foi apresentado se pode observar que existem várias interpretações acerca das questões básicas colocadas para a economia solidária. Evidentemente, estas questões ainda continuam à busca de respostas, exatamente porque a economia solidária é um tema ainda em construção e, portanto, traz consigo toda uma reflexão que medra tanto mais rapidamente quanto mais se alastrem as experiências concretas e se acelerem as investigações empíricas sobre o tema.

No Brasil e na América Latina, as práticas de economia solidária parecem estar sendo inspiradas em revisões das teses inicialmente apresentadas em experiências históricas, como, por exemplo, dos ‘Falanstérios’, de Charles Fourier e das ‘Aldeias Cooperativas’, de Robert Owen.

Em grande medida, certamente, as reflexões sobre essas experiências brasileiras recorrerão às teses de Robert Owen, por ele ser considerado um dos socialistas utópicos34

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