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2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.11 Em busca de uma abordagem teórica para os late movers

Em consonância com o objetivo da dissertação, o processo de internacionalização do BB é considerado, nesta pesquisa, como um exemplo de movimento advindo de um país denominado late mover. Estudar os chamados entrantes tardios ou late movers constitui assunto relativamente novo, mas de crescente importância. Alguns dados publicados, com base em estudo do Bank of America, revelam o aumento no volume de investimentos originados nos chamados países em desenvolvimento para a aquisição de empresas americanas nos Estados Unidos. No período de 1997 a 2005, Israel, México e Brasil foram os países que mais investiram (The Wall Street Journal Americas, 15-08-2005). Relatório recente do Boston Consulting Group (2006) analisa os “100 Novos Desafiantes Globais”, entre os quais estão incluídas 44 empresas chinesas, 21 indianas, 12 brasileiras, 7 russas e 6 mexicanas, sendo as 10 restantes de diferentes países. Ou seja, o fenômeno é recente, mas está bem caracterizado.

Por outro lado, não existe ainda uma abordagem teórica que trate especificamente das chamadas “empresas entrantes tardias” (late movers). A principal razão para isso é que as diferentes correntes teóricas existentes tiveram as suas raízes lançadas em épocas diferentes das atuais e tinham como objetivo/unidade de análise outros países: norte-americanos, escandinavos, japoneses e coreanos. Por esse motivo, encontramos estatísticas que abordam apenas a evolução e a concentração bancária em países desenvolvidos, tais como apresentados por Wright, Kroll e Parnell (2002, p. 367), que afirmam que, em setores selecionados, os EUA não se encontram no topo. Na área bancária, por exemplo, os EUA têm apenas quatro bancos entre os 50 maiores; o Japão, 20; a Alemanha, oito; a França, seis. E quanto aos entrantes tardios? Não foram encontradas evidências e estatísticas que lhes façam menção.

Segundo Fleury e Fleury (2007), os “entrantes tardios” estão partindo para o processo de internacionalização sob condições distintas daquelas enfrentadas pelos que primeiro se internacionalizaram, os chamados “primeiros entrantes” ou “early movers”. Entre

outros, destacam-se estes fatores: (i) hoje há excesso de capacidade para a produção de bens e serviços, o que cria uma feroz competição entre players globais e requer uma orientação permanente para a inovação; (ii) as multinacionais já bem estabelecidas, originárias de países desenvolvidos, estão em processo de rever e redefinir sua arquitetura organizacional, focando em atividades de alto valor agregado e procurando estabelecer e comandar redes globais de valor (GERIFFI; HUMPHREY; STURGEON, 2005); (iii) os governos procuram intervir fortemente no processo de internacionalização, visando atingir seus objetivos de desenvolvimento nacional (DUNNING, 1993); (vi) a economia encontra-se em um estágio no qual mecanismos institucionais que moderam o comércio internacional estão sendo consolidados em níveis globais e regionais, afetando pesadamente os países em desenvolvimento (MESSNER, 2004).

Além dessas questões pertinentes ao contexto internacional, os late movers de grandes economias emergentes, como os BRICs, enfrentam desafios relacionados ao contexto institucional em seu mercado doméstico que são distintos daqueles enfrentados por empresas em países desenvolvidos (KHANNA; PALEPU, 1999). Esse contexto institucional volátil e imprevisível, se ameaçador, por um lado, parece qualificar os late movers das grandes economias emergentes para buscar oportunidades e lidar com as adversidades de forma distinta daquela das empresas dos países desenvolvidos. Em certo sentido, o processo de internacionalização é também uma forma de se proteger das turbulências existentes em seu mercado doméstico.

2.11.1 Desafios para os entrantes tardios

As empresas dos países emergentes que experimentaram a intensificação no processo de internacionalização apenas nas últimas duas décadas, considerados como entrantes tardios, ou late movers, têm uma série de dificuldades para garantir sua inserção no mercado internacional, conforme explica MESSNER, 2004:

• Excesso de capacidade de produção em nível mundial em alguns setores, gerando aumento da competição e necessidade constante de inovação;

• Redesenho organizacional das empresas multinacionais tradicionais, com redes globais de produção e foco nos produtos e serviços de alta qualidade;

• Forte interferência dos governos no processo de internacionalização, inserida no contexto dos planos de desenvolvimento nacional (como os ”campeões nacionais”, da China, ou os zaibatsus e keiretsus, conglomerados no Japão);

• Regulamentação do comércio internacional − os países, blocos e organismos supranacionais consolidam os mecanismos de regulamentação do comércio internacional, criando entraves a novos investimentos e aumentando as restrições para acesso a mercados;

• Novas exigências na competência em gestão, política de recursos humanos, estratégias de inovação, habilidade em relações trabalhistas, adequação às regulamentações ambientais; exigências nem sempre aplicadas ou conhecidas no país-sede da empresa;

• Muitas vantagens das empresas de países emergentes não são passíveis de transferência no processo de internacionalização, pois são baseadas em fatores locais, como mão de obra barata e matéria-prima abundante e acessível;

• Estrutura do capital: no caso do Brasil, poucas empresas nacionais estão listadas no mercado internacional de capitais; muitas delas não figuram nem no mercado de capitais brasileiro;

• Governança Corporativa: ainda é possível observar certo despreparo dos dirigentes, como membros do Conselho Diretor e altos gerentes de muitas empresas que possuem pouca ou nenhuma experiência internacional; poucos estrangeiros nesses espaços de decisão.

A literatura internacional é ainda ambígua quanto à importância dos “entrantes tardios” e cética quanto a um eventual impacto sobre os negócios internacionais. Bartlett e Ghoshal (2000) admitem que as “heranças de origem” vão levar essas empresas a se enredar em alguma armadilha, pois, à medida que competem nos mercados internacionais por intermédio do oferecimento de algum produto ou serviço, passam a operar em posição mais fraca e vulnerável.