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Sá Brito. A gente não conseguiu mais manter a banda na real. Porque, daí a temporada de 81, nós fizemos dois shows só... a gente compunha por temporada, nós parávamos pra compor. Por exemplo, terminou a temporada de 81, veio o verão, tá. Se mexeu a formação da banda. Aí entrou o André na bateria e o Pit Dutra no baixo, aí fizemos uma formação de trio. Mas até aí, nós ficamos compondo. Só eu e o Wesley durante o verão. “ - O que vamos fazer? - Ah não, nós vamos fazer um trabalho assim, assim.” Aí, isso seria a temporada, né. “Então, vamos colocar o que já temos e o que a gente pode atravessar, e vamos pôr mais algumas coisas”. Nesse tempo, nós ficamos sem a banda e apareceu alguns shows pra gente fazer em teatro e fomos fazer acústico. Daí chamamos o Bebeco Garcia. O Bebeco fez uma passagem conosco, e nós estávamos compondo nessa temporada. Ele (Bebeco Garcia) fez

três letras pra nós. Bebeco naquela época tava estudando muito harmonia. Então como ele tava estudando muito harmonia ele fez três canções lindas, que fizeram parte da temporada, que era uma crônica sobre a cidade... muito com a levada e pegada com influência do blues. Mas o Bebeco... sabe que numa das letras ele fez um samba? Ficou impressionante! Samba, é samba mesmo: [cantarola o samba] “Meu telefone foi encontrado no bolso de um afogado do Rio de Janeiro...”. O cara [Bebeco] acordou no outro dia, com o telefone tocando. Era uma mãe: “pô, meu filho morreu afogado e tava com esse teu telefone no bolso. Eu quero que tu me diga alguma coisa, o que que é?” E ele nem conhecia o cara, então ele fez essa letra.

Foto 3: Wesley Coll ao centro e Coié à direita com a Bandaneon em 1981

Em 1982, Coié contou que formou a banda Rabo de

Galo. Chamou para os vocais um cantor que havia conhecido

em 1974, chamado Nega Lu. Segundo Coié, Nega Lu era uma personalidade conhecida pelos boêmios de POA da época. Era um rapaz que vivia nos bares que ficavam abertos até as últimas horas. Coié disse que conheceu Nega Lu em um show e que ficou impressionado pela desenvoltura de Nega Lu

cantando. Disse que Nega Lu cantava tudo que quisesse: samba, rock, não importava. Comentou que viu Nega Lu interpretando um blues do compositor Zé Flavio chamado

Portas e Janelas, em 1974, da banda Mantra. Coié avisa-me

ser importante esse dado. Ele afirma não lembrar de nenhum blues gravado em POA antes de Portas e Janelas da banda

Mantra, em 1974.

C: ... Aí Eu fui atrás da Nega Lu. Fui atrás da Nega Lu e

achei ela, quatro da manhã no Boteco do Tidi. Aí eu disse “Pô Nega, assim, assim, assado...”. Conhecia ela de virar lata na noite, mas não tinha grande intimidade. “Eu to assim, vamos tocar blues, eu to com umas canções de blues, o trabalho é todo baseado em blues”. Eu mostrei pra ela. Eu olhei pra ela e ela disse: “Claro que canto! Tu quer uma coisa mais blues que ser negro, pobre e puto?”.

Segundo Coié, a banda Rabo de Galo durou até 1984. Foi neste período que os bares em POA começaram a abrir e organizar estruturas para que pudessem receber shows de bandas de rock e blues. Coié citou uma série de bares que surgiram, bem como onde localizavam-se. Dentre a lista de bares e os dados sobre datas de fundação dos mesmos e suas localidades lembradas por Coié, um dos bares que mereceu destaque em sua narrativa foi o Vermelho 23. Coié disse que o

Vermelho 23 foi o primeiro bar de blues de Porto Alegre. Foi

fundado por Zé Maria, antigo dono do Marmelada Brasil. Atualmente, funciona como restaurante ao meio dia, e não abre mais para shows de blues.

Foto 4: Nega Lu a frente e Coié ao fundo, na guitarra. Rabo de Galo, 1982.

Bares/Espaços Culturais e suas Localizações a partir de 1982  Arte & Manha (1983): Rua Bordini.

 Bar Rockete (1982-1985): Rua José de Alencar.  Taj Mahal (1983): Avenida Farrapos.

 Escada (1984): Rua Ramiro Barcelos.  Clube de Cultura : Rua Ramiro Barcelos.  Marmelada Brasil (1985): Rua Silva Jardim.

 Pub Vermelho 23 (1985 até a atualidade): Rua Bento Figueiredo.

 Ocidente (1982 até a atualidade): Esquina das Ruas Oswaldo Aranha/João Telles.

 Kafka Bar: Esquina das Ruas 24 de Outubro/ Avenida Nova Iorque

 Blues Jazz Bar: Rua Aureliano de Figueiredo Pinto.  Danceteria Crocodilos: Rua 24 de Outubro.

Coié seguiu falando sua série de bandas e parcerias ao longo sua trajetória e, ao mesmo tempo, seguia contando sobre outros grupos. Contou que voltou com a Bandaneon e a parceria com Wesley, posteriormente à Rabo de Galo, com Nega Lu. Também falou sobre um grupo chamado Sindicato do

Crime (1986 até 1989) em parceria com Felipe Franco

(vocalista e letrista). Mantinha sua narrativa descrevendo o contexto do qual estava participando e descrevendo sua participação no mesmo.

Coié, então, interrompeu sua explicação sobre o

Sindicato do Crime para retomar um raciocínio iniciado ainda

no começo da conversa sobre as fases do blues em POA. Ele utilizou de fatos importantes, na sua opinião, para representar as três fases: (1ª) conjunto Mantra, em 1974, gravou “o primeiro blues em POA” chamado Portas e Janelas. (2ª) Em 1984, Felipe Franco ganhou um festival organizado pela prefeitura de POA, o Festival de Música Grito de Alerta, com um blues chamado Beba Blues. (3ª) Em 1989, músicos da cidade como Ênio Medina (pianista) e Rita Scheid (cantora) começaram a interessar-se por “tirar” as interpretações dos blues estadunidenses e blues ingleses com a maior precisão possível, com o intuito de apresentar para a audiência que os acompanhava performances historicamente informadas21. Para Coié, a fase atual (2014) trata-se de uma continuidade a partir desta terceira. A terceira fase também foi caracterizada pela apresentação do bluesman estadunidense B.B King em 1986, no Ginásio Gigantinho, e o guitarrista inglês Eric Clapton, em 1990, no mesmo lugar. Mas o que foi descrito com mais ênfase

para a ocorrência daquilo que Coié chamou de “bum de guitarristas” (e interessados em blues) na cidade de POA foi a repercussão da morte do bluesman estadunidense Stevie Ray Vaughan, em 1990.