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Nos anos de 1970, a dependência econômica do Distrito Federal dos setores de administração pública e construção civil indicou a não existência de um setor de atividades econômicas, capaz de absorver, a longo prazo, o crescente contingente de mão de obra não qualificada. A dinâmica produtiva mostrou ainda que existiam ainda mais empregos no Plano Piloto do que empregados morando no Plano Piloto.

Dados do PEOT (1977) apontavam uma maior concentração de renda bruta estava no Plano Piloto, 61% do total, representando em termos de população apenas 27%. Para os 73% da população restante sobram apenas 39% de renda. Com isso os equipamentos sociais se concentravam no Plano Piloto por apresentar os melhores índices de poder aquisitivo. Nas áreas de renda elevadas as taxas de escolarização registradas ultrapassavam a casa dos 96% em detrimento das outras que obtiveram índices abaixo da média entre 86 - 90%.

O mercado de trabalho de uma cidade está relacionado às funções econômicas que a cidade preenche e a capacidade de absorção de força de trabalho expressa o dinamismo dessas funções. Brasília por possuir a função básica de administração pública, acabou não desenvolvendo prioritariamente outras atividades, porém o avanço e o crescimento da cidade gerou uma nova dinâmica no setor de empregos.

Essa dinâmica consistiu na alteração da distribuição das atividades, como demonstra a Tabela 5.1 na comparação entre os dados do Censo de 1970 e as estimativas da Companhia de Planejamento do Distrito Federal - CODEPLAN de 1983.

107 Tabela 5.1 Pessoas ocupadas no Distrito Federal (1970 e 1983)

Pessoas Ocupadas em % do emprego total (Censo de 1970)

Serviços 62%

Construção civil 19%

Comércio de mercadorias 9,4%

Outros 9,6%

Pessoas Ocupadas em % do emprego total (Estimativas CODEPLAN - 1983)

Serviços 85%

Construção civil 5%

Comércio de mercadorias 3,6%

Outros 6,4%

Fonte: Adaptado dos Anexos PEOT (1977) e Estimativas CODEPLAN (1983).

A comparação entre os dados da Tabela 5.1 mostram que houve um decréscimo no número de pessoas ocupadas na construção civil, pois as grandes construções no início da década de 1980 diminuíram ocasionando a formação de grande excedente de mão de obra. A capacidade de absorção de mão de obra do Distrito Federal neste período foi decrescendo ao longo da década de 1980.

No início dos anos 1980, o problema se agravou em consequência da desestabilização da economia nacional fato este que comprometeu diretamente o mercado de trabalho na cidade. Neste período o setor terciário no Distrito Federal ainda representava o principal meio empregatício, porém devido as dificuldades financeiras, ao baixo desenvolvimento da economia do país e o alto fluxo migratório para Brasília este setor começou a ficar saturado e não foi capaz de absorver a mão de obra excedente (PDOT,1996, p.45).

A participação do setor industrial no desenvolvimento econômico do Distrito Federal no início dos anos de 1980 era muito reduzida, tanto do ponto da produção como da geração de emprego. Essa característica refletia os resquícios da atribuição funcional da cidade, que era apenas de atividades político-administrativas. Neste período ocorreu a implantação de indústrias de materiais de construção, mais tarde a indústria engarrafadeira, de refrigerantes e cerveja, a de torrefação, moagem e empacotamento de alimentos. Implantou-se também o setor de indústria editorial e gráfica e por fim indústrias de

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características locacionais e empresas de pequeno porte como matadouros e padarias espalhados pelo Distrito Federal (PINTO,1996, p.47).

De acordo com Pinto (1996, p.47), a atividade industrial predominante era da construção civil e a de alguns materiais de construção como: cimento, madeira, metalúrgica e o ramo de alimentos e bebidas. Essas atividades geravam apenas 7% de empregos, enquanto os serviços detinham 80% da população economicamente ativa e o emprego público detinha 20% da força de trabalho.

Neste contexto, os problemas econômicos que ocorreram no país apresentaram resultados mais intensos em Brasília, pelo fato da cidade não possuir uma base econômica desenvolvida e diversificada. Todavia, sendo altamente atrativa ela continuou a receber um número alto de migrantes de várias regiões do país. Esse crescimento vertiginoso das populações urbanas transformou-se em grave problema social, o surgimento das favelas, aumento do desemprego e da violência urbana (LOPES, 1993, p.30).

A realidade socioeconômica do Distrito Federal já revelava no final da década de 1980, Brasília como um centro dinâmico da região Centro-Oeste, com uma População Economicamente Ativa (PEA) da ordem de 236 mil pessoas e a taxa de crescimento de 6% ao ano. No início da década de 1980, a população era de 1.138.836 habitantes e a rural de 37.913 habitante. Em 1991, a população urbana passou para 1.138.836 e a rural para 85.205 habitantes. O Distrito Federal apresentava uma população 95% urbana (SOBRAL, 1998). Cerca de 78% dos habitantes do Distrito Federal, nesse período, concentravam-se em cidades-satélites e, a esse contingente, somavam-se aproximadamente 300 mil pessoas distribuídas pelas cidades da região do Entorno63. A economia do Distrito Federal neste período esteve voltada praticamente para as atividades terciárias, ocupando quase 85% da População Economicamente Ativa.

Dessa forma é possível compreender as distorções atuais na economia do Distrito Federal, diante dependência em relação ao setor de administração pública que se mostrou incapaz de absorver o excedente de mão de obra não qualificada. Isso também tornou possível compreender a distribuição da renda no Distrito Federal e verificar que existiu uma maior concentração de renda no Plano Piloto. A Tabela 5.2 a seguir mostra a concentração da renda bruta por localidade no Distrito Federal neste período.

109 Tabela 5.2 Domicílios urbanos por classe de renda bruta média mensal (%)

Distrito Federal – 1990

RA’s até 3 s.m. de 3 a 5 s.m. de 5 a 10 s.m. de 10 a 20 s.m. mais de 20 s.m.

Brasília 3,0 3,4 10,3 23,8 59,5 Cruzeiro 2,0 7,9 25,5 31,4 33,2 Guará 7,5 10,3 25,4 29,8 27,0 N. Bandeirante 26,8 15,0 17,8 18,5 21,9 Taguatinga 17,1 19,1 27,5 22,6 13,7 Ceilândia 26,8 34,2 25,5 11,7 1,8 Samambaia 50,4 30,3 15,0 3,9 0,4 Gama 26,3 27,3 25,0 15,4 6,0 Paranoá 60,3 31,5 7,0 1,2 0,0 Sobradinho 19,6 16,3 30,0 19,5 14,6 Planaltina 41,5 24,0 23,1 10,2 1,2 Brazlândia 21,3 39,6 31,5 6,6 1,0 Distrito Federal 20,9 20,7 21,7 17,1 19,6

Fonte: Pesquisa Domiciliar - CODEPLAN (1991) RA’s – Regiões Administrativas

s.m. – salários mínimos mensais

(1) Salário Mínimo (s.m.) de outubro de 1990.

O Produto Interno Bruto do Distrito Federal64, em 1995, atingiu a cifra de R$

17,6 bilhões (valor a preços de mercado). Apresentou crescimento real de 16,9% no período de 1990 a 1995, com média anual de 3,2%, tendo participação na economia brasileira de 2,7% a preços correntes e 2,9% a preços constantes. O PIB por habitante do Distrito Federal, em 1995, foi de R$ 9.984,50 o mais elevado entre as unidades da federação, superando em 133,7% o nacional de R$ 4.233,70.

Analisando os valores por setor, a estimativa do PIB agropecuário está representada pelos valores adicionados das atividades da produção animal e vegetal; no industrial, as atividades da indústria de transformação, construção civil e serviços industriais de utilidade pública (água e energia elétrica); no de serviços, englobam-se as atividades de comércio, transportes, comunicações, aluguéis, instituições financeiras, administração pública e outros serviços. Em 1990, a estrutura por atividades econômicas do Distrito Federal encontrava-se da seguinte maneira: serviços, 89,1%; indústria, 10,4% e agropecuária, 0,5%.

Tabela 5.3 Participação das atividades econômicas no Produto Interno Bruto – Distrito Federal – 1990-1995 (%) Atividade econômica 1990 1995 Serviços 89,10 90,30 Indústria 10,40 9,30 Agropecuária 0,50 0,40 PIB 100,00 100,00

Fonte: adaptado CODEPLAN, 1998.

64 Os dados foram extraídos do documento “Perfil do Distrito Federal”, elaborado pela Secretaria de

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Em 1995, sem apresentar mudanças significativas, os números eram: serviços, 90,3%; indústria, 9,3% e agropecuária, 0,4%. Os dados indicavam o potencial da cidade para o terciário desenvolvido, conforme demonstrado na Tabela 5.3 acima. No período de 1990-1995, a economia local registrou crescimento de 16,9%, superando a brasileira que foi de apenas 14,6%. Esse crescimento se deveu ao desempenho dos setores agropecuário (30%), serviços (17%) e industrial (14,9%).