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1 CONTEXTO POLÍTICO, ECONÔMICO E SOCIAL NO BRASIL E EM PORTUGAL

1.2 A PROPAGANDA POLÍTICA E IDEOLÓGICA NOS REGIMES DITATORIAIS

1.2.10 A Emissora Nacional e o SPN

Em 8 de abril de 1935, Fernando Homem Cristo, que era director da Secção Política da Emissora Nacional, elaborou o Projecto de Reorganização para Integração do Novo Serviço Político no quadro dos serviços restantes na rádio. No documento, com oito páginas, escrito em papel timbrado, ele definiu o pensamento político radiofônico do Estado Novo, fundamentado num denso discurso político- ideológico e no aparelhamento de aspectos estruturais. A criação do novo Serviço Político

214 Op. Cit. PAULO, Heloisa. p. 78 215 Idem. p. 80

obedece ao pensamento de que, num Estado autoritário, um posto Nacional de radiodifusão deve ser um meio de cultura e um instrumento de acção política, e de que esta segunda finalidade não é menos importante que a primeira216.

Enquanto dirigiu o secretariado, Ferro investiu muito no rádio e também no cinema e no teatro. Ele divergia de Salazar num aspecto. Ferro afirmava que a continuidade do regime ditatorial dependia das massas e Salazar acreditava que o pilar do regime estava nas mãos das elites. Apesar disso, Ferro comandou o SPN até 1941 e, somente depois, é que o diretor assumiu o controle da Emissora Nacional, a estação oficial do governo salazarista.

Ribeiro enfatiza que

no pensamento do Estado Novo a propaganda surgia sempre associada à educação política do povo português que, de forma a ser integrado nos valores do regime, tinha, antes de mais, de receber informação sobre as actividades do Governo, porque como diria o próprio Salazar, ‘politicamente só existe o que se sabe que existe; politicamente o que parece é217’”.

O novo órgão, que estava ligado à presidência do Conselho, trabalhava em duas frentes: interna e externa. Internamente buscava um

consenso da sociedade portuguesa em torno do ideário do regime. A nível externo, num momento internacional conturbado como os anos 30, de redefinição do mapa político internacional e da procura de soluções para os impasses imperialistas que a I ª Grande Guerra não encontrou, é de suma importância o apoio da opinião pública internacional, tanto para o regime que se afirma, como para o espaço colonial que ele defende218.

A seção interna do SPN tinha competências diferentes e especiais que cuidavam da “intermediação entre a imprensa e o Estado à organização de manifestações nacionais ou outros actos219”, como a entrada de ideias que

tivessem o objetivo de perturbar a unidade e o interesse nacional. O Secretariado ainda mantinha a função de servir como “complemento da indiscutível obra de

216 SANTOS, Rogério. As vozes do Rádio (1924-1939). Lisboa: Editorial Caminho, 2005. p. 147 217 Op. Cit. RIBEIRO, Nelson. p. 86

218 Op. Cit. PAULO, Heloisa. p. 74 219 Idem. p. 74

ressurgimento220”, na qual a acção do regime e a exacerbação do nacionalismo, do

verdadeiro espírito português atuavam como agentes conjuntos.

Uma das funções do novo órgão era emitir semanalmente um Boletim de Imprensa que abrangesse os jornais de Lisboa e Porto, de províncias, das ilhas e das Colónias do Ultramar e da Colónia Portuguesa do Brasil, comunicando aos demais órgãos da administração do governo a tendência política da Imprensa, atestando ou não a sua proximidade ao ideário do Estado Novo. Com o controle do SPN221, certamente não existiam jornais de oposição ao regime e ao governo

posto.

Também cabia ao SPN a função de publicar livros, periódicos e cartazes, produzir filmes de curta e longa-metragem, e organizar determinações comemorações e festas com o objetivo de reforçar a ideologia política ou a postura e ações de Salazar. O órgão também teve papel relevante no controle do rádio e, diretamente, na Emissora Nacional, criada em 1935. Por ser estatal, era a porta- voz do regime ditatorial. O órgão ainda dominava a propaganda de Portugal e suas colônias porque para o regime era necessário cuidar da imagem do Império Colonial, enfatiza Paulo:

O contacto com exterior e a necessidade de ampliação do apoio internacional gera a realização de aproximações com diversos países. São traduzidas para o inglês, francês, espanhol, italiano e alemão diversas obras que versam sobre as directrizes e os objectivos do regime. O ponto máximo dessa acção é, contudo, a assinatura do Acordo Cultural com o Brasil em 1940. A cooperação entre os dois governos, ambos designados pelo mesmo nome, Estado Novo, é vista como resultado de uma semelhança histórica que aproxima Portugal e Brasil desde os anos Quinhentos222.

Quando houve o desfecho da 2ª Guerra Mundial, o Secretariado ampliou o seu raio de atuação e, em dezembro de 1939, criou um boletim semanal policopiado, a fim de fornecer à imprensa, como faziam as agências de notícias, “pequenas notícias, indicações sugestões, dados estatísticos, notas bibliográficas,

220 Op. Cit. PAULO, Heloisa. p. 74

221 SPN era um órgão com poderes especiais que auxiliava as comissões de censura, tanto que os funcionários, amparados por um artigo do decreto, entravam em reuniões públicas e espetáculos, fortalecendo assim o ideário oficial do governo.

elementos de trabalho223”, que, para não serem uniformes em diferentes veículos,

poderiam ser comentados e produzidos de diversas maneiras.

Em 19 de Março de 1940 foram introduzidas modificações ainda mais significativas nas normas de conduta do órgão em relação à imprensa, com a criação de um Gabinete de Coordenação dos Serviços de Propaganda e Informação através do decreto nº 30.320. De acordo com o artigo 3º, o novo órgão tinha a missão de orientar todos os serviços públicos com relação à propaganda e à informação, e nesse controle estava inserida a Emissora Nacional, que ficou subordinada às diretrizes fornecidas pelos membros do Gabinete, como o diretor do SPN, o chefe dos Serviços de Censura, o presidente da Comissão Administrativa da Emissora Nacional, o chefe dos Serviços de Imprensa do SPN e o Presidente do Conselho. Aliás, as reuniões eram sempre presididas por Salazar. E segundo o artigo 7º, cabia ao SPN guardar todas as obras publicadas, o que representou o aumento da censura no país.

A esse grupo coube o poder da censura até 1944, data em que o controle passou para as mãos do Chefe de Governo, fortalecendo a censura. Foi quando o Secretariado de Propaganda Nacional se transformou em Secretariado Nacional de Informação e Cultura Popular (SNI), e o diretor despachava diretamente com Salazar, presidente do Conselho, demonstrando o quanto ele poderia interferir nas decisões envolvendo a censura.

Assuntos relacionados à política governamental e ações do governo sempre estavam sujeitos aos cortes da censura. E, a fim de contrapor alguma versão que pudesse chegar à sociedade, o governo publicava comunicados oficiais a respeito do determinado assunto. Quando a notícia se referia a mobilizações, manifestações de rua e deserções militares em outros países, que pudessem ser repetidas em Portugal, lá estava a censura para impedir a divulgação desses fatos. As notícias de países comunistas, como a União Soviética e a República Popular da China, eram expressamente proibidas. Mas, se as informações apresentassem a versão negativa desses regimes, o veículo de comunicação poderia divulgar.

Ribeiro salienta que as notícias oriundas das agências de comunicação224

que operavam em Portugal, como a Agência Nacional de Informação, France Press

223 Op. Cit. PAULO, Heloisa. p. 75 224 Op. Cit. RIBEIRO, Nelson. p. 79

e a Reuters, eram submetidas à censura. Quando o órgão proibia o ponto de vista, automaticamente ela era substituída e reenviada às redações dos jornais e rádios.

1.2.11 Despesas mensais do SPN: a propaganda política e a imprensa