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CAPÍTULO 1. RELAÇÕES DE PODER E EMPODERAMENTO

1.2 A S CONCEPÇÕES DE EMPODERAMENTO ENVOLVENDO AS RELAÇÕES DE GÊNERO

1.2.2 Empoderamento e pobreza

Nesta perspectiva as concepções teóricas acerca do empoderamento não anulam os fatores relevantes presentes nos tópicos acima discutidos, pois as questões referentes às relações de poder, as formas de subordinação, os conflitos são considerados como preponderantes para a superação da pobreza entre os grupos dominados e menos favorecidos como mulheres, idosos, crianças, negros, etc. Trata-se de por em questionamento as formas de dominação presentes na realidade desses grupos para que as transformações sociais ocorram de fato.

Autores como Romano (2002) consideram que no combate à pobreza, o empoderamento implica no desenvolvimento das capacidades das pessoas pobres e excluídas e de suas organizações para transformar as relações de poder que limitam o acesso e a interlocução em geral com o estado, mercado e a sociedade civil. O autor afirma que o empoderamento deve ser compreendido como abordagem que coloca as pessoas e o poder no centro dos processos de desenvolvimento. E deve ser um processo no qual as pessoas, os

36 grupos e as comunidades assumam o controle de suas próprias vidas e tomem consciência de sua habilidade para criar, gerir e produzir.

O posicionamento desse autor vai de encontro ao que Friedman (1996) apud Lisboa (2007) considera como empoderamento. Para o autor é todo e qualquer acréscimo de poder que, induzido ou conquistado, favorece os indivíduos ou as unidades familiares a aumentarem a eficácia do seu exercício de cidadania. O autor coloca a importância de se trabalhar com as unidades domésticas, pois em sua concepção de empoderamento é fundamental validar a igualdade entre homens e mulheres em se tratando da competência e influência nas tomadas de decisão dentro da família.

Friedman (1996) apud Lisboa (2007) apresenta os três tipos de empoderamento que são relevantes para serem trabalhados com as mulheres ou com as unidades domésticas: primeiro é o poder social que se refere ao acesso a algumas bases de produção doméstica, tais como informação, conhecimento e técnicas, supõe-se também a garantia de sobrevivência e independência econômica. O poder político confere aos indivíduos ou as unidades domésticas o acesso ao processo de tomada de decisão, que não se restringe apenas ter o direito de voto e escolha política, mas influi em ter poder de voz e vez em uma ação coletiva para a resolução de uma determinada situação de exclusão. Significa intensificar os efeitos pedagógicos da ação política, ocasionando maior participação no âmbito público seja na esfera formal da política ocupando cargos de representação, seja na esfera comunitária ocupando as lideranças do grupo.

Já o poder psicológico, este procede da consciência individual de força e manifesta-se na auto confiança em si mesmo, pode ser entendido como poder pessoal, em que no caso das mulheres o que importa é avançar no entendimento de que sofre algum tipo de dominação e em cima dessas situações trabalharem na conquista da autonomia e emancipação social. Nesse sentido, as questões sobre o controle do próprio corpo, sobre a sexualidade, sobre escolhas que dizem respeito à vida da mulher são pontos a serem investidos. É importante entender que o nenhum desses tipos de poder se opera separadamente, geralmente, o poder psicológico é resultante de ações bem sucedidas nos domínio social ou político.

Por isso, o autor considera que os três tipos de poder poderão caminhar juntos e alcançar mais resultados se houver um trabalho de cooperação individual atrelado a um grupo de ação coletiva. Portanto, no combate à pobreza, o empoderamento vem de encontro à conquista da cidadania, que sucede na plena capacidade de um indivíduo ou coletivo de fazer

37 o uso de seus recursos econômicos, sociais, políticos e culturais para atuar no espaço público na defesa de seus direitos, tendo influência nas ações do governo na distribuição dos serviços e recursos.

Focalizar as unidades domésticas é uma forma de garantir não só o empoderamento de apenas um indivíduo, mas de favorecer o acesso aos direitos a todos os demais membros. O fato de as mulheres pobres serem excluídas dos direitos mínimos muitas vezes está associado ao fato de que suas famílias não possuem poder social para melhorar as condições de vida de seus membros. Em outras situações as mulheres não possuem poder político na esfera pública porque nem ao menos compartilham as tomadas de decisão dentro de suas casas, o que limita seu poder de voz e de ação coletiva (LISBOA, 2007). Cabe ressaltar que o processo de empoderamento, dentro desta perspectiva teórica, exige processos participativos das pessoas envolvidas, pois só assim seria garantido o estabelecimento de políticas e práticas que contemplam as necessidades das pessoas que vivem numa situação de pobreza.

Nessa perspectiva tanto Friedmann (1996) apud Liboa (2007), como Romano (2002), se posicionam de forma crítica às teorias e políticas de desenvolvimento tradicionais, dos mainstream do desenvolvimento de agências bilaterais, bancos, que utilizam o empoderamento como sinônimo de integração das pessoas no planejamento e desenvolvimento econômico propostos em suas ações e não dão importância à assimetria de poder existente na sociedade que resulta na exclusão e pobreza. Para esses autores as estratégias dessas agências focalizam a assistência social ao invés de promoverem espaços de universalização dos direitos sociais e da cidadania. Além disso, valorizam mais a eficiência econômica dos projetos sem se quer trabalhar a realidade cultural, psicológica, ambiental, política das comunidades que atuam e o pior não enfatizam a mobilização política dos grupos como fator de empoderamento.

Assim, a construção dos significados do empoderamento para esta vertente que defende o paradigma do desenvolvimento humano alternativo, considera primordial debater questões de poder e suas relações, considerando a existência das assimetrias de recursos materiais e simbólicos, legítimos e ilegítimos e o que se pretende mudar e quais as conseqüências dessa mudança tanto na esfera pública como na privada.

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