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O EMPODERAMENTO SINDICAL NA TEORIA E A RETIRADA DE SUA FORÇA NOS ATUAIS PARÂMETROS DEMISSIONAIS INSTITUÍDOS PELO ARTIGO 611-A,

DA CONSOLIDAÇÃO DAS LEIS DO TRABALHO.

Antes de adentrar no enfoque principal desta investigação científica, é salutar retomar a importância dos sindicatos a exemplo de sua necessária participação nas negociações coletivas, tratativas entre empregados e empregadores, objetivando evidenciar se a teor das decisões do Supremo acima analisadas remanesce algum elemento de autonomia ampla e irrestrita em favor das entidades sindicais dos trabalhadores. Neste desiderato, importante retomar os elementos constitutivos destas entidades associativas constituídas de

109 DIAS, Carlos Eduardo Oliveira. Negociação coletiva e reforma trabalhista: os golpes

na autonomia coletiva privada. In: D‟AMBROSO, Marcelo José Ferlin (Org.). Direito do trabalho, direito penal do trabalho, direito processual do trabalho e a reforma trabalhista. São Paulo: LTr, 2017, p. 105-111.

81 forma permanente a representar os trabalhadores vinculados por laços profissionais e laborativos comuns, bem como buscar soluções aos conflitos coletivos porventura existentes nas respectivas bases representadas por meio da defesa dos interesses trabalhistas e conexos além de alcançar melhores condições de labor e vida110.

O Direito Coletivo do Trabalho, por seu turno, consiste no conjunto de normas e princípios reguladores das relações entre os seres coletivos trabalhistas: os trabalhadores, representados pelas entidades sindicais, e os entes empresariais, os quais atuam isoladamente, ou por meio de seus sindicatos, cujas conquistas alçam o patamar da mais significativas garantias alcançadas pelos trabalhadores em suas interações com os detentores dos meios de produção111.

A atuação dos sindicatos nas Negociações Coletivas, que ainda se desmembram em dois modos de atuação, a Convenção Coletiva de Trabalho e o Acordo Coletivo de Trabalho e têm sua importância reconhecida pelo ordenamento jurídico pátrio com a ratificação da Convenção nº 154 da Organização Internacional do Trabalho, em 1981, que versa sobre o incentivo a negociação coletiva. A definição apresentada pela mencionada Convenção, em seu artigo 2º destaca a totalidade das negociações entre empregador, individualmente ou coletivamente, e organizações de trabalhadores, com a finalidade de fixar condições de trabalho, regular as relações entre as partes, como também, entre esses e as suas organizações.

Segundo Amauri Mascaro Nascimento, a Convenção nº 154 da OIT, que tem por finalidade fomentar a utilização das negociações coletivas, juntamente com as convenções 98 e 151, trouxe o que ele chamou de Princípio da Negociação Coletiva “consubstanciado na noção de autonomia privada coletiva, o que pressupõe a não intervenção

110 DELGADO, Mauricio Godinho. Curso de direito do trabalho. São Paulo: LTr, 2017.

p. 1345.

82 estatal”.112

Na esteira dessas decisões legais tomadas pelo ordenamento jurídico pátrio, no que tange ao papel dos sindicatos nas relações entre empregados e os empregadores, verifica-se o incentivo à autocomposição entre os particulares da relação de trabalho. Deste modo, busca-se ressaltar que o valor da atuação sindical não deve se limitar as prerrogativas na vigência dos contratos de trabalho, mas é necessária, também, ter participação no momento mais crítico do contrato de trabalho, a sua extinção.

O Tribunal Superior do Trabalho, ao apreciar o tema da demissão em massa, em sede de dissídio coletivo, teve como relator o ministro Maurício Godinho Delgado, e este entendeu ser cogente a participação dos sindicatos nesse tipo de extinção contratual. Então, por decisão da maioria dos votos, acompanhando o voto do Ministro Relator, fixou a Seção de Dissídios Coletivos do Tribunal Superior do Trabalho, a premissa de que a negociação coletiva é imprescindível para a dispensa em massa de trabalhadores.113

O próprio Ministro, Godinho Delgado, analisando a sua decisão, dispôs que “submeter à negociação coletiva trabalhista, apta a lhes atenuar os drásticos efeitos sociais e econômicos”114, porquanto a autonomia se distingue sobremaneira na atuação negocial para as dispensas individuais das dispensas realizadas de forma coletiva ante às consequências impactantes na esfera social, econômica, familiar e comunitariamente.115

Em que pese datadas de 2009, as decisões do Tribunal Superior do Trabalho já refletiam a temeridade destas Justiça Especializada pelos fortes ventos de reforma que poderiam atingir o campo normativo trabalhista a ensejar retrocesso social para os trabalhadores inseridos em relações de emprego pactuadas sob manto da constituição e da

112 NASCIMENTO, Amauri Mascaro; NASCIMENTO, Sônia Mascaro. Curso de Direito

do Trabalho: história e teoria geral do trabalho. São Paulo: Saraiva, 2014. P. 1298.

113 BRASIL. Tribunal Superior do Trabalho. Acórdão em RODC 309/2009-000-15-00.4.

Rel. Min. Mauricio Godinho Delgado. Seção de 10.8.2009 (DEJT de 4.9.2009).

114 DELGADO, op. cit., p. 1137.

115 BRASIL. Tribunal Superior do Trabalho. Acórdão em RODC 309/2009-000-15-00.4.

83 CLT.

No trecho a seguir, cuja construção foi proferida no dissídio ora em destaque, tem-se enaltecido o papel do Estado Democrático de Direito,

Na vigência da Constituição de 1988, das convenções internacionais da OIT ratificadas pelo Brasil relativas a direitos humanos e, por consequência, direitos trabalhistas, e em face da leitura atualizada da legislação infraconstitucional do país, é inevitável concluir-se pela presença de um Estado Democrático de Direito no Brasil, de um regime de império da norma jurídica (e não do poder incontrastável privado), de uma sociedade civilizada, de uma cultura de bem-estar social e respeito à dignidade dos seres humanos, tudo repelindo, imperativamente, dispensas massivas de pessoas, abalando empresa, cidade e toda uma importante região. Em consequência, fica fixada, por interpretação da ordem jurídica, a premissa de que – a negociação coletiva é imprescindível para a dispensa em massa de trabalhadores.116

O destaque que merece ser enaltecido na decisão acerca da efetiva participação sindical nas despedidas em massa se revela também para ressaltar o traço de autonomia que deve estar presente na entidade coletiva, sob pena de uma atuação unilateral e potestativa dos empregadores face à totalidade de trabalhadores manifestamente desnivelados pelo preceito da autonomia.

Ora, esta vertente foge até mesmo aos preceitos negativos construídos na decisão do supremo, que ainda constrói um raciocínio que se envereda pela simetria que poderia existir entre o sindicado profissional e o empregador; contudo, a norma vai além e esquece-se por completo da manifesta assimetria existente entre o trabalhador de forma individualizada e o seu empregador, fato que por si só exigiria atuação precípua do(s) respectivo(s) sindicato(s) profissional(is) obreiro(s).”117

É imperioso, portanto, conforme suscitado pelo ministro, travar uma

116 BRASIL. Tribunal Superior do Trabalho. Acórdão em RODC 309/2009-000-15-00.4.

Rel. Min. Mauricio Godinho Delgado. Seção de 10.8.2009 (DEJT de 4.9.2009).

117 BRASIL. Tribunal Superior do Trabalho. Acórdão em RODC 309/2009-000-15-00.4.

84 distinção normativa entre as dispensas individuais e as demissões em massa, em razão dos efeitos desta atingirem uma amplitude social mais impactante. Exigindo-se, nestes casos, a participação do sindicato.

Em contraposição a essa linha protecionista da Justiça do Trabalho, em meio à crise política e econômica, foi permitido Congresso Nacional, tomado pelos anseios da classe empresária em abrandar os direitos trabalhistas angariados ao longo do tempo, a aprovar a Lei 13.467/2017, a Reforma Trabalhista. Essa norma nasce em contexto semelhante ao vivido entre o fim da década de 1980 e início dos anos 1990, em meio à crise econômica, enquanto na plataforma mundial ocorria a “queda” do bloco soviético, circunstancias que levaram a atuação sindical a um retrocesso.

As tendências econômicas, políticas e ideológicas que se acentuaram no final do século passado trouxeram deletério retrocesso à força sindical brasileira, por meio da automação, a robótica e microeletrônica, desenvolvidas dentro de um quadro recessivo intensificado, fatos estes que resultaram num avançar decadencial de desproletarizaçao de importantes contingentes operários, a exemplo da indústria automobilística. Os elementos convencionais de produção estabeleciam novas regras de mercado como a desregulamentação, de flexibilização, de privatização acelerada, de desindustrialização, todos estes impulsionados pelo modelo neoliberalista capitaneado desde o projeto Collor.118

Sob a égide de governos neoliberais, os países capitalistas passaram por uma reestruturação produtiva, aplicando-se as políticas de enxugamento do estado, privatização acelerada, o fim do “bloco socialista”, os países capitalistas sucessivamente retiram os direitos e as conquistas sociais dos trabalhadores, dada a “inexistência” do perigo

85 de outrora, o socialismo.119

Em busca de suavizar os efeitos da crise econômica, o discurso da política neoliberal ganha espaço mais uma vez no Brasil e ora é constituída pela criação de um mito relativo à autonomia da vontade a induzir progressiva diminuição da proteção ao trabalhador, de um lado ampliando a uma dimensão ampla e irrestrita a autonomia negocial para redução de direitos e de outro impossibilitando a atuação sindical em situações cruciais da relação de trabalho, como a dispensa em massa.

A Reforma Trabalhista, Lei 13.467/2017, tem como um dos pontos de destaque a atuação das negociações coletivas para regular direitos laborais, e desta forma, a participação dos sindicatos na formação dos contratos de trabalho das categorias da qual fazem parte. Essa norma é o resultado de longas discussões trazidas pela classe empresária cuja premissa parte especialmente da diminuição da intervenção do Estado na economia, refletindo nas relações e condições de trabalho estabelecidas pelas normas jurídicas brasileiras.

Em contrapartida atuação sindical sob a égide da nova norma trabalhista retirou, expressamente, a necessidade da negociação coletiva nas dispensas em massa, questão amplamente consolidada pela Justiça especializada como condição sine qua non para a efetiva proteção do trabalhador. Nesse sentido, ao se postular por maior liberdade nas relações trabalhistas acabou gerando, em diversos aspectos, o enfraquecimento do princípio da Proteção, norteador do Direito do Trabalho.

A atuação sindical no Brasil está atrelada às relações estabelecidas entre as classes dos trabalhadores e dos empregadores. O sindicato, enquanto entidade representativa, alberga reconhecida importância, pela Constituição de 1988, mormente em seu artigo 8º,

119 ANTUNES, Ricardo. Os sentidos do trabalho: Ensaio sobre a afirmação e a negação

86 inciso III, para a defesa dos interesses individuais e coletivos, inclusive quanto a questões judiciais ou administrativas.

Nessa esteira, os desdobramentos da relação entre sindicatos, empregados e empregadores estão normatizados tanto pela Carta Magna como pela Consolidação das Leis do Trabalho. Portanto, coube ao Direito do Trabalho debruçar-se sobre as peculiaridades dessa relação.

A negociação coletiva enquanto instituto trabalhista visa, através da atuação dos sindicatos, da classe obreira e dos empregadores, a autocomposição, da qual resultam acordos sobre as condições de trabalho. E, mais uma vez, com amparo constitucional firmou- se a imprescindibilidade da participação dos sindicatos nas negociações coletivas, nos termos do artigo 8º, VI, da Constituição Federal do Brasil.

Diante desse contexto verifica-se a importância da participação sindical nas relações obreiras, especialmente durante a vigência do contrato de trabalho, ao ponto de ser imposta pela Constituição brasileira a participação dos sindicatos para negociar junto às partes envolvidas pela relação de emprego, os direitos da classe trabalhadora, conforme artigo supracitado. Mas a sua atuação não se atinha apenas para a consubstanciação de direitos e condições de trabalho. Para além desse aspecto, em notória decisão do Tribunal Superior do Trabalho, no ano de 2009, firmou-se o entendimento de que a negociação coletiva era indispensável para a dispensa em massa de trabalhadores.

O sindicato, portanto, fora designado como garantidor de direitos dos trabalhadores no momento da extinção do contrato de trabalho, em especial, através da negociação coletiva nas demissões em massa. Pois esse tipo de rescisão contratual gera efeitos impactantes na estrutura social e econômica da comunidade na qual esses trabalhadores estão inseridos. Todavia, no ano de 2017, com o advento da Lei 13.467, promoveu-se no âmbito trabalhista uma ampla reforma legislativa e, dentre as notórias alterações, passou-se a

87 normatizar, no artigo 477-A da Consolidação das Leis do Trabalho, que as dispensas coletivas não necessitam de autorização prévia de entidade sindical ou de celebração de convenção coletiva ou acordo coletivo de trabalho para sua efetivação.

Ao observar o curso histórico movimento organizado dos trabalhadores no Brasil depreende-se seu início antes mesmo da criação da Justiça do Trabalho. Visto que a Justiça do Trabalho foi consubstanciada, primeiro, pela Constituição de 1934 como ramo do Poder Executivo e, apenas em 1º de maio de 1941, houve a instalação nacional da Justiça do Trabalho. Vindo a ser considerada ramo do Poder Judiciário, apenas, na Constituição de 1946. Já os sindicatos apareceram no ordenamento jurídico pátrio, a partir de 1903, com o Decreto nº 979, e por outros decretos que a esse sucederam; portanto, inicialmente instituídos em legislações esparsas, para posteriormente serem normatizados pela Constituição brasileira. Ao se estudar a formação do sindicalismo no país é preciso apoiar a pesquisa nos Decretos e nas Constituições nacionais, a fim de se traçar uma linha cronológica da forma como eles foram concebidos pelas instituições normativas do direito brasileiro.

Nesse espeque, como dito, em 1903 surge a primeira legislação de organização sindical, o Decreto nº 979, direcionado às empresas agrícolas e aos trabalhadores rurais120. O artigo 1º desse decreto afirma ser uma faculdade dos profissionais organizarem-se em sindicatos, assim como, devem ter por finalidade o estudo, o custeio e a defesa dos interesses dos profissionais.

Poucos anos depois, em 1907, com o Decreto nº 1.637, regularam-se todos os profissionais, inclusive os liberais. Trazendo, em seu artigo 1º, como finalidade do sindicato o estudo, a defesa e o desenvolvimento dos interesses gerais das profissões e os interesses profissionais de seus membros. O artigo 2º, deste decreto, estabelecia que a livre constituição do sindicato era isenta da intervenção estatal, de tal modo que bastava

120

88 simplesmente o depósito de seu estatuto para obter as benesses legais.

Vigorava, naquele momento histórico, como se pode aferir no artigo 4º, do citado decreto, a pluralidade sindical pelo território, afirmando-se que os sindicatos poderiam se federar em uniões ou sindicatos centrais sem a limitação de circunscrições territoriais. Em 1930, ascendia ao governo o presidente Getúlio Vargas, com a vitória da Aliança Liberal, e assim, chegava ao poder um dos políticos mais importantes para construção de uma legislação trabalhista sob o comando do Estado. Desta forma, no início do primeiro governo Vargas fora nomeado para o cargo de Ministro do Trabalho, Lindolpho Collor.

O "Ministro da Revolução", como ficou conhecido, concebia os sindicatos como instrumentos para mediação de conflitos entre empregados e empregadores. Buscando, também, aproximá-los ao Estado, para que este pudesse exercer controle sobre as entidades sindicais. Surgiram de forma dialética, nessa mesma época, os sindicatos patronais. O ministro Mauricio Godinho Delgado denomina de sindicalismo vertical121, a concretização da intensa intervenção estatal na estrutura dos sindicatos, a qual perduraria por muitos anos. Iniciou-se, portanto, com a criação do Ministério do Trabalho, Indústria e Comércio em 1930, seguindo-se com o Decreto nº 19.770 de 1931, a submissão do ato de constituição do sindicato e adquirirem, assim, personalidade jurídica, a aprovação por esse Ministério.

Outro aspecto inovador, trazido pelo artigo 3º e o seu parágrafo 2º desse decreto, foi a concepção de Federação sindical e Confederação, traçaram-se os parâmetros para a criação dos sindicatos, devendo constar de número nunca inferior a três, para formar uma federação regional, com sede nas capitais dos estados. Ao se atingir o número de 5 (cinco) Federações Regionais passariam a constituir a Confederação Brasileira do Trabalho e

121 Sindicato vertical: estende-se no mercado de trabalho abrangendo, regra geral, a

ampla maioria dos empregados das várias empresas, na respectiva base territorial da entidade, que tenham similitude de atividades econômicas. Portanto, atinge, verticalmente, as empresas economicamente afins. DELGADO. op. cit. p. 1348.

89 a Confederação Nacional da Indústria e Comércio122, com sede na capital do país. Necessitando-se, uma vez mais, da aprovação do estatuto pelo Ministério do Trabalho, Indústria e Comércio.

O Decreto nº 19.770, de 19 março de 1931, buscou no seu texto coibir a represália dos empregadores, com dispensa, suspensão ou rebaixamento de categoria, em razão de seus empregados aderirem aos sindicatos da sua categoria. Do mesmo modo, pelo fato de expressarem ideologias distintas a dos seus patrões, conforme o artigo 13 deste decreto. Já o artigo 9º consagrou a unicidade sindical de modo a prever a neutralidade sindical além de proibir os sindicatos de se envolverem com questões religiosas e políticas, devendo voltar o seu foco para a defesa dos interesses profissionais123.

Em 1932, no Decreto nº 22.132 em seu artigo 1º, restringiu-se aos trabalhadores sindicalizados a possibilidade de apresentar reclamação perante as Juntas de Conciliação.

Noutro vértice, a primeira vez que o instituto da Convenção de Conciliação de Trabalho apareceu no ordenamento jurídico brasileiro, trazendo no seu âmago a participação do sindicato para sua realização, foi no Decreto nº 21.761 de 1932.124

Já no Decreto nº 24.694, de 1934, antecedendo a Constituição do mesmo ano, em seu artigo 5º impôs-se uma importante limitação para o funcionamento dos sindicatos dos empregados, qual seja, a participação de no mínimo um terço dos empregados que exerçam a mesma profissão na respectiva localidade.

Iniciando-se o período do Estado Novo, ainda sob o comando do Presidente

122 Confederação Brasileira do Trabalho - a que se constituir por federações operárias e -

Confederação Nacional da Indústria e Comércio - a que se constituir por federações patronais.

123 BARROS, Alice Monteiro de Barros. Curso de Direito do Trabalho. 10 ed. São Paulo:

LTr, 2016. p. 794

124 Conceito: Art. 1º Entende-se por convenção coletiva de trabalho e ajuste relativo às

condições do trabalho, concluído entre um ou vários empregadores e seus empregados, ou entre sindicatos ou qualquer outro agrupamento de empregadores e sindicatos, ou qualquer outro agrupamento de empregados.

90 Vargas, entre os anos de 1937 a 1945, a Constituição deste período, conhecida como Polaca, por sua inspiração na Carta Magna polonesa, legitimava a existência de um governo autoritário, concedendo-o poderes praticamente ilimitados, vivendo-se um período ditatorial, as liberdades sociais foram restringidas e, consequentemente, os movimentos grevistas foram considerados pelo governo como “recursos antissociais nocivos ao trabalho e ao capital e incompatíveis com os superiores interesses da produção nacional”.125

Durante esse governo, em 1943, foi criada a CLT – Consolidação das Leis do Trabalho, o primeiro conjunto de normas destinado a legislar as relações entre empresa, empregado e sindicatos nacionais. Em 1946, ocorreu o período da redemocratização do país, promulgando-se a Constituição datada do mesmo ano, a qual tratando sobre a organização sindical, no seu artigo 159, manteve o entendimento quanto a liberdade de associação e a necessidade de regulação legal sobre a forma de constituição, da representação legal nas convenções coletivas de trabalho pelos sindicatos.

E como medida da retomada dessa democracia, o Ato das Disposições Constitucionais Transitórias, no artigo 28, concedeu anistia a todos os cidadãos que até a promulgação desse Ato eram considerados “insubmissos ou desertores” e “igualmente aos trabalhadores que tenham sofrido penas disciplinares, em consequência de greves ou dissídios do trabalho”.126

Um importante marco para a criação de uma central sindical nacional ocorreu durante o 3º Congresso Sindical, realizado no Rio de Janeiro em 1960. Nesse Congresso, apresentou-se a ideia de alterar o sistema e a estrutura sindical, de liberdade sindical, buscar relacionamento com outros movimentos sindicais do mundo, a criação de um organismo nacional que coordenasse os trabalhadores em todo país. Como resultado desse movimento, surgiu o CGT – Comando Geral dos Trabalhadores, em 1962, todavia sem

125 MILTON, Martins. Ob. Cit.p. 28

91 apresentar os anseios do congresso mencionado. A partir de 1964, o Brasil passaria a viver por mais de 20 anos sob a égide de governos militares e, como consequência deste período, muitos sindicatos sofreram intervenções. O ápice do intervencionismo ocorreu com a decretação do Ato Institucional nº 5, através do qual o Governo passa a dispor de poderes absolutos em questões de interesse e que porventura afetem à segurança nacional127.

Nesse diapasão, em 1967, mesmo diante de uma grande articulação repressiva as entidades sindicais, surgiu o MIA – Movimento Intersindical Anti-Arrocho, formado por lideranças sindicais mais agressivas reivindicando por melhores salários e condições de trabalho128. Com a redemocratização, em 1985, por decisão governamental consideraram-se reabilitados para a vida sindical aqueles dirigentes cassados, por greves consideradas ilegais.

Um importante aspecto quanto à formação dos sindicatos sob o amparo legislativo é o sistema de unicidade sindical, o qual vigora no país desde 1930 até os dias atuais, com a Constituição de 1988, disposto em seu artigo 8º, inciso II, postulando-se a