• Nenhum resultado encontrado

Capítulo III A EXPERIÊNCIA DO PROJETO LINDALVA

3.2. Empoderamento, Sororidade e Autoestima

No dicionário da Britânica Universidade de Cambridge, o significado da palavra empowerment , termo ao qual o sociólogo Julian Rappaport (1977) descreve, tem o significado de que é um processo ao qual se ganha liberdade e poder para fazer o que você quer e controlar aquilo que acontece com você, dessa forma se ter autonomia de escolha e decisão. O empoderamento é um instrumento de liberdade, ao qual nós mulheres devemos nos aproximar e tomar como ponto de partida para nos encorajar a decidir sobre os nossos direitos.

De acordo com filosofa alemã Hanna Arendt (1991), pode-se pensar empoderamento como uma ação em coletivo, ela defende que o poder corresponde a habilidade humana não apenas para agir, mais para agir em conjunto, ou seja se um grupo ou movimento se permanece unido em busca de uma ação como , por exemplo, a luta pelos direitos igualitários ele se empodera a partir do momento que decide que juntos iram lutar por algo que acreditam. O ato de empoderar se dá individualmente através da liberdade de escolha desde a forma que você se porta, fala, veste, até um ato de compra algo, por exemplo, como também o ato de empoderar se está no coletivo, empoderando no conjunto.

De acordo com Berth “(…) quando assumimos que estamos dando poder, em verdade, estamos falando na condução articulada de indivíduos e grupos por diversos estágios de autoafirmação, autovalorização, autorreconhecimento e autoconhecimento de si mesmo e de suas mais variadas habilidades humanas, de sua história, principalmente, um entendimento sobre sua condição social e política e, por sua vez, um estado psicológico perceptivo do que se passa ao seu redor” (2018, p.14).

Diante dessas considerações devemos pensar o empoderamento como conceito que que tem o poder e a ação como meio de atividade para um indivíduo, devemos trabalhar o empoderamento desde muito cedo, para não só ter o autoconhecimento e liberdade de escolha como também da participação política de um indivíduo na sociedade, bem como a descolonidade do conhecimento para o alcance de direitos. A coletividade empoderada não pode ser formada por individualidades e subjetividades que não estejam conscientemente atuantes dentro de processos de empoderamento” BERTH (p. 42). Desta maneira, além do ensino ao qual se dá através do ato empoderar, como é primordial para mudanças sociais e políticas sendo vistas e executadas na realidade atual.

Quando falamos de empoderamento, principalmente nos dias de hoje, concluímos que estamos diante de um contexto ao qual pensar no empoderamento é não só pensar como

algo que está em alta e sim como algo que resulta de forma positiva e coletiva socialmente. A ideia do termo “empoderamento” como algo acrítico e subjugado é pressentível devido a popularização e banalização do termo, muitos meios econômicos da indústria e midiáticos se apropriaram do discurso para promover o consumismo, distorcendo a ideia e o conceito do empoderamento.

No livro “Vamos Juntas?” da autora Babi Souza, do ano de 2016, ao qual ela relata sobre sororidade, feminismo e empoderamento de forma dinâmica e conta um pouco sobre sua experiência ao escrever o livro e ter criado o guia da sororidade para todas, ela descreve o empoderamento de uma forma bem objetiva, classificando e destacando pontos cruciais que percorrem na desigualdade entre homens e mulheres na nossa sociedade. A autora dialoga sobre como nós mulheres aprendemos desde infância que temos menos direitos do que os homens, e que por isso acabamos nos adaptando ao segundo lugar, o que desencadeia também a ideia de que mulheres são inferiores aos homens devido a condição biológica de que é mais frágil ou algo do gênero.

Algo muito importante observado no livro da autora Babi Souza é que ela descreve situações aos quais nós mulheres vivenciamos e somos ensinadas de formas diferentes, como por exemplo, nós mulheres aprendemos desde pequenas que devemos ter cuidado ao sentar, a não sentar sem postura, não abrir as pernas, termos cuidado ao falar, não podemos brincar livremente, brincamos de bonecas e casinha, já os homens sentam da forma que querem, com pernas abertas, brincam de armas e carrinhos, esse exemplo e posicionamento da autora nós faz refletir o quanto a desigualdade entre gêneros é imposta pela criação e pela sociedade.

Todas essas situações são exemplos de uma sociedade sexista, a qual designam atividades pra mulheres e para os homens, de forma que a mulher sempre está como mãe, dona de casa, a que cozinha, já o homem é o que bebe cerveja, é o que trabalha e sustenta a casa, estes pontos são bem claros de uma sociedade patriarcal a qual não incentiva a mulher de nenhuma forma a ser livre e a se posicionar, contribuindo para uma sociedade menos igualitária.

O que nos leva até o machismo, e algumas das ideias machistas que estão diariamente presentes em nosso cotidiano, como por exemplo, mulheres devem ser recatas para não perderem o valor, a responsabilidade da casa e dos filhos é da mulher, as mulheres não tem capacidade de fazer trabalhos braçais, mulheres são sempre rivais, mulheres sempre estão em busca de atenção masculina.

O termo empoderamento feminino se torna pertinente, pois é necessário que mulheres possam acreditas nelas, acreditar que são merecedoras de tudo que a neste mundo, que

merecemos igualdade e respeito. Empoderar significa apropriar-se do direito de existir na sociedade, e para isso nós mulheres precisamos reconhecer esses direitos e entender que somos merecedoras.

O empoderamento é algo que pode ser realizado de forma social quanto individual, a mulher deve cultivar esse trabalho interno, estimulando sua autoestima, seu autoconhecimento, se enxergando de forma positiva e maravilhosa. O ato de empoderar estará também interligado com a autoestima, a autoestima representa como nos enxergamos, de fato é muito complicado nós enxergar em meio a tantos questionamentos que nós mulheres nos colocamos devido ao meio social em que vivemos, por exemplo, a mídia é um grande precursor de estereótipos e padrões de beleza, ao qual somos vítimas, pois são inúmeras as mulheres que tentam mudar e se colocar em imagens de mulheres as quais são irreais, seja por fotoshop, maquiagem, entre outros, se deixando submeter a padrões estéticos e se frustrando por não atingi-los.

O empoderamento é de fato um percurso para nós mulheres não nos vermos como objetos da sociedade e da mídia, o empoderamento deve ser praticado cada vez mais e desde cedo, pois sabemos que é necessário para darmos força e liberdade as milhares de mulheres.

São práticas do empoderamento se amar de verdade, aceitar seu corpo e ser feliz consigo mesmo, defender que nada justifica a violência contra a mulher, entender que a mulher tem tantos direitos e capacidade quanto o homem para realizar o que quiser, fazer suas próprias escolhas sem deixar que a opinião dos outros te influencie negativamente, dizer não a qualquer tipo de abuso e preconceito, não cobrar das mulheres ao seu redor o padrão de beleza imposto pela mídia e sempre incentivar e apoiar as mulheres ao seu redor.

Faz parte também do empoderamento o conceito da sororidade, termo esse que tem como relevância a união e aliança entre mulheres, baseados na empatia e companheirismo, em busca de objetivos em comum, como por exemplo é objetivo de nós mulheres nos apoiar, nós incentivar e alcançar nossos direitos de igualdade, em prol de uma sociedade mais justa. Nós mulheres lutamos a muitos anos por nossos direitos, e a sororidade venho a somar.

No inglês sonority é ligado a um conjunto de moças estudantes, como os grupos de universidades de países como os Estados Unidos, ao qual moram juntas durante toda a faculdade. Sororidade é a versão feminina de fraternidade, da qual o prefixo “frater” quer dizer irmão, termo esses que vemos sempre usados tantos por homens quanto por mulheres, onde muitas vezes não tem conhecimento da para sororidade. É comum encontrar pessoas reproduzindo discurso de que irmandade é para homens e que mulheres não tem a capacidade

de ter uma irmandade, fortificando a ideia de que mulheres estão sempre em disputa e que não se apoiam.

A frase “Não se nasce mulher se torna mulher” de Simone Beauvoir, escritora, filósofa e feminista francesa, traz a reflexão sobre, “Ser” mulher. Simone Beauvoir apresentou em seu livro O segundo sexo, publicado em 1949, está frase, de acordo com a autora, a mulher não é pautada por um destino biológico, mas sim criada dentro de uma cultura que a define mulher. Ou seja, não há nenhuma explicação biológica a qual as teorias machistas, já que o “Nascer mulher” como a sociedade indaga não existe. Nascer de sexo feminino para a nossa sociedade é nascer com menos direitos, menos liberdades e direitos completamente diferentes dos homens.

A maioria desses discursos implicam as mulheres a identificá-los como machistas, em grande maioria. No entanto a ideia de que nós mulheres não temos capacidade de criar laços é incabível, pois não a nenhum tipo de fator biológico que nos torna menos capaz que homens de sermos amigas e unidas. A crença desse discurso machista a qual nós mulheres não somos capazes de sermos gentis umas com as outras e de que somos naturalmente rivais é resultado de uma sociedade a qual nos impõe tal ideia machista.

Não é novidade que uma mulher quando consegue ultrapassar a barreira do machismo e alcançar o seu lugar de destaque, costuma ser subjugada por homens, um exemplo disso é quando ouvimos, ela só conseguiu por causa do marido, olha ela é casada com tal pessoa, e isso é preciso ser relutado, nós mulheres não precisamos alcançar nada por causa de homens, seja pai, marido, irmão, tio, namorado, nem através deles, nós conseguimos porque foi uma conquista apenas e única nossa.

Sororidade não é amar a todas a mulheres mais sim não odiar alguém apenas por ela ser mulher. A sororidade tem como práticas as seguintes questões, não enxerga a mulher à sua volta como uma inimiga, não usar critérios diferentes para distinguir homens e mulheres, quando uma mulher sofrer algum tipo de assedio ou violência, nunca ache que a culpa é da vítima, não estimule o sentimento de rivalidade entre mulheres, não critique mulheres a sua volta, não responsabilize as mulheres pelos filhos ou pela limpeza da casa e muitas outras dessa ideias fazem parte do pensar e agir na sororidade.

Através dessas vertentes do movimento feminista, do empoderamento e sororidade foram identificadas as justificativas do projeto em questão, para qual foi o ponta pé para o desenvolvimento e resultado da pesquisa e das atividades realizadas.

Documentos relacionados