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Educomunicação e empoderamento feminino através da dança: relato da experiência com o Projeto Social Lindalva, Carnaúba do Padre, RN

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Academic year: 2021

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COMUNICAÇÃO SOCIAL - PUBLICIDADE E PROPAGANDA

ILANA KELLY FREIRE DE LIMA

EDUCOMUNICAÇÃO E EMPODERAMENTO FEMININO ATRAVÉS DA DANÇA: RELATO DA EXPERIÊNCIA COM O PROJETO SOCIAL LINDALVA, CARNAÚBA DO

PADRE, RN

Natal/RN 2019

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ILANA KELLY FREIRE DE LIMA

EDUCOMUNICAÇÃO E EMPODERAMENTO FEMININO ATRAVÉS DA DANÇA: RELATO DA EXPERIÊNCIA COM O PROJETO SOCIAL LINDALVA, CARNAÚBA DO

PADRE, RN

Projeto de Trabalho de Conclusão de Curso apresentado para cumprimento das exigências das atividades da disciplina Projeto Experimental (PUB001) do curso de Comunicação Social - Publicidade e Propaganda.

Orientadora: Profª Dra. Janaine Aires

Natal/RN 2019

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Dedico este trabalho a minha vó Lindalva Freire, as minhas alunas do projeto Lindalva e a minha mãe Maria Goreth Freire, que de muitas formas são minha inspiração e força.

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Todas as vezes na história em que as mulheres se uniram, o mundo mudou. Márcia Tiburi

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RESUMO

Este estudo relata e reflete acerca da experiência com o projeto Lindalva, definição da área de intervenção da Educomunicação através da prática da dança que se relaciona com questões comumente abordadas pela área de comunicação, empoderamento e sororidade feminina. O projeto situa-se na interface da educomunicação e apoia-se na perspectiva da pesquisa participante. A metodologia do projeto consiste na realização de oficinas que dão ênfase ao empoderamento, sororidade e autoconhecimento e às diferentes formas de se comunicar e se expressar através dessas vertentes, observando as singularidades e, deste modo, desenvolver a capacidade crítica e comunicativa das alunas, além da aprendizagem por meio da realização de atividades lúdicas. Adicionalmente a metodologia do projeto propõe a produção e divulgação do trabalho desenvolvido por ele, sinalizando ser possível compartilhar valores colaborativos, de amizade, de união, de respeito às diferenças e, mais do que ensinar, de aprender.

Palavras-chaves: Educomunicação; Empoderamento; Representatividade; Sororidade; Dança; Autoestima; Expressão.

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This study reports and reflects on the experience with the Lindalva project, defining the intervention area of Educommunication through the practice of dance which relates to issues commonly addressed by the area of communication, empowerment and female sorority. The project is located at the interface of educommunication and it is supported by the participant research perspective. The methodology of the project consists of workshops that emphasize empowerment, sorority and self-knowledge and different ways of communicating and expressing themselves through these aspects, observing the singularities and, thus, developing the critical and communicative capacity of students, as well as learning through performing recreational activities. Additionally the methodology of the project proposes the production and dissemination of the work developed by it, signaling that it is possible to share collaborative values, friendship, unity, respect for differences and, more than teaching, learning.

Keywords: Educommunication; Empowerment; Representativeness; Sorority; Dance; Self esteem; Expression.

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ÍNDICE DE FIGURAS

Figura 1- Primeira apresentação do grupo, amostra cultural e educação na cidade de Pedro

Velho, 2014 ... 18

Figura 2- Peças de divulgação do evento de dança para Facebook, 2017 ... 20

Figura 3- Peça de divulgação do evento de dança para Facebook, 2018 ... 23

Figura 4- Evento de Dança produzido pelo grupo Lindalva em Carnaúba do Padre, 2018 .... 23

Figura 5- Foto para comemoração e memorização de quatro anos do projeto Lindalva, 2018 ... 24

Figura 6- Primeiro encontro, agosto de 2019. ... 42

Figura 7- Segundo encontro, setembro, 2019. ... 43

Figura 8- Dinâmica dos sonhos, setembro, 2019 ... 44

Figura 9- Dinâmica, Auto feedback, dinâmica vocês no futuro e escreva ... 45

Figura 10- Ultima Oficina, setembro,2019... 46

Figura 11- Dinâmica preparatória de roda de conversa sobre machismo e assedio, setembro, 2019 ... 47

Figura 12- Dinâmica da autoestima e elogio, setembro, 2019 ... 48

Figura 13- Quadro de comentários machistas a respeito do grupo ou de si próprio, setembro, 2019 ... 49

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ... 9

CAPÍTULO I - A DANÇA COMO EMPODERAMENTO FEMININO ... 11

1.1. Quem é Lindalva ... 12

1.2. Dança, relato pessoal ... 14

1.3. Publicidade, corpo e dança ... 15

1.4. A história do Projeto ... 17

Capítulo II – EDUCOMUNICAÇÃO ... 26

2.2. A Expressão Comunicativa por meio da dança ... 28

2.3. Educomunicação e dança... 30

Capítulo III - A EXPERIÊNCIA DO PROJETO LINDALVA ... 33

3.1. Movimento feminista ... 33

3.2. Empoderamento, Sororidade e Autoestima ... 36

3.2. METODOLOGIA E DISCUSSÃO ... 40

3.4. PROCESSO DE INTERVENÇÃO... 42

3.4.1. Reencontro do grupo Lindalva ... 42

3.4.2. Mulheres que inspiram, sororidade e empoderamento ... 42

3.4.3. Autoestima e corpo ... 45

3.4.4. Diário de oficina ... 49

3.4.5. Análise do questionário ... 50

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INTRODUÇÃO

Este trabalho visa relatar a experiência do Projeto Lindalva, desenvolvido no distrito de Carnaúba do Padre, da cidade de Pedro Velho, interior do Rio Grande do Norte. O projeto desenvolve oficinas de dança para adolescentes da Escola Padre Leôncio desde 2014 e é uma experiência de Educomunicação que visa difundir o empoderamento feminino através da dança. Tal área da comunicação social tem como princípio estimular o diálogo na sociedade de forma que as pessoas expressem suas opiniões e que possam assumir posições mais ativas e humanas.

Nosso objetivo busca compreender os discursos presentes no corpo que dança e, mais especificamente, identificar de que forma essa construção de pensamentos através da educomunicação puderam construir mensagens de empoderamento feminino entre as participantes do projeto nas oficinas desenvolvidas entre agosto e setembro de 2019.

A Educomunicação pode auxiliar na expressão comunicativa estimulando suas manifestações através de mídias como a internet, a televisão e outros meios de comunicação tradicionais, a partir da adoção uma metodologia pedagógica unindo a educação e a comunicação, elegendo maneiras de utilizar e produzir mídias durante o aprendizado, por exemplo. Nesse sentido, o professor pode criar uma aula mais dinâmica atraindo mais atenção do aluno. No entanto, a educomunicação pode ser ainda mais potente, quando fortalece os indivíduos e os coletivos para a vivência de sua cidadania no dia a dia criando discussões, reflexões, informação e solucionando problemas da comunidade.

Por isso, ao relatar a experiência vivida na coordenação das atividades do Projeto Lindalva, buscamos compreender as formas de comunicação exercidas pela linguagem corporal, discutindo e percebendo de que maneira essas expressões reproduzem textos sócio-político-culturais através da dança. Da mesma forma trazendo a perspectiva do corpo, percebendo a magnitude do corpo na construção da identidade feminina.

A educomunicação se utiliza das experiências para saber como a tecnologia da informação e da comunicação podem favorecer nos processos de ensino-aprendizagem. Em um contexto socioeconômico e sociocultural com uma proposta de formar uma visão crítica. Para o sujeito se tornar participante da realidade social que vive. Tendo em vista que a educomunicação é o estudo que interliga a comunicação e a educação através de mídias e dos meios, buscando a interdisciplinaridade, ocasionando o pensamento e a atividade perante aos que praticam a arte é um meio de prosseguir tais ações.

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Nosso trabalho relatará os resultados das oficinas dialogais, visando analisar os impactos sociais desta experiência na localidade. Assim, em nosso percurso, preliminarmente são apresentados os conceitos básicos como: a definição dos fundamentos de empoderamento, sororidade, representatividade e autoestima no âmbito social do projeto, conforme desenvolvemos no capítulo 1, denominado “A dança como empoderamento feminino”. Já no Capítulo 2, intitulado “Educomunicação”, analisaremos a importância da educomunicação e da dança para o processo de empoderamento feminino. E por fim, no capítulo 3 - “A experiência do Projeto Lindalva”, aprofundaremos nossas discussões analisando os resultados do projeto.

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CAPÍTULO I - A DANÇA COMO EMPODERAMENTO FEMININO

A decisão de analisar o projeto social Lindalva surgiu pela necessidade de registrar em formato de pesquisa acadêmica um pouco de como o projeto acontece, quem são as garotas que participam e qual a sua relevância. De certa forma, atribuindo voz para as mulheres nas pesquisas acadêmicas, com a proposta de refletir sobre essas vivências relacionadas à educomunicação, ao empoderamento e à sororidade, em discussões também dentro das instituições de ensino formal, como universidades e escolas.

Como estudante de comunicação social e participante deste projeto social, pretendia de alguma forma firmar e deixar documentado um trabalho que já vem sendo realizado há alguns anos pelo grupo Lindalva. Acredito que juntamente a este projeto é possível identificar algumas indagações sobre o posicionamento de oposição ao comportamento e ideais relacionados ao machismo e diante de uma sociedade patriarcal. Ademais, representa um ato histórico perante a comunidade. A representatividade do grupo envolve a contribuição tanto pessoal quanto social. Acima de tudo poder compartilhar a história do projeto que vem sendo realizado há quase cinco anos é a concretude de um sonho.

Desde o início do projeto uma das coisas que mais me motivava era fazer a diferença na vida das garotas do grupo e em como o grupo poderia fazer a diferença na história da comunidade. O que poderíamos mudar através da nossa arte? Como poderíamos mudar a visão da comunidade por meio de posicionamentos de união e representatividade feminina? Em 2014 percebi que era uma missão fazer as meninas acreditarem no potencial delas, fazê-las acreditarem na união, apoiar umas às outras e se imporem.

Percebi como estudante de Comunicação Social - Publicidade e Propaganda e que como comunicadora poderia não só exercer meu papel de estudante, mas de cidadã também. Eu já desenvolvia um projeto social, porém ainda achava que estava fazendo pouco, e foi então que decidi impulsionar mais essa vertente feminista para o grupo e para o público, nos reconhecer e fazer entender como a identidade do grupo poderia revelar questões sociais como representatividade e empoderamento. Neste primeiro capítulo, buscaremos apresentar a trajetória do projeto Lindalva e apontar como teoricamente a dança pode se articular às estratégias de empoderamento feminino. Este relato da experiência, muitas vezes, se confunde com minhas vivências pessoais e o meu processo particular de empoderamento. Por isso, neste primeiro momento, deixamos esta característica presente no texto. Nosso objetivo é situar a quem o projeto homenageia o vínculo desenvolvido com a dança e como o curso de Comunicação Social – Publicidade e Propaganda contribuíram para o caminhar deste projeto.

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1.1. Quem é Lindalva

Muitas coisas tenho a falar dessa mulher revolucionária, seu nome: Antônia Lindalva Freire, nordestina, esposa de Severino Francisco Freire, mãe, empoderada e minha avó. Antônia Lindalva nasceu em 08 de março de 1929, teve onze filhos, foi agricultora, merendeira e professora na escola estadual Joaquim Soares em Carnaúba do Padre. Passou toda a sua vida na comunidade de Carnaúba do Padre formada por um pouco mais de 500 habitantes, distrito da cidade de Pedro Velho, do estado do Rio Grande do Norte.

Lindalva foi abandonada pelo seu primeiro marido quando tinha apenas 25 anos e já era mãe de quatro filhos, se viu em comunidade interiorana do norte do Rio Grande do Norte, na época ainda menor do que é hoje. Enfrentava dificuldades de preconceito e do machismo que oprimia uma mãe solteira. Mas isso não a desmotivou ou a enfraqueceu, Lindalva continuou a batalhar pela sua independência e pelo seu trabalho. Naquela época não se precisava de muito, começou como merendeira da escola estadual Joaquim Soares. Trabalhava em troca de comida e logo após alguns anos fez um concurso do estado e passou para merendeira, no turno matinal. Já no turno da noite dava aulas no EJA (Educação de Jovens e Adultos), foi onde se firmou na instituição e trabalhou até a sua aposentadoria. Ah, já ia me esquecendo! Foi nesta instituição em que conheceu o amor da sua vida e o seu futuro marido Severino Francisco Freire, o meu avô, foi com ele que ela passou o resto dos seus dias e viveu um casamento que durou 55 anos.

Lindalva era conhecida como uma mulher forte, daquelas que mete a cara e diz sou eu que mando na minha vida, na minha casa e na minha história, que batalhava pelo seu direito de trabalho, era feliz com sua profissão e que lutava pelos seus filhos, a quem sempre defendeu com unhas e dentes. Foi uma mulher muito brava, sorridente e que sempre gostou de arte. Claro, que com a suas limitações, pois morava no interior, onde o acesso à cultura é bastante limitado, mesmo assim gostava de ler poesias, adorava uma novela, compor músicas, cantar e dançar.

Apoiadora das artes, Lindalva sempre gostou de ver os filhos e netos envolvidos com a dança e a música, sempre foi um exemplo de mulher e de força para toda a família e comunidade. Foi Lindalva a primeira a me incentivar a entrar no mundo da dança, foi a minha avó que me deu a minha primeira roupa e que bordou junto comigo para uma apresentação quando eu tinha 16 anos, foi ela que estava me assistindo na plateia e foi ela uma das pessoas a me incentivar a dar continuidade com o projeto que hoje leva seu nome. Em meados de 2015

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Lindalva se viu com pneumonia e devido a complicações da doença, com muito pesar nos deixou. Minha avó Lindalva faleceu em setembro de 2015.

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1.2. Dança, relato pessoal

A dança tem algo de refúgio. Quando tive o primeiro contato com esta arte me vi de forma diferente, aprendi a me enxergar melhor a partir de algo que me identificava, podendo expressar aquilo que sentia. A dança me proporcionou entender que é necessário se ter união e senso de equipe para desempenhar um bom trabalho.

A dança agrega não só de forma cultural e histórica como auxilia na formação dos indivíduos. Como citei acima a dança ajudou a me expressar melhor, a me sentir mais forte e empoderada. Através da dança pude resgatar a minha identidade, transformando e me redescobrindo como individuo através da linguagem corporal. A dança é uma ferramenta onde é possível o desenvolvimento de pessoas como, por exemplo, a inclusão de um determinado grupo e o seu envolvimento, pois sua vertente da formação pedagógica, foi através dela adquiri autoconhecimento.

O impacto pessoal desta vivência na área, me permitiu pensar que era possível incorporar temáticas sociais e agregar a um meio social vivido por meio de oficinas, danças temáticas e outras ações que proporcionaram a mim e ao meu grupo desmistificar questionamentos internos e externos, impostos a nós mulheres e que afetam diretamente nossos corpos, a nossa autoestima e o nosso comportamento. Por meio disso pude não só aprender a me expressar, mas também a dialogar através da dança e a entender o papel que ela tem para cada indivíduo e para o meio social.

Concedida essa importância pude refletir quais aspectos da dança me modificaram como indivíduo que pensa e que se expressa, tais como, meu corpo e como me vejo a partir da prática corporal. Pensando nisso a dança poderia transformar não só a minha vida como a de outras pessoas também, proporcionando o mesmo senso crítico perante a questionamentos sociais diante ao machismo e ao sexismo sofrido pela mulher na sociedade.

A dança proporciona a quem pratica o ato de se empoderar e de se libertar, visto que isso me motivou ainda mais a dar continuidade ao projeto Lindalva e a proporcionar tudo que sentia aos demais, mas não só o simples ato de dançar, e sim dialogar com o corpo e a mente. Quebrando um tabu de que mulher tem que se portar, se vestir e se sentir como a sociedade impõe.

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1.3. Publicidade, corpo e dança

A linguagem corporal faz parte da natureza do ser humano e através dela é possível comunicar-se com o mundo e com o outro. Dessa maneira, entender como funciona seu processo é um caminho para estudar a história, o desenvolvimento da sociedade e a construção de suas mensagens. Precedendo a linguagem verbal, o indivíduo – ainda inconscientemente - já demonstrava ações e reações, impactava e interagia expressando vontades - voluntárias ou não - através de seu corpo em movimento (RECTOR; TRINTA 1985). A perspectiva de que essas expressões consistem em uma forma de comunicação com múltiplas representações será trabalhada neste capítulo, para que através de estudos de linguagem corporal seja possível compreender como manifestações do corpo por meio das práticas da dança podem ser ferramenta de comunicação (e impacto) social.

Conforme afirma Siqueira (2014), analisar o corpo e seus movimentos a partir do viés da comunicação é um percurso próspero cujas possibilidades de reflexão são grandes: “[...] o corpo é rica temática nas discussões, pois se presta melhor que qualquer outra forma de comunicar e a colocar juntos, em contato, atores sociais próximos ou distantes” (SIQUEIRA, 2014, p. 10). A comunicação é um campo que está diretamente relacionado com a produção e a troca de informações, as quais podem ser carregadas de múltiplos textos e significados. Partindo da etimologia da palavra comunicar, do latim communicare que se traduziria como tornar comum, Siqueira (2006) conceitua a linguagem não verbal como uma forma de comunicação, uma vez que é através de movimentos e deslocamentos corporais que ela busca “tornar comum” algo para um espectador.

Assim como demonstra Campelo (1997), a linguagem não-verbal é inerente ao ser humano em toda sua existência, pode produzir um sentido e pretende construir uma mensagem específica: “[...] quando os homens se comunicam, lançam mão de todo um repertório: usam o corpo todo e todos os textos nele latentes ou manifestos participam de cada comunicação” (CAMPELO, 1997, p. 77-78). Desse modo, a autora afirma que os textos carregados pelo corpo são manifestações comunicativas, as quais se consolidam por meio de gestos que deixam de ser movimentos mecânicos e se transformam em linguagem. Também mostra que o uso do corpo tem diferentes finalidades, as quais englobam em maior ou em menor grau um viés comunicativo. Nesta perspectiva, a autora trabalha a ideia de que todo mínimo movimento tem algo a dizer e a expressar como mensagem, e que, além de ser parte do corpo, também são textos que expressam a cultura na qual o indivíduo está inserido, conforme trecho abaixo:

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Enxergar o corpo como texto, e todo texto é uma mídia que se complexifica, se altera e se transforma com a história, porque é fruto de um diálogo com os outros textos, com os outros tempos, com o seu passado e sua memória, mas também com o futuro e seus projetos, sonhos e utopias. Cálido porque vivo, não apenas no sentido biológico, mas também no sentido semiótico, como texto. Evidentemente a palavra “texto” não se restringe apenas ao universo das palavras e da escrita verbal, mas se amplia para todo e qualquer código da comunicação humana. (CAMPELO, 1997, p. 10).

É de suma importância compreender que todas essas características semióticas estão intrínsecas no corpo, e que a partir do movimento conduzido pelo dançar a reprodução de outras tantas mensagens de caráter cultural direto ou subjetivo é possível. Seguindo essa linha de pensamento na qual, em O Corpo Representado – mídia, arte e produção de sentidos, Siqueira (2014) reafirma a pertinência do estudo do corpo como ferramenta midiática quando observa que “[...] atual e relevante indagar sobre as inúmeras e (im)prováveis relações que o corpo tece com a mídia e com a arte e que nos ensejam tentar classificações ousadas como corpo-mídia e corpo-arte” (SIQUEIRA, 2014, p.10).

Desse modo, será possível não apenas compreender as mensagens desenvolvidas por meio da dança, como também as contribuições que o estudo do movimento como linguagem proporciona ao campo da publicidade e da comunicação. Estudar o corpo é entender melhor o sujeito social; estudar seus movimentos pode ser uma forma de entender as mensagens intensificadas por meio desse corpo. Além disso, assim verifica-se como toda linguagem pode produzir textos de empoderamento feminino. A compreensão desses aspectos pode ser relevante às pesquisas acadêmicas na área da comunicação, bem como para o mercado publicitário, visto que ambos cenários necessitam cada vez mais entender a sociedade contemporânea e, no caso do mercado, produzir discursos com sentido e propósito para seu público.

A publicidade é um processo de comunicação que remonta ao início das relações comerciais inerentes aos grupos humanos, tendo sido aperfeiçoada e desenvolvida no passado recente a partir da consolidação do capitalismo durante e após a Revolução Industrial, bem como na expansão da sociedade de consumo. A construção da linguagem publicitária busca atingir o público consumidor através de uma mensagem objetivamente trabalhada no sentido de divulgar/favorecer a venda de um determinado produto ou serviço. Este discurso comunicativo é carregado de significados os quais podem sugerir, persuadir ou traduzir a realidade das relações da sociedade e também ser formador de novos cenários e práticas sociais (SANTAELLA, 2010).

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Na perspectiva da publicidade, Piedras (2009) aborda que embora seja uma ferramenta do mercado impulsionadora do sistema capitalista, é necessário entender que a publicidade é um campo de estudo amplo e refletir sobre outros tópicos da sua função. Desse modo, é fundamental “[...] pensar a publicidade como processo comunicativo constitutivo de certas práticas culturais, e não como mero instrumental mercadológico manipulador a serviço do capitalismo” (PIEDRAS, 2009, p. 15).

1.4. A história do Projeto

O projeto Lindalva originou-se em julho de 2014, na comunidade de Carnaúba do Padre, distrito da cidade de Pedro Velho, uma comunidade pequena e interiorana do Rio Grande do Norte. Foi no distrito Carnaúba do Padre que fica na região norte do RN, a 78km da capital do estado, que cresceram meus avôs maternos e onde se criou a minha mãe Maria Goreth. Foi ela que na época, pedagoga e diretora da única escola da comunidade, que me convidou para dar aula para essas garotas, a fim de prepará-las para uma apresentação do colégio. Quando adolescente fiz parte do time da escola em que estudei de dança e aeróbica. Foi aí então que começou a história do projeto que até então era apenas uma preparação para um evento na escola Municipal Padre Leôncio, onde se leciona para alunos do ensino fundamental I, fundamental II e o EJA e a escola tem em torno de 280 alunos, unindo os três períodos de manhã, tarde e noite.

O grupo começou com quatro integrantes apenas e nos encontrávamos para desenvolver os ensaios no centro pastoral da igreja católica da comunidade, os ensaios ocorriam normalmente nos sábados e domingos com uma durabilidade de três horas em média, com o decorrer dos dias fomos nos aproximando e nos conhecendo melhor e logo no início do projeto em poucos meses de ensaios e de encontros, percebi que antes mesmo de ocorrer esse evento da escola, havia muitos comentários negativos em relação às meninas. Dizia-se, por exemplo, que elas não sabem fazer nada, que não iriam conseguir. Então, percebi que apesar de serem crianças, as mesmas eram tão subjugadas e desmotivadas. Constatei quão importante era o meu apoio, o diálogo e o incentivo que poderia oferecer para elas.

A primeira apresentação ocorreu em novembro de 2014 (FIGURA 1). Lembro claramente a reação das pessoas ao vê-las, impactadas. Como garotas dali, em tão pouco tempo, conseguiram fazer uma apresentação daquela? O resultado foi tão surpreendente, comentou-se o quanto elas eram talentosas, os professores foram surpreendidos com o desempenho delas e, logo, elas foram convidadas a se apresentar em outras cidades vizinhas no mesmo ano.

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Figura 1- Primeira apresentação do grupo, amostra cultural e educação na cidade de Pedro Velho, 2014

Fonte: Arquivo do Projeto Lindalva

No ano seguinte em 2015, decidi continuar com o projeto, como o resultado da apresentação impactou muita gente na comunidade, despertou o interesses de outras meninas a entrarem no grupo, então decidimos em grupo que outras meninas deveriam tentar e fazer parte da equipe, encontros e ensaios, entraram algumas garotas na época, porém muito crianças, não se acostumaram com rotina de todo final de semana ter que se encontrar, ter disciplina com horários e acabaram algumas desistindo devido a isso, entre sete garotas que tentaram se adaptar ficaram apenas duas delas. Continuamos com as atividades do grupo, todo ano a escola Municipal Padre Leôncio promovia esse evento de abertura de atividades esportivas e culturais e a participação delas era essencial, pois era o único grupo além da capoeira que era um grupo formado apenas por homens, então ter um grupo como o Lindalva, formado apenas por meninas era de suma importância.

Foi apenas em 2017 que decidimos dar um nome ao grupo, uma decisão que tomamos em conjunto, todas votaram e optamos por escolher o nome Lindalva, pois é o nome da minha falecida avó que sempre incentivou as atividades e fazia questão em assistir todas as

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apresentações do grupo, ela foi a única a incentivar minhas atividades na dança e no esporte na época da adolescência, conforme relatei no começo deste capítulo.

O grupo sempre teve cunho social, as integrantes nunca pagaram pelas aulas. Inicialmente, o grupo teve o apoio da escola em ceder espaço para os encontros. Após três anos, passamos a nos reunir em uma Associação da Comunidade, cujo prédio é compartilhado com a igreja católica da comunidade, onde permanecemos até 2018. O grupo tentava arrecadar dinheiro para figurinos, para estruturas para eventos, bem como para o transporte. Para isso, nós mesmos fazíamos bazar beneficentes, rifas e vendíamos doces em eventos da comunidade. Neste ano, também recebemos novas integrantes ao grupo, passamos de onze para vinte participantes. No entanto após alguns meses algumas garotas desistiram e o grupo ficou com 12 integrantes no total e foram as que até hoje permaneceram e decidimos por assim ficar até hoje. Em 2017 e 2018, realizamos nossos primeiros eventos sozinhas, com toda produção e organização feita pelo grupo, arrecadarmos dinheiro para evento e para o figurino do grupo.

Em 2017, onde ocorreu o primeiro evento produzido pelo Lindalva, vestimos a camiseta do Girl Power, e realizamos uma apresentação onde nós garotas nos intitulamos no poder, no controle da nossa própria história (FIGURA 2). No ano seguinte 2018, fizemos novamente o evento que foi ainda maior e mais uma vez mostramos através dos nossos discursos e performance que nos mantivemos fortes e unidas. Todos os anos nos reunimos para comemorar quaisquer datas, aniversários, encontros descontraídos, entre outros, então comecei a perceber, conversando com elas e as observando, que esses encontros eram essenciais para elas. A cada encontro que realizava descobria coisas que elas não tinham ou que nunca tinham feito, que não só o projeto tinha me despertado, como elas se sentiam despertadas em pequenos gestos.

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Figura 2- Peças de divulgação do evento de dança para Facebook, 2017

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Foi em dezembro de 2018 em um encontro apenas para confraternização do grupo assim como os outros já ocorridos, que sentamos para conversar e expormos algumas ideias e sentimentos que tínhamos. Sentei com elas e agradeci, pelas atitudes delas comigo, pela união delas, pela dedicação e por todos os anos de convívio e aprendizagem que tínhamos vivenciado. Me surpreendi quando cada uma delas também me agradeceu pela oportunidade, por tê-las incentivado e apoiado até mesmo sem perceber, em relação aos seus corpos, a situações com suas famílias, a segurança e a consideração que o projeto pode proporcionar. E foi a partir desse momento que percebi que estava mudando a perspectiva delas em se verem e como se viam ao seu redor. Por isso, ao finalizar o curso superior em Publicidade e Propaganda busquei relatar esta experiência e como ela foi e é importante na minha formação como cidadã e profissional. O projeto Lindalva é um grupo feminino que busca através das práticas da dança se posicionar de forma crítica perante a imagem da mulher em uma sociedade e comunidade machista e patriarcal. Atualmente, o Lindalva realiza além da dança, oficinas e atividades que elevam a autoestima de jovens mulheres, rodas de diálogo sobre temas como feminismo, empoderamento feminino, sororidade, corpo e autoestima.

A violência contra a mulher no Brasil é ampla e está no centro da vida cotidiana das vítimas. Segundo dados do Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP) divulgados em 26 de fevereiro de 2019, ao menos 27% das mulheres do País sofreram algum de tipo de violência ou agressão. O levantamento aponta que há mais 4,6 milhões de mulheres agredidas (batida, empurrão ou chute) no Brasil no último ano. São 536 mulheres por hora. Para violências de qualquer tipo são 16 milhões de mulheres – ou 1.830 vítimas por hora. O índice cresce mais quando falamos de assédio, que inclui cantadas, comentários desrespeitosos e/ou humilhação.

Como foi identificado atualmente vivemos em uma sociedade onde os índices de violência contra mulher são crescentes. Deste modo é necessário incentivar e ensinar a garotas e mulheres que elas não estão sozinhas, que juntas unimos forças e que não, não devemos aceitar ser oprimidas, assediadas e impedidas de fazer algo que uma sociedade não aceita. O projeto hoje não só tem o objetivo de contar a história dessas garotas através da dança, como também de se impor e se representar perante a sociedade e a comunidade.

Sempre foi importante para as participantes do projeto e de outras meninas da comunidade enxergar que não existe destaque apenas para garotos no ambiente escolar e social, é essencial ter essa representação em uma comunidade onde não tem incentivo a atividades culturais e sociais, principalmente para garotas. O projeto Lindalva foi o primeiro e único a ter essa representatividade em uma comunidade onde a população é extremamente patriarcal, machista e marginalizada.

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Em 2016 e 2017 entraram novas integrantes ao grupo, totalizando em torno de vinte garotas. O projeto também sofreu desistências, dentre os motivos as participantes que se ausentaram indicaram questões pessoais relacionadas a ciúmes de seus companheiros, rigidez familiar e também conflitos de orientação religiosa.

Em que meio social e que realidade essas garotas vivem? É complicado imaginar tantas realidades duras para garotas tão jovens, porém elas existem e causam impacto muito forte em como elas se comunicam e como elas se enxergam. Por isso, o grupo em meados de 2017 se posicionou de forma mais forte nessa questão de se intitular como grupo feminista e trazendo a representatividade feminina para aquela comunidade, além de ser um grupo composto apenas por garotas, era nossa preocupação como ele era visto e como ele ia se portar perante a comunidade para defender essa ideia. Desta forma, para deixar mais claro possível, fazíamos posts dos eventos nas redes sociais, com fotos e com discursos de empoderamento e sororidade feminina, em nossas apresentações, difundindo a mensagem de garotas com poder de voz para dizerem e se portarem de forma livre.

A partir disso toda oportunidade de apresentação em diversos lugares, seja na comunidade ou não, contávamos um pouco da nossa história antes de nos apresentarmos e como era importante para o projeto fortalecer nossa identidade como um grupo que se preocupa com realidade das mulheres, composto apenas por garotas, pelas conquistas obtidas e que não nos apresentamos apenas por dançar e sim para contar nossa trajetória e como queríamos ser vistas. A questão corporal foi uma preocupação do grupo, através da música, da coreografia e da vestimenta podíamos falar que uma garota não é aquilo que a sociedade enxerga.

O grupo se destacava onde passava, não só pela dança, mas por nossa história, diferente de outros grupos de dança da redondeza, o grupo Lindalva se distinguia sempre pela quantidade de integrantes e por serem apenas garotas. O grupo tem como modelo a frase Girl Power traduzida do inglês, garotas no poder, essa frase era um subtítulo do grupo, estava presente em publicações de eventos, ensaios, camisetas do grupo e é claramente uma motivação para o grupo, trazendo como afirmação daquilo que tínhamos e que queríamos passar para o público.

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Figura 3- Peça de divulgação do evento de dança para Facebook, 2018

Fonte: Arquivo do Projeto Lindalva

Figura 4- Evento de Dança produzido pelo grupo Lindalva em Carnaúba do Padre, 2018

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Figura 5-Foto para comemoração e memorização de quatro anos do projeto Lindalva, 2018

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A composição do trabalho social sintetiza a pesquisa de avaliação de impacto do projeto Lindalva, sob a perspectiva da educomunicação e dos fundamentos dos conceitos sociais de empoderamento, sororidade, representatividade e autoestima, buscando práticas sociais consistentes voltadas para a melhoria da qualidade de vida e construção de relacionamentos duradouros entre o grupo, tendo em vista que o seu julgamento e opinião são elementos fundamentais neste processo.

O impacto social que estávamos colocando através de uma mudança interna e externa do grupo é de extrema positividade para projeto Lindalva e isso é mensurado pelo bem-estar das integrantes do grupo e dos relacionamentos restaurados e igualitários das mesmas entre si e com o meio social em que vivem, criando um posicionamento pré-estabelecidos por meio da reflexão e do diálogo. Buscamos entender como uma aplicação de compreensão do corpo como mídia e apontar para as mudanças necessárias na concepção de cultura, defendendo a ideia que o indivíduo usa o corpo para pensar e agir. O projeto Lindalva utiliza através da expressão do corpo e dança para analisar questões sociais de uma comunidade e um meio social em que vive.

É através da mídia-corpo que formamos um senso crítico de pensamento perante as situações do âmbito social, primeiramente nós entendemos como indivíduo de um meio e após como nos comunicamos nesse meio, o projeto tem uma correlação entre educação e comunicação, é através dessas vertentes que criamos uma atmosfera para dialogar com os temas de representatividade feminina e empoderamento feminino.

Os métodos utilizados no projeto são através de oficinas dialogais, onde se compartilha opiniões e vivências das alunas e através deste meio assim tentar se permitir entender e se posicionar perante situações de preconceito e opressão vividas pelas integrantes do projeto na comunidade em que se encontram. No próximo capítulo, nos dedicaremos a refletir sobre a educomunicação e como podemos articular expressão artística através dos movimentos com o empoderamento e o desenvolvimento da cidadania.

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Capítulo II – EDUCOMUNICAÇÃO

A Educomunicação é um campo de conhecimento com identidade própria, que surge no espaço comum entre os campos da comunicação e da educação, em que eles se entrecruzam, sobrepondo-se. A comunicação sempre educa e a educomunicação preocupa-se com ela e com a educação, assim como preocupa-se preocupa com o potencial educativo da comunicação midiática.

A mídia no Brasil é considerada uma instância de educação informal. A maior parte dos produtos midiáticos é voltada ao entretenimento, contudo, mesmo não tendo a intenção de educar, a comunicação midiática contribui para a educação da população tanto quanto os produtos jornalísticos que, ao fornecerem informação seletiva sobre os fatos, são determinantes para que as pessoas construam sua visão de mundo.

A proposta de comunicação dialógica de Paulo Freire estimula e incentiva à consciência crítica para a transformação social. Os meios de comunicação não transmitindo informações com a perspectiva dialógica, abre portas aos meios de comunicado, como enfatiza Freire (2003, p.26 apud RIBEIRO, 2013, p.87) “na verdade, o que se está fazendo, em grande parte, com os meios de comunicação, é comunicado! Em lugar de haver comunicação real, o que está havendo é transferência de dados, que são ideológicos e que partem muito bem vestidos.” O feedback midiático é anulado, não havendo a democratização para os meios, inoculando a liberdade de acesso à informação.

Segundo Ismar Soares (2002, p.17) a construção de ecossistemas comunicacionais abre portas para novas possibilidades de crescimento do consciente cidadão. São novos ambientes de atuação que estão surgindo, da interface comunicação e da educação. A formação de cidadãos com consciência crítica, que analisem com teor as mensagens recebidas tem sido um desafio, pois muitas vezes, estes indivíduos ficam à mercê das informações sem domínio midiático do suporte.

A educomunicação tem como princípio estimular o diálogo na sociedade de forma que as pessoas sempre expressem suas opiniões, pessoalmente usando as mídias como a internet, televisão entre outros meios de comunicação e para isso adota uma metodologia pedagógica unindo a educação e a comunicação, elegendo maneiras de utilizar e produzir mídias durante o aprendizado. Dessa forma o professor pode criar uma aula mais dinâmica chamando mais atenção do aluno, a educomunicação pode ser utilizada por toda a sociedade pode adotar métodos da educomunicação para melhorar o dia a dia criando discussões,

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reflexões, informação e solucionando problemas da comunidade, conforme Ismar Soares destaca:

A educomunicação quer intervir para ampliar a consciência e a participação crítica dos sujeitos nos ecossistemas. O trabalho do educomunicador é planejar, aplicar e avaliar ações, no âmbito das áreas de intervenção, apresentadas na sequência. Seu objetivo, junto às mais diversas comunidades, é implantar, ampliar ou fortalecer ecossistemas comunicativos, cuidando para que eles mantenham um elevado coeficiente dialógico entre seus membros (SOARES, 2003).

Assim, concluímos que o maior objetivo da educomunicação é formar cidadãos críticos e conscientizados a partir do uso da comunicação – teoria e prática – como forma de educação. Comunicar para ampliar a cidadania, criando e praticando conteúdos vistos de formar mais lúdica e criativa,

a Educomunicação como o conjunto das ações inerentes ao planejamento, implementação e avaliação de processos, programas e produtos destinados a criar e fortalecer ecossistemas comunicativos em espaços educativos presenciais ou virtuais, assim como melhorar o coeficiente comunicativo das ações educativas, incluindo as relacionadas ao uso dos recursos da informação no processo de aprendizagem (SOARES, 2002, p. 24).

A educomunicação se utiliza das experiências para saber como a tecnologia da informação e da comunicação podem favorecer nos processos de ensino-aprendizagem. Em um contexto socioeconômico e sociocultural com uma proposta de formar uma visão crítica. Para o sujeito se tornar participante da realidade social que vive, o educomunicador tem a função de lhe apresentar uma forma de conexão com essa realidade.

Isso acontece por meio da apresentação de novas tecnologias, de discussões sobre a mídia e seus efeitos e da utilização da comunicação – compreendendo três níveis diferentes: sujeito (comunicação individual), comunidade e nação. Por isso, a educomunicação tem como missão “formar o julgamento, o senso crítico, o pensamento hipotético e dedutivo, as faculdades de observação e de pesquisa [...], a imaginação, a leitura e a análise de textos e de imagens, a representação de redes, de procedimentos e de estratégias de comunicação” (PERRENOUD, 2000, p.128).

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Tendo em vista que a educomunicação é o estudo que interliga a comunicação e a educação através de mídias e dos meios, buscando a interdisciplinaridade, ocasionando o pensamento e a atividade perante aos que praticam a arte trazendo da arte o meio de expressão e comunicação vemos que de acordo com esse pensamento o conceito de Ismar Soares o qual qual sintetiza abaixo está relacionando a arte como meio de expressão comunicativa da educomunicação.

A área da expressão comunicativa através das artes: as ações nessa área buscam incentivar as pessoas a se expressarem tanto em ambientes formais como informais de ensino e propõem um forte elo com as artes. Na prática as atividades são realizadas por educadores com conhecimento artístico, garantindo espaços de comunicação, relações pessoais e interpessoais, bem como a livre expressão dos indivíduos. (SOARES, 2010, p. 45)

O poder da educomunicação está diretamente ligada à sua capacidade de interligar meios em prol de um objetivo social, educativo e comunicacional, trazendo uma perspectiva diferente de pensamentos diante a uma comunidade e realidade de âmbito social, trazendo também um senso crítico a partir da temática e dos meios abordados de determinada atividade e tema. A partir disso trazendo a dança como uma perspectiva social e empoderada em uma esfera feminista.

Diante desse cenário buscando esclarecer como os sistemas de comunicação social são formalmente constituídos, principalmente os de educação e de mídias, bem como estabelecer relações entre a otimização do funcionamento desses sistemas e as práticas da educomunicação, que visam contribuir para a ampliação da cidadania através do direito à expressão, informação e comunicação.

A educomunicação tem como proposta estimular o desenvolvimento da consciência crítica no indivíduo. E diante do cenário atual que podemos realizar a busca de respostas sobre como a linguagem da dança pode contribuir com a construção de mensagens, de maneira que é possível comunicar o empoderamento feminino através da dança no discurso midiático, cumprindo assim um papel social.

2.2. A Expressão Comunicativa por meio da dança

A Expressão Comunicativa por meio da Arte trata de uma aproximação entre a Educomunicação e os campos da Arte e da Arte/Educação, pois é perceptível que, em projetos

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educomunicativos, questões sensíveis à arte potencializam a criação e a melhoria de ecossistemas comunicativos, como também a expressão e o protagonismo dos envolvidos no processo educativo. A definição da área de intervenção Expressão Comunicativa por meio da Arte tem foco no termo “expressão” e considera a arte como ferramenta do processo, não dando conta da profundidade que a arte pode trazer em sua forma de experienciar o mundo.

Especificamente sobre a área de intervenção Expressão Comunicativa por meio da Arte, Soares a apresenta “identificando a prática social da imersão no fato artístico como forma de expressão criativa, assegurando o direito e a oportunidade de se fazer comunicação”.

Por meio da Arte como prática social que possibilita formas de Comunicação com a utilização de linguagens artísticas, utilizando inclusive os termos “expressão” e “manifestação artística” em sua definição. Soares salienta que as diversas linguagens da Arte têm um potencial criativo que, aliado aos estudos e elementos artísticos, pode ajudar na descoberta de diferentes formas de expressão, que vão “para além da racionalidade abstrata”.

O autor valoriza a experiência adquirida ao fazer e ao ler arte, no caminho de mostrar que o sensível e o emocional fazem parte da construção da identidade e dos saberes coletivos e individuais. É importante destacar também a relação que Soares faz com a área da Arte/Educação, pois entende que suas práticas são próximas, mas assegura que as da Expressão Comunicativa por meio da Arte são primordialmente focadas no processo comunicativo.

Também indica que essa área de intervenção deve ir além da expressão escrita, ampliando seus horizontes inclusive para expressão não oral. Machado também destaca que Expressão Comunicativa por meio da Arte, ao pôr em foco o aspecto comunicacional das Artes e o protagonismo do jovem, pode ajudar na capacidade criadora e expressiva ao trabalhar suas percepções e emoções.

Neste ponto é possível citar a contribuição de Lígia Beatriz Carvalho de Almeida, professora do Curso Superior de Comunicação Social com ênfase em Educomunicação da Universidade Federal de Campina Grande (UFCG), doutora em Educação, mestre em Comunicação Midiática e graduada em Comunicação Social e Pedagogia. Em parceria com Anny Karenine Barreto de Melo, Almeida demonstra que a Expressão Comunicativa por meio da Arte permite uma educação dos sentidos. Em outras palavras, da mesma maneira que Machado, Almeida e Melo entendem que, mesmo colocando o foco no fator comunicacional, a área de intervenção tem dimensões estéticas que podem ser potencializadas. Chamam atenção também para o fato de esta área de intervenção ter potencial interdisciplinar.

Almeida afirma a importância da pluralidade de linguagens e da possibilidade de construção de identidades, por meio do fortalecimento da cultura das comunidades, enquanto

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características da Arte que podem ser aproveitadas em projetos educomunicativos. Almeida faz referência também à relação da Arte e dos meios de Comunicação com as tecnologias, entendendo que isso é potencialmente interessante, pois possibilita a produção e o compartilhamento de forma dinâmica e facilitada pelos recursos da web, por exemplo.

Por meio destes conceitos foi percebido que a dança como meio de arte é possível ser um meio também comunicativo, em que ajuda na expressividade e criatividade, potencializando o modo ao qual nos expressamos, por instrumento da dança é possível usar o corpo como mídia, desencadeando um meio de comunicar.

2.3. Educomunicação e dança

A educomunicação tem como pressuposto a inovação de práticas educacionais por meio da comunicação e das mídias, no entanto também tem interligação com as áreas das artes, o que nós fazemos analisar a dança como meio de expressão comunicativa de indivíduos, e dança e corpo como meio de mídia. A utilização do corpo como meio comunicativo, o corpo como mídia proporciona não só a expressão da fala através do corpo como também a comunicação do indivíduo consigo mesmo e para o público. E por meio disso desenvolvemos aqui reflexões através da educomunicação e dança, para melhor entendimento de tais funcionalidades e conceitos, enxergando a dança como meio de intervenção e inovação para a comunicação. A partir do conceito de intervenção que se define da seguinte maneira:

Em educomunicação, intervenção não significa interdição, invasão, imposição ou interrupção, o sentido é o da realização de atividades, da proposta de alternativas inovadoras, da mediação, da oferta de referências libertadoras, que usualmente, por diferentes motivos, não são vislumbradas pelos membros de uma comunidade (SOARES apud ALMEIDA, 2016, p.7).

Conforme Soares (2014), as atividades de intervenção estão alocadas em sete diferentes modalidades ou áreas, são elas: 1) educação para a comunicação; 2) pedagogia da comunicação; 3) gestão da comunicação; 4) mediação tecnológica na educação; 5) produção midiática educativa; 6) expressão comunicativa por meio de linguagens artísticas e 7) epistemologia da educomunicação.

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Ações interventivas propõem desenvolver estratégias que fomentem as ideias espontaneamente na sociedade de acordo com suas necessidades. As áreas de intervenção da Educomunicação foram sistematizadas com base nas práticas desencadeadas na população, inserido nesta interface educação e comunicação. As áreas de intervenção vêm com a proposta de aguçar o conhecimento utilizando de métodos que ajudam a sociedade a observar o mundo com novos olhares, promovendo a busca de autoconhecimento bem como proporcionando a consciência do seu lugar neste mundo e o poder transformador que tem nas mãos.

À exemplo da área expressão comunicativa através das artes, que promove a liberdade de expressão, através da arte, estimulando a criatividade e interação artística, aprimorando a sensibilidade e contribuindo com a disseminação da comunicação em seu grau independente, como explica Almeida destaca “práticas que valorizam a autonomia comunicativa das crianças e jovens mediante a expressão artística – arte-educação”, não havendo termos que limitam a criatividade e liberdade que a arte em sua plenitude oferece compreendendo que "[…] todo sujeito é livre e independente do resultado final, o processo educomunicativo em si, no qual se dá a ação, a comunicação e a produção de sentidos, é transformador e inclusivo" (ALMEIDA, 2016, p.8).

A dança é uma antiga forma de expressão corporal e humana que transmite significados com funções psicológicas, cognitivas, emocionais e sociais para o indivíduo. Devido à sua importância, as habilidades da dança foram transmitidas de pessoa para pessoa desde épocas remotas. A inter-relação comunicação e educação em contextos de ensino e aprendizagem da dança são inseridos no seguinte pensamento. Define-se assim:

Conhecimentos e formação de atitudes e valores que reflitam no desenvolvimento integral do jovem. As atividades também devem desenvolver habilidades gerais, tais como a capacidade comunicativa e a inclusão digital de modo a orientar o jovem para a escolha profissional, bem como realizar ações com foco na convivência social por meio da arte-cultura e esporte-lazer. As intervenções devem valorizar a pluralidade e a singularidade da condição juvenil e suas formas particulares de sociabilidade; sensibilizar para os desafios da realidade social, cultural, ambiental e política de seu meio social; criar oportunidades de acesso a direitos; estimular práticas associativas e as diferentes formas de expressão dos interesses, posicionamentos e visões de mundo de jovens no espaço público (Livro de Tipificação Nacional dos Serviços Socioassistenciais, 2009, p. 11).

A dança por exemplo é uma prática de ensino que existe atividades para a formação de pessoas e à reflexão sobre a importância desse trabalho. As práticas educomunicativas

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podem estabelecer uma relação entre a Comunicação e a educação, contribuindo para a construção coletiva de saberes, obtida dos movimentos sociais e populares sendo assim a dança um instrumento de aprendizagem, expressão e liberdade. Como está citado pela autora Cicilia Maria Krohling Peruzzo.

Compreender os discursos presentes no corpo que dança e, mais especificamente, identificar de que forma essa construção de pensamentos através da educomunicação podem construir mensagens de empoderamento feminino. Buscando compreender as formas de comunicação exercidas pela linguagem corporal, discutindo e percebendo de que maneira essas expressões reproduzem textos sócio político culturais através da dança. Da mesma forma trazendo a perspectiva do corpo, percebendo a magnitude do corpo na construção da identidade feminina, para que assim, seja possível entender como o empoderamento feminino acontece.

A comunicação não se realiza necessariamente através da linguagem verbal. Por intermédio de experiências no campo da arte também é possível a expressão de vivências e de sensações singulares que tornam essas produções artísticas em forma de linguagem. Tornado assim a dança em um meio de expressão sociocultural, trazendo uma vertente como o empoderamento feminino, através do corpo e da linguagem.

No próximo capítulo, nos empregaremos a refletir sobre os conceitos do empoderamento e a sororidade, a qual implica suas práticas e reflexões, englobando também a autoestima através desses conceitos. Como também iremos colocar as práticas e questionamento das atividades abordadas, como a metodologia das oficinas realizadas, projeto de intervenção, análise de questionário e os resultados obtidos.

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Capítulo III - A EXPERIÊNCIA DO PROJETO LINDALVA

3.1. Movimento feminista

A luta pela liberdade de direitos e escolhas, desencadeou movimentos feministas que marcou vários anos da história da causa, um dos muitos conhecidos foi no final da década de 60, onde surgiam conflitos nos EUA e na Europa. Foi um marco histórico do movimento feminista, o protesto da queima dos sutiãs, ao qual as mulheres ativistas do movimento Wolman´s Liberation Moviment dos EUA, aspiravam atear fogo em objetos como sutiãs, maquiagens, espartilhos e outros objetos que as a induzissem a um absolutismo de beleza. Com a intervenção da mídia, tal ato trouxe uma repercussão a nível mundial.

A luta das mulheres está na liberdade de um senso moral construído pela cultura machista ao qual ainda vivemos. Não é apenas uma luta a qual visa igualdade econômica e política entre homens e mulheres, e sim a conquista do seu lugar de fala e ação. A construção de uma sociedade livre de relações preconceituosas e discriminações é primordial.

Emancipar-se é equiparar-se ao homem em direitos jurídicos, políticos e econômicos. Corresponde à busca de igualdade. Libertar-se é querer ir mais adiante, marcar a diferença, realçar as condições que regem a alteridade 3 Na cultura machista, a mulher é considerada inferior ao homem, que, atribui a figura masculina maior capacidade e reconhecimento social colocando a mulher em posição desigual, pressup. 6 nas relações de gênero, de modo a afirmar a mulher como indivíduo autônomo, independente, dotado de plenitude humana e tão sujeito frente ao homem quanto o homem frente à mulher. (CHRISTO, 2001).

A luta das mulheres, dessa maneira, se direciona tanto para a reivindicação dos direitos civis e políticos, quanto para as organizações de trabalhadores, no sentido do apoio para as suas protestações que acima de tudo reivindicavam por igualdade e liberdade para todos e todas. O movimento de mulheres, exerceram papel fundamental nas conquistas históricas como no âmbito social, para o reconhecimento de igualdade entre homens e mulheres.

O movimento feminista vem sendo compreendido e interpretado, por dois diferentes momentos, retratados como ondas do movimento feminista, aos quais sendo elas definidas, fundamentalmente pelos períodos históricos em que se inserem e pela apresentação de rupturas, descontinuidades e mudanças em suas pautas, atrizes, conquistas e interesses” (VELOSO, 2016, p.40) . Isto é, são ondas que delimitaram as práticas, os

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discursos e as dinâmicas do feminismo: onde designam cruciais diferenças entre o movimento iniciado nas décadas finais do séc. XIX período ao qual ocorreu a “primeira onda”, e a década de 1960, quando surge a “segunda onda”. O movimento feminista possui sua própria reflexão crítica teoria e tem sua história marcada por reivindicações e por exemplos de mulheres que se rebelaram contra o modelo do patriarcado existente na sociedade.

O movimento feminista faz parte de um processo de construção de uma identidade feminina voltada para a emancipação política e social da mulher (MENDES, 2015, p. 89). A cada "onda feminista” se fez necessário um trabalho e processo aos quais é preciso dar voz das mulheres. O movimento constitui a compreensão da causa como parte de um processo totalizado da sociedade, da política e dos governos, já que repetidamente e diariamente os governos não oportuniza a representatividade das mulheres nas instituições públicas, limitando as progressões das mulheres em cargos de poder.

O feminismo pós-segunda onda veio propiciar lugar de fala, a articulação e a organização não as mulheres em um eixo, uma bolha ao qual estão as mulheres brancas por exemplo, mais sim todas essas personas como mulheres negras, indígenas, da periferia, trans, entre muitas outras, em prol de um protagonismo próprio, que parte princípio básico do movimento feminista que é você querer ser da maneira que deseja ser e escolher o que você quer ser independentemente, além da busca de espaço e assumir lugares de poder, como na política e poder público.

Atualmente está em pauta o feminismo contemporâneo, e um dos pontos primordiais do movimento atualmente é o uso político da Internet, possibilitando a constituição de redes que aprofundassem contatos de diferentes organizações e grupos feministas. Os movimentos tiveram suas ações facilitadas pelo uso ativista da internet, mais especificamente de redes sociais como Facebook, Twitter, Instagram, e entre outras. Proporcionando formas de expandir e comunicar ações do movimento, discutindo e construindo os vários trabalhos feministas que estão em diálogo, porém muitas vezes em disputa, não só nas ruas, na academia como também na web (ALVAREZ 2014; FRANÇA, FACCHINI 2016).

É neste momento que a internet emerge como ponto referencial e constitutivo de redes e pontos de contato entre grupos e organizações feministas, criando "outras redes de comunicação a partir das apropriações da atividade como instrumento de ação política e recurso de identificação" (Ferreira, 2015: 208). Atualmente o movimento presente do

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feminismo, possibilita a imersão de muitas mulheres que estão inseridas no movimento feminista, ao qual se apropria do cenário digital para mobilizar, articular e dar voz a causa de forma muito mais rápida, dando ênfase as situações de combate direto, como também as práticas ativistas combatentes do comportamento machista em ação na nossa sociedade.

A imagem a qual o senso comum qualifica o feminismo, é inexistente e abominável, taxando o movimento de um movimento ao qual são mulheres que odeiam homens, nunca se depilam, e muitas outras qualificações negativas, devido a isso quem não têm conhecimento do feminismo costuma vê-lo de forma negativa.

É preciso, discutir feminismo em diversos espaços, não só em espaços privilegiados, mais também alcançar mulheres em todas as escalas sociais. Através da discussão teórica do feminismo se dá a base para se discutir também empoderamento nas circunstancia individuais e coletivas. Não podemos reduzir o feminismo, um movimento político ao qual tem mais de 130 anos, e tem muito peso para nós mulheres estarmos hoje onde estamos.

O feminismo é para todas e entender que feminismo é a luta pela igualdade entre homens e mulheres, é essencial, no entanto é necessário repensar e mudar comportamentos de nós mulheres para que o feminismo abarque mulheres socialmente mais vulneráveis. o feminismo representa um movimento antissísmico, um movimento ao qual luta contra o sistema patriarcal, machista e sexista e é necessário abarcar o máximo de mulheres possíveis, principalmente aquelas que ainda não tem acesso e conhecimento a respeito.

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3.2. Empoderamento, Sororidade e Autoestima

No dicionário da Britânica Universidade de Cambridge, o significado da palavra empowerment , termo ao qual o sociólogo Julian Rappaport (1977) descreve, tem o significado de que é um processo ao qual se ganha liberdade e poder para fazer o que você quer e controlar aquilo que acontece com você, dessa forma se ter autonomia de escolha e decisão. O empoderamento é um instrumento de liberdade, ao qual nós mulheres devemos nos aproximar e tomar como ponto de partida para nos encorajar a decidir sobre os nossos direitos.

De acordo com filosofa alemã Hanna Arendt (1991), pode-se pensar empoderamento como uma ação em coletivo, ela defende que o poder corresponde a habilidade humana não apenas para agir, mais para agir em conjunto, ou seja se um grupo ou movimento se permanece unido em busca de uma ação como , por exemplo, a luta pelos direitos igualitários ele se empodera a partir do momento que decide que juntos iram lutar por algo que acreditam. O ato de empoderar se dá individualmente através da liberdade de escolha desde a forma que você se porta, fala, veste, até um ato de compra algo, por exemplo, como também o ato de empoderar se está no coletivo, empoderando no conjunto.

De acordo com Berth “(…) quando assumimos que estamos dando poder, em verdade, estamos falando na condução articulada de indivíduos e grupos por diversos estágios de autoafirmação, autovalorização, autorreconhecimento e autoconhecimento de si mesmo e de suas mais variadas habilidades humanas, de sua história, principalmente, um entendimento sobre sua condição social e política e, por sua vez, um estado psicológico perceptivo do que se passa ao seu redor” (2018, p.14).

Diante dessas considerações devemos pensar o empoderamento como conceito que que tem o poder e a ação como meio de atividade para um indivíduo, devemos trabalhar o empoderamento desde muito cedo, para não só ter o autoconhecimento e liberdade de escolha como também da participação política de um indivíduo na sociedade, bem como a descolonidade do conhecimento para o alcance de direitos. A coletividade empoderada não pode ser formada por individualidades e subjetividades que não estejam conscientemente atuantes dentro de processos de empoderamento” BERTH (p. 42). Desta maneira, além do ensino ao qual se dá através do ato empoderar, como é primordial para mudanças sociais e políticas sendo vistas e executadas na realidade atual.

Quando falamos de empoderamento, principalmente nos dias de hoje, concluímos que estamos diante de um contexto ao qual pensar no empoderamento é não só pensar como

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algo que está em alta e sim como algo que resulta de forma positiva e coletiva socialmente. A ideia do termo “empoderamento” como algo acrítico e subjugado é pressentível devido a popularização e banalização do termo, muitos meios econômicos da indústria e midiáticos se apropriaram do discurso para promover o consumismo, distorcendo a ideia e o conceito do empoderamento.

No livro “Vamos Juntas?” da autora Babi Souza, do ano de 2016, ao qual ela relata sobre sororidade, feminismo e empoderamento de forma dinâmica e conta um pouco sobre sua experiência ao escrever o livro e ter criado o guia da sororidade para todas, ela descreve o empoderamento de uma forma bem objetiva, classificando e destacando pontos cruciais que percorrem na desigualdade entre homens e mulheres na nossa sociedade. A autora dialoga sobre como nós mulheres aprendemos desde infância que temos menos direitos do que os homens, e que por isso acabamos nos adaptando ao segundo lugar, o que desencadeia também a ideia de que mulheres são inferiores aos homens devido a condição biológica de que é mais frágil ou algo do gênero.

Algo muito importante observado no livro da autora Babi Souza é que ela descreve situações aos quais nós mulheres vivenciamos e somos ensinadas de formas diferentes, como por exemplo, nós mulheres aprendemos desde pequenas que devemos ter cuidado ao sentar, a não sentar sem postura, não abrir as pernas, termos cuidado ao falar, não podemos brincar livremente, brincamos de bonecas e casinha, já os homens sentam da forma que querem, com pernas abertas, brincam de armas e carrinhos, esse exemplo e posicionamento da autora nós faz refletir o quanto a desigualdade entre gêneros é imposta pela criação e pela sociedade.

Todas essas situações são exemplos de uma sociedade sexista, a qual designam atividades pra mulheres e para os homens, de forma que a mulher sempre está como mãe, dona de casa, a que cozinha, já o homem é o que bebe cerveja, é o que trabalha e sustenta a casa, estes pontos são bem claros de uma sociedade patriarcal a qual não incentiva a mulher de nenhuma forma a ser livre e a se posicionar, contribuindo para uma sociedade menos igualitária.

O que nos leva até o machismo, e algumas das ideias machistas que estão diariamente presentes em nosso cotidiano, como por exemplo, mulheres devem ser recatas para não perderem o valor, a responsabilidade da casa e dos filhos é da mulher, as mulheres não tem capacidade de fazer trabalhos braçais, mulheres são sempre rivais, mulheres sempre estão em busca de atenção masculina.

O termo empoderamento feminino se torna pertinente, pois é necessário que mulheres possam acreditas nelas, acreditar que são merecedoras de tudo que a neste mundo, que

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merecemos igualdade e respeito. Empoderar significa apropriar-se do direito de existir na sociedade, e para isso nós mulheres precisamos reconhecer esses direitos e entender que somos merecedoras.

O empoderamento é algo que pode ser realizado de forma social quanto individual, a mulher deve cultivar esse trabalho interno, estimulando sua autoestima, seu autoconhecimento, se enxergando de forma positiva e maravilhosa. O ato de empoderar estará também interligado com a autoestima, a autoestima representa como nos enxergamos, de fato é muito complicado nós enxergar em meio a tantos questionamentos que nós mulheres nos colocamos devido ao meio social em que vivemos, por exemplo, a mídia é um grande precursor de estereótipos e padrões de beleza, ao qual somos vítimas, pois são inúmeras as mulheres que tentam mudar e se colocar em imagens de mulheres as quais são irreais, seja por fotoshop, maquiagem, entre outros, se deixando submeter a padrões estéticos e se frustrando por não atingi-los.

O empoderamento é de fato um percurso para nós mulheres não nos vermos como objetos da sociedade e da mídia, o empoderamento deve ser praticado cada vez mais e desde cedo, pois sabemos que é necessário para darmos força e liberdade as milhares de mulheres.

São práticas do empoderamento se amar de verdade, aceitar seu corpo e ser feliz consigo mesmo, defender que nada justifica a violência contra a mulher, entender que a mulher tem tantos direitos e capacidade quanto o homem para realizar o que quiser, fazer suas próprias escolhas sem deixar que a opinião dos outros te influencie negativamente, dizer não a qualquer tipo de abuso e preconceito, não cobrar das mulheres ao seu redor o padrão de beleza imposto pela mídia e sempre incentivar e apoiar as mulheres ao seu redor.

Faz parte também do empoderamento o conceito da sororidade, termo esse que tem como relevância a união e aliança entre mulheres, baseados na empatia e companheirismo, em busca de objetivos em comum, como por exemplo é objetivo de nós mulheres nos apoiar, nós incentivar e alcançar nossos direitos de igualdade, em prol de uma sociedade mais justa. Nós mulheres lutamos a muitos anos por nossos direitos, e a sororidade venho a somar.

No inglês sonority é ligado a um conjunto de moças estudantes, como os grupos de universidades de países como os Estados Unidos, ao qual moram juntas durante toda a faculdade. Sororidade é a versão feminina de fraternidade, da qual o prefixo “frater” quer dizer irmão, termo esses que vemos sempre usados tantos por homens quanto por mulheres, onde muitas vezes não tem conhecimento da para sororidade. É comum encontrar pessoas reproduzindo discurso de que irmandade é para homens e que mulheres não tem a capacidade

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