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Empreendedorismo e inovação social: a renovação da economia social

No documento ACALMA (páginas 35-37)

Parte I. Cuidar de um bebé: Desafios e respostas sociais

1.1.4. Empreendedorismo e inovação social: a renovação da economia social

O empreendedorismo social surge como um fenómeno associado à emergência de iniciativas que consubstanciam novas lógicas de intervenção, para dar resposta a novas ou persistentes necessidades sociais. Representa um papel preponderante na sociedade atual16, especialmente

quando os setores público e privado não conseguem alcançar um nível de satisfação adequado, de forma a superar as necessidades e os problemas sociais (Dumitru, Alves & Costa, 2012), emergindo o conceito de empreendedorismo social da composição de duas conceções mais antigas: a de empreendedorismo clássico e a de economia social (Parente & Quintão, 2014). Se para a economia social existem múltiplas terminologias, para o empreendedorismo social há uma multiplicidade de sentidos, que podem ir “desde a criação de uma organização não

13 As empresas de inserção designam organizações geridas de forma empresarial com missão de inserir social e

profissionalmente pessoas em risco de exclusão social (Parente & Quintão, 2014). A figura jurídica das Empresas de Inserção é criada em 1996 no âmbito do Mercado Social de Emprego, sendo formalizada e regulamentada em junho de 1998 (Quintão, 2008). Estas empresas, geridas por entidades da economia social, visam o desenvolvimento local pela promoção social e de um novo espírito empresarial que permita a resolução de problemas, como o desemprego, as baixas qualificações e formações, a pobreza e a exclusão social, através da criação de emprego e de atividades económicas para satisfação de necessidades sociais não contempladas (apoio domiciliário, serviços de proximidade, arranjo de espaços verdes, reabilitação e restauração do património) (Perista& Nogueira, 2010). A mesma fonte refere a criação de mais de 560 empresas de inserção em Portugal, reguladas pela Portaria nº348-A/98 de 16 de junho. À data atual, esta medida encontra-se revogada ao abrigo do Dec.Lei nº13/2015, de 26 de janeiro que aprova o novo enquadramento da política de emprego.

14 A EMES trata-se de uma rede de pesquisa sobre as empresas sociais na Europa criada em 1996.

15O Portugal 2020 é o acordo de parceria, assinado a 25 de junho de 2014 entre o Estado Português e a CE, que

define os princípios de programação que consagram a política de desenvolvimento económico, social e territorial para promover, em Portugal, entre 2014 e 2020, alinhados com os objetivos da Europa 2020 (Portugal 2020, 2015), de modo a apoiar, estimular e assegurar um novo ciclo nacional de crescimento e de criação de emprego (Eurocid, 2014). Enquanto parte deste processo e respetivos Programas Operacionais (PO), foi negociada a Iniciativa Portugal Inovação Social com o objetivo de financiar Iniciativas de Inovação e Empreendedorismo Social, quer pela aplicação direta dos Fundos Europeus Estruturais de Investimento e promoção do investimento social em Portugal (Portugal Inovação Social, 2015).

16 A CE refere um estudo de 2009 que avalia a parte da população ativa envolvida no empreendedorismo social

em 4,1% na Bélgica, 7,5% na Finlândia, 3,1% em França, 3,3% em Itália, 5,4% na Eslovénia e 5,7% no Reino Unido. Na Europa, cerca de uma em quatro empresas criadas serão empresas sociais. Este valor eleva-se a uma em três na Bélgica, na Finlândia e em França (COM/2011/0682 de 25 de outubro de 2011).

lucrativa, passando pela empresa lucrativa que apoia projetos sociais por via das ações de responsabilidade social, até à empresa que se dedica a negócios de vertente social.” (Parente & Quintão, 2014, p.14). Independentemente do tipo de abordagem ao empreendedorismo social, resultante da articulação das diferentes perspetivas, sobretudo as das escolas anglo- saxónica (mais orientada para o mercado) e francófona (mais orientada para a inovação social)17, interessa reconhecer o seu papel na melhoria das condições de vida. Assim, o

empreendedorismo social é entendido por Dumitru, Alves e Costa (2012), como um conjunto de atividades, ações ou tomada de decisões, desenvolvidas por um indivíduo ou organização, que identifica problemas sociais cuja resolução tem como intuito criar impacto social. A vocação do empreendedorismo e da inovação social é a criação de valor social, assumindo como objetivo central a melhoria da qualidade de vida e o bem-estar individual e coletivo, aproveitando as oportunidades e desenvolvendo projetos, colocando no centro da atividade económica, a supremacia da ética, da justiça social, do individuo e das suas reais necessidades (Costa, 2012). Sendo frequentemente concetualizado como um fenómeno capaz de produzir pequenas mudança a curto prazo, que se disseminam, pela sua ressonância e replicação, através de sistemas capazes de catalisar grandes mudanças a longo prazo, o empreendedorismo social está intimamente ligado à inovação social. André e Abreu (2006), definem a inovação social como uma resposta nova, socialmente reconhecida que visa e gera mudança social, tratando-se simultaneamente de uma metodologia e um processo através do qual se dá a mudança. Parente e Quintão (2014) acrescentam que integra também o próprio produto da intervenção que se traduz na criação de valor social para além do valor económico que possa ter. Neste contexto,

17 O empreendedorismo social pode ser mais orientado para o Mercado ou para a Inovação social, encontrando-

se a sua análise ancorada principalmente em duas perspetivas ligadas respetivamente às escolas anglófona e francófona: À anglófona típica dos países anglo-saxónicos, vai beber saberes da gestão empresarial, recorrendo aos contributos de Jean Say, para quem os empreendedores criam valor, movimentando recursos de áreas de menor produtividade para outras de maior; Joseph Shumpeter, que os descreve como inovadores capazes de reformar e revolucionar os modelos de produção; Peter Drucker, que alarga a definição de Say, referindo que não é necessário provocar a mudança mas antes aproveitar as oportunidades que surgem das mudanças (tecnológicas, normas sociais…) e Howard Stevenson, que concebe como cerne da questão empreendedora a procura de oportunidade sem ter em conta os recursos disponíveis no momento, uma vez que conseguem mobilizar recursos de outros para alcançar os seus objetivos (Dees, 2001). Esta perspetiva coloca “no centro das preocupações a sustentabilidade da organização com propósitos de cumprimento da sua missão social.” (Parente & Quintão, 2014, p.27), utilizando para tal os modelos de gestão privados direcionados para a eficiência e eficácia de resultados e inovação social, cujo sentido se aproxima do da mudança e transformação social. A Tradição francófona, vigente na Europa, enfatiza os resultados das ações e impacto social. Desenvolvida por Bill Dreyton, fundador da Ashoka (uma organização sem fins lucrativos sedeada na Índia, com foco no empreendedorismo social) em 1980, que aplica a definição de empreendedorismo de Shumpeter, aplicando-o em termos de produção de valor social. É desta escola que advém o conceito das empresas sociais, ancoradas nas tradições seculares da economia social e como “resposta das instituições aos desafios impostos pelas crises dos Estados-povidência, pelo aumento do desemprego e pela emergência de novos fenómenos de pobreza e exclusão social.” (Parente, Costa, Santos & Chaves, 2011, p.28). Esta perspetiva dirige a sua atenção mais para os objetivos a que se dedicam as organizações e os princípios de gestão participada e orientada para as partes interessadas, assegurando a perseguição de objetivos sociais (Defourny & Borzaga, 2001; Spear, 2006; Defourny & Nyssens, 2010 como citados em Parente & Quintão, 2014), em que a primazia cabe às pessoas e ao trabalho em detrimento do capital na distribuição dos excedentes e existe uma gestão independente face ao setor público e privado, com o objetivo de servir os membros, a comunidade e os interesses sociais.

Parente e Quintão (2014), acrescentam a estas perspetivas, o contributo da economia solidária da América latina que pugna por um mecanismo de coordenação oposto à lógica do interesse privado e onde o vínculo social de reciprocidade aparece como fundamento das relações de cooperação estabelecidas. Assente numa vertente de cidadania ativa, apresenta um projeto de sociedade alternativa, capaz de garantir a sobrevivência segundo uma lógica comunitária de vida.

a inovação social é perspetivada quer como um resultado, quer como uma ferramenta essencial para que o impacto social seja atingido (Parente, Marcos & Diogo, 2014).

O conceito de inovação pode ser variável e a inovação pode advir de diferentes circunstâncias, não implicando forçosamente inventar algo completamente novo. Pode significar a aplicação de uma ideia já existente num novo formato ou numa nova situação (Schumpeter, s.d. como citado em Carvalho, 2012), decorrente da forma como se estruturam os negócios ou como se obtêm determinados recursos. Reis e Santos (2012, p.116) reforçam esta ideia, referindo que “ser único não implica ser extravagante, nem ter muitos recursos técnicos ou financeiros. Basta conjugar os recursos que temos com a informação sobre aquilo que nos rodeia, e fazer algo ligeiramente diferente do que é oferecido pelos nossos concorrentes.”. Uma vez que a inovação pode dizer respeito à descoberta, definição ou exploração de oportunidades que melhorem o bem-estar social (Zahra, Gedaijlovic, Neubaum & Shulman, 2009; como citados em Parente & Quintão, 2014), as oportunidades são cruciais para os empreendedores sociais.

Num país envelhecido como Portugal, a palavra de ordem visa dar resposta a problemas ligados aos idosos, descurando inconscientemente outras áreas que sofrem com a atual conjuntura económica e social. Parte-se do princípio que a capacidade de cuidar de uma criança é instintiva, mas tal não é verdade, ter um filho é mais fácil do que ser pai/mãe. Deste hiato, surge a oportunidade de agir em prol da capacitação parental, disponibilizando as “armas” que promovam a autonomia dos pais para cuidar do seu filho com segurança. Uma vez que ser capaz de inovar implica “conhecer bem os nossos clientes e escolher o fator de diferenciação que eles valorizem mais.” (Reis & Santos, 2012, p.116), é necessário perceber quais os principais desafios com que os pais se deparam e a melhor forma de os enfrentar, utilizando as estratégias reconhecidas por estes como as que melhor respondem às suas necessidades.

No documento ACALMA (páginas 35-37)