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Empreendimentos financiados pela Cáritas, ONGs, Sindicatos, etc.

DISTRIBUIÇÃODOS EMPREENDIMENTOS POR “ANO DE INÍCIO” COMO EMPREENDIMENTO SOLIDÁRIO (BRASIL)

4.3.4 Empreendimentos financiados pela Cáritas, ONGs, Sindicatos, etc.

Há um conjunto de empreendimentos solidários que são originados e/ou apoiados por movimentos da sociedade civil ou instituições governamentais (estadual e federal), assim como pelo movimento sindical. Sobre este aspecto, Singer (2002) destaca a importância da atuação da Igreja Católica (especialmente, o trabalho da Cáritas47) para o fomento e apoio de experiências de economia solidária, assim como de ONGs e sindicatos. Revela, ainda, que a Ação da Cidadania contra a fome, a miséria e pela vida48, impulsionou o desenvolvimento da economia solidária no Brasil, uma vez que passou, a partir de 1994, não apenas a distribuir alimentos, mas também a fomentar projetos de geração de trabalho e renda.

Quanto ao movimento sindical, a análise da literatura especializada revela que o sindicato tem tido uma ação diferenciada frente às cooperativas de trabalho e produção, conforme as especificidades regionais. Nesta perspectiva, os sindicatos ora combatem as cooperativas, entendendo que muitas vezes estas têm sido utilizadas para viabilizar a terceirização do trabalho - como no caso das cooperativas instaladas no estado cearense e analisadas por Lima (2002)-; e em outros momentos tem proposto a constituição de cooperativas de trabalho e produção como alternativas de trabalho e renda para os trabalhadores de empresas em processo de falência ou para trabalhadores desempregados49. Entretanto, fica a seguinte indagação, surgida no

ensino superior do Brasil. 47

A Cáritas Brasileira se constitui numa instituição da Igreja Católica, sendo parte da Cáritas Internacional. Objetiva fornecer apoio à ação social da Igreja e sua estrutura orgânica está ligada a CNBB (Confederação Nacional dos Bispos do Brasil). Na década de 1990, a Cáritas muda seu foco de atuação: passa da ação assistencialista para uma postura de crítica ao capitalismo, por meio da proposição da solidariedade libertadora. E nesse contexto, que passa a fomentar as iniciativas comunitárias de geração de trabalho e renda, por meio dos projetos alternativos. Singer (2002, p. 118 e 119) relata que, em 1999, a Cáritas tinha promovido cerca de 750 projetos comunitários, envolvendo aproximadamente 17 mil pessoas.

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De acordo com Singer (2002), a Ação da Cidadania contra a fome, a miséria e pela vida se constitui num amplo movimento de massas, que em 1993, contava com 3 mil comitês distribuídos por todo o país. Em novembro de 2003, por uma iniciativa do sociólogo Betinho, a bandeira da geração de empregos é acionada.

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130 próprio movimento sindical: como adotar uma política de incentivo a economia solidária, sem que isso contribua para a expansão das falsas cooperativas?

Vainer (2001, p.57-58), numa perspectiva crítica, apresenta dois riscos eminentes relacionados ao apoio do movimento sindical ao cooperativismo: “1) risco de que as cooperativas ameacem, no seu interior, os direitos trabalhistas; 2) risco das cooperativas se transformarem em gestoras do trabalho apenas, do trabalho terceirizado, e neste sentido, o risco de cumprirem uma função estratégica no próprio processo de terceirização”.

Outro elemento presente no discurso sindical para dar apoio aos empreendimentos solidários diz respeito à necessidade, dadas as condições objetivas, de representação da classe trabalhadora como um todo, e não apenas dos trabalhadores assalariados. Assim, há um entendimento que os sindicatos precisam incorporar em sua base de representação os trabalhadores cooperados e desempregados; e o caminho para conseguir tal objetivo é o desenvolvimento de projetos e ações em torno da economia solidária. É nesta perspectiva que a CUT tem desenvolvido ações ligadas a economia solidária. As características dessa ação da CUT estão articuladas em quatro frentes:

1) uma política de organização sindical para incorporação dos desempregados e dos trabalhadores cooperados na base sindical; 2) a organização da Agência de Desenvolvimento solidário; 3) formulação de propostas de legislação relacionadas às questões da economia solidária; 4) formulação de políticas públicas para a economia solidária (MAGALHÃES e TODESCHINI, 2003, p. 154).

Em 1999, a CUT criou a Agência de Desenvolvimento Solidário (ADS), resultado de um amplo debate desenvolvido na Central sobre a economia solidária a partir do ano de 1997. A Agência tem desenvolvido suas atividades em parceria com instituições nacionais e internacionais, tais como: Fundação Unitrabalho, Dieese, ICCO (Organização Intereclesiástica para a Cooperação ao Desenvolvimento) e Agriterra (organizações não governamentais da Holanda), o Instituto de estudos Sociais (Universidade de Holanda) e o Robobank - Banco Cooperativo da Holanda. (MAGALHÃES e TODESCHINI, 2003, p. 155). O objetivo da ADS é fomentar, financiar, intermediar e acompanhar novas oportunidades de trabalho em organizações de cunho solidário, assim como contribuir com a formulação de alternativas de desenvolvimento frente ao desemprego50.

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Registra-se que no capítulo 6, apresenta-se de forma mais aprofundada o debate sobre a inserção da CUT no campo da economia solidária.

131 Contudo, apesar da importância das diversas iniciativas da sociedade civil no campo da economia solidária, aqui, destacaremos apenas o papel do movimento sindical para o desenvolvimento de experiências de economia solidária. Esta opção justifica-se por conta do objeto de pesquisa, que é a relação entre sindicalismo e cooperativismo. Existem três modalidades de empreendimentos solidários, quais sejam: 1) cooperativa; 2) associação; 3) grupos informais. As cooperativas e as associações se constituem em empreendimentos que possuem natureza jurídica definida. Ou seja, possuem um nível de formalização jurídica. Conforme demonstraremos na próxima seção, as cooperativas se constituem associações civis de pessoas sem fins mercantis ou lucrativos, que são formadas por um grupo de pessoas visando à exploração de uma atividade econômica em benefícios de seus membros, adotando a autogestão como modelo organizacional.

A diferença entre uma cooperativa e associação é que esta última não diz respeito apenas a atividades econômicas, como, por exemplo, as associações de bairro, de representação política, etc. Esta é uma das razões para que as cooperativas sejam consideradas o modelo ideal de organização econômica solidária. E por fim, os grupos informais dizem respeito a existência de empreendimentos solidários que funcionam sem assumir um formato jurídico, isto é, não são cooperativas e nem associações.

Na próxima seção, priorizaremos o debate em relação às cooperativas por serem o modelo ideal de empreendimento solidário e, por isso, mesmo o mais difundido no campo da economia solidária.