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Em resposta à questão verbal colocada sobre o fato de considerarem a atividade “puxada”, obtiveram-se algumas respostas: “ já acostumei...” (região B), ou

ainda “algum nervinho sai fora...é do serviço..”(região A), existiu uma questão

cultural para alguns observada como “tem sempre que doer alguma parte do corpo depois do trabalho”, ou “doer faz parte do trabalho”. Estes trabalhadores tenderam a considerar o fato da atividade exigir maior esforço físico como “natural”, ou seja, foi

comum escutar que a dor musculoesquelética é “normal” após as atividades de trabalho, principalmente trabalhadores do sexo masculino, novamente demonstrando crenças culturais.

Existe um risco de lombalgias neste trabalho manual que deve ser melhor investigado, visto que o número de comedouros é grande e a repetição do esforço se torna acentuada (o trabalhador deve encher cerca de 360 comedouros). Porém o enfoque é que alguns não dão mais valor ao esforço físico, em comentários como “já

acostumei com o peso..”, “já acostumei com o esforço..”, comentando ainda “é fácil trabalhar com frangos”, que o esforço não é nada. Outros trabalhadores colocam os

filhos, ou parentes nas atividades que exigiam sobrecargas físicas para auxiliá-los. Nas granjas houve trabalhadores que executavam as atividades sozinhos, e em outras com uma ou duas pessoas, em geral familiares que auxiliavam (filhos, primos ou marido/mulher), este fato variava conforme a região.

Aparecem as seguintes questões relevantes nesta etapa: alguns trabalhadores estavam mais satisfeitos que outros em relação ao trabalho, conforme observado nos relatos, bem como alguns apresentavam uma interação mais satisfatória em relação ao supervisor, e queixosos e não queixosos de dores musculoesqueléticas lombares. Fatores psicossociais devem influenciar a relação entre fatores biomecânicos e dor lombar, da mesma forma que demandas biomecânicas tem um grande efeito sobre as dores lombares sob pobres condições psicossociais.

O atraso dos pagamentos induziu para alguns ao medo de serem desligados à qualquer momento, pela instabilidade financeira da empresa, e gerando ainda uma insegurança em relação à sustentabilidade da família, mais observado nas granjas da região A. O “perfil” de trabalhadores da região do supervisor B foi diferente em relação à esta dependência da produção de frangos. Nesta região, os trabalhadores em geral apresentam outras formas de sustento como criação de porcos, produção de leite, lavoura, entre outros; e a produção de frangos somava a forma de sustento da família. Em resposta a pergunta se tem medo da empresa o desligar (região B):“ Medo? Um pouco sim..mas não tem motivo...”, “a empresa só

vai desligar dependendo da pessoa..”, nestes relatos afirmando que por serem bons

trabalhadores e darem o melhor de si, alguns não acreditavam que poderiam ser desligados mesmo com a empresa passando por dificuldades. Ainda com

características culturais como: “se parar procura outra atividade..tem outras

coisas...”.

Outros percebiam que não poderiam mudar de atividade, e arrumavam desculpas, sendo este “perfil” geral de trabalhadores encontrados nas granjas da região A: “tem coisa melhor para quem tem estudo, não prá gente...”. Algumas pessoas já entravam em um certo conformismo: “não me acostumaria com nada

mais...”, “não sei fazê outra coisa..”. Nestes comentários observamos uma maior

satisfação em relação ao trabalho, e um aspecto mais otimista em relação às crises enfrentadas na região B, portanto uma atitude mais positivista em relação ao trabalho.

Nesta fase a poeira dentro dos galpões era aparentemente maior que na fase anterior. A produção de poeira pela cama de criação, como comentado, é influenciada pelo tipo de material empregado, a temperatura e umidade da cama e pela atividade das aves ou da ventilação sobre a mesma. Algumas patologias podem surgir em decorrência da exposição a poeiras orgânicas, visto que contém alérgenos e irritantes, que incluem bronquite crônica, síndrome tóxica da poeira orgânica (organic dust toxic syndrome-ODTS) e sinusite.

A movimentação das aves maiores faz com que soltem penugens e aumentem a quantidade de poeira dentro dos galpões, portanto a velocidade nos deslocamentos dos trabalhadores dentro dos galpões pode induzir maior ou menor quantidade de poeira. Alguns trabalhadores executam as atividades com tranquilidade, e outros com rapidez demostrando pressa para a finalização do trabalho. Quanto a este fato, para alguns o trabalho é ruim dentro dos galpões nesta fase e por isso executam rapidamente as tarefas, e os que não se incomodavam dispendiam mais tempo dentro dos galpões.

Os trabalhadores não utilizaram nenhum equipamento de proteção durante estas atividades nas granjas observadas, e comentando com os demais entrevistados, não utilizavam por considerarem desconfortá veis. Comentários em relação à poeira e odor nesta fase: “ dá um ardume nos olhos...”, “é normal ter dor

de cabeça..”,“o cheiro fica forte.. na altura das aves não dá problema, mas pra gente...”, e ainda “as vezes o nariz chega a sangrar..”, estes comentários

demonstram riscos à saúde dos trabalhadores.

Nesta fase houve relatos de crenças em relação à saúde em ambas as regiões, como acentuavam os surgimentos de alguns sintomas veio o comentário:

“fico sempre doente”, ou ainda a crença de que sempre pega alguma doença muito

fácil. E mais relatos de irritabilidade, nervosismo, cansaço ao acordar: ”tenho muito

problema de nervo..” (se referindo ao nervosismo..), “tenho úlça nervosa ..”(se referindo ao nervosismo), “ a gente acorda já cansado..”.

Um relato sobre uma informação obtida por um médico de posto de saúde foi: “o médico diz que é bronquite crônica.. acha que é de um dia frio que não tratei

direito..”. Muitas informações sobre riscos à saúde são passadas de forma distorcida

aos trabalhadores rurais, que acabam por acreditar e criar algumas crenças, como o fato deste trabalhador acreditar que “se pegá uma gripe e não tratá direito, vira

bronquite crônica”.

Deveriam ainda trabalhar com botas nos pés, mas não as utilizam por serem quentes, preferindo trabalhar de chinelos ou às vezes descalços, colocando riscos de infecções em qualquer pequena lesão nos pés. Surgiram comentários, de alguns que mesmo sabendo do desconforto, insistiam em não utilizar as botas:

“corrói os dedos na fase final..”, “no final do lote fica ferida debaixo dos pés.. queima!..”, e ainda “a gente sua muito nos pé. .faz ferida nos dedos e arde..”.

Quando os animais vão crescendo o espaço começa a ficar reduzido para as aves, que sofrem facilmente pelo aumento de temperatura, cuidados com a ventilação são fundamentais, como demonstrado na Foto 9, abaixo.