CAPÍTULO 4. NOSSOS RESULTADOS E INTERPRETAÇÕES
DOS MESMOS
Neste capítulo, apresentamos e discutimos os resultados de nosso estudo considerando os dados de todos os licenciandos participantes, de forma a favorecer uma visão geral do desenvolvimento do conhecimento de conteúdo dos mesmos.
A fim de exemplificar as relações estabelecidas, consideramos a ordem cronológica dos encontros e discutimos: (i) as visões iniciais sobre Ciências dos licenciandos;; (ii) as ideias expressas pelos mesmos ao longo do processo;; e (iii) suas visões ao final do processo de coleta dos dados analisados neste estudo. Em relação às ideias expressas ao longo do processo, isto é feito em relação a três momentos: discussões iniciais;; primeira atividade: Kits Históricos;; e segunda atividade: Júri Simulado. Em cada uma dessas partes, também discutimos dados oriundos dos materiais escritos produzidos pelos licenciandos, inclusive os portfólios. Para completar a análise, estabelecemos relações entre os resultados apresentados em (iii) e os demais resultados apresentados anteriormente. Visando favorecer uma melhor compreensão do leitor sobre o contexto em que cada ideia foi expressa, para cada um dos encontros apresentamos uma síntese das atividades realizadas antes de apresentar e discutir as ideias expressas pelos licenciandos.
1º ENCONTRO – APRESENTAÇÃO
No primeiro encontro do projeto, a professora coordenadora realizou a apresentação da nova proposta do PIBID 2013-2014 e solicitou que os membros do grupo se apresentassem. Neste momento, cada licenciando teve a oportunidade de dizer nome, período, suas expectativas e objetivos com a participação no programa de iniciação à docência. Alguns destacaram que participar do projeto seria uma oportunidade para ter contato com o ambiente escolar e vivenciar a prática docente ainda durante a graduação, e integrantes
que participavam há mais tempo no programa demonstraram mais interessados com a nova proposta para o PIBID.
Nesse primeiro encontro, o objetivo foi discutir o papel do professor, seus conhecimentos (de conteúdo e pedagógico de conteúdo) e sua formação inicial e continuada. Como base para as discussões, foi utilizada parte da dissertação Formação Continuada de Professores de Química Buscando Inovação, Autonomia e Colaboração: Análise do desenvolvimento de seus conhecimentos sobre modelagem a partir do envolvimento em pesquisa-ação em um grupo colaborativo, de Figueirêdo (2008), uma vez que, neste trabalho, os conceitos a serem discutidos com os licenciandos são apresentados de forma bastante clara.
A professora iniciou as discussões perguntando sobre o que o professor de Química precisa para ser professor. Os primeiros argumentos dos licenciandos foram relacionados ao conhecimento de conteúdo, sem abordarem o conhecimento pedagógico.
“Isso tem haver com o que fala no texto da Kristianne. O professor tem que ter um conhecimento do conteúdo. Isso quer dizer que quando você vai explicar um conteúdo para o aluno, você tem que saber todo o fundamento que leva aquele conceito. Você tem que saber de onde que veio e porque que é assim. Você precisa provar pra ele porque aquilo é daquele jeito. Provar que aquilo não saiu do nada.” (Ana)
Observando que os licenciandos não apresentavam argumentos sobre o conhecimento pedagógico, a professora mencionou que alguns professores, apesar de saberem muito conteúdo, possuem dificuldades em “passar” seus conhecimentos. A partir daí, ela introduziu o conceito de conhecimento pedagógico de conteúdo, apresentando-o como o conhecimento que distingue o professor dos demais profissionais, estando relacionado com a habilidade de favorecer a aprendizagem e tornar esse processo mais fácil e acessível para o aluno. Ela também enfatizou que este é um conhecimento que o professor vai desenvolver ao longo dos anos a partir dos diferentes contextos de ensino e
destacou o papel do PIBID, pois o mesmo favorece que o licenciando vá para a escola e que possa desenvolver esse conteúdo.
Depois dessa discussão, dois grupos, definidos em encontro anterior (que não compõem o escopo dessa pesquisa) apresentaram resumidamente elementos de dois textos. O primeiro grupo ficou responsável pelo texto Formação Continuada dos Professores de Química (Lima, 1996). Na apresentação, os estudantes contextualizaram o trabalho realizado nas escolas de uma fundação, a participação de seus professores de Química na elaboração de material didático próprio e estabeleceram relações com a dissertação discutida naquele encontro. As discussões desse grupo destacaram a importância do planejamento das atividades em parceria com e não para o professor. O segundo grupo apresentou o texto Concepções e Alertas sobre Formação Continuada de Professores de Química (Schnetzler, 2002). A partir deste texto foram discutidos os pontos positivos e negativos da formação continuada, com destaque para a possibilidade de reflexão sobre a prática docente como um dos pontos positivos.
Disciplinas e Aspectos
Nesse primeiro encontro, as discussões se voltaram mais para os conhecimentos dos professores, não favorecendo muito discussões sobre a visão de Ciências dos licenciandos. Apesar disso, no início, os licenciandos expressaram ideias relacionadas às suas visões sobre Ciências, sendo identificados cinco momentos5 em que aspectos das disciplinas Filosofia e História foram citados, como nos exemplos abaixo6:
“Porque se não você chega lá pega o livro didático explica para o aluno como se fosse um dogma. Se você fala para o aluno: É assim e pronto acabou. O aluno pensa assim: E daí? Você tira a visão crítica do aluno. Aí o aluno não aprende a pensar. É importante isso. Porque se você explica a Química como uma Ciência que pode ser
5 Como destacado no capítulo anterior, esses momentos não consideram o número de vezes em que um mesmo aspecto é citado pelo mesmo licenciando.
renovada, o aluno passa a se interessar. Porque se não ele vai ficar achando que a Química é uma coisa de se decorar.” (Maria – Filosofia: natureza do conhecimento científico)
“A questão da Ciência não como religião que você crê, mas uma coisa que você fundamenta... Que ela não é uma verdade absoluta. Ela vai sendo formada ao longo do tempo. Ela nunca vai acabar. Ela vai estar sempre em construção.” (Júlia – Filosofia: natureza do conhecimento científico e processo de produção do conhecimento científico;; História: desenvolvimento do conhecimento científico ao longo do tempo)
Considerando todos os cinco momentos em que visões sobre Ciências foram expressas neste primeiro encontro, em relação à disciplina Filosofia foram citados os aspectos: ‘natureza do conhecimento científico’;; ‘processo de produção do conhecimento científico’ e ‘processo de aceitação do conhecimento científico’. Por outro lado, em relação à disciplina História apenas um aspecto foi contemplado nas ideias expressas pelos licenciandos: ‘desenvolvimento do conhecimento científico ao longo do tempo’.