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Capítulo 3 Caracterização energética de uma unidade hoteleira

3.2 A energia nos hotéis

A energia necessária para se satisfazer, num edifício, as necessidades de climatização, aquecimento de água, iluminação, etc., depende de três tipos de factores:

 do comportamento dos utilizadores, nomeadamente do seu grau de exigência e padrão de utilização;

 do valor absoluto das necessidades de energia útil final, função das características do próprio edifício, nomeadamente da sua envolvente, arquitectura, tipologia e localização e do comportamento dos utilizadores, acima referido;

 da eficiência energética dos equipamentos utilizados para a satisfação das necessidades referidas no ponto anterior.

Num estabelecimento hoteleiro, as exigências em termos de serviços, de infra-estruturas, de dimensão dos espaços e de conforto, características que determinam o seu tipo e categoria, bem como o grau de exigência dos seus clientes, em geral tanto maior quanto maior for a categoria do estabelecimento, têm influência sobre os consumos de energia, podendo, à partida, estabelecer-se uma relação directa entre estes. Como exemplo, conforme referido anteriormente, um hotel de 5 estrelas é, em princípio, energeticamente mais exigente que um hotel de categoria inferior. No entanto, nem sempre assim acontece e os estudos efectuados aos estabelecimentos hoteleiros de 4 e 5 estrelas e aos de 3 estrelas do Algarve [3, 4, 5], assim o demonstram.

Contudo, mais importante que a quantidade de energia que é consumida num estabelecimento hoteleiro é a forma como ela é consumida. Como se referiu, um dos factores que condiciona o

32 Se bem que Hotéis seja a classificação de um grupo específico de estabelecimentos hoteleiros, daqui em diante os dois conceitos passam a misturar-se.

consumo de energia dum edifício, ou equipamento, relaciona-se com o comportamento dos seus utilizadores. Assim, mesmo tratando-se de um edifício, ou equipamento, considerado energeticamente eficiente, podem observar-se grandes desperdícios de energia resultado da sua má utilização. São exemplos típicos destas situações encontrarem-se lâmpadas acesas em pleno dia e em locais com iluminação natural suficiente, arrefecer ou aquecer espaços não ocupados, ter equipamentos ligados sem necessidade, etc.. Um exemplo que ilustra esta última situação e que é frequente encontrar em hotéis, principalmente nos de grande dimensão e categoria, refere-se a alguns equipamentos de cozinha, nomeadamente fogões e fornos – é corrente os cozinheiros, assim que entram ao serviço, ligarem estes equipamentos e mantê-los permanentemente em funcionamento, mesmo não havendo essa necessidade. Este tipo de comportamento é possível controlar através, por exemplo, de acções que visem motivar os utilizadores para a Utilização Racional de Energia, principalmente numa perspectiva ambiental, normalmente melhor aceite. Contudo, no que respeita aos clientes (hóspedes) de um hotel esta tarefa poderá ser mais complicada e até mesmo não justificada, podendo muitas vezes ser, inclusivamente, mal interpretada. O seguinte exemplo ilustra uma medida de caracter ambiental divulgada junto dos clientes e que é hoje vulgar encontrar em vários hotéis 33:

“O Hotel ******** quer manter-se verde... e por isso, segue a tendência mundial de evitar o desperdício e a poluição.

São lavadas diariamente, em hotéis de todo o mundo, toneladas de toalhas desnecessariamente, aumentando a já enorme quantidade de detergentes poluidores das nossas águas.

Se também deseja um “planeta mais limpo”, por favor comunique-nos da seguinte forma: - Toalhas repostas no toalheiro, significa: “Irei utilizá-la novamente”

- Toalhas colocadas na banheira, significa: “Favor mudar””.

Trata-se de uma medida que apela à sensibilidade ambiental dos clientes, com implicações directas na redução do impacto ambiental da actividade hoteleira, mas igualmente com implicações económicas as quais se reflectem, por um lado, na redução dos custos de energia, água, detergentes e pessoal e, por outro, numa imagem “amiga do ambiente” – este é um aspecto

33 Desconhece-se a origem exacta desta medida mas há mais de uma década que hotéis membros da associação The Leading Hotels of the World fazem a sua divulgação. Em Portugal, fazem parte desta associação o Hotel Quinta do Lago, Vila Vita Park, Hotel Albatroz, Lapa Palace, Reid’s Palace (Madeira) e Caesar Park Penha Longa Golf Resort.

que poderá e deverá ser explorado de diversas formas, aproveitando a crescente preocupação e sensibilização em relação ao ambiente, principalmente por parte dos turistas do Norte da Europa, e que tratará vantagens em termos competitivos para a hotelaria na região e, simultaneamente, contribuirá para a sustentabilidade da própria actividade. No entanto, este tipo de medidas poderá ser mal interpretado por alguns clientes, os quais vêem nelas não uma preocupação ambiental por parte do hotel mas sim uma forma de redução de custos. Na realidade, como se referiu, são ambas as coisas mas, uma vez que o ambiente desperta mais a atenção dos turistas e dos utilizadores em geral, poderá, e deverá, ser utilizado como forma de valorização e promoção do produto hoteleiro – a política ambiental de uma unidade hoteleira, onde se incluem medidas de racionalização de consumos de energia e água, utilização de energias renováveis, reciclagem de produtos, aproveitamento de águas residuais, etc., poderá ser divulgada junto dos seus clientes, como forma de promoção do hotel e da própria região.

O objectivo fundamental de qualquer unidade hoteleira é a satisfação dos seus clientes, sendo para tal necessário oferecer um conjunto de condições de conforto, de infra-estruturas e de serviços adequados à categoria da unidade. A implementação de medidas que visem a redução de consumos de energia, sobretudo aquelas que tenham implicações directas nos utilizadores, não poderá colocar em causa essa satisfação, devendo pois ser bem ponderada, tendo em consideração a heterogeneidade dos clientes e a subjectividade do seu próprio “conforto” – as reacções a estas medidas poderão ser diversas, conduzindo assim, frequentemente, a reclamações.

As características do edifício, nomeadamente no que respeita à sua envolvente (“qualidade” de construção), à sua arquitectura e à sua localização são outros factores a ter em consideração e que afectam os consumos de energia dos equipamentos e instalações. Um mesmo edifício tem necessidades energéticas distintas se se situar num clima distinto – por exemplo, um hotel no Algarve terá necessidades energéticas diferentes que o mesmo hotel construído no Norte do país, pelo menos no que respeita à energia consumida nos equipamentos de climatização dos espaços (arrefecimento e aquecimento). Da mesma forma, as necessidades energéticas de um determinado edifício serão função dos materiais utilizados na sua construção – por exemplo, se se utilizarem, ou não, isolamentos térmicos, se se utilizarem vidros duplos ou vidros simples, etc.. No que respeita à arquitectura, um exemplo que poderá ilustrar a sua influência nas necessidades

energéticas de um edifício, é o da utilização de envidraçados – se por um lado estes poderão reduzir as necessidades de iluminação artificial, por outro poderão fazer aumentar as necessidades de energia para arrefecimento no Verão. Relativamente à localização, é importante conhecer a situação geográfica do hotel (longitude e latitude), enquanto que no que respeita ao meio, é necessário saber se está localizado numa área urbana, rural, costeira, montanhosa, ou industrial. Outras considerações importantes, são a disponibilidade de fontes de energia convencionais e renováveis e as condições climáticas e ambientais do local.

Todos estes factores relacionados com as características dos edifícios, integrando aspectos de natureza construtiva, arquitectónica e de localização, e que determinam, em parte, as suas necessidades de energia, são tidos, directa ou indirectamente, em consideração no Regulamento das Características do Comportamento Térmico dos Edifícios [19]. Este regulamento, apesar de não constituir um instrumento de cálculo das necessidades energéticas de um edifício, poderá servir como base na comparação de soluções, permitindo, de uma forma aproximada, ter uma noção das necessidades globais de energia resultantes de cada uma.

A Utilização Racional de Energia começa pois na fase de projecto de um edifício, através da escolha criteriosa e equilibrada de soluções construtivas e arquitectónicas que visem a minimização dos consumos de energia, nomeadamente daqueles necessários à satisfação das condições de conforto interior (aquecimento, arrefecimento, iluminação, etc.).