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Regulamento das Características de Comportamento Térmico dos Edifícios – RCCTE

Capítulo 2 Instrumentos de gestão de energia em edifícios

2.3 Regulamento das Características de Comportamento Térmico dos Edifícios – RCCTE

O Regulamento das Características de Comportamento Térmico dos Edifícios (Decreto-Lei n.º 40/90, de 6 de Fevereiro) [19] tem como objectivo principal o estabelecimento de um conjunto de regras a observar no projecto de edifícios por forma a que, por um lado, as exigências de conforto térmico no seu interior sejam asseguradas sem dispêndio excessivo de energia e, por outro, os elementos de construção não sofram os efeitos patológicos derivados de condensações. A grande preocupação deste regulamento centra-se, sobretudo na qualidade térmica da envolvente dos edifícios, fundamentalmente no que respeita ao isolamento térmico dos elementos que a constituem. Assim, o RCCTE impõe que a envolvente dos edifícios tenha de ter níveis mínimos de isolamento térmico nas paredes, pavimentos e coberturas, bem como sombreamentos no Verão, por forma a que, quem quiser climatizar esses edifícios para garantia de um nível adequado de conforto, o possa fazer sem consumos exagerados de energia. Mais, tenta mesmo assegurar que, no Verão, neste tipo de edifícios, não seja necessária a climatização (arrefecimento) para garantia de conforto.

Assim, para além de estabelecer requisitos mínimos da qualidade térmica da envolvente (coeficientes de transmissão térmica16 e factores solares17), o RCCTE limita as necessidades

nominais de energia útil18 para aquecimento e para arrefecimento do edifício (ou, mais

correctamente, de cada zona independente19 do edifício).

Por forma a ter em consideração a influência do clima nas necessidades nominais de energia do edifício, bem como na definição dos índices e parâmetros de caracterização térmica do edifício, o

16 Coeficiente de transmissão térmica (de um elemento da envolvente) – é a quantidade de calor por unidade de tempo que atravessa uma superfície de área unitária desse elemento da envolvente por unidade de diferença de temperatura entre os ambientes que ele separa.

17 Factor solar (de um envidraçado ou de um vidro) – é o quociente entre a energia que entra através de um vão envidraçado (ou de um vidro) e a radiação solar que nele incide.

18 Necessidades nominais de energia útil – é o parâmetro que exprime a quantidade de energia útil necessária para manter em permanência um local a um nível de temperatura de referência durante uma estação de aquecimento ou de arrefecimento.

19 Por zona independente de um edifício entende-se, para efeitos de aplicação do RCCTE, cada uma das partes do edifício dotadas de contador individual de consumo de energia e cujo direito de propriedade ou fruição seja transmissível autonomamente.

RCCTE divide o país em três zonas climáticas de Inverno, I1, I2, I3, e em três zonas climáticas de

Verão, V1, V2, V3, ambas por ordem crescente de rigor do clima, sendo para cada zona definidos

dados climáticos de referência de Inverno20 e de Verão21. Cada concelho do País é assim

caracterizado através da sua zona climática de Inverno e de Verão. Na figura seguinte apresenta- se a divisão climática da região do Algarve.

Figura 2.1 – Divisão climática da região do Algarve, de acordo com o RCCTE.

Como se pode observar, a maioria dos concelhos algarvios (13) têm um clima considerado ameno no Inverno e moderado no Verão. Exceptuam-se os concelhos de Monchique, com um Verão considerado mais rigoroso e os concelhos de Castro Marim e de Alcoutim que, para além dum Verão igualmente rigoroso, têm um Inverno considerado moderado.

Esta metodologia de divisão do país em regiões climáticas, que teve a sua origem no RCCTE, foi adoptada noutros regulamentos e no desenvolvimento de alguns estudos.

O RCCTE constituiu uma primeira base regulamentar e pressuposto essencial à adopção de outras medidas relativas à utilização de energia em edifícios. Este regulamento, ainda que considerado muito moderado em termos de exigências, teve um grande impacto nos edifícios portugueses. Hoje, passados mais de dez anos do início da sua aplicação, aliás, nem sempre

20 (número médio de graus-dias de aquecimento, energia solar média incidente numa superfície vertical orientada a Sul na estação de aquecimento)

21 (valores da temperatura exterior de projecto e da amplitude térmica diária e valores da duração média da insolação na estação de arrefecimento)

Zona Climática I1 - V2

Zona Climática I1 – V3

rigorosa por parte das autarquias, praticamente todos os edifícios passaram a utilizar isolamentos térmicos e muitos têm vidros duplos mesmo que o RCCTE não os indique como obrigatórios. Sobretudo, os utilizadores cada vez mais exigem-no e, por isso, a prática de uma melhoria térmica dos edifícios, não sendo boa, é no mínimo satisfatória. A “Térmica”, de que em 1990 praticamente ninguém falava, é um dos aspectos que é agora abordado rotineiramente no projecto e na construção, e existem dados estatísticos que demonstram claramente os progressos efectuados na melhoria do desempenho térmico dos edifícios portugueses na última década. A sua eficaz aplicação depende de uma adequada verificação técnica do projecto no que respeita ao cumprimento do disposto no regulamento e de uma fiscalização efectiva, por parte das entidades licenciadoras e/ou fiscalizadoras, sobretudo na fase de construção. De uma forma geral, a sua aplicação tem sido bem sucedida, pelo menos no que respeita à fase de licenciamento do projecto dos edifícios, uma vez que é exigido pela generalidade das entidades licenciadoras (câmaras municipais na maioria dos casos). O sucesso da sua aplicação efectiva reflecte-se por um lado na contribuição para a diminuição da parcela do consumo de energia primária referente aos edifícios e, por outro, na melhoria da sua qualidade de construção. Perspectiva-se para breve uma revisão deste regulamento, no sentido de o tornar mais exigente, procurando contribuir-se, desta forma, para contrariar a taxa crescente do consumo de energia nos edifícios.

2.4 Regulamento dos Sistemas Energéticos de Climatização em Edifícios –