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O Regulamento do Exercício Profissional dos Enfermeiros (REPE), define enfermagem como a profissão, na área da saúde que tem como objetivo prestar cuidados de enfermagem ao ser humano, são ou doente, ao longo do ciclo vital, e aos grupos sociais em que ele está integrado, de forma a manter, melhorar e recuperar a saúde, ajudando-os a atingir a sua máxima capacidade funcional tão rapidamente quanto possível (Decreto-Lei nº 161/96, de 04 de setembro).

O enfermeiro especialista é aquele que reúne características e competências que o fazem diferenciar no seio de uma equipa, nomeadamente a capacidade de observação, de avaliação, e previsão de complicações, mas ao mesmo tempo, liderar e coordenar intervenções que têm de ser precisas e concisas para a resolução de problemas. O REPE refere que o enfermeiro especialista é aquele “...a quem foi atribuído um título profissional que lhe reconhece competências científica, técnica e humana para prestar, além de cuidados de enfermagem gerais, cuidados de enfermagem especializados na área da sua especialidade” (Decreto-Lei nº 161/96, de 04 de setembro, p. 2960).

O enfermeiro Especialista reúne um conjunto de competências, conhecimentos e capacidades que coloca na sua prática clínica diária. Segundo o Regulamento das Competências Específicas do Enfermeiro Especialista em Enfermagem em Pessoa em Situação Crítica, estes cuidados de enfermagem são dirigidos à pessoa em situação crítica uma vez que, a vida está ameaçada por falência de uma ou mais funções vitais e que a sua sobrevivência depende de meios avançados de vigilância, monitorização e terapêutica. A complexidade da situação e as respostas face à pessoa em situação crítica, requer do enfermeiro especialista a mobilização de conhecimentos e habilidades para responder em tempo útil e de forma holística.

Neste regulamento são definidas as três principais competências do enfermeiro especialista na pessoa em situação crítica, entre elas, a de cuidar da pessoa a vivenciar processos complexos de doença crítica e/ou falência orgânica (Regulamento nº 124/2011, de 18 fevereiro).

Assim, cuidados de enfermagem à pessoa em situação crítica são cuidados altamente qualificados que se prestam de forma contínua à pessoa com uma ou mais funções vitais em risco imediato, dando resposta às suas necessidades e permite manter as funções básicas de vida, prevenindo. Estes cuidados de enfermagem exigem observação, colheita e procura contínua, com o objetivo de conhecer continuamente a situação da

pessoa alvo de cuidados, prevenindo e detetando precocemente complicações (Ordem dos Enfermeiros, 2011).

Segundo o Estatuto da Ordem dos Enfermeiros (Lei nº 156/2015, de 16 de setembro), é possível verificar no artigo nº 97, que é dever dos enfermeiros “…exercer a profissão com os adequados conhecimentos científicos e técnicos, com respeito pela vida, pela dignidade humana e pela saúde e bem-estar da população, adotando todas as medidas que visem melhorar a qualidade dos cuidados e serviços de enfermagem” (p.8078). No artigo nº 109, o enfermeiro na procura da excelência do exercício assume o dever de: alínea c) “Manter a atualização continuada dos seus conhecimentos e utilizar de forma competente as tecnologias, sem esquecer a formação permanente e aprofundar nas ciências humanas” (p.8080).

No domínio da pessoa em situação crítica, o enfermeiro especialista em enfermagem médico-cirúrgica tem como principais competências específicas: cuidar da pessoa a experienciar processos complexos de doença crítica e ou de falência orgânica; dinamizar a resposta a situações de catástrofe ou emergência multi-vítima, da conceção à ação e maximizar a intervenção na prevenção e controlo da infeção. No domínio da pessoa com doença crónica e paliativa, as principais competências consistem em: cuidar da pessoa com doença crónica, incapacitante e terminal, dos seus cuidadores e familiares, em todos os contextos de prática clínica, diminuindo o seu sofrimento, maximizando o seu bem-estar, conforto e qualidade de vida; estabelecer uma relação terapêutica com pessoas com doença crónica incapacitante e terminal, com os seus cuidadores e familiares, para facilitar o processo de adaptação às perdas sucessivas e à morte (Almeida, 2017).

Ainda em conformidade com Almeida (2017), os últimos dados disponíveis, datados de 31 de dezembro de 2015, documentam a existência de 2.815 enfermeiros especialistas em enfermagem médico-cirúrgica inscritos na Ordem dos Enfermeiros. À semelhança da falta de enfermeiros nos serviços, também há carência de enfermeiros especialistas em enfermagem médico-cirúrgica, apesar de haver especialistas a desenvolverem as funções na sua área de especialização, mas que não são reconhecidos como tal. O mesmo autor argumenta também que, em Portugal, pelas suas competências específicas, poder-se-ia ter ganhos consideráveis com o reforço de enfermeiros especialistas em enfermagem médico- cirúrgica, sobretudo com competências na área da pessoa em situação crítica nos serviços de emergência pré-hospitalar, nos serviços de urgência, nas unidades de cuidados intensivos, nos blocos operatórios, bem como noutras unidades de internamento hospitalar. Almeida (2017) não deixa de enfatizar a importância do valor acrescentado dos enfermeiros especialistas com competências na área da pessoa com doença crónica e paliativa, a título exemplificativo, nos serviços de cuidados paliativos, nas equipas de suporte em cuidados

paliativos intra e extra hospitalares, nas equipas de apoio domiciliário, nas áreas da gestão da pessoa com doença crónica, entre outros.

O Curso de Mestrado em Enfermagem Médico-Cirúrgica, aprovado pelo despacho nº 9128/2012, no Diário da República. N.º 129, 2ª série de 5 de julho, visa assegurar a aquisição e/ou o desenvolvimento de competências científicas, técnicas, relacionais, éticas e de investigação para intervenção na prestação de cuidados de enfermagem especializados na área clínica de enfermagem médico-cirúrgica; dotar os enfermeiros de competências especializadas que lhes possibilitem prestar cuidados ao doente em estado crítico/emergente, privilegiando certos serviços, como, por exemplo, os serviços de urgência geral, as unidades de cuidados intensivos e os serviços de bloco operatório. Os cuidados de enfermagem prestados à pessoa em situação crítica são “altamente qualificados, prestados de forma contínua à pessoa com uma ou mais funções vitais em risco imediato, como resposta às necessidades afetadas e permitindo manter as funções básicas de vida, prevenindo complicações e limitando incapacidades, tendo em vista à sua recuperação total” (Regulamento nº 124/2011, p.4). Por tal, os enfermeiros especialistas em enfermagem médico-cirúrgica integram equipas multidisciplinares e contribuem para a promoção do mais elevado nível de saúde da população e estão capacitados para o desenvolvimento da investigação na área de enfermagem médico-cirúrgica, com contribuição para as evidências científicas (Guia de Curso de Mestrado em Enfermagem Médico-Cirúrgica, 2016/2017, p. 14).

Deste modo, a prestação de cuidados de enfermagem de excelência assume-se como um grande desafio para o enfermeiro especialista em enfermagem médico-cirúrgica, na medida em que a excelência se relaciona com a arte de saber cuidar, requerendo também a coordenação de diferentes fatores, sobretudo fatores pessoais, profissionais e institucionais.