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A satisfação profissional, por definição, consiste num estado emocional positivo que resulta da avaliação que a pessoa faz acerca do seu trabalho ou da experiência de trabalho. A forma como a pessoa percebe, valoriza e julga os aspetos do trabalho determinam a sua satisfação profissional (Fonseca, 2014). De acordo com o mesmo autor, o trabalho ocupa um lugar de relevo na sociedade uma vez que é nele que se passa grande parte da vida. Deste modo, a satisfação e a motivação com que este é encarado têm repercussão direta na vida da pessoa, podendo tornar agradável ou desagradável a rotina diária que se repete durante a idade ativa.

“A satisfação profissional consiste numa medida de qualidade de vida no trabalho e relaciona-se com estados emocionais” (Santana & Cerdeira, 2011, p. 589). Na perspetiva dos mesmos autores, vários fatores parecem ter interferência na satisfação no trabalho dos profissionais de saúde, nomeadamente “a remuneração, as promoções, o reconhecimento por parte da chefia e dos pares, as condições físicas de trabalho e os recursos existentes, as oportunidades de desenvolvimento pessoal, de entre outros” (p. 589). A insatisfação pode resultar em absentismo e, in extremis, ao abandono do local de trabalho.

Fontes (2009) realizou um estudo com uma amostra de 220 enfermeiros a exercerem em Serviços de Cuidados Intensivos e Serviços de Medicina, de dois hospitais da região norte de Portugal. Constituiu-se como objetivo compreender a influência da natureza do trabalho na satisfação profissional dos enfermeiros. Dos resultados obtidos, Fontes (2009) revela que os enfermeiros estão significativamente satisfeitos com a dimensão status e prestígio, realização profissional/pessoal, desempenho organizacional e relacionamento com os colegas de equipa. Porém, manifestam-se “não satisfeitos” com a remuneração. Os scores globais revelam que os enfermeiros se situam numa posição intermédia, ou seja, “nem satisfeitos, nem não satisfeitos”, apesar de haver uma proximidade com a “satisfação”. Carvalho (2010), com base na sua investigação, objetivou identificar a satisfação profissional dos enfermeiros perante cinco dimensões, nomeadamente: a satisfação com o salário, satisfação com as chefias, satisfação com os colegas, satisfação com as promoções e satisfação com a natureza do trabalho. O estudo foi desenvolvido no Centro Hospitalar de Lisboa Ocidental, com uma amostra de 249 enfermeiros. A autora verificou que a satisfação com os colegas consiste no fator que cauda maior satisfação entre os enfermeiros, seguindo-se a satisfação com a chefia e a satisfação com a natureza do trabalho. De acordo com Carvalho (2010), o período de crise económica que se vivenciava em 2010, associado

às contenções e congelamentos salariais na carreira de enfermagem, contribuíram exponencialmente para os resultados obtidos.

Os resultados obtidos por Carvalho (2010) são corroborados pelo estudo de Freitas (2011), que objetivou avaliar o nível de satisfação profissional de 118 enfermeiros especialistas em enfermagem de reabilitação, procurando também hierarquizar as primordiais dimensões que contribuíam para a (in)satisfação profissional. Freitas (2011) registou que a globalidade dos enfermeiros revelou alta satisfação profissional, tendo sido a dimensão “trabalho em si mesmo” a que registou melhor média. A dimensão “remuneração”, à semelhança do estudo de Carvalho (2010), obteve o pior score, preditora da insatisfação profissional dos enfermeiros da amostra em estudo.

Correia (2016) realizou um estudo com o objetivo de conhecer o nível de satisfação profissional dos enfermeiros, tendo em conta a identificação dos problemas ou oportunidades de melhoria que se repercutem na qualidade dos serviços prestados. Mais especificamente identificar a relação entre as variáveis sociodemográficas e as variáveis profissionais e a satisfação profissional, bem como analisar a relação das dimensões da satisfação profissional com o score global de satisfação profissional. A sua amostra é constituída por 162 enfermeiros, cuja maioria é do género feminino, a exercerem funções em horário rotativo. Os resultados revelam que as dimensões com maior significância na satisfação profissional dos enfermeiros são a Responsabilidade (92,6%), a Natureza do

trabalho (81,5%), o Relacionamento com os colegas (79,6%) e com a chefia (67,9%). As

dimensões com maior índice de na insatisfação profissional foram o Salário (96,9%), o

Excesso de trabalho (89,5%), a Progressão na carreira (84,0%) e Reconhecimento (71,0%).

A autora verificou que 51,2% dos enfermeiros manifestam satisfação profissional, todavia 48,8% dos enfermeiros referiram insatisfação profissional, o que pode interferir na sua própria saúde e na qualidade dos cuidados que prestam. Apesar desta percentagem de insatisfação global, na maioria, os enfermeiros relatam que optariam pela mesma profissão, sugerindo que se identificam com a profissão e reconhecem na enfermagem como o cuidar do outro, sendo este o principal motivo apontado.

Correia (2016, p. 32), fazendo referência a Soares (2007), refere que “o enfermeiro satisfeito possui maior capacidade de decisão e de resposta às questões que se lhe colocam”. Argumenta ainda que “a satisfação do enfermeiro deve ser uma preocupação das organizações uma vez, que se apresenta diretamente ligada de forma implícita ou explicitamente, à qualidade do desempenho, produtividade e realização profissional”.

Valente, Duarte e Amaral (2015) realizaram um estudo que visava avaliar a satisfação profissional dos enfermeiros e identificar variáveis sociodemográficas e

profissionais que interferem na satisfação profissional. A amostra era constituída por 192 enfermeiros de um hospital da região centro do país, cuja média de idades era de 39.32±7.99 anos, maioritariamente do género feminino (75,5%), residentes em meio urbano, casados, com a categoria de “enfermeiro”, a desempenhar funções de prestação de cuidados em horário rotativo, com um contrato de trabalho de funções públicas e a exercer a profissão há 15.96±7.54 anos. O estudo documenta que a maioria dos enfermeiros manifestou insatisfação profissional (53.65%). Os enfermeiros com índices superiores de satisfação profissional são do género masculino (p=0,002). Não foram encontradas diferenças significativas entre a satisfação profissional e a idade (p=0,923) nem com a relação conjugal (p=0,892). De igual modo, também não se registaram diferenças significativas com categoria profissional (p=0,410), o exercício de funções de gestão (p=0,542 e o tipo de horário (p= 0,193). Os autores concluíram que mais de metade dos enfermeiros revela insatisfação profissional, com destaque para o género feminino.

No que se refere mais especificamente aos enfermeiros especialistas em enfermagem médico-cirúrgica, de acordo com Almeida (2017), e no âmbito destes muitas vezes não serem valorizados o que se repercute na satisfação profissional, persiste um sentimento contraditório. Se por um lado, estes se sentem reconhecidos e valorizados pelos seus utentes ao nível do desempenho das suas funções; por outro lado, sentem-se pouco reconhecidos e valorizados por quem os tutela. A não valorização económica do enfermeiro especialista e a ausência de uma carreira que o contemple, segundo Almeida (2017), é um contra-senso. O não reconhecimento do seu valor, com a não integração nos centros de discussão e decisão em saúde/de políticas de saúde é algo que se pode constituir como insatisfação profissional.