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Foto 20: centro de convivência do Vila Dignidade

2. DEMANDAS DA LONGEVIDADE: A CIDADE AMIGA DO IDOSO

2.3. Engajamento social para a efetivação de políticas públicas

A pessoa idosa deve se apropriar do ambiente urbano, e, em consonância, contrapor-se às perspectivas que associam o isolamento e a solidão ao processo de envelhecimento (IMBRIZI; MARTINS, 2016).

De acordo com Amanajás e Klug (2016, p. 36) “a idade avançada é responsável por um aumento de limitações que podem ser mitigadas com o desenvolvimento de boas políticas públicas”. Considera-se que estas só poderão ser efetivas se alinhadas aos interesses e necessidades do público alvo.

No que tange à consecução de uma cidade amiga do idoso, ouvir a pessoa idosa consiste no primeiro, e mais importante passo. Para que isso ocorra, deve-se criar mecanismos de modo a ampliar os canais de participação dessa população.

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Um dos pilares do envelhecimento ativo é a participação. Esta, envolve o engajamento do idoso em diversas causas: sociais, políticas, recreativas, culturais, intelectuais ou espirituais. Todas elas dão significado à vida e promovem um senso de realização e de pertencimento, refletindo em vínculos relacionais e na saúde. Nesse sentido, a proposição de políticas públicas voltadas para a garantia deste e outros pilares do envelhecimento ativo são fundamentais (ILC, 2015; RESENDE; DA COSTA; MANSO, 2018).

Para Resende et al. (2018), o Plano Internacional de Madri de 2002 ainda é o principal documento internacional que orienta as políticas públicas sobre o envelhecimento, um instrumento bastante útil enquanto referencial de políticas públicas, porém, sem força jurídica.

No que concerne à proteção dos direitos dessa população, tem-se a Política Nacional do Idoso - PNI12 que tem a finalidade de assegurar direitos sociais em prol da autonomia, integração e participação efetiva do idoso na sociedade, estabelecendo, inclusive, a criação do Conselho Nacional do Idoso.

De acordo com Souza e Machado (2016), a atuação do Conselho produz avanços graduais no que concerne aos direitos dos idosos. Contudo, frente às progressivas mudanças demográficas, bem como da situação de vulnerabilidade de grande parte dos brasileiros, essa estratégia de governança não tem sido suficiente para assegurar a efetivação de todos os direitos previstos no marco constitucional-legal, pois persistem muitos desafios para a ampliação da proteção social aos idosos, que requerem políticas públicas orientadas para o enfrentamento das desigualdades e a expansão dos mecanismos de solidariedade entre gerações e grupos sociais.

Tendo em vista que a garantia dos direitos sociais para a população idosa não se concretizava conforme esperado. Tal cenário ensejou uma revisão, não apenas legislativa, mas de conteúdo e proposições. Neste contexto, os debates sinalizavam uma intervenção mais efetiva do Estado no atendimento ao Idoso (BARUFFI, SILVA; 2014).

Nesta seara, a promulgação o Estatuto do Idoso, legislação mais abrangente que a PNI, consiste em um marco na implementação de políticas públicas para a pessoa idosa. O Estatuto surgiu do Projeto de Lei nº 3.561/1997 de autoria do então deputado federal Paulo Paim e foi fruto da organização e mobilização dos aposentados, pensionistas e idosos vinculados à Confederação Brasileira dos Aposentados e Pensionistas (COBAP),

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constituindo em significativa conquista para a população com idade igual ou superior a sessenta anos e para a sociedade (BARUFFI, SILVA; 2014).

A partir da Constituição de 1988, mecanismos de participação social ampliaram a possibilidade de influência de atores não governamentais sobre as ações do Estado. Neste contexto, a implementação dos Conselhos do idoso, a participação de entidades da sociedade civil e a interação entre órgãos de governo, são fundamentais na formulação de políticas para os idosos (SOUZA; MACHADO, 2016).

Para a efetividade das políticas públicas, a existência de normas jurídicas, por si só não basta. A pessoa idosa deve exercer seus direitos, condição fundamental e imprescindível para a inclusão social do idoso, de forma ativa, com respeito e dignidade. Sendo assim, empoderar a pessoa idosa é condição essencial para legitimar a sua atuação junto a espaços públicos como Fóruns Regionais, Conselho Municipal do Idoso e outros equipamentos (MILNITZKY; SIH SUNG; PEREIRA, 2004).

Nessa perspectiva, Barbosa (2014) aponta que as políticas públicas devem ser pautadas de forma a favorecer a autonomia do idoso, considerando-o enquanto ator social a fim de promover a descentralização das ações, de modo que a elaboração de políticas públicas que se aproxime das diferentes realidades dos idosos brasileiros, considerando suas singularidades e prezando pela autonomia e empoderamento.

Wieczynski apud Braga et al. (2008) propõe que somente através do engajamento dos idosos em uma vida ativa e participante nas decisões que os afetam é que a cidadania para o idoso será realmente efetivada, fortalecida e ampliada.

Fernandes e Soares (2012) destacam a necessidade de diálogo entre a população e gestores, visto que tais iniciativas ainda se mostram incipientes no sentido de alinhar as necessidades da população idosa às redes de atenção (FERNANDES, SOARES, 2012).

O engajamento social também reflete na saúde física e psicológica da pessoa idosa, que pode, inclusive, influenciar nas formas de lidar com as alterações decorrentes do processo de envelhecimento, representando um papel positivo na longevidade e combate à solidão (GORJAS, 2011).

Além de benefícios individuais, o engajamento da pessoa idosa, também favorece a eficiência de políticas públicas, pois à medida em que busca identificar pontos de atuação coerentes às expectativas e necessidades do público alvo, propicia a efetivação de direitos, como o alcance do direito à cidade (JACOBI; BARBI, 2007; CASTELLANO; SORRENTINO, 2012; OLIVEIRA, 2016; OLIVEIRA; LOPES; SOUSA, 2018).

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O GGCCAI consiste em um bom exemplo de como o engajamento de idosos podem minimizar a problemática vivenciada nas cidades. Nesse sentido, a participação da população idosa em movimentos sociais legitima a aplicabilidade dos instrumentos do Estatuto da Cidade e pode proporcionar a dignidade em prol do direito à cidade, alcançando a mobilidade e a acessibilidade desejáveis em um espaço urbano digno e equitativo, que se inicia por meio do direito à moradia (MONTEIRO, ZAZZETTA, ARAÚJO-JÚNIOR, 2015).

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3. A PESSOA IDOSA E AS FORMAS DE MORAR