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Foto 20: centro de convivência do Vila Dignidade

3. A PESSOA IDOSA E AS FORMAS DE MORAR

3.3. O idoso e as tipologias habitacionais

O cenário nacional tem se modificado em relação a programas públicos de habitação para idosos, porém a literatura sobre modelos de moradia destinadas à população independentes ainda é incipiente e muito restrita em sua oferta, pois em relação à essa questão, as políticas públicas na área do envelhecimento destacam a família como principal fonte de suporte, seguida das Instituições de Longa Permanência - ILPI (FREIRE; CARNEIRO-JÚNIOR, 2017).

Essa restrição de oportunidades pautada apenas no seio familiar ou a ILPI, denota o papel da capacidade funcional enquanto determinante para a escolha dessas duas formas de habitação. Nesse sentido, enquanto um idoso mantem seu nível de independência e autonomia preservado, convém permanecer no núcleo familiar, caso contrário é institucionalizado (KUNZLER, 2016).

Costa e colaboradores (2016) referem que há iniciativas públicas e privadas de em diferentes países, para estimular ou facilitar reformas e atualizações habitacionais. Algumas instituições financeiras fornecem uma modalidade de hipoteca (reverse

montage), em que o proprietário tem uma parte do valor do imóvel hipotecado para obter

financiamento a ser utilizado em reformas.

Outra iniciativa mencionada por Costa et al (2016) é o flexhousing, que oferece fácil posicionamento de instalações elétricas e simples acesso a entradas de modo geral e a cozinhas, banheiros e corredores. Tem-se ainda soluções para que pessoas idosas possam morar próximas aos seus familiares, como a iniciativa denominada Accessory

Dwellings nos Estados Unidos. Esta, consiste na construção de anexos ou extensões das

casas ou, ainda, da edificação de uma moradia no mesmo terreno onde vive um familiar. Para casos em que idosos moram longe do núcleo familiar, Costa et al. (2016) descrevem outras ações, como a instalação de sensores eletrônicos e dispositivos de controle (smart homes), para o monitoramento e assistência dos idosos com problemas de

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saúde. Tem-se ainda os arranjos amigos do idoso, pautados no modelo de corresidência em moradias unipessoais ou coletivas.

Para além das opções descritas, Martin e colaboradores (2012) apontam alguns exemplos de tipologias voltadas para a convivência coletiva (quadro 3). Ressalta-se que tais iniciativas são voltadas principalmente às pessoas idosas independentes17 e são mais

comuns em países anglo-saxônicos e nórdicos, cujas características são descritas no próximo quadro.

Quadro 3: Síntese de alternativas habitacionais para a população idosa

Tipologia Filosofia Características Perfil Tamanho Auxiliar

Lifetimes Home Adequar as habitações às necessidades decorrentes do ciclo de vida familiar Devem respeitar 16 normas estipuladas nesta tipologia Toda a população - - Homeshare Partilhar recursos Condições de conforto e habitabilidade Pessoas idosas independentes 1 habitação - Cohousing Desenvolver comunidades, tendo como principal agente ativo a população idosa Apartamentos independentes e espaços comuns

Pessoas idosas Muito variável Optativo

Sheltered Garantir apoio 24 horas Apartamentos independentes e espaços comuns Pessoas idosas independentes ou ligeiramente dependentes 15-60 apartamentos Sim/Não Extra Care Home Apoiar na realização das atividades de vida diária Apartamentos independentes e espaços comuns Pessoas idosas mais dependentes

Muito variável Sim/Sim

Fonte: Martin e colaboradores (2012)

17 As duas últimas modalidades da tabela (Sheltered e Extra Care Home), podem ser exceção em casos de

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Ao retratar ações projetuais de moradias voltadas à população idosa independente, Arigoni, Ceccon e Damazio (2016) apresentam alguns modelos, muito semelhantes às tipologias Home Share, ExtraCare Home e Cohousing descritas no quadro 3. Trata-se, respectivamente, do Projeto Home Farm e das Vilas Hogeweyk e ConViver.

Similar às características do modelo Home Share, o Home Farm é um projeto conceitual criado em Singapura, que objetiva dar suporte aos idosos contemplando questões estruturais, como adaptação das moradias, assim como a geração de emprego e atividades de convívio social. Trata-se de um condomínio vertical desenvolvido não apenas para idosos, mas para todas as idades, numa perspectiva de garantir que os aposentados morem perto ou com seus filhos, se assim desejassem.

A proposta é combinar casas para idosos com uma horta urbana - dois reinos tipicamente díspares - em um único local. Além das 300 unidades habitacionais e da fazenda, o empreendimento possui muitas outras instalações, como um centro de saúde, de alimentação e ambulância. Além disso, dispõe de um pequeno shopping center, um jardim de infância e um mercado de alimentos frescos, onde os produtos da Home Farm podem ser vendidos. Também dispõe de uma praça, situada no coração do empreendimento, para atender eventos comunitários (TREFUSIS, 2015).

A administração da fazenda seria de responsabilidade de “equipe de implementação profissional”, que supervisiona as três operações agrícolas do local18. A ideia é que os moradores com níveis de capacidade funcional preservados, possam assumir o trabalho de meio período para obter renda e independência, se assim desejarem. Deste modo, os residentes não serão obrigados a trabalhar, mas terão a opção de pagar parte de suas taxas através das ações desenvolvidas (SEOW, 2015).

Outra proposta inovadora, pautada no modelo Extra Care Home, é a Vila Hogeweyk, situada em Weesp, na Holanda. Trata-se de um equipamento construído para idosos com doenças neurodegenerativas, como Alzheimer, que objetiva promover a independência, a privacidade e a autonomia de seus moradores, numa perspectiva de faze- los se sentir em casa e não em uma instituição.

O projeto da Vila foi financiado pelo governo holandês e organizações locais, e custou 19,3 milhões de euros. O custo médio para uma pessoa viver na Hogeweyk é de

18Uma fazenda vertical baseada em aquaponics (o tipo predominante de agricultura) para facilitar, modelo

considerado mais apropriado e sustentável, tendo em vista que em Singapura a terra é preciosa devido à massiva urbanização. As outras operações são: uma fazenda vertical de terra e outra “tradicional” baseada no uso do solo. Tais formas são localizados ao redor do complexo em fachadas, telhados e nos jardins.

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5 mil euros mensais, e, em 2015, uma nova vila começou a ser desenvolvida em Roma, na Itália (CAIRES, 2016).

O local foi inaugurado em 2009, e além das 23 casas, conta com um supermercado, restaurante e áreas de lazer. Quanto à equipe profissional, no local trabalham médicos, enfermeiros e outros 6 especialistas da área da saúde que cuidam de aproximadamente 150 residentes. Destaca-se que os arquitetos responsáveis pelo

empreendimento ciaram uma associação denominada Dementia Villages

Advisors (Assessores da Dementia Village) para tomar conta do local, a fim de informar

e auxiliar as famílias e pacientes no tratamento da demência (PEIXOTO; DAMAZIO; CECCON, 2015; CAIRES, 2016).

Cabe destacar ainda que os profissionais não usam uniformes e assumem funções como atendentes de loja, vizinhos, entre outras ocupações pertinentes à rotina de uma cidade comum. Os moradores circulam livremente pela vila, realizam suas compras e saem para jantar dentro do próprio espaço, que é concebido para ressaltar a qualidade de vida e rotina dos idosos ao invés da doença (PEIXOTO; DAMAZIO; CECCON, 2015). A única iniciativa brasileira apontada pelos autores19 é o projeto da Vila ConViver, que foi elaborado por meio de estudos e pesquisas do GT (Grupo de Trabalho) Moradia/ADunicamp, a partir de demandas de professores sindicalizados aposentados. O modelo destina-se aos docentes da Unicamp, com mais de 50 anos aposentados ou em vias de se aposentar. Nesse sentido, seus futuros moradores participam da criação da vila, numa perspectiva de contemplar tanto a privacidade como o convívio social em ambientes coletivos.

No âmbito nacional, é sabido que o direito à moradia está previsto constitucionalmente, e, tendo em vista que grande parte da população brasileira é de baixa renda, a conquista desse direito depende da articulação e implementação de políticas públicas habitacionais. Atento à essa questão, no ano de 2001, o antigo Ministério da Previdência e Assistência Social lançou a Portaria 73 estabelecendo nove tipologias de atendimentos voltados à pessoa idosa, e, dentre esses modelos, alguns consistem em formas de moradia para essa população (BRASIL, 2001).

A Portaria apresenta nove modelos para financiamento de projetos de atenção à pessoa idosa, que incluem formas de moradia, subsídios às famílias com idosos, além de espaços de convivência social, considerando como diretriz básica a centralidade na

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família e na parceria com organizações governamentais e não governamentais. O quadro a seguir aponta essas modalidades.

Quadro 4: Modelos de projetos de atenção à pessoa idosa fornecidos pela Portaria 73/01.

MODALIDADES DE MORADIA ASSISTÊNCIA AO IDOSO/FAMÍLIA

Residência Temporária Família Natural

Família Acolhedora Centro De Convivência

República Centro Dia

Casa Lar Assistência/Atendimento Domiciliário Atendimento Integral Institucional

Fonte: MONTEIRO, 2012.

Além das modalidades apresentadas na Portaria 73, tem-se ainda as Moradias Assistidas, que não consistem exatamente em uma tipologia de moradia, mas podem apresentar-se no modelo adotado devido aos programas, projetos e ações de acompanhamento por profissionais de idosos independentes (MONTEIRO, 2012; BESTETTI, 2006).

Enquanto moradias assistidas, tem-se os Condomínios Exclusivos para Idosos, constituídos por casas ou apartamentos circunscritos em área delimitada, implementados por meio de política pública habitacional para idosos de baixa renda, independentes para realização de atividades da vida diária, sem família ou com laços familiares enfraquecidos (MONTEIRO, 2012).

Em face à crescente demanda por moradia para pessoa idosa, a Secretaria Municipal de Habitação do Estado de São Paulo, junto à Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano (CDHU), foram responsáveis pela implementação de um programa que abrange a tipologia caracterizada como condomínio para idosos, denominado Vila Dignidade (SÃO PAULO, 2010).

Antes do decreto que institui o Programa Vila Dignidade, no estado de São Paulo já existiam iniciativas municipais voltadas à consecução de moradia para idosos vulneráveis de baixa renda. A exemplo, tem-se o Conjunto Habitacional para Idosos Recanto Feliz, localizado em Araraquara – SP. Deste modo, cabe ressaltar que esta cidade conta dois condomínios exclusivos para idosos atualmente, pois também possui um Vila Dignidade, conforme se pretende descrever a seguir.

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