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Foto 20: centro de convivência do Vila Dignidade

2. DEMANDAS DA LONGEVIDADE: A CIDADE AMIGA DO IDOSO

2.2. O Protocolo de Vancouver

Desde o lançamento do GGCAI, o Protocolo de Vancouver foi usado em centenas de cidades, fornecendo subsídios para a aplicação de abordagens semelhantes à pesquisa da OMS.

Este instrumento foi elaborado para padronizar a avaliação das cidades, numa perspectiva de identificar áreas para ações corretivas em consonância com a promoção de cidades mais amigáveis aos idosos.

De acordo com Porto (2017), o protocolo de Vancouver conta com algumas diretrizes para avaliar cidades como amigas do idoso ou não, ao mesmo tempo em que visa detectar questões a serem trabalhadas. Para essa finalidade, o bem-estar do idoso é o foco principal, pois o Protocolo permite a compreensão dos pontos fortes e fracos da cidade, a partir da percepção dos próprios idosos sobre aspectos positivos e preocupações relevantes para eles.

Cabe salientar que a proposta do protocolo de Vancouver não é estabelecer padrões considerados “ótimos” a serem implementados, pois cada cidade é avaliada sob contextos distintos e muito particulares. Destaca-se, portanto, que a proposta do instrumento é promover a autoavaliação e mapeamento para a evolução dos melhoramentos (OMS, 2008; PORTO, 2017).

9 O professor visitou cerca de 40 municípios paulistas, fazendo apresentações, organizando seminários,

workshops ou simplesmente visitando autoridades municipais com o objetivo de disseminar os princípios por trás da abordagem das cidades amigas dos idosos, em particular, descrevendo o Quadro de Políticas de Envelhecimento Ativo da OMS.

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No que tange as características do instrumento, o Protocolo de Vancouver começa com uma ampla questão de "aquecimento", em que os entrevistados são indagados sobre como é viver naquela determinada cidade, sendo uma pessoa idosa. A partir disso, é seguida pela avaliação dos oito eixos10.

De acordo com a Organização Mundial de Saúde, esforços são importantes para aumentar a cobertura de todos os temas abordados, e, embora os entrevistados devam responder espontaneamente, nos casos em que o entrevistador notar que algumas questões não são respondidas dessa forma, se faz necessário realizar perguntas específicas para iniciar a exploração (WHO, 2007).

Deste modo, convém ressaltar que para cada um dos oito domínios avaliados, o questionário dispõe de algumas perguntas específicas, numa perspectiva de obter maior detalhamento sobre os oito tópicos. A lista completa dos itens de análise de cada eixo pode ser visualizada no quadro 2, apresentado a seguir.

Quadro 2: itens de análise de cada eixo do Guia Cidade Amiga do Idoso

ESPAÇOS ABERTOS E PRÉDIOS TRANSPORTES

Calçadas e ruas Tráfego/barulho

Períodos específicos do dia Clima

Áreas verdes e de passeio Iluminação

Proteção de chuva, sol e vento Áreas de descanso Segurança Estabelecimentos Facilidade acesso/embarque Frequência Pontualidade Rotas suficientes Pontos de espera Segurança contra crimes Adaptação

MORADIA RESPEITO E INCLUSÃO SOCIAL

Custos Conforto Segurança

Proximidade de serviços Facilidade de locomoção Guardar e alcançar objetos Realizar tarefas domésticas

Educação Atenção Ajuda

Respeito vindo de serviços e programas Opções oferecidas

Reconhecimento do público aos mais velhos Atividades intergeracionais

PARTICIPAÇÃO SOCIAL COMUNICAÇÃO E INFORMAÇÃO

Acessibilidade Frequentes Em locais convenientes Opções Interesse Acessíveis Úteis Atualizadas Fácil entendimento Acesso dificultado

PARTICIPAÇÃO CÍVICA E EMPREGO SERVIÇOS COMUNITÁRIOS E DE SAÚDE Informação sobre oportunidades

Acessibilidade de oportunidades Variedade de oportunidades Motivação Tipos de serviços Acessibilidade Preço Respostas às necessidades

10 Espaços abertos e prédios; transportes; moradia; respeito e inclusão social; participação social;

comunicação e informação; participação cívica e emprego; e serviços comunitários e de saúde (Figura 2, p. 42).

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Reconhecimento Remuneração

Adaptação aos mais velhos Meios usados para motivar

Adaptado de COSTA ROSA, 2010.

Por fim, a avaliação é completada com outra questão abrangente de encerramento, momento em que os participantes têm a oportunidade de levantar outras questões que não tenham sido abordadas antes, mas que sejam importantes para eles (WHO, 2007).

De acordo com Plouffe e Kalache (2010)11, o Protocolo tinha que ser direto e requerer o mínimo de recursos materiais e técnicos, de modo a ser adaptável a diferentes contextos culturais e econômicos. Nesse sentido, as linhas gerais da metodologia foram definidas em consulta com um grupo de conselheiros experientes, que estavam familiarizados com o contexto social dos países (desenvolvidos e em desenvolvimento) envolvidos na iniciativa da OMS.

O projeto de Protocolo foi então revisado e finalizado em março de 2006, em um Workshop realizado em Vancouver, Canadá, que contou com a participação de líderes de projetos da maioria das cidades participantes. Neste contexto, passou a ser conhecido como “Protocolo de Vancouver”, em reconhecimento ao apoio prestado pelo Governo da British Columbia em sediar a reunião de colaboradores do projeto para a preparação do Protocolo de pesquisa que foi utilizado pelas 33 cidades colaboradoras na condução dos grupos focais (OMS, 2008).

Nacionalmente, a produção intelectual brasileira ainda é escassa no que diz respeito à estudos com abordagem semelhante à da OMS. A primeira réplica da Estratégia Cidade Amiga do Idoso realizada em 2012 por pesquisadores brasileiros, que traduziram o Protocolo de Vancouver, foi a pesquisa intitulada “Envelhecimento ativo e cidade amiga do idoso: estudo para a implantação do bairro amigo do idoso da Vila Clementino do município de São Paulo/SP”, sediada no Departamento de Medicina Preventiva/Centro de Estudos do Envelhecimento da Universidade Federal de São Paulo – UNIFESP, em parceria com o Instituto de Saúde/SES/SP e da Subprefeitura de Vila Mariana do Município de São Paulo, sob supervisão do Professor Alexandre Kalache (COSTA ROSA, 2010).

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Para expandir conhecimentos acerca de outros estudos nacionais semelhantes à Estratégia Cidade Amiga do Idoso, realizou-se revisão bibliográfica narrativa, em consulta às bases de dados Scielo, Banco de Dissertações e Teses, Portal de periódicos da CAPES e da Biblioteca Virtual em Saúde, sem período delimitado de busca, procurando por títulos e assuntos com os descritores “Cidade”; “Amiga/o”; “Idoso”.

Além da primeira pesquisa realizada pelos pesquisadores da UNIFESP, identificou-se outra, também desenvolvida na capital paulista, especificamente na Escola de Artes, Ciências e Humanidades – EACH da Universidade de São Paulo – USP intitulada “A estratégia do bairro amigo do idoso aplicada aos bairros do Brás e da Mooca: ambiência e construção da cidade para o Envelhecimento Ativo”, que vem sendo realizada desde 2015, sob responsabilidade da professora Bibiana Graeff (Auxílio Regular FAPESP Nº 15/08447-0).

Verificou-se ainda outro estudo desenvolvido em 2012 por Miriam Kanashiro da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo: “Envelhecimento ativo: uma contribuição para o desenvolvimento de instituições de longa permanência amigas da pessoa idosa”, que também empregou o Protocolo de Vancouver, adaptando-o, para identificar as características essenciais para que uma ILPI possa ser definida como amigável aos idosos.

Além dos estudos supracitados, não foram encontradas outras pesquisas nacionais que objetivaram replicar o método utilizado pela pesquisa da OMS. Deste modo, a presente pesquisa se soma aos poucos trabalhos mencionados anteriormente, pois busca replicar a pesquisa realizada pela Estratégia Cidade Amiga do Idoso, utilizando-se do Protocolo de Vancouver traduzido pelos pesquisadores da UNIFESP.

De acordo com Plouffe, Kalache e Voelcker (2016), o Protocolo de Vancouver recomenda uma reflexão acerca da diversidade de pessoas envolvidas, para capturar informações e responder à sua heterogeneidade. Nesse sentido, o GGCAI recomenda enfaticamente o envolvimento do idoso em todas as fases de ação e a adoção de uma abordagem intersetorial para as cidades que desejam se tornar mais amigáveis ao idoso.

Ao desenvolver o projeto, a OMS não buscou estabelecer um procedimento absolutamente rígido, a ser seguido à risca pelas cidades envolvidas, mas sim traçar algumas diretrizes a serem observadas. Deste modo, o Protocolo de Vancouver propõe uma avaliação qualitativa das cidades, e não busca verificar o quanto uma cidade é mais amiga do idoso do que a outra, mas sim, permitir a autoavaliação dos municípios, pautada

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na participação dos idosos em todas as etapas (PLOUFFE; KALACHE; VOELCKER, 2016).

Frente ao envelhecimento da população, a criação de políticas públicas enseja um olhar qualitativo sobre as ações propostas, no sentido de considerar as especificidades da pessoa idosa. Deste modo, constata-se que o Protocolo de Vancouver consiste em uma ferramenta que fornece subsídios para ações governamentais, configurando-se enquanto oportunidade de ouvir a população, para um caminho democrático e autentico do exercício da cidadania (BESTETTI; GRAEFF; DOMINGUES, 2012; ANDRADE et al., 2013).

Para que uma cidade seja amiga do idoso, deve começar ouvindo a sua população, de modo a incluir este segmento etário no desenvolvimento de ações que se coadunem com suas necessidades e interesses. Portanto, considera-se que o engajamento dessas pessoas, no desenvolvimento de políticas públicas, favorece a proposição de ações mais eficientes.

O empoderamento da pessoa idosa se faz imprescindível, pois viabiliza um ciclo virtuoso no desenvolvimento de políticas públicas alinhadas às suas expectativas. A ideia é romper com a proposição de ações sem levar em conta a opinião do público alvo. Ainda, consiste em elaborar iniciativas reivindicadas pela própria população, que ao ser atendida, tende a se engajar ainda mais e, consequentemente, contribuir para o alcance de uma cidade amiga do idoso.