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CAPÍTULO 1 O ENVELHECIMENTO DA POPULAÇÃO: ENQUADRAMENTO, CONSEQUÊNCIAS E

1.2. Enquadramento demográfico

A estrutura da população mundial, com especial ênfase na Europa, está a alterar-se significativamente. Assiste-se ao envelhecimento da população, resultado do envelhecimento da geração dos “baby boomers”, do aumento da longevidade e do decréscimo das taxas de natalidade e fecundidade (Albright, 2012; Cappelli & Novelli, 2010; Gendron, 2011; Giannakouris, 2008; Kanfer & Ackerman, 2004; Skirbekk et al., 2012; von Bonsdorff, 2011).

No século XX a população mundial duplicou duas vezes, mas tal não irá ocorrer este século, em virtude do declínio acentuado nas taxas de natalidade em muitas zonas do globo. Todavia, o número de pessoas com mais de 65 anos deverá duplicar dentro de apenas 25 anos (The Economist, 2014a). Prevê-se que em 2035 mais de 1100 milhões de pessoas, cerca de 13% da população mundial, tenha mais de 65 anos (The Economist, 2014b).

Os dados demográficos europeus espelham bem a realidade do crescente envelhecimento. Todos os Estados Membros da União Europeia irão continuar a assistir ao envelhecimento progressivo da sua população. De acordo com as projeções do Eurostat, a população com mais de 65 anos irá representar, em 2060, cerca de 30% do total, enquanto em 2008 representava pouco mais de 17%. Note-se ainda que os indivíduos com 80 anos ou mais representavam, em 2008, cerca de 4,4% da população total, estimando-se que em 2060 representem 12,1% (Eurostat, 2008; Giannakouris, 2008).

A pirâmide etária (Figura 1) evidencia a distribuição da população dos 27 Estados Membros da União Europeia por sexo e idade em 2008, assim como as projeções para 2060. Conforme se pode constatar, a tendência de envelhecimento da população mantem-se. A pirâmide etária relativa a 2008 apresenta elevada concentração de indivíduos na faixa dos 40-50 anos, resultado da geração dos baby boomers. De facto, a pirâmide etária prevista para 2060 indicia como o coorte dos baby boomers se deslocará para o topo da pirâmide, enquanto o grupo de indivíduos considerados ativos (dos 15 aos 64 anos) e o dos jovens (dos 0 aos 14 anos) tenderá a encolher. Assim, nas próximas décadas, o envelhecimento desta geração dos anos sessenta determinará a dilatação do número de idosos.

Adaptado de Eurostat, 2008

Os rácios relativos à estrutura da população consubstanciam o peso dos mais idosos no total da população. Enquanto se perspetiva que o índice de dependência de jovens1venha

1 Relação entre o número de jovens com idades consideradas inativas do ponto de vista económico – menores de 15 anos, e o número

de pessoas em idade ativa – dos 15 aos 64 anos. Instituto Nacional de Estatística – INE, Meta-informação. Mulheres (2008) Homens (2008) Homens (2060) Mulheres (2060)

a sofrer poucas alterações até 2060, prevê-se que o índice de dependência de idosos2 seja, em 2060, mais do dobro do seu valor atual (Eurostat, 2008).

Portugal não se afasta das tendências europeias. Tanto a natalidade como a fecundidade têm diminuído drasticamente ao longo das últimas décadas. Para tal têm contribuído as mudanças nos comportamentos sociais, observando-se que, cada vez mais, mulheres e homens casam mais tarde e têm superior idade ao nascimento do primeiro filho (INE, 2011a, 2011b).

As estatísticas demográficas, tanto europeias, como portuguesas, traduzem claramente a realidade aqui aludida. A taxa de fertilidade em Portugal passou de 3,16, em 1960, para 1,28 em 2012. Espera-se que cresça nas próximas décadas (e.g., 1,37 em 2030), mas mantendo-se sempre abaixo do índice que garante a substituição das gerações (cerca de 2,1 filhos por mulher) (INE, 2011a, 2011b)3. Na União Europeia, no mesmo período, a taxa de fertilidade transitou de 2,67 para 1,56 filhos por mulher. As projeções, embora sugiram crescimento (1,68, para 2030), mantêm o índice abaixo do referido patamar de substituição (European Commission, 2008, 2011; Eurostat, 2008).

Em 1960 em Portugal, a esperança de vida à nascença era, para os homens, de 61,1 anos, tendo, em 2012, passado para 77,3 anos. Na União Europeia, em 1960, a esperança de vida à nascença era, para os homens, de 66,9 anos, tendo aumentado para 75,6 anos, em 2012. No que diz respeito às mulheres, no mesmo período, ocorreu um acréscimo de 66,7 para 83,2 anos, em Portugal, e de 72,3 para 82,9 anos na União Europeia (European Commission, 2008, 2011; Eurostat, 2008; INE, 2011a, 2011b; OECD, 2014). As projeções sugerem que estes valores crescerão nas próximas décadas (European Commission, 2008, 2011; Eurostat, 2008; Giannakouris, 2008; OECD, 2014).

Um relatório de 2014 da Comissão Europeia (European Commission, 2014) assume que o rácio de dependência de idosos aumentará significativamente nos próximos anos. Se em 2013 o rácio de dependência de idosos era de 27,8%, espera que, em 2030, este valor

2 Relação entre a população idosa e a população ativa, definido habitualmente pelo quociente entre o número de pessoas com 65 anos

ou mais e o número de pessoas com idades compreendidas entre os 15 e os 64 anos. Instituto Nacional de Estatística – INE, Meta- informação.

ascenda a 39,4%. Em Portugal, o desequilíbrio é e será ainda mais acentuado, pois o valor do rácio de dependência de idosos era de 29,8%, em 2013, projetando-se que, em 2030, seja de 43,6% (European Commission, 2014; OECD, 2014). Nos últimos 30 anos Portugal perdeu perto de um milhão de jovens (entre os 0 e os 14 anos) e ganhou cerca de 900 mil idosos, (pessoas com mais de 65 anos) (INE, 2011a).

Pese embora o fenómeno do envelhecimento da população seja atualmente mais evidente nos países europeus, tenderá a expandir-se, a médio e longo prazo, a outros países desenvolvidos, como por exemplo aos Estados Unidos da América (EUA), que apesar de evidenciarem uma taxa de fertilidade moderada, têm vindo a assistir a um aumento considerável do índice de dependência de idosos (The Economist, 2014a). Noutros países, nomeadamente na América Latina, que tradicionalmente eram países jovens, o envelhecimento da população também se fará sentir nos próximos anos (The Economist, 2014a).

Não obstante algumas exceções ao nível das taxas de natalidade e fecundidade (e.g., Sul da Ásia e África), a população mundial está a envelhecer (The Economist, 2014a), observando-se a ascensão da esperança de vida na generalidade dos países a nível mundial, assim como o incremento do peso que os idosos vão ocupando no total da população de diversos países, bem como no total da população à escala global (Figura 2). Mesmo em países muçulmanos como o Irão onde, por razões de natureza cultural e religiosa, as taxas de natalidade são mais elevadas do que na generalidade dos países ocidentais, a quantidade média de filhos passou de 6,5 em 1980 para 1,9 em 2012 (Wolf, 2014).

Figura 2 - População idosa mundial (percentagem da população total)

Fonte: United Nations, 2013