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6 Conclusões

1.2 Enquadramento geral

Os conceitos de degradação (perda de desempenho), vida útil (duração do ciclo de vida), assim como ações de manutenção, inspeção e consequente diagnóstico encontram-se diretamente interligados e são cruciais para caracterizar o desempenho em serviço da generalidade dos edifícios e dos seus elementos constituintes. Por conseguinte, estes conceitos serão descritos seguidamente, tendo como base a tipologia de edificados em análise (edifícios recentes).

1.2.1 E

DIFÍCIOS RECENTES

Os edifícios são construções que testemunham o saber, a capacidade técnica e a sensibilidade de quem os concebeu, materializando na sua forma e função o meio histórico – cultural em que foi projetado (Brito et al., 1994). De facto, é notório o desenvolvimento que o património edificado existente em Portugal tem vindo atingir, ao longo dos tempos, desde do aparecimento dos primeiros edifícios até à construção contemporânea.

Essencialmente, a partir dos anos sessenta do século XX, registou-se em Portugal um acelerado processo de urbanização e um intenso ritmo de construção de nova habitação. Esta época construtiva é caracterizada por uma acentuada dispersão na variedade dos edifícios construídos, no que diz respeito à altura, à implantação e às soluções construtivas e estruturais aplicadas. São os edifícios que correspondem à génese e implementação dos regulamentos ao nível do betão armado e da construção (Oliveira & Cabrita, 1985), designados por edifícios recentes, onde a totalidade da estrutura resistente é constituída, exclusivamente, por betão armado (Fig. 1.1).

Figura 1.1 - Exemplo de um edifício recente na zona da Lapa, Lisboa.

Nesta época, o sistema construtivo usado passou a ser a estrutura em pórtico de betão armado, sendo as lajes aligeiradas ou maciças em betão armado e as vigas e os pilares que constituíam pórticos, numa ou duas direções, dando apoio às lajes e transmitindo as cargas às fundações que normalmente eram constituídas por sapatas isoladas em betão armado (Costa, 2012 citando Sampaio et al., 1992). A generalidade da estrutura em pórtico é normalmente preenchida com painéis duplos de alvenaria no exterior e paredes divisórias também em alvenaria de tijolo.

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Outros detalhes construtivos, particulares desta tipologia de edifícios, encontram-se associados à utilização de elementos verticais de rigidez elevada (provindo do aumento do número de pisos) e à implementação de estruturas pré-fabricadas, nos mesmos. Porém, foi nos pavimentos, que surgiram as maiores inovações construtivas (lajes pré-fabricadas por vigotas ou nervuradas), procurando-se evidenciar a versatilidade, a simplicidade e a economia nas suas implementações, assim como a obtenção de um maior controlo da qualidade e de um melhor comportamento acústico, na generalidade das estruturas em questão.

Relativamente a conceitos regulamentares, o século XX conduziu a grandes inovações, no que diz respeito ao dimensionamento das estruturas, face às ações sísmicas (Quadro 1.1), e à implantação de normas e/ou regulamentos de betão e do aço, aplicados no betão armado. Será importante referir, que na década de 70, constatou-se uma mudança total no dimensionamento das estruturas, devendo-se ao desenvolvimento dos métodos de cálculo automático (Costa, 2012).

Quadro 1.1 - Evolução da regulamentação estrutural em Portugal (adaptado de Pipa, 2006).

Regulamentos/Normas Observações

RSEP-61/71

Regulamento de Solicitações em Edifícios e Pontes

Reúne num documento único as disposições sobre as solicitações a considerar no dimensionamento das estruturas de edifícios e pontes.

REBA-67/76

Regulamento de Estruturas de Betão Armado

Contém regras gerais a aplicar no projeto e construção de estruturas de betão armado, e em especial a edifícios.

É introduzido o conceito de verificação da segurança em relação a estados limites, em substituição do critério tradicional, baseado em de tensões de segurança.

RSA-83

Regulamento de Segurança e Ações para Estruturas de Edifícios e Pontes

Atualiza a regulamentação portuguesa relativa a estruturas de edifícios e pontes, harmonizando-a com as modernas tendências internacionais.

REBAP-85

Regulamento de Estruturas de Betão Armado e Pré- esforçado

Revoga o REBA-67, compatibilizando o projeto de estruturas de betão com a filosofia de segurança consignada pelo RSA- 83.

Eurocódigos:

Foram publicadas entre 1998 e 2002, 17 Normas Portuguesas (NP).

Os Eurocódigos Estruturais são documentos de referência, destinando-se a comprovar a conformidade dos edifícios e das obras de engenharia civil com requisitos essenciais estabelecidos na DPC, designadamente resistência mecânica e estabilidade e segurança em caso de incêndio.

De facto, o surgimento do betão armado revolucionou os processos construtivos dos edifícios, devendo-se essencialmente à sua característica moldável, a qual permite realizar qualquer forma que a fantasia imagine (Appleton, 2003). Porém, devido à natural degradação do betão, assim como à ação dum meio ambiente progressivamente mais agressivo (Cóias & Ribeiro, 1994), é cada vez mais consensual a implantação de trabalhos de reforço, de inspeção (de acordo com o Decreto-Lei n.º 349- C/83 de 30 de Julho, a periodicidade das inspeções é variável de 1 a 10 anos, consoante o tipo de estrutura), de manutenção e de reparação nestas tipologias de estruturas (Vieira, 2012).

1.2.2 D

EGRADAÇÃO DO PARQUE EDIFICADO RECENTE

A dinâmica de construção, que se registou nas últimas décadas, fez com que uma parte muito significativa do parque edificado português torna-se relativamente jovem, onde a maioria dos edifícios

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possuem estrutura de betão armado. Contudo, como consequência destas construções em larga escala, originou-se um decréscimo na qualidade construtiva e um agravar de situações patológicas nas construções referidas (Costa, 2012 citando Sampaio et al., 1992).

Na verdade, e pela análise dos valores do recenseamento elaborado em 2011 (INE, 2012), verifica-se um aumento de 3,02% de edifícios recentes que carecem de trabalhos de reparação, em comparação com valores recolhidos no ano de 2001. Tal facto evidencia-se mais nas grandes metrópoles do país, onde na cidade de Lisboa, cerca de 21% dos edificados que necessitam de intervenção, encontram-se associados a edifícios com idade inferior a trinta anos (idade semelhante ao edifício em estudo).

A presente situação deve-se à perda de desempenho das construções, traduzida na incapacidade dos edifícios acolherem os usos para os quais foram projetados ou na existência de problemas, avarias ou falhas (Madureira, 2011 citando Gaspar, 2009). Assim sendo, será fulcral a implementação de processos intervencionais na generalidade dos edifícios, incluindo os edifícios recentes, como tentativa de recuperar a sustentabilidade dos mesmos.

1.2.3 V

IDA ÚTIL

(S

ERVICE

L

IFE

)

A vida útil é o período de tempo, após a construção, no qual o edifício ou os seus elementos igualam ou excedem as exigências mínimas de desempenho (Flores-Colen & Brito, 2003 citando ISO/DIS, 1998). Segundo Haapio & Viitaniemei (2008), uma construção encontra-se no seu período de vida útil, enquanto for capaz de responder às necessidades objetivas e subjetivas do utilizador, dentro dos limites considerados aceitáveis de custo e sem prejuízos para terceiros.

Existem vários estudos no sentido de aumentar a vida útil dos novos edifícios, prolongar os intervalos de manutenção e melhorar as condições em serviço dos edifícios existentes (Flores-Colen & Brito, 2003 citando KUS, 2002). Em igualdade de circunstâncias, têm-se desenvolvido métodos de previsão da vida útil, os quais necessitam de definir, inequivocamente o fim da vida útil (Gaspar & Brito, 2009).

O fim da vida útil de uma construção define-se como o ponto no tempo em que esta deixa de poder assegurar as atividades que nela se desenvolvem, por obsolescência funcional, falta de rentabilidade económica ou degradação física das suas camadas hierarquicamente mais determinantes (Silva, 2009 citando Gaspar, 2002). Porém, o fim da vida útil é influenciado pelos critérios de segurança, funcionalidade e aparência, onde a segurança é um critério indispensável, possuindo por isso um nível de exigência superior ao dos outros critérios (Chai, 2011 citando Moser, 1999).

Segundo Flores-Colen (2008) o desempenho em serviço dos elementos do edifício pode ser afetado pela obsolescência, para além da degradação física. Assim sendo, a obsolescência é definida como a perda de capacidade que um elemento tem em satisfazer as mudanças de desempenho requeridas (Madureira, 2011). Contudo, o desempenho global de um edifício encontra-se influenciado pelo modo como os seus respetivos constituintes se relacionam entre si, com os utilizadores e com os ambientes interno e externo (Bragança & Mateus, 2011). Como tal, para que um edifício se apresente com um bom nível de satisfação será necessário que todos os elementos (subsistema, componentes, produtos e materiais) sejam mantidos nas melhores condições de desempenho (Flores-Colen, 2008).

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Nos últimos anos, têm surgido a nível internacional inúmeras normas e regulamentos com o intuito de estabelecer metodologias que permitam avaliar a durabilidade das edificações (Silva et al., 2011), a fim de tornar os investimentos mais rentáveis, permitindo uma correta seleção do uso e manutenção das mesmas (Chai, 2011 citando Masters et al., 1987).

1.2.4 I

NFLUÊNCIA DA INSPEÇÃO

,

MANUTENÇÃO E DIAGNÓSTICO NO DESEMPENHO DOS EDIFÍCIOS

O processo de envelhecimento dos componentes dos edifícios é inevitável. No entanto, a taxa associada a processo de degradação pode ser regularizada através da execução de ações periódicas de intervenção (Flores-Colen, 2008), na fase de utilização dos edificados. Tais intervenções encontram-se relacionadas às atividades de manutenção e de inspeção em edifícios, assim como aos processos de diagnóstico de anomalias, presenciadas nos mesmos.

Na realidade, quando os edifícios são alvo de atividades de intervenção regulares (manutenção, inspeção e diagnóstico de anomalias), prolonga-se, de uma forma evidente, a durabilidade dos elementos construtivos intervencionados, proporcionando um aumento no período de vida espectável dos edificados em questão (Fig. 1.2), e por consequência previne-se roturas e problemas associados.

Segundo ISO 15686-1 (2000a), o conceito de manutenção é definido como “a combinação de todas as ações técnicas e administrativas de modo a que o edifício e seus elementos desempenhem, durante a vida útil, as funções para as quais foram concebidos” (Flores-Colen, 2008). Estas ações são realizadas no sentido de antecipar ou corrigir a rotura dos elementos, passando a designar-se, respetivamente, por manutenção pró-ativa ou reativa (Flores-Colen, 2003).

Figura 1.2 - Desempenho ao longo do tempo de um elemento, instalação ou sistema construtivo (Flores-Colen, 2008 citando

ABNT, 2004).

Cada estratégia de manutenção pode englobar vários tipos de intervenção, como sejam: limpezas, inspeções, reparações ou substituições locais e tratamentos de proteção de superfície (Flores-Colen & Brito, 2003 citando Flores-Colen, 2002). Porém, as intervenções mais ligeiras incluem as ações correntes de manutenção e reparações ocasionais, onde em circunstâncias de níveis de degradação superiores recorre-se à execução de intervenções mais profundas, que prolongam, significativamente, o ciclo de vida do edifício / elemento (reabilitação, renovação, reconstrução) (Flores-Colen, 2008).

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A finalidade das inspeções periódicas consiste em averiguar a necessidade de intervenção das ocorrências anómalas, examinando as eventuais disfuncionalidades e o envelhecimento real de todos os elementos (Flores-Colen & Brito, 2012 citando Flores-Colen, 2008). Como tal, a inspeção tem como finalidade a recolha de informação relativa ao estado de degradação do edifício, de forma a impedir a evolução das anomalias detetadas, pela adoção de medidas de atuação adequadas a cada anomalia (Cordeiro, 2011 citando Sousa, 2003). De facto, a inspeção é a fase de ligação entre a utilização e a manutenção (Leite, 2009), definindo o planeamento das operações de manutenção em edifícios (determinando onde, como e quando realizar operações de manutenção).

Porém, em circunstâncias de manifestações de anomalias, será crucial compreender as proveniências das ocorrências antes da execução de atividades de reparação. O conceito de diagnóstico encontra-se associado ao conjunto de procedimentos destinados a garantir o justo conhecimento acerca de um edifício ou estrutura, incluindo a avaliação do seu estado de conservação e segurança e a determinação das causas das anomalias observadas (Ferreira, 2010 citando Appleton, 2002).

Assim sendo, poder-se-á concluir, que o estabelecimento de um plano de diagnóstico proporciona, a longo prazo, um leque de vantagens para os atuais e futuros proprietários, visto que os mesmos conseguirão obter conhecimento das causas/origens, como também dos efeitos das anomalias, podendo optar pelas medidas de estratégia de intervenção mais ajustadas para cada situação anómala (simplificando as decisões de estratégia de intervenção e otimizando os custos associados).

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