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Enquadramento legal do Projeto Educativo de Escola

CAPÍTULO I – E NQUADRAMENTO C ONCEPTUAL

4. A construção da disciplina no âmbito do Projeto Educativo de Escola

4.3 Enquadramento legal do Projeto Educativo de Escola

O PEE surgiu na década de 80, inspirado no modelo francês e espanhol. Era já visível “a preocupação das autoridades escolares em associarem o reforço da autonomia dos estabelecimentos de ensino à elaboração e execução de um projeto educativo” (Barroso, 1992: 18).

A LBSE já falava em descentralização e desconcentração dos serviços, embora ainda de uma forma indireta, sem nunca referir a noção de projeto educativo de escola. Porém, só em 1987 é que o assunto sobre a autonomia ganha força, através do próprio programa do governo, o qual deu origem ao DL n.º 43/89, de 3 de fevereiro – conhecido como o decreto da

autonomia. Todavia, o diploma “não passa, no essencial, de uma declaração de intenções

gerais sobre a necessidade de as escolas desenvolverem um “projeto educativo” e de um inventário de atribuições e competências avulsas” (Barroso, 2004: 56-57).

Assim, o primeiro diploma legal a fazer referência ao PEE, como expressão material e concretização da autonomia da escola, foi o DL n.º 43/89, de 3 de fevereiro, podendo ler-se no seu preâmbulo que:

“A autonomia da escola concretiza-se na elaboração de um projeto educativo próprio, constituído e executado de forma participada, dentro de princípios de responsabilização dos vários intervenientes na vida escolar e de adequação às características e recursos da escola e às solicitações e apoios da comunidade em que se insere”.

Neste mesmo diploma aparecem intimamente ligados os conceitos de projeto educativo, autonomia e participação.

“Entende-se por autonomia da escola a capacidade de elaboração e realização de um projeto educativo em benefício dos alunos e com a participação de todos os intervenientes no processo educativo. (…) O projeto educativo traduz-se, designadamente, na formulação de prioridades de desenvolvimento pedagógico, em planos anuais de atividades educativas e na elaboração de regulamentos internos para os principais setores e serviços escolares” (DL n.º43/89, Artigo 2.º, alíneas 1 e 2).

É um facto que o PEE consiste num documento onde o cruzamento dos conceitos de autonomia e de participação é bem visível. Sobre isto, Carvalho e Diogo (2001: 54) reiteram: “Autonomia, desde logo porque só um ser autónomo pode projetar-se a si mesmo” e participação porque o PEE é o “resultado dos consensos que a comunidade educativa estabeleceu no debate democrático acerca do caminho a seguir”.

Seguindo a mesma linha de pensamento, Nóvoa (1992: 33) refere que a participação é crucial para o desenvolvimento do projeto e deve ser conjunta e concertada, exigindo a contratualização entre as pessoas envolvidas. Podemos, portanto, afirmar que o PEE é mais um instrumento que permite o aumento da autonomia das escolas. Dentro do mesmo contexto, Beatriz Canário defende que “Projeto educativo e autonomia da escola são duas realidades indissociáveis” (1992: 109).

Acrescente-se o Despacho n.º 8/SERE/89, de 3 de fevereiro, onde se pode ler que compete ao Conselho Pedagógico “Desencadear ações e mecanismos para a construção de um projeto educativo de escola” e “apresentar ao conselho pedagógico, sob a forma de proposta, (…) os projetos educativos e de investigação pedagógica, de âmbito local e regional, e proceder ao respetivo acompanhamento” (Despacho n.º 8/SERE/89, I – Conselho Pedagógico, Âmbito e composição, ponto 3.11 e 14).

Na mesma linha, no DL n.º 172/91, de 10 de maio, pode ler-se no seu preâmbulo que o modelo de gestão em vigor “Garante, simultaneamente, a prossecução de objetivos educativos nacionais e a afirmação da diversidade através do exercício da autonomia local e a formulação de projetos educativos próprios”. Neste normativo legal, é reconhecida à escola a competência para elaborar e aprovar um PEE (DL n.º 172/91, Artigo 8.º e 32.º).

Também, o DL n.º 115-A/98, de 4 de maio, devido à premente necessidade em alterar e concretizar o regime de autonomia e gestão dos estabelecimentos de educação, alerta para a importância da autonomia e descentralização na democratização, igualdade de oportunidades e qualidade do serviço público de educação. Assim, a autonomia aparece definida como:

“o poder reconhecido à escola pela administração educativa de tomar decisões nos domínios estratégico, pedagógico, administrativo, financeiro e organizacional, no quadro do seu projeto educativo e em função das competência e dos meios que lhe estão consignados” (DL n.º 115-A/98, de 4 de maio, Capítulo I, Artigo 3.º, alínea 1).

Neste mesmo normativo legal, o PEE aparece definido como um:

“documento que consagra a orientação educativa da escola, elaborado e aprovado pelos seus órgãos de administração e gestão para um horizonte de três anos, no qual se explicitam os princípios, os valores, as metas e as estratégias segundo os quais a escola se propõe cumprir a sua função educativa”.

É igualmente importante fazer referência ao Despacho nº 13 313/2003, de 13 de junho, (Ordenamento da rede educativa em 2003/2004), o qual alerta para a premente necessidade da concretização do processo de agrupamento de escolas. Aqui, os Projetos Educativos são mais uma vez referidos:

“No ano letivo de 2003-2004 serão mantidos os projetos educativos e curriculares em curso nas diferentes subunidades pedagógicas, sem prejuízo do trabalho a desenvolver pelos diferentes órgãos e estruturas de orientação educativa no sentido da identificação dos problemas socioculturais e das aprendizagens e do desenho das linhas mestras da ação educativa a desenvolver no território do novo agrupamento, constituindo as bases do projeto educativo comum, contextualizado e coerente, deste novo agrupamento.” (Despacho nº 13 313/2003, ponto I, alínea f).

Mais recentemente, no DL n.º 75/2008, de 22 de abril, o projeto educativo é mais uma vez referido:

“a) «Projeto educativo» o documento que consagra a orientação educativa do agrupamento de escolas ou da escola não agrupada, elaborado e aprovado pelos seus órgãos de administração e gestão para um horizonte de três anos, no qual se explicitam os princípios, os valores, as metas e as estratégias segundo os quais o agrupamento de escolas ou escola não agrupada se propõe cumprir a sua função educativa” (DL n.º 75/2008, de 22 de abril, Capítulo II, Artigo 9.º, alínea 1).

Após uma análise detalhada dos normativos legais acerca do PEE, verificamos uma amálgama (sobreposição/duplicação) de documentos pouco estruturados, dando origem a alguma instabilidade no processo de construção de um PEE. Citando Costa, PEE é um:

“documento ancorado no formalismo organizacional da escola que não é objeto de uma discussão e negociação participada de opções de desenvolvimento organizacional, debilmente articulado quer com os outros documentos da escola, composto por um conjunto de metas e pressupostos vagos, não constituindo, por isso, um documento estratégico de orientação da ação organizacional” (2007: 90-91).