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Enquadramento Metodológico do estudo

Não é perfurando ao acaso que se encontra petróleo. O sucesso de um programa de pesquisa petrolífera depende do prosseguimento seguido. Primeiro o estudo dos terrenos, depois a perfuração. Procedimentos como este, implicam inúmeras competências e mais do que uma visão especializada do campo. Não se pode pedir ao responsável de um projeto desta natureza que domine todas as técnicas, mas o de ter um papel específico na conceção do conjunto, coordenando as operações com o máximo de coerência e eficácia, pois é sobre ele que recairá a responsabilidade de levar a bom termo o dispositivo global de investigação (Quivy & Campenhoudt, 2005, p.15). No que respeita a uma investigação de natureza social o processo é comparável. Neste campo, importa sobretudo ao investigador conceber e pôr em prática um dispositivo para esclarecimento da realidade, isto é escolher um método de trabalho. Traçar um método de trabalho é sempre uma tarefa minuciosa. A abordagem metodológica que orienta um estudo depende da temática que o investigador pretende abordar.

4.1. Definição do problema

Toda a investigação advém da ocorrência de haver um problema para o qual se procura uma solução.

O problema inicial constitui o mote para pôr em prática todo o desenrolar de um trabalho de investigação, “uma boa pergunta de partida deve poder ser tratada” (Quivy & Campenhoudt, 2005, p.34). A partir dela, deve poder-se trabalhar de uma forma eficaz, produzindo elementos para conseguir responder-lhe.

Sendo objetivo da nossa investigação procurar experiências inovadoras de aprendizagem num clube de robótica, o enfoque do nosso estudo foi colocado da seguinte forma: Pode um clube de robótica proporcionar experiências inovadoras na aprendizagem?

Deste modo, pretendeu-se investigar um ambiente de aprendizagem particular, a partir das suas dinâmicas tentando perceber o que ali se passava e se realmente aquele contexto respondia à nossa questão ou nos direcionava para outro campo.

59 4.2. Questões da Investigação

O problema suscitado deve ser subsequentemente aprofundado através da definição de questões específicas ou eixos de análise, a partir dos quais podemos organizar de uma forma coesa o programa de pesquisa, com a clarificação do âmbito da investigação (Afonso, 2005).

Para clarificar o nosso problema e como eixo da pesquisa colocámos como pertinentes as seguintes questões:

1. Que dinâmicas se processam num clube de robótica? 1.1. Quem são os atores? Quais os seus interesses?

1.2. Que constroem? Como constroem o seu conhecimento? 2 - Em que medida podemos considerar este ambiente inovador?

4.3. Objetivos da investigação

Para responder a estas questões consideraram-se subjacentes os seguintes objetivos:

- Investigar os interesses e as dinâmicas envolvidas entre professores/alunos e alunos/alunos na consecução de projetos no clube de robótica;

- Refletir sobre o modo como as interações observadas podem proporcionar uma aprendizagem significativa;

- Contribuir para a reflexão acerca de como um ambiente de aprendizagem desta natureza pode, ou não, fomentar experiências significativas e inovadoras à luz das teorias subjacentes.

Com o intuito de reproduzir a realidade, e investigar como se realizaram as interações e os processos, procurou-se compreender e interpretar as dinâmicas de aprendizagem observadas. Deste modo, descreveu-se o dia-a-dia do clube, registando tudo o que foi possível.

4.4. Contexto da investigação

O presente estudo foi realizado num clube de robótica, enquadrado num leque de atividades extracurriculares, numa escola básica e secundária, do concelho de Santa Cruz, RAM (Região Autónoma da Madeira).

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A autorização para a realização do mesmo foi concedida em conversa informal com os monitores do clube de robótica. Foi elaborado um documento com os objetivos específicos da recolha de dados (anexo 1), dirigido ao Diretor Executivo da escola onde o estudo foi realizado. A autorização para a realização do estudo foi deferida, conforme consta no mesmo anexo.

Para consecução deste estudo foram solicitadas autorizações aos encarregados de educação dos alunos participantes, no sentido de poderem ser registadas entrevistas e fotografias, utilizadas no presente trabalho (anexo 2).

De modo a compreender o contexto e as suas interações, foram observadas dezanove sessões do clube de robótica que decorreram entre outubro de dois mil e dez até maio de dois mil e onze, duas vezes por semana, num horário flexível.

Durante esse tempo, registou-se, através da observação participante, tudo o que foi passível de registo, notas de campo, memorandos, fotografias, pequenos filmes, diálogos informais e recolha de planos de atividades. Em suma: tudo aquilo que poderia vir a tornar-se relevante para o estudo.

4.5. Participantes e local do estudo

4.5.1. Os participantes

Os participantes deste estudo foram os alunos e orientadores de um clube de robótica de uma escola básica e secundária do conselho de Santa Cruz.

Participaram deste clube, dez alunos cujas idades estão compreendidas entre dez e dezassete anos. Quatro pertenciam a turmas de quinto ano; dois ao sexto ano; um ao décimo segundo ano, área de ciências e tecnologias e os outros três pertenciam aos cursos CEF (Curso de Educação e Formação).

Para orientar as atividades existiam três orientadores, os quais detinham formação na área da Engenharia Eletrotécnica. Eram indivíduos relativamente jovens no ensino, a lecionar os cursos pré-profissionais a maior parte do tempo.

Fundaram este clube, pelo facto de também gostarem deste tipo de atividades, por ser um trabalho gratificante, na medida em que todos se envolvem de outra forma nas atividades que escolhem fazer. Por outro lado, também viram na experiência prática que aqui desenvolvem, uma forma diferente de aprender, uma maneira de aplicar a teoria que é trabalhada nas aulas de informática, saciando a curiosidade, ultrapassando barreiras e acreditando nos seus sonhos de criança.

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4.5.2. O local do estudo: a “Oficina”

Figura 6 – Oficina

O local do estudo foi a “Oficina” onde funcionam os cursos CEF.

A “Oficina” é uma sala num vão de escada onde funcionam os cursos pré- profissionais de eletricidade. É um espaço onde só cabem doze cadeiras com mesa incorporada alinhadas três a três. Quando funciona o clube, duas vezes por semana, a sala muda de forma para dar lugar a um espaço organizado de acordo com o que é necessário. Qualquer aluno procede à alteração da sala quando necessita. Trabalha-se à vontade e sem a rigidez de um espaço organizado presente nas tradicionais salas de aula.

Orientadores e alunos mantêm conversas informais acerca dos projetos. Planificam, discutem e refazem propostas com os orientadores, construindo assim os seus trabalhos, passo a passo e na maior parte das vezes envoltos em boa disposição.

A porta está sempre aberta e muitos são os curiosos que aparecem a querer saber o que se faz, o que se passa e qual o andamento dos projetos.

clube de robótica

aprendizes orientadores

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4.6. O tipo de atividades desenvolvidas e os objetivos do Clube

As atividades aqui desenvolvidas têm a ver com os objetivos gerais e específicos do clube, manifestados no projeto.

De acordo com o projeto apresentado pelo clube, os objetivos gerais são os seguintes:

- Promover as Tecnologias de Informação e Comunicação como forma de valorização pessoal;

- Desenvolver capacidades no âmbito da Informática, Mecânica, Física, Matemática e Eletrónica aplicadas à robótica;

- Desenvolver o sentido crítico, a capacidade criativa e o sentido de responsabilidade;

- Desenvolver a socialização, a organização e a capacidade de trabalho em grupo;

- Fomentar o intercâmbio de diferentes opiniões na resolução de problemas. (In plano de atividades do clube, anexo 3)

Embora os objetivos definam as linhas pelas quais o clube se rege, as atividades do dia-a-dia, orientadas pelos três professores, são tidas como informais, no sentido, não de cumprir os objetivos a que o clube se propôs, mas na forma como o trabalho é desenvolvido na prática.

Pelo facto de existirem alunos de várias idades trabalhando no mesmo espaço simultaneamente, alguns mais autónomos que outros, o dia-a-dia do clube resulta numa azáfama constante de atividades que decorrem ao mesmo tempo, sendo por isso necessário mais do que um professor orientador.

As atividades aqui desenvolvidas, qualquer que fosse o objetivo, começavam sempre por uma planificação conjunta, seguida de teste de materiais para construção, construção propriamente dita e programação do robô.

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