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Enquadramento teórico / legal do Projecto Educativo de Escola

No documento A indisciplina e a escola. (páginas 101-105)

CAPITULO III – A Construção da Cidadania no âmbito do Projecto

1- Enquadramento teórico / legal do Projecto Educativo de Escola

O Projecto Educativo de escola é uma criação dos anos 80. Fortemente inspirado no modelo espanhol e francês, o projecto liga-se à ideia de escola como organização, uma comunidade educativa com características próprias e de efeitos significativamente diferenciados na aprendizagem e socialização dos alunos.

Segundo Carvalho & Diogo (1999, p. 8) nos tempos actuais, caracterizados pela globalização, é preciso uma interpretação holistica da realidade e uma cada vez maior intervenção no sentido global, sendo necessária uma organização da acção numa conduta estratégica, conduzida pela intencionalidade e dominada pela capacidade de prever e antecipar.

A tarefa da operacionalização de um projecto é a concretização de uma ideia de transformação do real.

O primeiro diploma legal a fazer alusão ao Projecto Educativo foi, de facto, o Decreto-lei n.º. 43/89 de 3 de Fevereiro, podendo ler-se no seu preâmbulo que

“ a autonomia das escolas concretiza-se na elaboração de um projecto educativo próprio, constituído e executado de forma participada, dentro dos princípios de responsabilização dos vários intervenientes na vida escolar, e da adequação às características e recursos da escola, e às solicitações e apoios da comunidade em que se insere”.

No seu articulado entrecruzam-se os conceitos: projecto educativo, participação e autonomia.

“ Entende-se por autonomia da escola a capacidade de elaboração e realização de um projecto educativo próprio, em benefício dos alunos, e com a participação de todos os intervenientes no processo educativo” (Decreto-lei n.º. 43/89, art.º. 2, alínea 1).

A alínea 2 do mesmo artigo refere que “o projecto educativo traduz-se designadamente, na formulação de prioridades de desenvolvimento pedagógico, em planos anuais de actividades educativas e na elaboração de

De facto, o Projecto Educativo de escola é um documento onde os conceitos de autonomia e de participação se interrelacionam. A este propósito Carvalho e Diogo (2001, p. 54), afirmam “ autonomia, desde logo porque só um ser autónomo pode projectar-se a si mesmo” e participação porque o P.E.E. é “ o resultado dos consensos que a comunidade educativa estabeleceu no debate democrático acerca do caminho a seguir”. Consensos estes que nem sempre são fáceis de conseguir, construindo-se lentamente com avanços e retrocessos.

Mais tarde, no Despacho 113/ME/93 de 23 de Junho, o projecto educativo aparece definido como:

“um instrumento aglutinador e orientador da acção educativa que esclarece as finalidades e funções da escola, inventaria os problemas e os modos possíveis da sua resolução, pensa os recursos disponíveis e aqueles que podem ser mobilizados. Resultante de uma dinâmica participativa e integrativa, o projecto educativo pensa a educação enquanto processo nacional e local e procura mobilizar todos os elementos da comunidade educativa, assumindo-se como o rosto da especificidade e a autonomia da organização escolar”.

Mais recentemente, mercê de uma necessidade de alterar e concretizar o regime de autonomia e gestão dos estabelecimentos de educação dos ensinos básico e secundário surge o Decreto-lei 115-A/98, de 4 de Maio, definindo autonomia como:

“o poder que é reconhecido à escola pela administração educativa de tomar decisões nos domínios estratégico, pedagógico, administrativo, financeiro e organizacional, no quadro do seu projecto educativo e em função das competência e dos meios que lhe estão consignados” (Decreto-lei 115-A/98, de 4 de Maio, art.º. 3. alínea 1).

Ainda no mesmo diploma legal, o Projecto Educativo, aparece definido como um:

“documento que consagra a orientação educativa da escola, elaborado e aprovado pelos seus órgãos de administração e gestão para um horizonte de três anos, no qual se explicitam os princípios, os valores, as metas e as estratégias segundo aos quais a escola se propõe cumprir a sua função educativa”.

Neste contexto, o P.E.E., deve ser concebido numa perspectiva dinâmica e de permanente mudança de mentalidades, valores, normas e padrões de conduta e disciplina a partir da interacção com as famílias, a autarquia, as associações culturais, serviços e outros actores envolvidos na

problemática da educação, com vista ao sucesso de todos os seus intervenientes, com especial enfoque nos alunos.

Deste modo, cada escola é impulsionada a definir uma política própria que especifique a sua individualidade.

O P.E.E. surge assim, como o instrumento que leva a escola a harmonizar as suas acções internas e a aumentar a sua visibilidade, apresentando uma imagem de funcionamento finalizado e coerente, promovendo simultaneamente, a participação de todos os intervenientes directa ou indirectamente relacionados com o processo educativo. Ele é necessário “ (…) para tornar socialmente reconhecível a identidade de uma escola, mais autónoma, mais liberta das imposições do exterior” (Gomes, 1997, p. 18).

Contudo, torna-se imprescindível que as práticas não fiquem na penumbra das palavras, sendo fundamental que os actores educativos em particular os professores, saibam reconhecer no projecto educativo a possibilidade da passagem do “eu” para o “nós” na organização escolar.

Se assim for o P.E.E. constituirá, sem dúvida, o ponto de referência orientador de toda a actividade escolar, baseada na participação responsável de todos os seus intervenientes.

No entanto, no pensamento de Alves (1999, p. 61) o P.E.E. só será exequível “se os actores do projecto tiverem consciência do (novo) quadro político e organizacional em que cada escola se insere e se se dispuserem a uma acção investigativa que revele a complexidade dos modos possíveis da acção educativa”

Para a Administração Central, este documento assume-se numa contrapartida da oferta de autonomia à comunidade educativa, e para esta última, revela-se numa garantia de idoneidade e eficácia no uso de liberdade que por deliberação política lhe foi concebida.

Pela noção de autonomia, enquanto processo de construção cultural conjunta de uma comunidade educativa, consciencializamo-nos que o Projecto Educativo de Escola representa um instrumento identificador da instituição educativa, ao conter em si uma multiplicidade de dados reveladores da dinâmica escolar.

Como nos refere Carvalho; Diogo (2001, p. 45) “o Projecto Educativo emerge de uma concepção de escola/comunidade educativa”.

Rui Canário (1992, p. 68) alerta-nos para o peso que este documento influi na determinação de uma prática escolar em autonomia, de tal modo que “autonomia e diversidade dos estabelecimentos de ensino, consubstancia-se na construção, execução e avaliação de projectos educativos próprios”.

De acordo como pensamento de Jorge Adelino da Costa (1991, p. 10) o projecto educativo assume-se como um

“documento de carácter pedagógico que, elaborado com a participação da comunidade educativa, estabelece a identidade própria de cada escola através da adequação do quadro legal em vigor à sua situação concreta, apresenta o modo geral de organização e os objectivos pretendidos pela instituição e, enquanto instrumento de gestão, é o ponto de referência orientador na coerência e unidade da acção educativa”.

Também para Berta Macedo (1995, p. 111) “entende-se Projecto Educativo como a opção por valores e finalidades, a definição de uma orientação com que se prende o desenvolvimento e a inserção criativa do sujeito em diferentes situações”.

Conjugando todas estas perspectivas acerca do conceito de projecto educativo de escola, poder-se-á relevar o facto de todas elas sugerirem que este documento escolar constitui um documento referenciador de identidade escolar e revolucionador no que respeita à transformação da dinâmica interna e externa, a adoptar pela comunidade educativa.

Será um documento referenciador, enquanto parece ser revelador das finalidades e valores, livremente escolhidos pela escola, tendo em conta as vertentes identificativas da sua prática cultural e as capacidades criativas dos diversos actores escolares, agentes produtores da cultura e produto dessa mesma cultura educativa.

Desta forma, o projecto educativo de escola anunciará não só as intenções pedagógicas, culturais e humanas da escola, como também poderá surgerir se os valores e princípios escolares privilegiados relevam a vertente social, cultural, política, religiosa ou profissional.

Será um documento revolucionador, enquanto parece introduzir novas formas de actuação na vida escolar, ao pressupor uma construção conjunta,

participada e em partilha, por parte de todos aqueles que constituem o universo humano da comunidade educativa.

Uma construção levada a efeito com o respeito pelos princípios legais e com o respeito pela forma de intervenção de cada sujeito, parece demostrar que o Projecto Educativo será não só um instrumento promotor da convivência democrática na vida escolar, como também parece ser promotor da abertura da cultura e dos propósitos escolares à comunidade envolvente.

Nesta linha, o Projecto Educativo de escola assume-se num documento referencial da vida escolar para a transformação educativa, de tal modo que “permite à escola a apropriação de um certo espaço de liberdade, afirmando-se, face à comunidade, como detentora de um projecto que lhe propiciará a identificação e o reconhecimento” (Carvalho; Diogo, 2001, p. 45).

2. O Projecto Educativo de Escola como instrumento

No documento A indisciplina e a escola. (páginas 101-105)