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Instrumentos e procedimentos de recolha de dados

No documento A indisciplina e a escola. (páginas 125-129)

PARTE I I – FUNDAMENTAÇÃO EMPÍRICA

2- Instrumentos e procedimentos de recolha de dados

Para dar cumprimento ao objectivo do nosso estudo sentimos a necessidade de escolher um método que permitisse a possibilidade de quantificar uma multiplicidade de dados e daí retirar algumas conclusões.

O questionário é um dos instrumentos de recolha de dados e de uso mais universal no campo das Ciências Sociais (Del Ricon, et al, 1994). Trata-se de um processo para adquirir dados acerca das pessoas, interrogando-as e não através de um processo de observação das mesmas ou de recolha de amostras do seu comportamento.

Na perspectiva de Gil (1999, p. 128) o inquérito por questionário é um instrumento definido como “um técnica de investigação composta por um número mais ou menos elevado de questões apresentadas por escrito às pessoas tendo por objectivo o conhecimento de opiniões, crenças, sentimentos, interesses, expectativas, situações vivenciadas etc.”. Através dele o investigador recolhe informações directamente da população que pretende estudar.

Conceber um inquérito por questionário consiste essencialmente em “traduzir os objectivos da pesquisa em questões específicas” (Idem, p. 129). Com os dados obtidos através das questões colocadas o investigador reúne informações que lhe possibilitam o esclarecimento do problema da investigação.

Para Quivy e Campenhoudt (1998, p.193) um dos principais objectivos deste método é a possibilidade de “análise de um fenómeno social que se julga poder apreender melhor a partir de informações relativas aos indivíduos da população em questão.”

As vantagens do inquérito por questionário estão relacionadas com a possibilidade de quantificar uma multiplicidade de dados que permitem proceder a múltiplas análises de correlação e de poder ser aplicado a um grande número de sujeitos, aumentando as possibilidades de

representatividade. Sublinhamos ainda outras vantagens, tais como a rapidez de recolha de informação, a garantia de anonimato que facilita a autenticidade das respostas, assim como a escolha pelo inquirido da hora mais adequada ao seu preenchimento.

Os inconvenientes relacionam-se com o facto de não oferecer a garantia de que a maioria das pessoas o devolvam devidamente preenchido, o que pode implicar a significativa diminuição da representatividade da amostra e porque os itens das questões colocadas podem ter significado diferente para cada sujeito inquirido proporcionando resultados bastante críticos em relação à objectividade.

Devido ao facto do inquérito por questionário permitir interrogar um determinado número de indivíduos, tendo em vista uma generalização realizamos um questionário com especial incidência sobre as representações e práticas relativas à temática da indisciplina escolar.

A construção do questionário baseou-se tanto em leituras exploratórias, quanto em opiniões trocadas de modo informal com os professores, que se revelaram de extrema importância para compreender as suas diferentes representações e perspectivas sobre o tema.

Este inquérito por questionário foi devidamente testado com um pequeno pré-teste com o objectivo de “evidenciar pequenas falhas na redacção do questionário, tais como complexidade das questões, imprecisão na redacção, desnecessidade das questões, constrangimentos ao informante, exaustão etc.” (Gil, 1999, p. 137). Com este pré-teste pudemos adaptar este instrumento aos objectivos da investigação formulados na problemática tendo em conta a preocupação de adaptar ao público visado o vocabulário, a construção e sintaxe das frases, e as expressões utilizadas.

2.2- O inquérito por entrevista

A entrevista é um método de investigação que pressupõe uma conversa formal, normalmente entre duas ou mais pessoas (Bogdan, 1994, p.134), que tem como principal objectivo a extracção de determinada informação do entrevistado (Moser & Kalton, 1971 cit. por Bell, 1997, p. 118). Assim, podemos defini-la “como técnica em que o investigador se apresenta

frente ao investigado e lhe formula perguntas (…)” (Gil, 1999, p.117). Na perspectiva de Quivy e Campenhoudt (1998, p.193) a entrevista distingue-se dos outros métodos pela necessidade fundamental de comunicação e interacção, sendo este um instrumento essencial para aprofundar o conhecimento humano. Pode ser associada a outros métodos, devendo, no entanto, estar sempre presente na primeira fase da investigação (Albarello et al, 1997, p.84).

À mercê de ser um método de investigação como qualquer outro, encerra sobre si vantagens e desvantagens. Uma das grandes vantagens e, no dizer de Bell (1997, p.118) “(…) é a sua adaptabilidade”.

Se a entrevista for iniciada com uma questão aberta pode estimular a espontaneidade do entrevistador (Pourtois & Desmet, 1988 cit por Léssard- Hébert et al, 1994, p.131)

Este método privilegia a comunicação e interacção humana em que permite ao investigador através do tom de voz, da expressão facial, da hesitação do entrevistado, interpretar/perceber informações que uma resposta escrita por questionário, por exemplo, nunca revelaria.

O grau de profundidade, veracidade e autenticidade dos elementos de análise recolhidos por este método, são mais fiáveis do que em qualquer outro. “A flexibilidade e a fraca directividade do dispositivo que permite recolher os testemunhos e as interpretações dos interlocutores, respeitando os seus próprios quadros de referência - a sua linguagem e as suas categorias mentais” (Quivy e Campenhoudt, 1998, p.194).

Tendo a investigação científica, como objectivo primordial o estudo do indivíduo e das suas formas de ver o mundo, intenções e crenças, a entrevista passa a ser considerada pelos investigadores, um instrumento fundamental fornecendo-lhes uma compreensão rica e matizada das situações.

A entrevista entendida por Albarello et al (1997, p. 89) “é o instrumento mais adequado para delimitar os sistemas de representações, de valores, de normas veiculadas por um indivíduo”.

A entrevista apresenta ainda, de acordo com Gil (1999, p. 118), a grande vantagem de não exigir que a pessoa entrevistada saiba ler e escrever, possibilitando a obtenção de um número maior de respostas, cujos dados

Se até então, a flexibilidade foi encarada como uma vantagem apresentada pelo método, esta também pode ser considerada como uma desvantagem, uma vez que, esta flexibilidade pode intimidar aqueles que nem sempre conseguem trabalhar sem directivas técnicas precisas. Continuando nesta linha de pensamento, a flexibilidade, “pode levar a acreditar numa completa espontaneidade do entrevistado e numa total neutralidade do investigador”(Quivy e Campenhoudt, 1998, p.194).

Por outro lado, o carácter pouco técnico da formação exigida, não ajuda o investigador a fazer uma estimativa correcta do seu nível de competência na matéria (Ibidem).

Tendo as ciências sociais como interesse o estudo colectivo, na entrevista apenas se interroga um indivíduo ou um grupo restrito de indivíduos como representantes de um grupo social e, ao colocarmos frente a frente dois ou mais sujeitos com a sua subjectividade, não podemos garantir que as informações obtidas sejam idênticas noutras situações de interacção (Albarello et al, 1997, p. 85).

Quanto à verificação, nem o quantitativo nem o qualitativo garantem uma objectividade total, tendem apenas a assegurar um procedimento mais objectivo possível, o que não é nada fácil.

As entrevistas demoradas, que se prolongam por um longo período de tempo, tendo se ser feitas em várias sessões, “apresentam a desvantagem de a influência do investigador poder ser muito elevada, podendo afectar os resultados e, além disso, é muito mais difícil comparar as respostas com rigor” (Brenner, 1978, cit por Giddens, 1997, p.818).

A falta de motivação do entrevistado para responder às perguntas que lhe são feitas, a inadequada compreensão do significado das perguntas que podem levar ao fornecimento de respostas falsas, determinadas por razões conscientes ou inconscientes e ainda a incapacidade do entrevistado para responder adequadamente, em decorrência de insuficiência vocabular ou de problemas psicológicos, são outras das limitações apontadas por Gil, (1999, p.118). Contudo, “em função da flexibilidade da própria entrevista, muitas dessas dificuldades podem ser contornadas” (Idem, p.114).

No documento A indisciplina e a escola. (páginas 125-129)